A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho:
Mt 26, 1-29
1 Aconteceu que, tendo Jesus acabado todos estes
discursos, disse aos Seus discípulos: 2 «Vós sabeis que daqui a dois
dias será celebrada a Páscoa e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado».
3 Foi então que se reuniram os príncipes dos sacerdotes e os anciãos
do povo no palácio do sumo pontífice, que se chamava Caifás, 4 e
tiveram conselho acerca dos meios de prenderem a Jesus por astúcia, e de O
matarem. 5 Mas eles diziam: «Não se faça isto durante a festa, para
que não suceda levantar-se algum tumulto entre o povo». 6 Estando
Jesus em Betânia, em casa de Simão o leproso, 7 aproximou-se d'Ele
uma mulher com um frasco de alabastro, cheio de um perfume precioso, e o
derramou sobre a Sua cabeça, quando Ele estava à mesa. 8 Vendo isto,
os discípulos indignaram-se, dizendo: «Para quê este desperdício? 9
Porque este perfume podia vender-se por bom preço, e dar-se aos pobres». 10
Jesus, sabendo isto, disse-lhes: «Porque molestais esta mulher? Ela fez-Me
verdadeiramente uma obra boa. 11 Porque vós tereis sempre convosco
pobres, mas a Mim nem sempre Me tereis. 12 Derramando ela este
perfume sobre o Meu corpo, fê-lo como para a Minha sepultura. 13 Em
verdade vos digo que onde quer que for pregado este Evangelho, em todo o mundo,
publicar-se-á também para sua memória o que ela fez». 14 Então um
dos doze, que se chamava Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos
sacerdotes, 15 e disse-lhes: «Que me quereis dar e eu vo-l'O
entregarei?». Eles prometeram-lhe trinta moedas de prata. 16 E desde
então buscava oportunidade para O entregar. 17 No primeiro dia dos
ázimos, aproximaram-se de Jesus os discípulos, dizendo: «Onde queres que Te
preparemos o que é necessário para comer a Páscoa?». 18 Jesus
disse-lhes: «Ide à cidade, a casa de um tal, e dizei-lhe: “O Mestre manda
dizer: O Meu tempo está próximo, quero celebrar a Páscoa em tua casa com os
Meus discípulos”». 19 Os discípulos fizeram como Jesus tinha ordenado
e prepararam a Páscoa. 20 Ao entardecer, pôs-se Jesus à mesa com os
doze. 21 Enquanto comiam, disse-lhes: «Em verdade vos digo que um de
vós Me há-de trair». 22 Eles, muito tristes, cada um começou a
dizer: «Porventura sou eu, Senhor?» 23 Ele respondeu: «O que mete
comigo a mão no prato, esse é que Me há-de trair. 24 O Filho do
Homem vai certamente, como está escrito d'Ele, mas ai daquele homem por quem
será entregue o Filho do Homem! Melhor fora a tal homem não ter nascido». 25
Judas, o traidor, tomou a palavra e disse: «Porventura, sou eu, Mestre?». Jesus
respondeu-lhe: «Tu o disseste». 26 Enquanto comiam, tomou Jesus o
pão, pronunciou a bênção, e partiu-o, e deu-o aos Seus discípulos, dizendo:
«Tomai e comei, isto é o Meu corpo». 27 Tomando depois o cálice, deu
graças, e deu-lho, dizendo: «Bebei dele todos. 28 Porque isto é o
Meu sangue, o sangue da nova aliança, que será derramado por todos para
remissão dos pecados. 29 Digo-vos, porém: desta hora em diante não
beberei mais deste fruto da videira, até àquele dia em que o beberei de novo
convosco no reino de Meu Pai».
C. I. C. nr. 422 a 421
422. «Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu
Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam
sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adoptivos» (Gl 4, 4-5). Esta é a
«Boa-Nova de Jesus Cristo, Filho de Deus» (1): Deus visitou o seu
povo (2) e cumpriu as promessas feitas a Abraão e à sua descendência
(3) fê-lo para além de toda a expectativa: enviou o seu «Filho
muito-amado» (4).
