A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Lc 3, 1-20
1 No ano décimo
quinto do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judeia,
Herodes tetrarca da Galileia, Filipe, seu irmão, tetrarca da Itureia e da
província da Traconítide, Lisânias tetrarca da Abilena2 sendo
pontífices Anás e Caifás, o Senhor falou a João, filho de Zacarias, no deserto.
3 E ele foi por toda a região do Jordão, pregando o baptismo de
penitência para a remissão dos pecados, 4 como está escrito no livro
das palavras do profeta Isaías: “Voz do que clama no deserto: Preparai o
caminho do Senhor, endireitai as suas veredas; 5 todo o vale será
terraplanado, todo o monte e colina serão arrasados, os caminhos tortuosos
tornar-se-ão direitos, os escabrosos planos; 6 e todo o homem verá a
salvação de Deus”. 7 Dizia, pois, às multidões que vinham para ser
por ele baptizadas: «Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que vos
ameaça? 8 Fazei, portanto, frutos dignos de penitência, e não
comeceis a dizer: Temos por pai Abraão. Porque eu vos digo que Deus é poderoso
para suscitar destas pedras filhos de Abraão. 9 Porque o machado já
está posto à raiz das árvores. Toda a árvore que não dá bom fruto será cortada
e lançada no fogo». 10 As multidões interrogavam-no, dizendo: «Que
devemos, pois, nós fazer?». 11 Respondendo, dizia-lhes: «Quem tem
duas túnicas, dê uma ao que não tem; e quem tem que comer, faça o mesmo». 12
Foram também publicanos, para serem baptizados, e disseram-lhe: «Mestre, que
devemos nós fazer?». 13 Ele respondeu-lhes: «Não exijais nada além
do que vos está fixado». 14 Interrogavam-no também os soldados: «E
nós, que faremos?». Respondeu-lhes: «Não façais violência a ninguém, nem
denuncieis falsamente, e contentai-vos com o vosso soldo». 15
Estando o povo na expectativa e pensando todos nos seus corações que talvez
João fosse o Cristo, 16 João respondeu, dizendo a todos: «Eu, na
verdade, baptizo-vos em água, mas virá um mais forte do que eu, a Quem não sou
digno de desatar as correias das sandálias; Ele vos baptizará no Espírito Santo
e no fogo; 17 tomará na Sua mão a pá, limpará a Sua eira e recolherá
o trigo no Seu celeiro, mas a palha queimá-la-á num fogo inextinguível». 18
Por muitas outras exortações anunciava ao povo a boa nova. 19 Porém,
o tetrarca Herodes, sendo repreendido por ele, por causa de Herodíades, mulher
de seu irmão e por causa de todos os males que tinha feito, 20
acrescentou a todos os outros crimes mais este: mandar meter João no cárcere.
C. I. C. nr. 1749 a 1785
A MORALIDADE DOS ACTOS
HUMANOS
1749.
A liberdade faz do homem um sujeito moral. Quando age de maneira deliberada, o
homem é, por assim dizer, o pai dos seus actos. Os actos humanos, quer dizer,
livremente escolhidos em consequência dum juízo de consciência, são moralmente
qualificáveis. São bons ou maus.
I. As fontes da moralidade
1750.
A moralidade dos actos humanos depende:
–
do objecto escolhido;
–
do fim que se tem em vista ou da intenção:
–
das circunstâncias da acção.
O
objecto, a intenção e as circunstâncias são as «fontes» ou elementos
constitutivos da moralidade dos actos humanos.
1751.
O objecto escolhido é um bem para o qual a vontade tende deliberadamente. E a
matéria dum acto humano. O objecto escolhido especifica moralmente o acto da
vontade, na medida em que a razão o reconhece e o julga conforme, ou não, ao
verdadeiro bem. As regras objectivas da moralidade enunciam a ordem racional do
bem e do mal, atestada pela consciência.
1752.
Em face do objecto, a intenção coloca-se do lado do sujeito que age. Porque
está na fonte voluntária da acção e a determina pelo fim em vista, a intenção é
um elemento essencial na qualificação moral da acção. O fim em vista é o
primeiro dado da intenção e designa a meta a atingir pela acção. A intenção é
um movimento da vontade em direcção ao fim; diz respeito ao termo do agir. É o
alvo do bem que se espera da acção empreendida. Não se limita à direcção das
nossas acções singulares, mas pode ordenar para um mesmo fim acções múltiplas:
pode orientar toda a vida para o fim último. Por exemplo, um serviço prestado
tem por fim ajudar o próximo, mas pode ser inspirado, ao mesmo tempo, pelo amor
de Deus como fim último de todas as acções. Uma mesma acção pode também ser
inspirada por várias intenções, como prestar um serviço para obter um favor ou
para satisfazer a vaidade.
