A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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C. I. C. nr. 1020 a 1060
ARTIGO 12
«CREIO NA VIDA ETERNA»
1020. O cristão, que une
a sua própria morte à de Jesus, encara a morte como chegada até junto d'Ele,
como entrada na vida eterna. A Igreja, depois de, pela última vez, ter
pronunciado sobre o cristão moribundo as palavras de perdão da absolvição de
Cristo e de, pela última vez, o ter marcado com uma unção fortificante e lhe
ter dado Cristo, no Viático, como alimento para a viagem, fala-lhe com estas
doces e confiantes palavras:
«Parte deste mundo, alma
cristã, em nome de Deus Pai omnipotente, que te criou, em nome de Jesus Cristo,
Filho de Deus vivo, que por ti sofreu, em nome do Espírito Santo, que sobre ti
desceu; chegues hoje ao lugar da paz e a tua morada seja no céu, junto de Deus,
na companhia da Virgem Maria. Mãe de Deus, de São José e de todos os Anjos e
Santos de Deus [...]. Confio-te ao Criador para que voltes Àquele que te formou
do pó da terra. Venham ao encontro de ti, que estás a partir desta vida, Santa
Maria, os Anjos e todos os Santos [...]. Vejas o teu Redentor face a face e
gozes da contemplação de Deus pelos séculos dos séculos» (605).
I. O juízo particular
1021. A morte põe termo
à vida do homem, enquanto tempo aberto à aceitação ou à rejeição da graça
divina, manifestada em Jesus Cristo (606). O Novo Testamento fala do juízo,
principalmente na perspectiva do encontro final com Cristo na sua segunda
vinda. Mas também afirma, reiteradamente, a retribuição imediata depois da
morte de cada qual, em função das suas obras e da sua fé. A parábola do pobre
Lázaro (607) e a palavra de Cristo crucificado ao bom ladrão (608), assim como
outros textos do Novo Testamento (609), falam dum destino final da alma (610),
o qual pode ser diferente para umas e para outras.
1022. Ao morrer, cada
homem recebe na sua alma imortal a retribuição eterna, num juízo particular que
põe a sua vida em referência a Cristo, quer através duma purificação (611),
quer para entrar imediatamente na felicidade do céu (612), quer para se
condenar imediatamente para sempre (613).
«Ao entardecer desta
vida, examinar-te-ão no amor» (614).
II. O céu
1023. Os que morrerem na
graça e na amizade de Deus e estiverem perfeitamente purificados, viverão para
sempre com Cristo. Serão para sempre semelhantes a Deus, porque O verão «tal
como Ele é» (1 Jo 3, 2), «face a face» (1 Cor 13, 12) (615):
«Com a nossa autoridade
apostólica, definimos que, por geral disposição divina, as almas de todos os santos
mortos antes da paixão de Cristo [...] e as de todos os outros fiéis que
morreram depois de terem recebido o santo Baptismo de Cristo e nas quais nada
havia a purificar no momento da morte, ou ainda daqueles que, se no momento da
morte houve ou ainda há qualquer coisa a purificar, acabaram por o fazer [...]
mesmo antes de ressuscitarem em seus corpos e do Juízo universal – e isto
depois da Ascensão ao céu do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo –, estiveram,
estão e estarão no céu, associadas ao Reino dos céus e no paraíso celeste, com
Cristo, na companhia dos santos anjos. E depois da paixão e morte de nosso
Senhor Jesus Cristo, essas almas viram e vêem a essência divina com uma visão
intuitiva e face a face, sem a mediação de qualquer criatura» (616).
1024. Esta vida perfeita
com a Santíssima Trindade, esta comunhão de vida e de amor com Ela, com a
Virgem Maria, com os anjos e todos os bem-aventurados, chama-se «céu». O céu é
o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado de
felicidade suprema e definitiva.
1025. Viver no céu é
«estar com Cristo» (617). Os eleitos vivem «n'Ele»; mas n'Ele conservam, ou
melhor, encontram a sua verdadeira identidade, o seu nome próprio (618):
«Porque a vida consiste
em estar com Cristo, onde está Cristo, aí está a vida, aí está o Reino» (619).
