04/02/2013

Tratado dos actos humanos 22


Art. 6 ― Se a vontade é movida só por Deus, como princípio exterior.




(I, q. 105, a . 4, q. 106, a . 2, q. 111, a . 2, II Sent., dist. XV, q. 1, a . 3, III Cont. Gent., cap. LXXXVIII, XCI, XCII, De Verit., q. 22, a . 8, 9, De Malo, q. 3, ª 3, q. 6, Compend. Theol, cap. CXXIX).

O sexto discute-se assim. ― Parece que a vontade não é movida só por Deus, como princípio exterior.



1. ― Pois, o inferior é por natureza movido pelo superior, assim, os corpos inferiores, pelos corpos celestes. Ora, o anjo é superior, além de Deus, à vontade humana. Logo, ela pode ser movida também por este, como princípio exterior.

2. Demais. ― O acto da vontade resulta do acto do intelecto. Ora, o intelecto humano é actualizado, não só por Deus, mas também pelo anjo, por meio de iluminação, como diz Dionísio 1. Logo, pela mesma razão também a vontade.

3. Demais. ― Deus é a causa só dos bens, conforme a Escritura (Gn 1, 31): E viu Deus todas as coisas que tinha feito, e eram muito boas. Se, pois a vontade do homem fosse movida só por Deus, nunca seria movida para o mal, ora, pela vontade é que pecamos e vivemos rectamente, como diz Agostinho 2.

Mas, em contrário, diz a Escritura (Fp 2, 13): Deus é o que obra em vós o querer e o perfazer.

O movimento da vontade, assim como o natural, procede do interior. Pois, embora um motor possa mover uma coisa natural, de cuja natureza ele não é a causa, contudo só pode causar o movimento natural ao que é, de certo modo, a causa da natureza. Assim, a pedra é movida para cima pelo homem, que não lhe causa a natureza, mas esse movimento não lhe é natural e só lhe pode ser causado pelo que lhe causou a natureza. E é por isso que o gerador move os corpos graves e leves localmente, como diz o Filósofo 3. Donde, o homem, dotado de vontade, pode ser movido pelo que não lhe é a causa, mas é impossível que o seu movimento voluntário proceda de algum princípio extrínseco, que não seja a causa da vontade.

Ora, só Deus pode ser a causa da vontade, o que se demonstra de duplo modo. Primeiramente, porque a vontade é uma potência da alma racional, que só Deus causa, por criação, como se disse na primeira parte. E depois, porque a vontade, ordenando-se ao bem universal, só Deus pode ser a causa dela. Enquanto qualquer outro bem é por participação e particular, ora, causa particular não pode dar inclinação universal. Logo, nem a matéria-prima, potencial em relação a todas as formas, pode ser causada por qualquer agente particular.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O anjo não é superior ao homem a ponto de lhe ser causa da vontade, a modo dos corpos celestes, causa das formas naturais de que resultam os movimentos naturais dos corpos da natureza.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― O intelecto do homem é movido pelo anjo, quanto ao objecto que lhe é proposto ao conhecimento por virtude de iluminação Angélica. E assim também a vontade pode ser movida pela criatura exterior, como já se disse 4.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Deus, como motor universal, move a vontade do homem para o bem, objecto universal dela. E o homem, que não pode querer nada sem essa moção universal, pode contudo, pela razão, determinar-se a querer tal coisa ou tal outra, que é bem verdadeiro ou aparentemente. ― Às vezes, porém, e em especial, Deus move alguns a quererem um determinado bem, como aqueles que move pela graça, como a seguir se dirá 5.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Cap. IV Caelest. Hier.
2. I Retract., cap. IX.
3. VIII Physic., lect. VIII.
4. Q. 9, a. 4.
5. Q. 111 a. 2.

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