1753.
Uma intenção boa (por exemplo: ajudar o próximo) não torna bom nem justo um
comportamento em si mesmo desordenado (como a mentira e a maledicência). O fim
não justifica os meios. Assim, não se pode justificar a condenação dum inocente
como meio legítimo para salvar o povo. Pelo contrário, uma intenção má
acrescentada (por exemplo, a vanglória) torna mau um acto que, em si, pode ser
bom (como a esmola (41)).
1754.
As circunstâncias, incluindo as consequências, são elementos secundários dum
acto moral. Contribuem para agravar ou atenuar a bondade ou malícia moral dos
actos humanos (por exemplo, o montante dum roubo). Podem também diminuir ou
aumentar a responsabilidade do agente (por exemplo, agir por medo da morte). As
circunstâncias não podem, de per si, modificar a qualidade moral dos próprios
actos; não podem tornar boa nem justa uma acção má em si mesma.
II. Os actos bons e os
actos maus
1755.
O acto moralmente bom pressupõe, em simultâneo, a bondade do objecto, da
finalidade e das circunstâncias. Um fim mau corrompe a acção, mesmo que o seu
objecto seja bom em si (como orar e jejuar «para ser visto pelos homens»).
O
objecto da escolha pode, por si só, viciar todo um modo de agir. Há
comportamentos concretos – como a fornicação – cuja escolha é sempre um erro,
porque comporta uma desordem da vontade, isto é, um mal moral.
1756.
É, portanto, erróneo julgar a moralidade dos actos humanos tendo em conta
apenas a intenção que os inspira, ou as circunstâncias (meio, pressão social,
constrangimento ou necessidade de agir, etc.) que os enquadram. Há actos que,
por si e em si mesmos, independentemente das circunstâncias e das intenções,
são sempre gravemente ilícitos em razão do seu objecto; por exemplo, a
blasfémia e o jurar falso, o homicídio e o adultério. Não é permitido fazer o
mal para que dele resulte um bem.
Resumindo:
1757.
O objecto, a intenção e as circunstâncias
constituem as três «fontes» da moralidade dos actos humanos.
1758.
O objecto escolhido especifica moralmente
o acto da vontade, conforme a razão o reconhece e o julga bom ou mau.
1759.
«Não se pode justificar uma acção má
feita com boa intenção» (42). O fim
não justifica os meios.
1760.
O acto moralmente bom pressupõe, em
simultâneo, a bondade do objecto, da finalidade e das circunstâncias.
1761.
Há comportamentos concretos pelos quais é
sempre errado optar, porque a sua escolha inclui uma desordem da vontade, isto
é, um mal moral. Não é permitido fazer o mal para que dele resulte um bem.
A MORALIDADE DAS PAIXÕES
1762.
A pessoa humana ordena-se à bem-aventurança através dos seus actos deliberados:
as paixões ou sentimentos que experimenta podem dispô-la nesse sentido e
contribuir para isso.
I. As paixões
1763.
O termo «paixões» pertence ao património cristão. Os sentimentos ou paixões são
as emoções ou movimentos da sensibilidade. que inclinam a agir, ou a não agir,
em vista do que se sentiu ou imaginou como bom ou como mau.
1764.
As paixões são componentes naturais do psiquismo humano, constituem o lugar de
passagem e garantem a ligação entre a vida sensível e a vida do espírito. Nosso
Senhor designa o coração do homem como fonte de onde brota o movimento das
paixões (43).
1765.
São numerosas as paixões. A mais fundamental é o amor, provocado pela atracção
do bem. O amor causa o desejo do bem ausente e a esperança de o alcançar. Este
movimento tem o seu termo no prazer e na alegria do bem possuído. A apreensão
pelo mal causa o ódio, a aversão e o receio do mal futuro; este movimento
termina na tristeza pelo mal presente ou na cólera que a ele se opõe.
1766.
«Amar é querer bem a alguém» (44). Todos os outros afectos nascem neste
movimento original do coração do homem para o bem. Só o bem é amado (45). «As paixões
são más se o amor for mau, e boas se ele for bom» (46).
II. Paixões e vida moral
1767.