1026. Pela sua morte e
ressurreição, Jesus Cristo «abriu-nos» o céu. A vida dos bem-aventurados
consiste na posse em plenitude dos frutos da redenção operada por Cristo, que
associa à sua glorificação celeste aqueles que n'Ele acreditaram e permaneceram
fiéis à sua vontade. O céu é a comunidade bem-aventurada de todos os que estão
perfeitamente incorporados n'Ele.
1027. Este mistério de
comunhão bem-aventurada com Deus e com todos os que estão em Cristo ultrapassa
toda a compreensão e toda a representação. A Sagrada Escritura fala-nos dele
por imagens: vida, luz, paz, banquete de núpcias, vinho do Reino, casa do Pai,
Jerusalém celeste, paraíso: aquilo que «nem os olhos viram, nem os ouvidos
escutaram, nem jamais passou pelo pensamento do homem, Deus o preparou para
aqueles que O amam» (1 Cor 2, 9).
1028. Em virtude da sua
transcendência, Deus não pode ser visto tal como é, senão quando Ele próprio
abrir o seu mistério à contemplação imediata do homem e lhe der capacidade para
O contemplar. Esta contemplação de Deus na sua glória celeste é chamada pela
Igreja «visão beatífica»:
«Qual não será a tua
glória e a tua felicidade quando fores admitido a ver a Deus, a ter a honra de
participar nas alegrias da salvação e da luz eterna, na companhia de Cristo
Senhor teu Deus, [...] gozar no Reino dos céus, na companhia dos justos e dos
amigos de Deus, das alegrias da imortalidade alcançada!» (620).
1029. Na glória do céu,
os bem-aventurados continuam a cumprir com alegria a vontade de Deus, em
relação aos outros homens e a toda a criação. Eles já reinam com Cristo. Com
Ele «reinarão pelos séculos dos séculos» (Ap 22, 5) (621).
III. A purificação final ou Purgatório
1030. Os que morrem na
graça e na amizade de Deus, mas não de todo purificados, embora seguros da sua
salvação eterna, sofrem depois da morte uma purificação, a fim de obterem a
santidade necessária para entrar na alegria do céu.
1031. A Igreja chama
Purgatório a esta purificação final dos eleitos, que é absolutamente distinta
do castigo dos condenados. A Igreja formulou a doutrina da fé relativamente ao
Purgatório sobretudo nos concílios de Florença (622) e de Trento (623). A
Tradição da Igreja, referindo-se a certos textos da Escritura (624) fala dum
fogo purificador:
«Pelo que diz respeito a
certas faltas leves, deve crer-se que existe, antes do julgamento, um fogo
purificador, conforme afirma Aquele que é a verdade, quando diz que, se alguém
proferir uma blasfémia contra o Espírito Santo, isso não lhe será perdoado nem
neste século nem no século futuro (Mt 12, 32). Desta afirmação podemos deduzir
que certas faltas podem ser perdoadas neste mundo e outras no mundo que há-de
vir» (625).
1032. Esta doutrina
apoia-se também na prática da oração pelos defuntos, de que já fala a Sagrada
Escritura: «Por isso, [Judas Macabeu] pediu um sacrifício expiatório para que
os mortos fossem livres das suas faltas» (2 Mac 12, 46). Desde os primeiros
tempos, a Igreja honrou a memória dos defuntos, oferecendo sufrágios em seu
favor, particularmente o Sacrifício eucarístico para que, purificados, possam
chegar à visão beatífica de Deus. A Igreja recomenda também a esmola, as
indulgências e as obras de penitência a favor dos defuntos:
«Socorramo-los e façamos
comemoração deles. Se os filhos de Job foram purificados pelo sacrifício do seu
pai (627) por que duvidar de que as nossas oferendas pelos defuntos lhes levam
alguma consolação? [...] Não hesitemos em socorrer os que partiram e em
oferecer por eles as nossas orações» (628).
IV. O Inferno
1033. Não podemos estar
em união com Deus se não escolhermos livremente amá-Lo. Mas não podemos amar a
Deus se pecarmos gravemente contra Ele, contra o nosso próximo ou contra nós
mesmos: «Quem não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia o seu irmão é
um homicida: ora vós sabeis que nenhum homicida tem em si a vida eterna» (1 Jo
3, 14-15). Nosso Senhor adverte-nos de que seremos separados d'Ele, se
descurarmos as necessidades graves dos pobres e
dos pequeninos seus irmãos (629). Morrer em pecado mortal sem
arrependimento e sem dar acolhimento ao amor misericordioso de Deus, significa
permanecer separado d'Ele para sempre, por nossa própria livre escolha. E é
este estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os
bem-aventurados que se designa pela palavra «Inferno».
