1. Quem é Deus?
Ao longo da história, colocou-se em todas as culturas esta pergunta; tanto assim é que os primeiros sinais de civilização se encontram geralmente no âmbito religioso e do culto. Crer em Deus é o mais importante para o homem de todos os tempos 1. A diferença essencial é em que Deus se crê. De facto, nalgumas religiões pagãs o homem adorava as forças da natureza enquanto manifestações concretas do sagrado e contava com uma pluralidade de deuses ordenada hierarquicamente. Na antiga Grécia, por exemplo, também a divindade suprema entre um panteão de deuses, era regida, por sua vez, por uma necessidade absoluta, que abarcava o mundo e os próprios deuses 2. Para bastantes estudiosos da história das religiões, em muitos povos deu-se uma progressiva redução a partir de uma “revelação primigénia” do Deus único; mas, em todo o caso, inclusivamente nos cultos mais degradados podem encontrar-se luzes ou indícios nos seus costumes da religiosidade verdadeira: a adoração, o sacrifício, o sacerdócio, a oferta, a oração, a acção de graças, etc.
A
razão, tanto na Grécia, como noutros lugares, procurou purificar a religião,
mostrando que a divindade suprema tinha que se identificar com o Bem, a Beleza
e o próprio Ser, enquanto fonte de tudo o que é bom, de todo o belo e de tudo o
que existe. Mas, isto sugere outros problemas, concretamente o afastamento de
Deus por parte do fiel, pois, desse modo, a divindade suprema ficava isolada
numa perfeita autarquia, já que a própria possibilidade de estabelecer relações
com a divindade era vista como um sinal de fraqueza. Além disso, também não via
solucionada a presença do mal, que aparece de algum modo como necessária, pois
o princípio supremo está unido por uma cadeia de seres intermédios sem solução
de continuidade com o mundo.
A
revelação judaico-cristã alterou radicalmente este quadro: Deus é apresentado
na Escritura como criador de tudo o que existe e origem de toda a força
natural. A existência divina precede absolutamente a existência do mundo, que é
radicalmente dependente de Deus. Está aqui contida a ideia de transcendência:
entre Deus e o mundo a distância é infinita e não existe uma conexão necessária
entre eles. O homem e toda a criação poderiam não ser, e no que são dependem
sempre de outro; enquanto Deus é, e é por Si mesmo. Esta distância infinita,
esta absoluta pequenez do homem diante de Deus mostra que tudo o que existe é
querido por Deus com a Sua vontade e a Sua liberdade: tudo o que existe é bom e
fruto do amor (cf. Gn 1). O poder de Deus não é limitado, nem no espaço, nem no
tempo e, por isso, a Sua acção criadora é dom absoluto: é amor. O Seu poder é
tão grande que quer manter a Sua relação com as criaturas; e inclusive
salvá-las se, por causa da sua liberdade, estas se afastaram do Criador.
Portanto, a origem do mal há que situá-lo na relação com o eventual uso
equivocado da liberdade por parte do homem – coisa que de facto ocorreu, como
narra o Génesis (Gn 3) e não como algo intrínseco à matéria.
giulio maspero
Bibliografia básica:
Catecismo da Igreja Católica, 199-231;
268-274.
Compêndio do Catecismo da Igreja
Católica, 36-43; 50.
Leituras recomendadas:
São Josemaria, Homilia «Humildade», em
Amigos de Deus, 104-109.
J. Ratzinger, El Dios de los
cristianos. Meditaciones, Ed. Sígueme, Salamanca 2005.
(Resumos da Fé cristã: © 2013,
Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet)
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Notas:
1
O ateísmo é um fenómeno moderno que tem raízes religiosas, enquanto nega a
verdade absoluta de Deus apoiando-se numa verdade que é igualmente absoluta, ou
seja, a negação da Sua existência. Precisamente por isso, o ateísmo é um
fenómeno secundário em relação à religião e pode também entender-se como uma
“fé” de sentido negativo. O mesmo se pode dizer do relativismo contemporâneo.
Sem a revelação, estes fenómenos de negação absoluta seriam inconcebíveis.
2
Os deuses estavam sujeitos ao Destino (Fado), que tudo dirigia como uma
necessidade, muitas vezes, sem sentido: daí o sentimento trágico da existência
que caracteriza o pensamento e a literatura gregos.
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