Em si mesmas, as paixões não são nem boas nem más. Só recebem qualificação
moral na medida em que dependem efectivamente da razão e da vontade. As paixões
dizem-se voluntárias, «ou porque são comandadas pela vontade, ou porque a
vontade não Lhes opõe obstáculos» (47). Pertence à perfeição do bem moral ou
humano que as paixões sejam reguladas pela razão (48).
1768.
Os grandes sentimentos não determinam nem a moralidade nem a santidade das
pessoas; são o reservatório inesgotável das imagens e afectos com que se
exprime a vida moral. As paixões são moralmente boas quando contribuem para uma
acção boa, e más, no caso contrário. A vontade recta ordena para o bem e para a
bem-aventurança os movimentos sensíveis que assume; a vontade má sucumbe às
paixões desordenadas e exacerba-as. As emoções e os sentimentos podem ser
assumidos pelas virtudes, ou pervertidos pelos vícios.
1769.
Na vida cristã, o próprio Espírito Santo realiza a sua obra mobilizando todo o
ser, mesmo as dores, temores e tristezas, como se vê claramente na agonia e
paixão do Senhor. Em Cristo, os sentimentos humanos podem alcançar a sua
consumação na caridade e na bem-aventurança divina.
1770.
A perfeição moral consiste em que o homem não seja movido para o bem só pela
vontade, mas também pelo apetite sensível, segundo esta palavra do Salmo: «O
meu coração e a minha carne exultam no Deus vivo» (Sl 84, 3).
Resumindo:
1771.
O termo «paixões» designa afectos ou
sentimentos. Através das suas emoções, o homem pressente o bem e suspeita do
mal.
1772.
As principais paixões são o amor e o
ódio, o desejo e o temor; a alegria, a tristeza e a cólera.
1773. Nas paixões, enquanto movimentos da
sensibilidade, não há bem, nem mal moral. Mas, na medida em que dependem ou não
da razão e da vontade, há nelas bem ou mal moral.
1774.
As emoções e os sentimentos podem ser
assumidos pelas virtudes, ou pervertidos pelos vícios.
1775.
A perfeição do bem moral consiste em que
o homem não seja movido para o bem só pela vontade, mas também pelo seu
«coração».
A CONSCIÊNCIA MORAL
1776
«No mais profundo da consciência, o homem descobre uma lei que não se deu a si
mesmo, mas à qual deve obedecer e cuja voz ressoa, quando necessário, aos
ouvidos do seu coração, chamando-o sempre a amar e fazer o bem e a evitar o mal
[...]. De facto, o homem tem no coração uma lei escrita pelo próprio Deus
[...]. A consciência é o núcleo mais secreto e o sacrário do homem, no qual ele
se encontra a sós com Deus, cuja voz ressoa na intimidade do seu ser» (49).
I. O juízo da consciência
1777.
Presente no coração da pessoa, a consciência moral (50) leva-a, no momento
oportuno, a fazer o bem e a evitar o mal. E também julga as opções concretas,
aprovando as boas e denunciando as más (51). Ela atesta a autoridade da verdade
em relação ao Bem supremo, pelo qual a pessoa humana se sente atraída e cujos
mandamentos acolhe. Quando presta atenção à consciência moral, o homem prudente
pode ouvir Deus a falar-lhe.
1778.
A consciência moral é um juízo da razão, pelo qual a pessoa humana reconhece a
qualidade moral dum acto concreto que vai praticar, que está prestes a executar
ou que já realizou. Em tudo quanto diz e faz, o homem tem obrigação de seguir
fielmente o que sabe ser justo e recto. E pelo juízo da sua consciência que o
homem tem a percepção e reconhece as prescrições da lei divina:
A
consciência «é uma lei do nosso espírito, mas que o ultrapassa, nos dá ordens,
e significa responsabilidade e dever, temor e esperança [...]. É a mensageira
d'Aquele que, tanto no mundo da natureza como no da graça, nos fala
veladamente, nos instrui e nos governa. A consciência é o primeiro de todos os
vigários de Cristo» (52).
1779.
Importa que cada um esteja suficientemente presente a si mesmo para ouvir e
seguir a voz da sua consciência. Esta exigência de interioridade é tanto mais
necessária quanto a vida nos leva muitas vezes a subtrair-nos a qualquer
reflexão, exame ou introspecção:
«Regressa
à tua consciência, interroga-a [...] Voltai, irmãos, ao vosso interior, e, em
tudo quanto fazeis, olhai para a Testemunha que é Deus» (53).
1780.