1034. Jesus fala muitas
vezes da «gehena» do «fogo que não se apaga» (630) reservada aos que recusam,
até ao fim da vida, acreditar e converter-se, e na qual podem perder-se, ao
mesmo tempo, a alma e o corpo (631). Jesus anuncia, em termos muitos severos,
que «enviará os seus anjos que tirarão do seu Reino [...] todos os que
praticaram a iniquidade, e hão-de lançá-los na fornalha ardente»(Mt 13, 41-42),
e sobre eles pronunciará a sentença: «afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo
eterno» (Mt 25, 41).
1035. A doutrina da
Igreja afirma a existência do Inferno e a sua eternidade. As almas dos que
morrem em estado de pecado mortal descem imediatamente, após a morte, aos
infernos, onde sofrem as penas do Inferno, «o fogo eterno» (632). A principal
pena do inferno consiste na separação eterna de Deus, o único em Quem o homem
pode ter a vida e a felicidade para que foi criado e a que aspira.
1036. As afirmações da
Sagrada Escritura e os ensinamentos da Igreja a respeito do Inferno são um
apelo ao sentido de responsabilidade com que o homem deve usar da sua
liberdade, tendo em vista o destino eterno. Constituem, ao mesmo tempo, um
apelo urgente à conversão: «Entrai pela porta estreita, pois larga é a porta e
espaçoso o caminho que levam à perdição e muitos são os que seguem por eles.
Que estreita é a porta e apertado o caminho que levam à vida e como são poucos
aqueles que os encontram!» (Mt 7, 13-14):
«Como não sabemos o dia
nem a hora, é preciso que, segundo a recomendação do Senhor, vigiemos
continuamente, a fim de que, no termo da nossa vida terrena, que é só uma,
mereçamos entrar com Ele para o banquete de núpcias e ser contados entre os
benditos, e não sejamos lançados, como servos maus e preguiçosos, no fogo
eterno, nas trevas exteriores, onde "haverá choro e ranger de
dentes"» (633).
1037. Deus não
predestina ninguém para o Inferno (634). Para ter semelhante destino, é preciso
haver uma aversão voluntária a Deus (pecado mortal) e persistir nela até ao
fim. Na liturgia eucarística e nas orações quotidianas dos seus fiéis, a Igreja
implora a misericórdia de Deus, «que não quer que ninguém pereça, mas que todos
se convertam» (2 Pe 3, 9):
«Aceitai benignamente,
Senhor, a oblação que nós, vossos servos, com toda a vossa família, Vos
apresentamos. Dai a paz aos nossos dias livrai-nos da condenação eterna e
contai-nos entre os vossos eleitos» (635).
V. O Juízo final
1038. A ressurreição de
todos os mortos, «justos e pecadores» (Act 24, 15), há-de preceder o Juízo
final. Será «a hora em que todos os que estão nos túmulos hão-de ouvir a sua
voz e sairão: os que tiverem praticado o bem, para uma ressurreição de vida, e
os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de condenação» (Jo 5,
28-29). Então Cristo virá «na sua glória, com todos os seus anjos [...]. Todas
as nações se reunirão na sua presença e Ele separará uns dos outros, como o
pastor separa as ovelhas dos cabritos; e colocará as ovelhas à sua direita e os
cabritos à sua esquerda. [...] Estes irão para o suplício eterno e os justos
para a vida eterna» (Mt 25, 31-33.46).
1039. É perante Cristo,
que é a Verdade, que será definitivamente posta descoberto a verdade da relação
de cada homem com Deus (636). O Juízo final revelará, até às suas últimas
consequências, o que cada um tiver feito ou deixado de fazer de bem durante a
sua vida terrena:
«Todo o mal que os maus
fazem é registado – e eles não o sabem. No dia em que "Deus virá e não se
calará" (Sl 50, 3) [...]. Então, Ele Se voltará para os da sua esquerda:
"Na terra, dir-lhes-á, Eu tinha posto para vós os meus pobrezinhos, Eu,
Cabeça deles, estava no céu sentado à direita do Pai – mas na terra os meus
membros tinham fome: o que vós tivésseis dado aos meus membros, teria chegado à
Cabeça. Quando Eu coloquei os meus pobrezinhos na terra, constituí-os vossos
portadores para trazerem as vossas boas obras ao meu tesouro. Vós nada
depositastes nas mãos deles: por isso nada encontrais em Mim"» (637).