423. Nós cremos e confessamos que Jesus de Nazaré, judeu nascido
duma filha de Israel, em Belém, no tempo do rei Herodes o Grande e do imperador
César Augusto, carpinteiro de profissão, morto crucificado em Jerusalém sob o
procurador Pôncio Pilatos no reinado do imperador Tibério, é o Filho eterno de
Deus feito homem; que Ele «saiu de Deus» (Jo 13, 3), «desceu do céu» (Jo 3, 13;
6, 33) e «veio na carne» (5), porque «o Verbo fez-Se carne e habitou
entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que Lhe vem do Pai como Filho
Unigénito, cheio de graça e de verdade [...] Na verdade, foi da sua plenitude
que todos nós recebemos, graça sobre graça» (Jo 1, 14, 16).
424. Movidos pela graça do
Espírito Santo e atraídos pelo Pai, nós cremos e confessamos a respeito de
Jesus: «Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo» (Mt 16, 16). Foi sobre o rochedo
desta fé, confessada por Pedro, que Cristo edificou a sua Igreja (6).
«ANUNCIAR
A INSONDÁVEL RIQUEZA DE CRISTO» (Ef 3, 8)
425. A transmissão da fé cristã é, antes de mais, o anúncio de
Jesus Cristo, para Levar à fé n'Ele. Desde o princípio, os primeiros discípulos
arderam no desejo de anunciar Cristo: «Nós é que não podemos deixar de dizer o
que vimos e escutámos» (Act 4, 20). E convidam os homens de todos os tempos a
entrar na alegria da sua comunhão com Cristo:
«O que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos
e as nossas mãos tocaram acerca do Verbo da vida, é o que nós vos anunciamos,
pois a vida manifestou-Se e nós vimo-la e dela damos testemunho: nós vos
anunciamos a vida eterna que estava junto do Pai e nos foi manifestada. Nós vos
anunciamos o que vimos e ouvimos, para que estejais também em comunhão
connosco. E a comunhão em que estamos é com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo.
E escrevemos tudo isto para a nossa alegria ser completa» (1 Jo, 1, 1-4).
NO CORAÇÃO
DA CATEQUESE: CRISTO
426. «No coração da catequese, encontramos essencialmente uma
Pessoa: Jesus de Nazaré, Filho único do Pai [...], que sofreu e morreu por nós
e que agora, ressuscitado, vive connosco para sempre [...]. Catequizar [...] é
revelar, na Pessoa de Cristo, todo o desígnio eterno de Deus [...]. É procurar
compreender o significado dos gestos e das palavras de Cristo e dos sinais por
Ele realizados» (7). O fim da catequese é «pôr em comunhão com Jesus
Cristo: somente Ele pode levar ao amor do Pai, no Espírito, e fazer-nos
participar na vida da Santíssima Trindade» (8).
427. «Na catequese, é Cristo, Verbo Encarnado e Filho de Deus, que
é ensinado; tudo o mais é-o em referência a Ele. E só Cristo ensina. Todo e qualquer
outro o faz apenas na medida em que é seu porta-voz, consentindo em que Cristo
ensine pela sua boca [...]. Todo o catequista deveria poder aplicar a si
próprio a misteriosa palavra de Jesus: "A minha doutrina não é minha, mas
d'Aquele que Me enviou" (Jo 7, 16)» (9).
428. Aquele que é chamado a «ensinar Cristo» deve, portanto, antes
de mais nada, procurar «esse lucro sobreeminente que é o conhecimento de Jesus
Cristo». Tem de «aceitar perder tudo [...] para ganhar Cristo e encontrar-se
n'Ele» e «conhecê-Lo, a Ele, na força da sua ressurreição e na comunhão com os
seus sofrimentos, conformar-se com Ele na morte, na esperança de chegar a ressuscitar
dos mortos» (Fl 3, 8-11).
429. Deste conhecimento amoroso de Cristo brota o desejo de O
anunciar, de «evangelizar» e levar os outros ao «sim» da fé em Jesus Cristo.
