A
religiosidade humana – que, quando é autêntica, é caminho para o reconhecimento
do único Deus – expressou-se e manifesta-se na história e na cultura dos povos,
de formas diversas e, por vezes, também no culto de diferentes imagens ou
ideias da divindade. As religiões da terra que manifestam a procura sincera de
Deus e respeitam a dignidade transcendente do homem devem ser respeitadas: a
Igreja Católica considera que nelas está presente uma faísca, quase uma
participação da Verdade divina 16. Ao aproximar-se das diversas religiões
da terra, a razão humana sugere um oportuno discernimento: reconhecer a
presença de superstição e de ignorância, de formas de irracionalidade, de
práticas que não estão de acordo com a dignidade e liberdade da pessoa humana.
O
diálogo inter-religioso não se opõe à missão e à evangelização. Mais,
respeitando a liberdade de cada um, a finalidade do diálogo há-de ser sempre o
anúncio de Cristo. As sementes de verdade que as religiões não cristãs podem
conter são, de facto, sementes da Única Verdade que é Cristo. Portanto, essas
religiões têm o direito de receber a revelação e ser conduzidas à maturidade
mediante o anúncio de Cristo, caminho, verdade e vida. No entanto, Deus não
nega a salvação aos que, ignorando sem culpa o anúncio do Evangelho, vivem
segundo a lei moral natural, reconhecendo o seu fundamento no único e
verdadeiro Deus 17.
No
diálogo inter-religioso o cristianismo pode proceder mostrando que as religiões
da terra, enquanto expressões autênticas do vínculo com o verdadeiro e único
Deus, alcançam no cristianismo o seu cumprimento. Somente em Cristo, Deus
revela o homem ao próprio homem, oferece a solução para os seus enigmas,
desvenda-lhe o sentido profundo das suas aspirações. Ele é o único mediador
entre Deus e os homens 18.
O
cristão pode enfrentar o diálogo inter-religioso com optimismo e esperança,
enquanto sabe que todo o ser humano foi criado à imagem do único e verdadeiro
Deus e que cada um, se sabe reflectir no silêncio do seu coração, pode escutar
o testemunho da própria consciência, que também conduz ao único Deus, revelado
em Jesus Cristo. «Nasci e vim ao mundo – afirma Jesus diante de Pilatos – para
dar testemunho da verdade; todo aquele que está na verdade ouve a minha voz»
(Jo 18,37). Neste sentido, o cristão pode falar de Deus sem risco de
intolerância, porque o Deus que ele exorta a reconhecer na natureza e na consciência
de cada um, o Deus que criou o céu e a terra, é o mesmo Deus da história da
salvação, que se revelou ao povo de Israel e se fez homem em Cristo. Este foi o
itinerário seguido pelos primeiros cristãos: recusaram que se adorasse Cristo
como mais um entre os deuses do Panteão romano, porque estavam convencidos da
existência de um único e verdadeiro Deus; e empenharam-se ao mesmo tempo em
mostrar que o Deus entrevisto pelos filósofos como causa, razão e fundamento do
mundo, era e é o próprio Deus de Jesus Cristo 19.
giuseppe tanzella-nitti
Bibliografia
básica:
Catecismo
da Igreja Católica, 27-49
Concílio
Vaticano II, Const. Gaudium et Spes, 4-22
João
Paulo II, Enc. Fides et Ratio, 14-IX-1998, 16-35.
Bento
XVI, Enc. Spe Salvi, 30-XI-2007, 4-12.
© 2013, Gabinete de Informação do Opus
Dei na Internet
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Notas:
16 Cf. Concílio Vaticano II, Decl.
Nostra Aetate, 2.
17 Cf. Concílio Vaticano II, Const.
Lumen Gentium, 16.
18 Cf. João Paulo II, Enc. Redemptoris
missio, 7-XII-1990, 5; Congregação para a Doutrina da Fé, Decl. Dominus Iesus,
6-VIII-2000, 5;13-15.
19 Cf. João Paulo II, Enc. Fides et
Ratio, 34; Bento XVI, Enc. Spe Salvi, 30-XI-2007, 5.
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