21.
Idêntico raciocínio, pelo mesmo motivo, deve fazer-se sobre os pontos
essenciais da doutrina cristã que sofrem, nos nossos dias, um ataque
intolerante por parte de grupos de pessoas cegamente obstinadas em eliminar o
sentido religioso da sociedade civil. Infelizmente, existem muitos exemplos;
desde ataques grosseiros a Jesus Cristo, a quem tentam ridicularizar, até
acusações caluniosas contra a Igreja, os seus ministros, as suas instituições.
A
tarefa do cristão, que deseja ser coerente com a sua vocação consiste em
mostrar Cristo aos outros, saber-se alto-falante, primeiro com o exemplo, mas
também com a palavra oportuna, dos ensinamentos da Igreja, especialmente nos
temas mais debatidas na opinião pública. Vem-me à memória o que tão claramente
expôs D. Álvaro: «Como é necessário varrer primeiro a própria casa (...), cada
um deve examinar como se preocupa com esta obrigação particularmente cristã» [36].
Palavras que soam como um eco da pregação do Apóstolo aos primeiros fiéis: esta
é a vontade de Deus: a vossa santificação (…) que cada um de vós saiba possuir
o seu corpo santa e honestamente, sem se deixar levar pelas paixões
desregradas, como os pagãos que não conhecem Deus; e que ninguém, nesta
matéria, oprima nem defraude o seu irmão (…). Pois Deus não nos chamou para a
impureza, mas para a santidade.(1 Ts 4, 3-7).
A
recomendação de S. Paulo adquire singular relevo nas circunstâncias presentes.
É impossível, de facto, lutar eficazmente contra essa onda viscosa e suja que
procura envolver tudo, se no nosso interior se admite alguma cumplicidade,
mesmo que pareça pequena, com essas «coisas perversas, que sobem e sobem,
fervendo dentro de ti, até quererem sufocar, com a sua podridão bem cheirosa,
os grandes ideais, os mandamentos sublimes que o próprio Cristo pôs no teu
coração» [37].
Com
o mesmo relevo ressalta o texto de S. Gregório Nazianzeno, que o beato João
Paulo II citava na sua exortação apostólica sobre a missão dos Bispos. Assim se
expressava esse Padre e Doutor da Igreja: «Temos de começar por nos purificar,
antes de purificarmos os outros; temos de ser instruídos, para podermos
instruir; temos de nos tornar luz para iluminar, de nos aproximar de Deus para
podermos aproximar d’Ele os outros, ser santos para santificar» [38].
Porque
não nos consideramos melhores que os outros – e não nos enganamos nesta
apreciação –, convém-nos voltar uma e outra vez a tratar de adequar o mais
perfeitamente possível a nossa situação pessoal com a doutrina de Jesus Cristo.
Temos de nos persuadir de que, primeiro, havemos de lutar no nosso interior,
decididos de verdade a conformar com a vontade de Deus os nossos pensamentos,
projetos, palavras e ações, mesmo nas coisas mais pequenas: «a luta tem uma
frente dentro de nós mesmos, a frente das nossas paixões. Vigia quem luta
interiormente, para se afastar decididamente da ocasião de pecado, do que pode
debilitar a fé, desvanecer a esperança ou prejudicar o Amor» [39].
Copyright © Prælatura Sanctæ Crucis et
Operis Dei
Nota: Publicação devidamente
autorizada
____________________
Notas:
[36]
Venerável Álvaro del Portillo, Carta, 1-I-1994.
[37]
S. Josemaria, Caminho, n. 493.
[38]
S. Gregório Nazianzeno, Oração II, 71 (PG 35, 479); cit. em Beato João Paulo
II, Exort. Apost. Pastores gregis, 16-X-2003, n. 12.
[39]
S. Josemaria, Carta 28-III-1973, n. 10.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.