Mas, ao mesmo tempo, faz-se sentir a necessidade de conhecer sempre melhor esta
fé. Com esse objectivo, seguindo a ordem do Símbolo da fé, primeiro serão
apresentados os principais títulos de Jesus: Cristo, Filho de Deus, Senhor
(Artigo 2). O Símbolo confessa, em seguida, os principais mistérios da vida de
Cristo: da sua Encarnação (Artigo 3), da sua Páscoa (Artigos 4 e 5) e, por fim,
da sua Glorificação (Artigos 6 e 7).
ARTIGO 2
«E EM
JESUS CRISTO, SEU ÚNICO FILHO, NOSSO
SENHOR»
I. Jesus
430. Em hebraico, Jesus quer dizer «Deus salva». Quando da Anunciação,
o anjo Gabriel dá-Lhe como nome próprio o nome de Jesus, o qual exprime, ao
mesmo tempo, a sua identidade e a sua missão (10). Uma vez que «só Deus
pode perdoar os pecados» (Mc 2, 7), será Ele quem, em Jesus, seu Filho eterno
feito homem, «salvará o seu povo dos seus pecados» (Mt 1, 21). Em Jesus, Deus
recapitula, assim, toda a sua história de salvação em favor dos homens.
431. Nesta história da salvação, Deus não Se contenta com libertar
Israel «da casa da escravidão» (Dt 5, 6), fazendo-o sair do Egipto. Salvou-o
também dos seus pecados. Porque o pecado é sempre uma ofensa feita a Deus (11),
só Ele é que pode absolvê-lo (12). É por isso que Israel, tomando
cada vez mais consciência da universalidade do pecado, só poderá procurar a
salvação na invocação do nome do Deus Redentor (13).
432. O nome de Jesus significa que o próprio nome de Deus está presente
na pessoa do seu Filho (14) feito homem para a redenção universal e
definitiva dos pecados. Ele é o único nome divino que traz a salvação (15)
e pode desde agora ser invocado por todos, pois a todos os homens Se uniu pela
Encarnação (16), de tal modo que «não existe debaixo do céu outro
nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos» (Act 4, l2) (17).
433. O nome de Deus salvador era invocado apenas uma vez por ano,
pelo sumo-sacerdote, para expiação dos pecados de Israel, depois de ter
aspergido o propiciatório do «santo dos santos» com o sangue do sacrifício
(18). O propiciatório era o lugar da presença de Deus (19). Quando
São Paulo diz de Jesus que Deus O «ofereceu para, n'Ele, pelo seu sangue, se
realizar a expiação» (Rm 3, 25), quer dizer que, na sua humanidade, «era Deus
que em Cristo reconciliava o mundo consigo» (2 Cor 5, 19).
434. A ressurreição de Jesus glorifica o nome de Deus salvador (20)
porque, a partir daí, é o nome de Jesus que manifesta em plenitude o poder
supremo do nome que está acima de todos os nomes» (Fl 2, 9-10). Os espíritos
maus temem o seu nome (21) e é em seu nome que os discípulos de
Jesus fazem milagres (22), porque tudo o que pedem ao Pai, em seu
nome, Ele lho concede (23).
435. O nome de Jesus está no centro da oração cristã. Todas as orações
litúrgicas se concluem com a fórmula «per Dominum nostrum Jesum Christum – por
nosso Senhor Jesus Cristo». A Ave-Maria culmina nas palavras «e bendito é o
fruto do vosso ventre, Jesus». A oração-do-coração dos Orientais, chamada
«oração a Jesus», diz: «Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor, tem piedade de
mim, pecador». E muitos cristãos morrem, como Santa Joana d'Arc, tendo nos
lábios apenas uma palavra: «Jesus» (24).
II. Cristo
436. Cristo vem da tradução grega do termo hebraico «Messias», que
quer dizer «ungido». Só se torna nome próprio de Jesus porque Ele cumpre
perfeitamente a missão divina que tal nome significa. Com efeito, em Israel
eram ungidos, em nome de Deus, aqueles que Lhe eram consagrados para uma missão
d'Ele dimanada. Era o caso dos reis (25), dos sacerdotes (26)
e, em raros casos, dos profetas (27). Este devia ser, por
excelência, o caso do Messias, que Deus enviaria para estabelecer
definitivamente o seu Reino (28). O Messias devia ser ungido pelo
Espírito do Senhor (29), ao mesmo tempo como rei e sacerdote (30)
mas também como profeta (31). Jesus realizou a expectativa
messiânica de Israel na sua tríplice função de sacerdote, profeta e rei.
