Art. 4 — Se a vontade é
necessariamente movida por Deus.
(I,
q. 83, a . 1, ad 3, De Verit., q. 24, a . 1, ad 3, De Malo, q. ad 3).
O quarto discute-se assim. ― Parece que a vontade é movida necessariamente por Deus.
1. ― Pois, todo agente a que se não pode resistir move necessariamente. Ora, não se pode resistir a Deus, cujo poder é infinito, pois por isso diz a Escritura (Rm 9, 19): Quem é o que resiste à sua vontade? Logo, necessariamente, Deus move a vontade.
2.
Demais. ― Como já se disse 1, a vontade é movida necessariamente
quanto ao que naturalmente quer. Ora, diz Agostinho, é natural a cada ser que
Deus nele opere 2. Logo, a vontade quer necessariamente tudo quanto
a que é movida por Deus.
3.
Demais. ― É possível o que, posto, não causa nenhuma impossibilidade. Ora,
admitir-se que a vontade não quer aquilo a que Deus a move, resulta uma
impossibilidade, a saber que a operação de Deus seria ineficaz.
Mas,
em contrário, diz a Escritura (Ecle 15, 14): Deus criou o homem desde o
princípio e deixou-o na mão do seu conselho. Logo, não lhe move necessariamente
a vontade.
Como diz Dionísio, é próprio à providência divina, não corromper, mas
conservar a natureza das coisas 3. Donde, move todas as coisas
conforme a condição delas, e, assim, por moção divina as causas necessárias
produzem necessariamente os seus efeitos, e as causas contingentes, contingentemente
os seus. Ora, a vontade é um princípio activo não determinado a um só termo,
mas comportando-se indiferentemente em relação a muitos. Donde, Deus move-a sem
determiná-la necessariamente a um termo, permanecendo-lhe, antes, o movimento
contingente e não necessário, salvo naquilo ao que é naturalmente movida.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — No poder da divina vontade está não somente
operar por meio da coisa que move, mas ainda, fazer tal de modo congruente a
essa coisa. E por isso, mais repugnaria à moção divina ser a vontade movida
necessariamente, o que não lhe convém à natureza, do que livremente, como lhe
convém.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― É natural a um ser tudo o que Deus nele opera para que seja o que
é, assim, a cada ser convém o que Deus quer lhe convenha. Ora, ele não quer que
tudo o operado nas coisas seja natural ― p. ex., que os mortos ressuscitem ―
mas sim, que cada ser natural esteja submetido ao poder divino.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Se Deus move a vontade para alguma coisa, é impossível mas não
absolutamente, que a vontade para esta não seja movida. Donde não se segue que
a vontade seja necessariamente movida por Deus.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1.
Q. 10, a. 2 ad 3.
2.
XXVI Contra Faustum, cap. III.
3. De div. nom., lect.
XIII.
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