A dignidade da pessoa humana implica e exige a rectidão da consciência moral. A
consciência moral compreende a percepção dos princípios da moralidade
(«sindérese»), a sua aplicação em determinadas circunstâncias por meio de um
discernimento prático das razões e dos bens e, por fim, o juízo emitido sobre
os actos concretos a praticar ou já praticados. A verdade sobre o bem moral, declarada
na lei da razão, é reconhecida prática e concretamente pelo prudente juízo da
consciência. Classifica-se de prudente o homem que opta em conformidade com
este juízo.
1781.
A consciência permite assumir a responsabilidade dos actos praticados. Se o homem
comete o mal, o justo juízo da consciência pode ser nele a testemunha da
verdade universal do bem e, ao mesmo tempo, da maldade da sua opção concreta. O
veredicto do juízo da consciência continua a ser um penhor de esperança e de
misericórdia. Atestando a falta cometida, lembra o perdão a pedir, o bem a
praticar ainda e a virtude a cultivar incessantemente com a graça de Deus.
«Tranquilizaremos
diante d'Ele o nosso coração, se o nosso coração vier a acusar-nos. Pois Deus é
maior do que o nosso coração e conhece todas as coisas» (1 Jo 3, 19-20).
1782.
O homem tem o direito de agir em consciência e em liberdade a fim de tomar
pessoalmente decisões morais. «O homem não deve ser forçado a agir contra a
própria consciência. Nem deve também ser impedido de actuar segundo ela,
sobretudo em matéria religiosa» (54).
II. A formação da
consciência
1783.
A consciência deve ser informada e o juízo moral esclarecido. Uma consciência
bem formada é recta e verídica; formula os seus juízos segundo a razão, em conformidade
com o bem verdadeiro querido pela sabedoria do Criador. A formação da
consciência é indispensável aos seres humanos, submetidos a influências
negativas e tentados pelo pecado a preferir o seu juízo próprio e a recusar os
ensinamentos autorizados.
1784.
A formação da consciência é tarefa para toda a vida. Desde os primeiros anos, a
criança desperta para o conhecimento e para a prática da lei interior
reconhecida pela consciência moral. Uma educação prudente ensina a virtude:
preserva ou cura do medo, do egoísmo e do orgulho, dos ressentimentos da
culpabilidade e dos movimentos de complacência, nascidos da fraqueza e das
faltas humanas. A formação da consciência garante a liberdade e gera a paz do
coração.
1785.
Na formação da consciência, a Palavra de Deus é a luz do nosso caminho. Devemos
assimilá-la na fé e na oração, e pô-la em prática. Devemos também examinar a
nossa consciência, de olhos postos na cruz do Senhor. Somos assistidos pelos
dons do Espírito Santo, ajudados pelo testemunho e pelos conselhos dos outros e
guiados pelo ensino autorizado da Igreja (55).
____________________
Notas:
41.
Cf. Mt 6, 2-4.
42.
São Tomás de Aquino, In duo praecepta caritatis et in decem Legis praecepta
expositio, c.6: Opera omnia, v. 27 (Parisiis 1875) p. 149.
43.
Cf. Mc 7, 21.
44.
São Tomás de Aquino, Summa theologiae, 1-2. q. 26. a. 4. c: Ed. Leon. 6, 190.
45.
Cf. Santo Agostinho, De Trinitate, 8, 3, 4: CCL 50, 271-272 (PL 42, 949).
46.
Santo Agostinho, De civitate Dei, 14, 7: CSEL 40/2. 13 (PL 41, 410).
47. São Tomás de Aquino, Summa theologiae, 1-2, q. 24, a. 1, e.: Ed. Leon. 6, 179.
48.
Cf. São Tomás de Aquino, Summa theologiae,
1-2, q. 24, a. 3. c.: Ed. Leon.
6, 181.
49. II Concílio do Vaticano,
Const. past. Gaudium et spes, 16: AAS 58 (1966) 1037.
50. Cf. Rm 2, 14-16.
51. Cf. Rm 1, 32.
52. Joannes Henricus Newman, A
Letter to the Duke of Norfolk, 5: Certain Difficulties felt by Anglicans in
Catholic Teaching, v. 2 (Westminster 1969) p. 248.
53.
Santo Agostinho, In epistulam Iohannis ad Parthos tractatus 8, 9: PL 35, 2041.
54.
II Concílio do Vaticano, Decl. Dignitatis humanae, 3: AAS 58 (1966) 932.
55.
Cf. II Concílio do Vaticano, Decl. Dignitatis humanae, 14: AAS 58 (1966) 940.
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