27/12/2012

Leitura espiritual para 27 Dez 2012


Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.

Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Mt 20, 17-34


17 Ao subir Jesus para Jerusalém, tomou à parte os doze discípulos, e disse-lhes pelo caminho: 18 «Eis que subimos a Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas, e O condenarão à morte, 19 e O entregarão aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado, e ao terceiro dia ressuscitará». 20 Então, aproximou-se d'Ele a mãe dos filhos de Zebedeu com seus filhos, prostrando-se, para Lhe fazer um pedido. 21 Ele disse-lhe: «Que queres?». Ela respondeu: «Ordena que estes meus dois filhos se sentem no Teu reino, um à Tua direita e outro à Tua esquerda». 22 Jesus disse: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu hei-de beber?». Eles responderam-Lhe: «Podemos». 23 Disse-lhes: «Efectivamente haveis de beber o Meu cálice, mas, quanto a sentar-se à Minha direita ou à Minha esquerda, não pertence a Mim concedê-lo; será para aqueles para quem está reservado por Meu Pai». 24 Os outros dez, ouvindo isto, indignaram-se contra os dois irmãos. 25 Mas Jesus chamou-os e disse-lhes: «Vós sabeis que os príncipes das nações as subjugam e que os grandes as governam com autoridade.26 Não seja assim entre vós, mas todo aquele que quiser ser entre vós o maior, seja vosso servo, 27 e quem quiser ser entre vós o primeiro, seja vosso escravo. 28 Assim como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida para resgate de todos». 29 Ao saírem de Jericó, seguiu-O muita gente. 30 Eis que dois cegos, que estavam sentados à beira da estrada, ouviram dizer que Jesus passava e começaram a gritar: «Senhor, Filho de David, tem piedade de nós!». 31 O povo repreendia-os para que se calassem. Eles, porém, cada vez gritavam mais: «Senhor, Filho de David, tem piedade de nós!». 32 Jesus parou, chamou-os e disse-lhes: «Que quereis que Eu vos faça?». 33 «Senhor, responderam eles, queremos que se abram os nossos olhos!». 34 Jesus, compadecido, tocou-lhes nos olhos, e no mesmo instante recuperaram a vista e O seguiram.



COMPÊNDIO DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA

TERCEIRA PARTE

CAPÍTULO XII

DOUTRINA SOCIAL E ACÇÃO ECLESIAL

II. DOUTRINA SOCIAL E COMPROMISSO DOS CRISTÃOS LEIGOS

570 Quando em âmbitos e realidades que remetem a exigências éticas fundamentais se propõem ou se efetuam opções legislactivas e políticas contrárias aos princípios e aos valores cristãos, o Magistério ensina que «a consciência cristã bem formada não permite a ninguém favorecer, com o próprio voto, a atuação de um programa político ou de uma só lei, onde os conteúdos fundamentais da fé e da moral sejam subvertidos com a apresentação de propostas alternactivas ou contrárias aos mesmos» [1191].

Na consideração do caso em que não tenha sido possível evitar a atuação de tais programas políticos ou impedir ou ab-rogar tais leis, o Magistério ensina que um parlamentar, cuja absoluta oposição pessoal a eles fosse clara e notória a todos, poderia licitamente oferecer o próprio apoio a propostas miradas a limitar os danos de tais programas e de tais leis e a diminuir os efeitos negactivos no plano da cultura e da moralidade pública. A tal propósito, é emblemático o caso de uma lei abortista [1192]. O seu voto, em todo caso, não pode ser interpretado como adesão a uma lei iníqua, mas tão-somente como um contributo para reduzir as consequências negactivas de uma disposição legislactiva cuja completa responsabilidade recai em quem a propôs.

Tenha-se presente que, em face das múltiplas exigências morais fundamentais e irrenunciáveis, o testemunho cristão deve considerar-se um dever inderrogável que pode chegar ao sacrifício da vida, ao martírio, em nome da caridade e da dignidade humana [1193]. A história de vinte séculos, inclusive a do último, é rica de mártires da verdade cristã, testemunhos de fé, de esperança, de caridade evangélicas. O martírio é o testemunho da própria conformação pessoal a Jesus crucifixo, que se expressa até na forma suprema de derramar o próprio sangue, de acordo com o ensinamento evangélico: «se o grão de trigo, caído na terra... morrer, produz muito fruto»  (Jo 12, 24).