437. O anjo anunciou aos pastores o nascimento de Jesus como sendo
o do Messias prometido a Israel: «nasceu-vos hoje, na cidade de David, um
salvador que é Cristo, Senhor» (Lc 2, 11). Desde a origem, Ele é «Aquele que o
Pai consagrou e enviou ao mundo» (Jo 10, 36), concebido como «santo» no seio
virginal de Maria (32). José foi convidado por Deus a «levar para
sua casa Maria, sua esposa», grávida d'«Aquele que nela foi gerado pelo poder
do Espírito Santo» (Mt 1, 20), para que Jesus, «chamado Cristo», nascesse da
esposa de José, na descendência messiânica de David (Mt 1, 16) (33).
438. A consagração messiânica de Jesus manifesta a sua missão divina.
«Aliás, é o que indica o seu próprio nome; porque no nome de Cristo está
subentendido Aquele que ungiu. Aquele que foi ungido e a própria Unção com que
foi ungido. Aquele que ungiu é o Pai, Aquele que foi ungido é o Filho, e foi-o
no Espírito que é a Unção» (34). A sua eterna consagração messiânica
revelou-se no tempo da sua vida terrena, quando do seu baptismo por João,
altura em que «Deus O ungiu com o Espírito Santo e poder» (Act 10, 38), «para
que se manifestasse a Israel» (Jo 1, 31) como seu Messias. As suas obras e
palavras dá-lo-ão a conhecer como «o santo de Deus» (35).
439. Numerosos judeus, e mesmo alguns pagãos que partilhavam da
sua esperança, reconheceram em Jesus os traços fundamentais do messiânico
«filho de David», prometido por Deus a Israel (36). Jesus aceitou o
título de Messias a que tinha direito (37), mas não sem reservas,
uma vez que esse título era compreendido, por numerosos dos seus
contemporâneos, segundo um conceito demasiado humano (38),
essencialmente político (39).
440. Jesus aceitou a profissão de fé de Pedro, que O reconhecia
como o Messias, anunciando a paixão próxima do Filho do Homem (40).
Revelou o conteúdo autêntico da sua realeza messiânica, ao mesmo tempo na
identidade transcendente do Filho do Homem «que desceu do céu» (Jo 3, 13) (41)
e na sua missão redentora como Servo sofredor: «O Filho do Homem [...] não veio
para ser servido, veio para servir e dar a vida como resgate pela multidão» (Mt
20, 28) (42). Foi por isso que o verdadeiro sentido da sua realeza
só se manifestou do cimo da cruz (43). E só depois da ressurreição,
a sua realeza messiânica poderá ser proclamada por Pedro perante o Povo de
Deus: «Saiba, com absoluta certeza, toda a casa de Israel, que Deus fez Senhor
e Messias esse Jesus que vós crucificastes» (Act 2, 36).
III. Filho
único de Deus
441. Filho de Deus, no Antigo Testamento, é um título dado aos
anjos (44), ao povo eleito (45) aos filhos de Israel (46)
e aos seus reis (47). Nestes casos, significa uma filiação adoptiva,
que estabelece entre Deus e a sua criatura relações de particular intimidade.
Quando o Rei-Messias prometido é chamado «filho de Deus» (48), isso
não implica necessariamente, segundo o sentido literal de tais textos, que Ele
seja mais que um simples ser humano. Os que assim designaram Jesus, enquanto
Messias de Israel (49), talvez não tenham querido dizer mais (50).