1040. O Juízo final terá
lugar quando acontecer a vinda gloriosa de Cristo. Só o Pai sabe o dia e a
hora, só Ele decide sobre a sua vinda. Pelo seu Filho Jesus Cristo. Ele
pronunciará então a sua palavra definitiva sobre toda a história. Nós ficaremos
a saber o sentido último de toda a obra da criação e de toda a economia da
salvação, e compreenderemos os caminhos admiráveis pelos quais a sua
providência tudo terá conduzido para o seu fim último. O Juízo final revelará
como a justiça de Deus triunfa de todas as injustiças cometidas pelas suas
criaturas e como o seu amor é mais forte do que a morte (638).
1041. A mensagem do
Juízo final é um apelo à conversão, enquanto Deus dá ainda aos homens «o tempo
favorável, o tempo da salvação» (2 Cor 6, 2). Ela inspira o santo temor de
Deus, empenha na justiça do Reino de Deus e anuncia a «feliz esperança» (Tt 2,
13) do regresso do Senhor, que virá «para ser glorificado nos seus santos, e
admirado em todos os que tiverem acreditado» (2 Ts 1, 10).
VI. A esperança dos novos céus e da nova terra
1042. No fim dos tempos,
o Reino de Deus chegará à sua plenitude. Depois do Juízo final, os justos
reinarão para sempre com Cristo, glorificados em corpo e alma, e o próprio
universo será renovado:
Então a Igreja alcançará
«na glória celeste, a sua realização acabada, quando vier o tempo da
restauração de todas as coisas e, quando, juntamente com o género humano,
também o universo inteiro, que ao homem está intimamente ligado e por ele
atinge o seu fim, for perfeitamente restaurado em Cristo» (639).
1043. A esta misteriosa
renovação, que há-de transformar a humanidade e o mundo, a Sagrada Escritura
chama «os novos céus e a nova terra» (2 Pe 3, 13) (640). Será a realização
definitiva do desígnio divino de «reunir sob a chefia de Cristo todas as coisas
que há nos céus e na terra» (Ef 1, 10).
1044. Neste «mundo novo»
(641), a Jerusalém celeste, Deus terá a sua morada entre os homens. «Há-de
enxugar-lhes dos olhos todas as lágrimas; a morte deixará de existir, e não
mais haverá luto, nem clamor, nem fadiga. Porque o que havia anteriormente
desapareceu» (Ap 21, 4) (642).
1045. Para o homem, esta
consumação será a realização final da unidade do género humano, querida por
Deus desde a criação e da qual a Igreja peregrina era «como que o sacramento»
(643). Os que estiverem unidos a Cristo formarão a comunidade dos resgatados, a
«Cidade santa de Deus» (Ap 21, 2), a «Esposa do Cordeiro» (Ap 21, 9). Esta não
mais será atingida pelo pecado, pelas manchas (644), pelo amor próprio, que
destroem e ferem a comunidade terrena dos homens. A visão beatífica, em que
Deus Se manifestará aos eleitos de modo inesgotável, será a fonte inexaurível
da felicidade, da paz e da mútua comunhão.
1046. Quanto ao cosmos,
a Revelação afirma a profunda comunidade de destino entre o mundo material e o
homem:
Na verdade, as criaturas
esperam ansiosamente a revelação dos filhos de Deus [...] com a esperança de
que as mesmas criaturas sejam também libertadas da corrupção que escraviza
[...]. Sabemos que toda a criatura geme ainda agora e sofre as dores da
maternidade. E não só ela, mas também nós, que possuímos as primícias do
Espírito, gememos interiormente, esperando a adopção filial e a libertação do
nosso corpo» (Rm 8, 19-23).
1047. Assim, pois,
também o universo visível está destinado a ser transformado, «a fim de que o
próprio mundo, restaurado no seu estado primitivo, esteja sem mais nenhum
obstáculo ao serviço dos justos» (645), participando na sua glorificação em
Jesus Cristo ressuscitado.
