28.
A Epístola aos Hebreus coloca diante dos nossos olhos uma sucessão de homens e
mulheres fiéis que, ao longo da história da salvação, desde o justo Abel,
acreditaram em Deus e aderiram a Ele com todas as energias da sua inteligência
e da sua vontade, gastando gozosamente a sua existência ao Seu serviço (cfr.
Heb 11, 4-40). Destaca-se entre todos a figura de Abraão, nosso pai na fé [46],
de quem havemos de aprender também a fortaleza da sua esperança em Deus, porque
todos nós havemos de crescer na vida teologal ao longo dos próximos meses,
fiando-nos cada vez mais dos meios que nos conduzem ao Céu e pedindo com
firmeza à Trindade que nos aumente a fé, a esperança, a caridade.
Quando
se encontrava na cidade de Ur dos Caldeus, «Abraão, ouviu a palavra do Senhor
que o arrancava da sua terra, do seu povo e, em certo sentido, de si próprio,
para fazer dele o instrumento dum desígnio de salvação que abraçava o futuro
povo da aliança e mesmo todos os povos do mundo» [47].
Imediatamente, sem vacilar, o patriarca pôs-se a caminho.
Foi
pela fé que Abraão, obedecendo ao apelo divino, partiu para uma terra que devia
receber em herança. E partiu não sabendo para onde ia. Foi pela fé que ele
habitou na terra prometida, como em terra estrangeira, habitando aí em tendas
com Isaac e Jacob, co-herdeiros da mesma promessa. Porque tinha a esperança
fixa na cidade assentada sobre os fundamentos (eternos), cujo arquiteto e
construtor é Deus. Foi pela fé que a própria Sara cobrou o vigor de conceber,
apesar da sua idade avançada, porque acreditou na fidelidade daquele que lhe
havia prometido. Assim, de um só homem quase morto nasceu uma posteridade tão
numerosa como as estrelas do céu e inumerável como os grãos de areia da praia
do mar (Heb 11, 8-12).
A
mesma epopeia de acreditar firmemente continua e desenvolve-se, com maior
intensidade e extensão, no Novo Testamento. Mestra inigualável é a Virgem
Santíssima que «pela fé, (…) acolheu a palavra do Anjo e acreditou no anúncio
de que seria Mãe de Deus na obediência da sua dedicação (cfr. Lc 1, 38). Ao
visitar Isabel, elevou o seu cântico de louvor ao Altíssimo pelas maravilhas
que realizava em quantos a Ele se confiavam (cfr. Lc 1, 46-55). Com alegria e
trepidação, deu à luz o seu Filho unigénito, mantendo intacta a sua virgindade
(cfr. Lc 2, 6-7). Confiando em José, seu Esposo, levou Jesus para o Egito a fim
de O salvar da perseguição de Herodes (cfr. Mt 2, 13-15). Com a mesma fé,
seguiu o Senhor na sua pregação e permaneceu a seu lado mesmo no Gólgota (cfr.
Jo 19, 25-27). Com fé, Maria saboreou os frutos da ressurreição de Jesus e,
conservando no coração a memória de tudo (cfr. Lc 2, 19.51), transmitiu-a aos
Doze reunidos com Ela no Cenáculo para receberem o Espírito Santo (cfr. Act 1,
14; 2, 1-4)» [48].
Por
isso, meditar e aprofundar na fé de Maria nos conduz e ajuda a sentir a total
dependência que temos de Deus, dependência que nos faz entender que, agarrados
firmemente à sua mão, nos tornamos capazes de fazer maravilhas, com uma ajuda
extraordinária para a nossa própria existência, para a Igreja, para a
corredenção que nos foi confiada; uma ajuda extraordinária que chega
logicamente às tarefas e ninharias aparentemente mais indiferentes, porque com
Deus póssumus!, podemos tudo; e sem Ele, nihil, nada.
Pela
fé, os Apóstolos deixaram tudo para seguir o Mestre. Da mesma forma atuaram os
discípulos da primeira hora, e os mártires que deram a vida para testemunhar o
Evangelho, e inumeráveis cristãos de todos os tempos, também recentes. «Pela
fé, no decurso dos séculos, homens e mulheres de todas as idades, cujo nome
está escrito no Livro da vida (cfr. Ap 7, 9; 13, 8), confessaram a beleza de
seguir o Senhor Jesus nos lugares onde eram chamados a dar testemunho do seu
ser cristão: na família, na profissão, na vida pública, no exercício dos
carismas e ministérios a que foram chamados» [49].
Copyright © Prælatura Sanctæ Crucis et
Operis Dei
Nota: Publicação devidamente
autorizada
____________________
Notas:
[46]
Missal Romano, Oração Eucarística I.
[47]
Beato João Paulo II, Carta sobre a peregrinação aos lugares vinculados com a
história da salvação, 29-VI-1999, n. 5.
[48]
Bento XVI, Carta Apost. Porta fídei, 11-X-2011, n. 13.
[49]
Bento XVI, Carta Apost. Porta fídei, 11-X-2011, n. 13.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.