571 O empenho político dos católicos é frequentemente posto em relação com a «laicidade», ou seja, a distinção entre a esfera política e a religiosa [1194]. Tal distinção «é um valor adquirido e reconhecido pela Igreja, e faz parte do património de civilização já conseguido» [1195]. A doutrina moral católica, todavia, exclui claramente a perspectiva de uma laicida concebida como autonomia da lei moral: «A “laicidade”, de facto, significa, em primeiro lugar, a atitude de quem respeita as verdades resultantes do conhecimento natural que se tem do homem que vive em sociedade, mesmo que essas verdades sejam contemporaneamente ensinadas por uma religião específica, pois a verdade é uma só» [1196]. Buscar sinceramente a verdade, promover e defender com meios lícitos as verdades morais concernentes à vida social ― a justiça, a liberdade, o respeito à vida e aos demais direitos da pessoa ― é direito e dever de todos os membros de uma comunidade social e política.

Quando o Magistério da Igreja se pronuncia sobre questões inerentes à vida social e política, não desatende ás exigências de uma correta interpretação da laicidade, porque «não pretende exercer um poder político nem eliminar a liberdade de opinião dos católicos em questões contingentes. Entende, invés ― como é sua função própria ― instruir e iluminar a consciência dos fiéis, sobretudo dos que se dedicam a uma participação na vida política, para que o seu operar esteja sempre ao serviço da promoção integral da pessoa e do bem comum. O ensinamento social da Igreja não é uma intromissão no governo de cada País. Não há dúvida, porém, que põe um dever moral de coerência aos fiéis leigos, no interior da sua consciência, que é única e unitária» [1197].

572 O princípio da laicidade comporta o respeito de toda confissão religiosa por parte do Estado, «que assegura o livre exercício das actividades cultuais, espirituais, culturais e caritactivas das comunidades dos crentes. Numa sociedade pluralista, a laicidade é um lugar de comunicação entre as diferentes tradições espirituais e a nação» [1198]. Infelizmente permanecem ainda, inclusive nas sociedades democráticas, expressões de laicismo intolerante, que hostilizam qualquer forma de relevância política e cultural da fé, procurando desqualificar o empenho social e político dos cristãos, porque se reconhecem nas verdades ensinadas pela Igreja e obedecem ao dever moral de ser coerentes com a própria consciência; chega-se também e mais radicalmente a negar a própria ética natural. Esta negação, que prospecta uma condição de anarquia moral cuja consequência é a prepotência do mais forte sobre o mais fraco, não pode ser acolhida por nenhuma forma legítima de pluralismo, porque mina as próprias bases da convivência humana. À luz deste estado de coisas, «a marginalização do Cristianismo não poderia ajudar ao projecto de uma sociedade futura e à concórdia entre os povos; seria, pelo contrário, uma ameaça para os próprios fundamentos espirituais e culturais da civilização» [1199].

573 Um âmbito particular de discernimento dos fiéis leigos diz respeito as escolhas dos instrumentos políticos, ou seja, a adesão a um partido e às outras expressões da participação política. É preciso operar uma escolha coerente com os valores, tendo em conta as circunstâncias efetivas. Em todo o caso, qualquer escolha deve ser radicada na caridade e voltada para a busca do bem comum [1200]. As instâncias da fé cristã dificilmente são assimiláveis a uma única posição política: pretender que um partido ou uma corrente política correspondam completamente às exigências da fé e da vida cristã gera equívocos perigosos. O cristão não pode encontrar um partido plenamente às exigências éticas que nascem da fé e da pertença à Igreja: a sua adesão a uma corrente política não será jamais ideológica, mas sempre crítica, a fim de que o partido e o seu projecto político sejam estimulados a realizar formas sempre mais atentas a obter o verdadeiro bem comum, inclusive os fins espirituais do homem [1201].

574 A distinção, de um lado, entre instâncias da fé e opções sócio-políticas e, de outro lado, as opções de cada cristão e as realizadas pela comunidade cristã enquanto tal, implica que a adesão a um partido ou corrente política seja considerada uma decisão a título pessoal, legítima ao menos nos limites dos partidos e posições não incompatíveis com a fé e os valores cristãos [1202]. A escolha do partido, da corrente política, das pessoas a quem confiar a vida pública, mesmo empenhando a consciência de cada um, não pode ser entendida como uma escolha exclusivamente individual: «cabe analisar, com objetividade, a situação própria do seu país e procurar iluminá-la, com a luz das palavras inalteráveis do Evangelho; a elas cumpre, haurir princípios de reflexão, normas para julgar e diretrizes para a acção, na doutrina social da Igreja» [1203]. Em todo o caso, «a ninguém é permitido reivindicar exclusivamente, em favor do seu parecer, a autoridade da Igreja» [1204] : os crentes devem antes procurar «esclarecer-se mutuamente num diálogo sincero, guardando a caridade mútua e tendo, antes de mais, o cuidado do bem comum» [1205].