442. Mas não é este o caso de Pedro, quando confessa Jesus como
«Cristo, o Filho de Deus vivo» (51), porque Jesus responde-lhe solenemente:
«não foram a carne nem o sangue que to revelaram, mas sim o meu Pai que está
nos céus» (Mt 16, 17). De igual modo, Paulo dirá, a propósito da sua conversão
no caminho de Damasco: «Quando aprouve a Deus –
que me escolheu desde o seio de minha mãe e me chamou pela sua graça –
revelar o seu Filho em mim, para que O anuncie como Evangelho aos gentios...»
(Gl 1, 15-16). «E logo começou a proclamar nas sinagogas que Jesus era o Filho
de Deus» (Act 9, 20). Será este, desde o princípio (52),o núcleo da
fé apostólica (53), primeiramente professada por Pedro como
fundamento da Igreja (54).
443. Se Pedro pôde reconhecer o carácter transcendente da filiação
divina de Jesus-Messias, foi porque Este lha deixou perceber nitidamente.
Diante do Sinédrio, à pergunta dos seus acusadores: «Então, tu és o Filho de
Deus?» Jesus respondeu: «É como dizeis, sou» (Lc 22, 70) (55). Já
muito antes, Ele Se designara como «o Filho» que conhece o Pai (56),
diferente dos «servos» que Deus anteriormente enviara ao seu povo (57),
superior aos próprios anjos (58). Ele distinguiu a sua filiação da dos Seus
discípulos, nunca dizendo «Pai nosso» (59), a não ser para lhes
ordenar: «vós, quando rezardes, dizei assim: Pai nosso» (Mt 6,9); e sublinhou
esta distinção: «o meu Pai e vosso Pai» (Jo 20, 17).
444. Os evangelhos referem, em dois momentos solenes, no baptismo
e na transfiguração de Cristo, a voz do Pai, que O designa como seu «filho
muito-amado» (60). Jesus designa-Se a Si próprio como «o Filho único
de Deus» (Jo 3, 16), afirmando por este título a sua preexistência eterna (61).
E exige a fé «no nome do Filho único de Deus» (Jo 3, 18). Esta profissão de fé
cristã aparece já na exclamação do centurião diante de Jesus crucificado: «Verdadeiramente,
este homem era o Filho de Deus!» (Mc 15, 39); porque somente no Mistério Pascal
o crente pode dar pleno significado ao título de «Filho de Deus».
445. É depois da ressurreição que a filiação divina de Jesus aparece
no poder da sua humanidade glorificada: «Segundo o Espírito santificante, pela
sua ressurreição de entre os mortos, Ele foi estabelecido como Filho de Deus em
poder» (Rm 1, 4) (62). E os Apóstolos poderão confessar: «Nós vimos
a sua glória, glória que Lhe vem do Pai como a Filho único, cheio de graça e de
verdade» (Jo 1, 14).
IV. Senhor
446. Na tradução grega dos Livros do Antigo Testamento, o nome
inefável sob o qual Deus Se revelou a Moisés (63), YHWH, é traduzido
por «Kyrios» («Senhor»). Senhor torna-se, desde então, o nome mais habitual
para designar a própria divindade do Deus de Israel. É neste sentido forte que
o Novo Testamento utiliza o título de «Senhor», tanto para o Pai como também –
e aí é que está a novidade – para Jesus, assim reconhecido como sendo Ele
próprio Deus (64).
447. O próprio Jesus veladamente atribui a Si mesmo este título,
quando discute com os fariseus sobre o sentido do Salmo 110 (65), e
também, de modo explícito, ao dirigir-Se aos Apóstolos (66). Ao longo
de toda a vida pública, os seus gestos de domínio sobre a natureza, sobre as
doenças, sobre os demónios, sobre a morte e o pecado, demonstravam a sua
soberania divina.
448. Muitíssimas vezes, nos evangelhos, aparecem pessoas que se
dirigem a Jesus chamando-lhe «Senhor». Este título exprime o respeito e a
confiança dos que se aproximam de Jesus e d'Ele esperam socorro e cura (67).
Pronunciado sob a moção do Espírito Santo, exprime o reconhecimento do Mistério
divino de Jesus (68). No encontro com Jesus ressuscitado,
transforma-se em adoração: «Meu Senhor e meu Deus» (Jo 20, 28). Assume então
uma conotação de amor e afeição, que vai ficar como típica da tradição cristã:
«E o Senhor!» (Jo 21, 7).
