Art. 7 — Se a bem-aventurança
do homem consiste no conhecimento das substâncias separadas, i. é, dos anjos.
(I, q. 64, 1, ad 1, III Cont.
Gent., cap. XLIV, In Boet, de Trin., q. 6, a. 4, ad 3).
O
sétimo discute-se assim. — Parece que a bem-aventurança do homem consiste no
conhecimento das substâncias separadas, i. é, dos anjos.
1. — Pois, como diz Gregório: De nada serve participar dos regozijos dos homens se não chegarmos a participar dos angélicos, com o que designa a bem-aventurança final. Ora, podemos participar dos regozijos angélicos pela contemplação deles. Logo, nessa contemplação consiste a felicidade última do homem.
2.
Demais. — A perfeição última de um ser consiste em unir-se ao seu princípio,
assim, diz-se que o círculo é figura perfeita, porque tem o mesmo princípio e o
mesmo fim. Ora, o princípio do conhecimento humano está nos anjos, pelos quais
os homens são iluminados, como diz Dionísio (1). Logo, a perfeição
do intelecto humano consiste na contemplação dos anjos.
3.
Demais. — Uma natureza é perfeita quando está unida a uma natureza superior,
assim, a perfeição última do corpo consiste em estar unido à natureza
espiritual. Ora, superiores ao intelecto humano, na ordem da natureza, são os
anjos. Logo, a perfeição última desse intelecto está em unir-se com os próprios
anjos, pela contemplação.
Mas,
em contrário, diz Jeremias (Jr 9, 24): Porém nisto se glorie aquele que se
gloria, em conhecer-me e em saber. Logo, a glória última do homem, ou a bem-aventurança
não consiste senão no conhecimento de Deus.
Como já se disse, a bem-aventurança perfeita do homem não consiste em ser a
perfeição do intelecto, participativamente, mas em ser tal essencialmente. Ora,
como é manifesto, o que constitui a perfeição de uma potência contém em
essência o objecto próprio dessa potência. E sendo o objecto, próprio do
intelecto a verdade, a contemplação do que tem a verdade participada não torna
perfeito o intelecto, por perfeição última. Ora, sendo a disposição das coisas,
quanto à existência, a mesma que a disposição quanto à verdade, segundo
Aristóteles (2), todos os seres, por participação são também verdadeiros
do mesmo modo. Ora, os anjos têm a existência participada, porque só em Deus a
existência é a essência, como já se demonstrou na primeira parte. Donde
resulta, que só Deus é a verdade por essência e que a contemplação dele torna
perfeitamente feliz. — Nada, porém, impede admitir-se uma certa bem-aventurança
imperfeita pela contemplação dos anjos, e mesmo mais alta do que na
consideração das ciências especulativas.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Participaremos dos regozijos angélicos não só
contemplando-os, mas, simultaneamente com eles, Deus.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — Para os que consideram as almas humanas criadas pelos anjos, é mui
consequente consista a bem-aventurança do homem na contemplação deles, sendo
essa como que a união com o seu princípio. Mas isto é erróneo, como já se disse
na primeira parte. Donde, a perfeição última do intelecto humano procede da
união com Deus, princípio tanto da criação da alma como da sua iluminação. Ao
passo que o anjo ilumina como ministro, conforme já se estabeleceu na primeira
parte. Donde, pelo seu ministério, ajuda o homem a chegar à bem-aventurança,
não sendo porém o objecto da bem-aventurança humana.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — A natureza superior pode ser atingida pela inferior de dois modos.
Primeiro, quanto ao grau da potência participante, e então a perfeição última
do homem estará em chegar a contemplar como os anjos contemplam. Segundo, como
o objecto é atingido pela potência, e então a perfeição última de uma potência
está em atingir aquilo em que plenamente se encontra a essência do seu objecto.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1.
IV De Cael. Hier.
2.
II Metaphys.
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