Questão 13: Da eleição.
Art. 5 ― Se há eleição só do possível.
(III
Ethic., lect. V).
O
quinto discute-se assim. ― Parece que a eleição não é só do possível.
1. ― Pois, a eleição é acto da vontade, como já se disse 1. Ora, há vontade do impossível como diz Aristóteles 2. Logo, também eleição.
2.
Demais. ― A eleição recai sobre o feito por nós, como se disse 3.
Nada pois importa, quanto à eleição, que seja escolhido o impossível absoluto
ou o impossível para quem escolhe. Ora, como frequentemente não podemos
realizar o que escolhemos, isso nos é impossível. Logo, há eleição de
impossíveis.
3.
Demais. ― O homem não tenta fazer nada senão escolhendo. Ora, S. Bento diz que
se um prelado mandar algo de impossível, é preciso tentar fazê-lo. Logo, pode
haver eleição de impossíveis.
Mas,
em contrário, diz o Filósofo: não há eleição de impossíveis 4.
Como já se disse 5, as nossas eleições referem-se sempre às nossas
ações. Ora, o que fazemos nos é possível. Logo, necessário é dizer-se que a
eleição não recai senão sobre os possíveis.
Semelhantemente,
a razão de se escolher um meio é ele nos conduzir ao fim. Ora pelo impossível
ninguém pode conseguir um fim. E a prova está em que quando, deliberando, os
homens chegam ao que lhes é impossível, recuam, quase não querendo passar além.
E
isto também resulta claramente do modo de proceder da razão precedente à
escolha. Pois, o meio que a eleição visa está para o fim como a conclusão para
o princípio. Ora, é manifesto que uma conclusão impossível não resulta de um
princípio possível. Donde, não pode ser possível o fim sem que o meio também o
seja. E ao impossível ninguém é movido. Logo, ninguém tenderia para o fim se
não visse que o meio é possível. E portanto, o impossível não constitui objecto
de eleição.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A vontade é média entre o intelecto e a
operação exterior, pois o intelecto propõe à vontade o seu objecto e esta é a
que causa a acção exterior. Assim, portanto, o princípio do movimento da
vontade é considerada em relação ao intelecto que apreende algo como bem
universal, ao passo que o termo ou perfeição do acto da vontade é considerado
relativamente à ordem da operação pela qual tendemos à consecução da coisa,
pois o movimento da vontade procede da alma para as coisas. E portanto, a
perfeição do acto da vontade está em que há para alguém algum bem a ser
realizado. Ora, isto é possível, e portanto só é completa a vontade do
possível, que é o bem para quem o quer. Incompleta é porém a vontade do impossível
chamada por alguns veleidades, porque o quereríamos se fosse possível. Ora, a
eleição designa um acto da vontade já determinado aquilo que alguém deve fazer,
logo, de qualquer modo, só recai sobre os possíveis.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Sendo o objecto da vontade o bem apreendido, devemos julgar desse objecto
na medida em que se compreende na apreensão. E portanto, assim como às vezes há
vontade de algo apreendido como bem, e que contudo não o é verdadeiramente,
assim também às vezes há eleição do que é apreendido como possível para o que
escolhe, e que contudo não lhe é possível.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Tal diz S. Bento porque o súbdito não deve determinar a seu juízo
o que é possível, mas sempre seguir juízo do superior.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Q. 13, a. 1.
2. III Ethic., lect. V.
3. Q. 13, a. 4.
4. III Ethic., loc. Cit.
5.
Q. 13, a. 4.
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