1048. «Ignoramos o tempo
em que a terra e a humanidade atingirão a sua plenitude, e também não sabemos
como é que o universo será transformado. Porque a figura deste mundo, deformada
pelo pecado, passa certamente, mas Deus ensina-nos que se prepara uma nova
habitação e uma nova terra, na qual reinará a justiça e cuja felicidade
satisfará e superará todos os desejos de paz que se levantam no coração dos
homens» (646).
1049. «A expectativa da
nova terra não deve, porém, enfraquecer, mas antes activar a solicitude em
ordem a desenvolver esta terra onde cresce o corpo da nova família humana, que
já consegue apresentar uma certa prefiguração do mundo futuro. Por conseguinte,
embora o progresso terreno se deva cuidadosamente distinguir do crescimento do
Reino de Cristo, todavia, na medida em que pode contribuir para a melhor organização
da sociedade humana, interessa muito ao Reino de Deus» (647).
1050. «Pois todos os
bens da dignidade humana, da comunhão fraterna e da liberdade, ou seja, todos
os frutos excelentes da natureza e do nosso esforço, depois de os termos
propagado pela terra, no Espírito do Senhor e segundo o seu mandato, voltaremos
de novo a encontrá-los, mas então purificados de qualquer mancha, iluminados e
transfigurados, quando Cristo entregar ao Pai o Reino eterno e universal»
(648). Então, Deus será «tudo em todos» (1 Cor 15, 28), na vida eterna:
«A vida subsistente e
verdadeira é o Pai que, pelo Filho e no Espírito Santo, derrama sobre todos sem
excepção os dons celestes. Graças à sua misericórdia, também nós, homens,
recebemos a promessa indefectível da vida eterna» (649).
Resumindo:
1051. Ao morrer: cada homem recebe, na sua alma
imortal, a sua retribuição eterna, num juízo particular feito por Cristo, Juiz
dos vivos e dos mortos.
1052. «Nós cremos que as almas de todos os que
morrem na graça de Cristo [...] constituem o povo de Deus no além da morte, a
qual será definitivamente destinada no dia da ressurreição, quando estas almas
forem reunidas aos seus corpos» (650).
1053. «Nós cremos que a multidão dessas almas que
estão congregadas à volta de Jesus e de Maria, no paraíso, formam a Igreja
celeste onde, na eterna bem-aventurança, vêem Deus como Ele é onde também,
certamente em graus e modos diversos, estão associadas aos santos anjos no
governo divino exercido por Cristo glorioso, intercedendo por nós e ajudando a
nossa fraqueza com a sua solicitude fraterna» (651).
1054. Os que morrem na graça e amizade de Deus,
mas imperfeitamente purificados, embora seguros da sua salvação eterna, sofrem
depois da morte uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para
entrar na alegria de Deus.
1055. Em virtude da «comunhão dos santos», a
Igreja encomenda os defuntos à misericórdia de Deus e oferece em seu favor
sufrágios, em particular o santo Sacrifício eucarístico.
1056. Seguindo o exemplo de Cristo, a Igreja
adverte os fiéis da «triste e lamentável realidade da morte eterna» (652),
também chamada «Inferno».
1057. A pena principal do Inferno consiste na
separação eterna de Deus, o único em Quem o homem pode encontrar a vida e a
felicidade para que foi criado e às quais aspira.
1058. A Igreja ora para que ninguém se perca:
«Senhor [...], não permitais que eu me separe de Vós» (653). Sendo verdade que ninguém se pode salvar a
si mesmo, também é verdade que «Deus quer que todos se salvem» (1 Tm 2, 4) e
que a Ele «tudo é possível» (Mt 19, 26).
1059. «A santa Igreja Romana crê e firmemente
confessa que, no dia do Juízo, todos os homens hão-de comparecer com o seu
próprio corpo perante o tribunal de Cristo, para prestar contas dos seus
próprios actos» (654).
1060. No fim dos tempos, o Reino de Deus chegará à
sua plenitude. Então, os justos reinarão com Cristo para sempre, glorificados
em corpo e alma; o próprio universo material será transformado. Deus será,
então, «tudo em todos» (1 Cor 15, 28), na vida eterna.
«AMEN»
1061. O Credo, tal como
o último livro da Sagrada Escritura (655) termina com a palavra hebraica Ámen,
palavra que se encontra com frequência no final das orações do Novo Testamento.