449. Ao atribuir a Jesus o título divino de Senhor, as primeiras
confissões de fé da Igreja afirmam, desde o princípio (69), que o
poder, a honra e a glória, devidos a Deus Pai, também são devidos a Jesus (70),
porque Ele é «de condição divina» (Fl 2, 6) e o Pai manifestou esta soberania
de Jesus ressuscitando-O de entre os mortos e exaltando-O na sua glória (71).
450. Desde o princípio da história cristã, a afirmação do senhorio
de Jesus sobre o mundo e sobre a história (72) significa também o
reconhecimento de que o homem não deve submeter a sua liberdade pessoal, de
modo absoluto, a nenhum poder terreno, mas somente a Deus Pai e ao Senhor Jesus
Cristo: César não é o «Senhor» (73). «A Igreja crê... que a chave, o
centro e o fim de toda a história humana se encontra no seu Senhor e Mestre» (74).
451. A oração cristã é marcada pelo título de «Senhor», quer no convite
à oração: «O Senhor esteja convosco», quer na conclusão da mesma: «Por nosso
Senhor Jesus Cristo», quer ainda pelo grito cheio de confiança e de esperança:
«Maran atha» («O Senhor vem!») ou «Marana tha» («Vem, Senhor!») (1 Cor 16, 22):
«Amen, vem, Senhor Jesus!» (Ap 22, 20).
Resumindo:
452. O
nome de Jesus significa «Deus salva». O menino nascido da Virgem Maria é
chamado «Jesus», «porque salvará o seu povo dos seus pecados» (Mt 1, 21); «não
existe debaixo do céu outro nome dado aos homens, pelo qual possamos ser
salvos» (Act 4, 12).
453. O
nome de Cristo significa «Ungido», «Messias». Jesus é Cristo, porque «Deus O
ungiu com o Espírito Santo e o poder» (Act 10, 38). Ele era «Aquele que estava
para vir» (Lc 7, 19), o objecto da «esperança de Israel» (75).
454. O
nome de Filho de Deus significa a relação única e eterna de Jesus Cristo com
Deus seu Pai: Ele é o Filho único do Pai (76) e, Ele próprio, Deus (77). Crer que Jesus Cristo é o Filho de Deus é condição necessária
para ser cristão (78).
455. O
nome de Senhor significa a soberania divina. Confessar ou invocar Jesus como
Senhor é crer na sua divindade. «Ninguém pode dizer "Jesus é Senhor",
a não ser pela acção do Espírito Santo» (1 Co 12, 3).
_____________________
Notas:
1. Cf. Mc 1, 1.
2. Cf. Lc 1, 68.
3. Cf. Lc 1, 55.
4. Cf. Mc 1, 11.
5. Cf. 1 Jo 4, 2.
6. Cf. Mt 16, 18: São Leão Magno. Sermão 4, 3: CCL 88, 19-20 (PL
54, 151 ); Sermão 51, 1: CCL 88A. 296-297 (PL 54, 309): Sermão 62, 2: CCL 88A,
377-378 (PL 54, 350-351); Sermão 83, 3: CCL 88A, 521-522 (PL 54, 432).
7. João Paulo II. Ex. Ap. Catechesi tradendae, 5: AAS 71 (1979).
1280-1281.
8. João Paulo II. Ex. Ap. Catechesi tradendae, 5: AAS 71 (1979).
1281.
9. João Paulo II. Ex. Ap. Catechesi tradendae, 6: AAS 71 (1979).
1281-1282.
10. Cf. Lc 1 , 3 1 .
11. Cf. Sl 51 , 6.
12. Cf. Sl 51. 11.
13. Cf. Sl 79, 9.
14. Cf. Act 5, 41: 3 Jo 7.
15.
Cf. Jo 3, 18: Act 2. 21.
16. Cf. Rom 10, 6-13.
17.
Cf. Act 9. 14; Tg 2, 7.