Do mesmo modo, a Igreja termina com um «Ámen» as suas orações.
1062. Em hebraico, Ámen
está ligado à mesma raiz que a palavra «crer», raiz que exprime solidez,
confiança, fidelidade. Assim se compreende porque é que o «Ámen» se pode dizer
tanto da fidelidade de Deus para connosco como da nossa confiança n'Ele.
1063. No profeta Isaías
encontramos a expressão «Deus de verdade», literalmente «Deus do Ámen», quer
dizer, o Deus fiel às suas promessas: «Todo aquele que desejar ser abençoado
sobre a terra deve desejar sê-lo pelo Deus fiel (do Ámen)» (Is 65, 16). Nosso
Senhor emprega frequentemente a palavra «Ámen» (656), por vezes sob forma
redobrada» (657), para sublinhar a confiança que deve inspirar a sua doutrina,
a sua autoridade fundada na verdade de Deus.
1064. O «Ámen» final do
Credo retoma e confirma, portanto, a palavra com que começa: «Creio». Crer é
dizer «Ámen» às palavras, às promessas, aos mandamentos de Deus; é fiar-se
totalmente n'Aquele que é o «Ámen» de infinito amor e perfeita fidelidade. A
vida cristã de cada dia será, então, o «Ámen» ao «Creio» da profissão de fé do
nosso Baptismo:
«Que o teu Símbolo seja
para ti como um espelho. Revê-te nele, para ver se crês tudo quanto dizes crer.
E alegra-te todos os dias na tua fé» (658).
1065. O próprio Jesus
Cristo é o «Ámen» (Ap 3, 14). É o Ámen definitivo do amor do Pai para connosco:
assume e leva a bom termo o nosso «Ámen» ao Pai: «É que todas as promessas de
Deus encontram n'Ele um «sim»! Desse modo, por seu intermédio, nós dizemos
«Ámen» a Deus, a fim de lhe darmos glória» (2 Cor 1, 20):
«Por Cristo, com Cristo,
em Cristo, a Vós, Deus Pai todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda a
honra e toda a glória agora e para sempre. ÁMEN»
(659).
_________________________
Notas:
606. Cf. 2 Tm 1, 9-10.
607. Cf. Lc 16, 22.
608. Cf. Lc 23, 43.
609. Cf. 2 Cor 5, 5: Fl 1, 23; Heb 9, 27:
12, 23.
610. Cf. Mt 16, 26.
611. Cf. II Concílio de Lião, Professio fidei Michaelis Palaeologi
imperatoris: DS 856: Concílio de Florença,
Decr. pro Graecis: DS 1304: Concílio de Trento, Sess. 25ª, Decretum de purgatorio: DS 1820.
612. Cf. II Concílio de Lião, Professio fidei Michaelis Palaeologi
imperatoris: DS 857; João XXII, Buda Ne super his: DS 991; Bento XII, Const.
Benedictus Deus: DS 1000-1001; Concílio de Florença, Decr. pro Graecis: DS
1305.
613. Cf. II Concílio de Lião, Professio fidei Michaelis Palaeologi
imperatoris: DS 858; Bento XII, Const. Benedictus Deus: DS 1002; Concílio de
Florença, Decr. pro Graecis: DS 1306.
614. São João da Cruz, Avisos y sentencias. 57: Biblioteca Mística
Carmelitana, N. 13 (Burgos 1931), p. 238. [S. João da Cruz, Ditos de luz, e
amor. 57: Obras Completas (Paço de Arcos, Edições Carmelo 1986) P. 1015].
615. Cf. Ap 22, 4.
616. Bento XII. Const. Benedictus Deus: DS 1000; cf. II Concílio
do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, 49 AAS 57 (1965) 54.
617. Cf. Jo 14, 3; Fl 1, 23: 1 Ts 4, 17.
618. Cf. Ap 2, 17.
619. Santo Ambrósio, Expositio evangelii secundum Lucam 10, 121:
CCL, 14, 379 (PL 15-1927).
620. São Cirpriano de Cartago, Epistula 58, 10: CSEL 3/2, (1996):
665; 58.10.1: CCL 3C, 333-334 (56, 10: PL 4, 367-368).