18. Cf. Lv 16, 15-16: Sir 50, 20-22: Heb
9, 7.
19. Cf. Ex 25, 22; Lv 16, 2; Nm 7, 8 9;
Heb 9, 5.
20. Cf. Jo 12. 28.
21. Cf. Act 16, 16-18; 19, 13-16.
22. Cf. Mc 16. 17.
23. Cf. Jo 15, 16.
24. Cf. La réhabilitation de Jeanne la
Pucelle. L'enquête ordonée par Charles VII en 1450 et le codicille de Guillaume
Bouillé, ed. P. Doncoeur – Y. Larhers (Paris 1956), p. 39.45.56.
25. Cf. 1 Sm 9, 16; 10, 1; 16, 1.12-13: 1
Rc 1, 39.
26.
Cf. Ex 29, 7; Lv 8, 12.
27. Cf. 1 Rs 19, 16.
28. Cf. Sl 2, 2; Act 4, 26-27.
29. Cf. Is 11, 2.
30. Cf. Zc 4, 14; 6, 13.
31. Cf. Is 61, 1; Lc 4, 16-21.
32. Cf.
Lc 1, 35.
33. Cf. Rm 1, 3; 2 Tm 2, 8: Ap 22. 16.
34. Santo Ireneu de Lyon, Adversus Haereses 3, 18, 3; SC 211, 350
(PG 7, 934).
35.
Cf. Mc 1, 24; Jo 6, 69; Act 3, 14.
36. Cf. Mt 2, 2; 9, 27; 12, 23; 15, 22;
20, 30; 21, 9.15.
37. Cf. Jo 4, 25-26; 11, 27.
38. Cf. Mt 22, 41-46.
39. Cf. Jo 6, 15; Lc 24, 21.
40. Cf. Mt 16, 16-23.
41. Cf. Jo 6, 62; Dn 7, 13.
42. Cf. Is 53, 10-12.
43. Cf. Jo 19, 19-22; Lc 23, 39-43.
44. Cf. Dt (LXX) 32, 8; Job 1. 6.
45. Cf. Ex 4, 22; Os 11, 1; Jer 3, 19: Sir
36,14; Sb 18, 13.
46. Cf. Dt 14, 1; Os 2, 1.
47. Cf. 2 Sm 7, 14; Sl 82, 6.
48. Cf. 1 Cr 17, 13; Sl 2. 7.
49. Cf. Mt 27, 54.
50. Cf. Lc 23, 47.
51. Cf. Mt 16, 16.
52. Cf. 1 Ts 1, 10.
53. Cf. Jo 20, 31.
54. Cf. Mt 16, 18.
55.
Cf. Mt 26, 64; Mc 14, 62.
56. Cf. Mt 11, 27; 21, 37-38.
57.
Cf. Mt 21, 34-36.
58. Cf. Mt 24, 36.
59. Cf. Mt 5, 48; 6, 8; 7. 21; Lc 11, 13.
60. Cf. Mt 3, 17; 17, 5.
61. Cf. Jo 10, 36.
62. Cf. Act 13, 33.
63. 63 Cf. Ex 3, 14.
64. Cf. 1 Cor 2, 8.
65. Cf. Mt 22, 41-46; cf. também Act 2. 34-36; Heb 1, 13.
66. Cf. Jo 13, 13.
67. Cf. Mt 8, 2: 14, 30; 15, 22: etc.
68. Cf. Lc 1, 43; 2, 11.
69. Cf. Act 2, 34-36.
70. Cf. Rm 9, 5; Tt 2, 13: Ap 5, 13.
71. Cf. Rm 10, 9; 1 Cor 12, 3; Fl 2. 9-11.
72. Cf. Ap 1, 15.
73. Cf.Mc 12, 17; Act 5, 29.
74. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et spes, 10; AAS 58 (1966) 1033;
cf. ibid., 45: AAS 58 (1966) 1066
75. Cf. Act 28, 20.
76. Cf. Jo 1, 14, 18; 3, 16,18.
77. Cf. Jo 1, 1.
78. Cf. Act 8, 37; 1 Jo 2, 23, 7
79. DS 150.
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