621. Cf. Mt 25, 21.23.
622. Cf. Conc. de Florença, Decr. pro Graecis: DS 1304.
623. Cf. Concílio de Trento, Sess. 25ª, Decretum de purgatorio: DS
1820: Sess. 6ª. Decr. de iustificatione, canon 30: DS 1580.
624. Por exemplo, 1 Cor 3, 15: 1 Pe 1, 7.
625. São Gregório Magno, Dialogi 4, 41, 3: SC 265, 148 (4, 39: PL
77, 396).
626. Cf. II Concílio de Lião, Professio fidei Michaelis Palaeologi
imperatoris: DS 856.
627. Cf. Job 1, 5.
628. São João Crisóstomo, In epistulam I ad Corinthios homilia 41,
5: PG 61, 361.
629. Cf. Mt 25, 31-46.
630. Cf. Mt 5, 22.29; 13, 42.50; Mc 9,
43-48.
631. Cf. Mt 10, 28.
632. Cf. Symbolum Quicumque: DS 76; Synodus Constantinopolitana. q
(em 543), Anathematismi contra Origenem, 7: DS 409; Ibid, 9: DS 411; IV
Concílio de Latrão, Cap. I, De fide catholica: DS 801: II Concílio de Lião,
Professio fidei Michaelis Palaeologi imperatoris: DS 858; Bento XII, Const.
Benedictus Deus: DS 1002; Concílio de Florença, Decr. pro Iacobitis: DS 1351:
Concílio de Trento, Sess. 6ª, Decr. de iustiftcatione, canon 25: DS 1575; Paulo
VI. Sollemnis Professio fidei, 12: AAS 60 (1968) 438.
633. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, 48: AAS
57 (1965) 54.
634. II Concílio de Orange, Conclusio: DS 397; Concílio de Trento,
Sess. 6ª. Decr: de iustificatione, canon 17: DS 1567.
635. Oração Eucarística I ou Cânone Romano, 88: Missale Romanum,
editio typica (Typis Polyglottis Vaticanis 1970), p. 450 [Missal Romano,
Gráfica de Coimbra 1992, 518].
636. Cf. Jo 12, 48.
637. Santo Agostinho, Sermão 18, 4, 4: CCL 41, 247-249 (PL 38,
130-131).
638. Cf. Ct 8, 6.
639. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, 48: AAS 57 (1965) 53.
640. Cf. Ap 21, 1.
641. Cf. Ap 21, 5.
642. Cf. Ap 21, 27.
643. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, 1: AAS 57 (1965) 5.
644. Cf. Ap 21, 27.
645. Santo Ireneu de Lião, Adversus Haereses 5, 32. 1: SC 153, 398
(PG 7, 1210).
646. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et spes, 39:
AAS 58 (1966) 1056-1057.
647. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et spes, 39:
AAS 58 (1966) 1057.
648. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et spes, 39: AAS 58 (1966) 1057:
cf. Const. dogm. Lumen Gentium, 2: AAS 57 (1965)
5-6.
649. São Cirilo de Jerusalém, Catecheses illuminandorum 18, 29:
Opera. v. 2. ed. J. Rupp (Monaci 1870)
p. 332 (PG 33, 1049).
650. Paulo VI, Sollemnis
Professio fidei, 28: AAS 60 (1968) 444.
651. Paulo VI, Sollemnis Professio fidei, 29: AAS 60 (1968) 444.
652. Cf. Sagrada Congregação do Clero, Directorium catechisticum
generale, 69: AAS 64 (1972) 141.
653. Oração antes da Comunhão, 132: Missale Romanum, editio typica
(Typis Polyglottis Vaticanas 1970), p. 474 [Missal Romano, Gráfica de Coimbra
1992, 546].
654. II Concílio de Lião, Professio fidei Michaelis Palaeologi
imperatoris: DS 859: cf. Concílio de Trento, Sess. 6ª, Decretum de
iustifiatione, c. 16: DS 1549.
655. Cf. Ap 22, 21.
656. Cf. Mt 6, 2.5.16.
657. Cf. Jo 5, 19.
658. Santo Agostinho, Sermão 58, 11, 13: PL 38, 399.
659. Doxologia final da oração eucarística: Missale Romanum,
editio typica (Typis Polygottis Vaticanis 1970), p. 455, 460, 464 e 471 [Missal
Romano, Gráfica de Coimbra 1992, p. 522, 528, 535, 543, etc.].
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