CONCLUSÃO

POR UMA CIVILIZAÇÃO DO AMOR

a) A ajuda da Igreja ao homem contemporâneo

575 Adverte-se e se vive uma nova necessidade de sentido na sociedade contemporânea. «Com efeito, sempre o homem desejará saber, ao menos confusamente, qual o significado da sua vida, da sua actividade e da sua morte» [1206]. Revelam-se árduas as tentactivas de responder à exigência de projectar o futuro no novo contexto das relações internacionais, cada vez mais complexas e interdependentes, mas também menos ordenadas e pacíficas. A vida e a morte das pessoas parecem confiadas unicamente ao progresso científico e tecnológico que avança muito mais velozmente do que a capacidade humana de estabelecer os seus fins e avaliar os seus custos. Muitos fenómenos indicam, contudo, que «o sentimento de progressiva insatisfação, que se difunde nos países de alto nível de vida, desfaz a ilusão do sonhado paraíso terrestre. E, ao mesmo tempo, vão os homens tomando consciência cada vez mais clara dos direitos invioláveis e universais da pessoa, e vai-se tornando mais viva a aspiração a estreitar relações mais justas e mais humanas» [1207].

576 Às interrogações de fundo sobre o sentido e sobre o fim da aventura humana a Igreja responde com o anúncio do Evangelho de Cristo, que subtrai a dignidade da pessoa humana ao flutuar das opiniões, assegurando a liberdade do homem como nenhuma lei humana pode fazer. O Concílio Vaticano II indicou que a missão da Igreja no mundo contemporâneo consiste em ajudar cada ser humano a descobrir em Deus o significado último da sua existência: a Igreja bem sabe que: «só Deus, a quem Ela serve, satisfaz os desejos mais profundos do coração humano, que nunca se sacia plenamente só com alimentos terrestres» [1208]. Somente Deus, que criou o homem à Sua imagem e o resgatou do pecado, pode oferecer às interrogações humanas mais radicais uma resposta plenamente adequada por meio da Revelação plenamente realizada no Seu Filho feito homem: o Evangelho, com efeito, «anuncia e proclama a liberdade dos filhos de Deus, rejeita toda a servidão que, em última análise, provém do pecado, respeita escrupulosamente a dignidade da consciência e a sua livre adesão; adverte, sem desfalecimento, que todos os talentos humanos devem frutificar ao serviço de Deus e para o bem da humanidade e, finalmente, confia cada um ao amor de todos» [1209].

b) Tornar a partir da fé em Cristo

577 A fé em Deus e em Jesus Cristo ilumina os princípios morais que são «o único e insubstituível alicerce daquela estabilidade e tranquilidade, daquela ordem externa, e interna, privada e pública, única que pode gerar e salvaguardar a prosperidade dos Estados» [1210]. A vida social deve ser ancorada no desígnio divino: «A dimensão teológica revela-se necessária para interpretar e resolver os problemas atuais da convivência humana» [1211]. Em face das graves formas de exploração e de injustiça social «torna-se sempre mais ampla e sentida a necessidade de uma radical renovação pessoal e social, capaz de assegurar justiça, solidariedade, honestidade, transparência. É certamente longa e dura, a estrada a percorrer; numerosos e ingentes são os esforços a cumprir para levar a cabo uma tal renovação, inclusive pela multiplicidade e gravidade das causas que geram e alimentam as situações de injustiça hoje presentes no mundo. Mas, como ensina a história e a experiência de cada um, não é difícil identificar na base destas situações, causas propriamente “culturais”, isto é, relacionadas com determinadas visões do homem, da sociedade e do mundo. Na verdade, no âmago da questão cultural está o sentido moral, que, por sua vez, se fundamenta e se realiza no sentido religioso» [1212]. Também pelo que diz respeito à «questão social», não se pode aceitar «a esperança ingênua de que possa haver uma fórmula mágica para os grandes desafios do nosso tempo; não será uma fórmula a salvar-nos, mas uma Pessoa, e a certeza que Ela nos infunde: Eu estarei convosco! Sendo assim, não se trata de inventar um “programa novo”. O programa já existe: é o mesmo de sempre, expresso no Evangelho e na Tradição viva. Concentra-se, em última análise, no próprio Cristo, que temos de conhecer, amar, imitar, para n’Ele viver a vida trinitária e com Ele transformar a história até à sua plenitude na Jerusalém celeste» [1213].

c) Uma firme esperança

578 A Igreja ensina ao homem que Deus lhe oferece a real possibilidade de superar o mal e de alcançar o bem. O Senhor redimiu o homem, resgatou-o por um «grande preço»  (1 Cor 6,20). O sentido e o fundamento do empenho cristão no mundo derivam de tal certeza, capaz de acender a esperança não obstante o pecado que marca profundamente a história humana: a promessa divina garante que o mundo não permanece fechado em si mesmo, mas está aberto para o Reino de Deus. A Igreja conhece os efeitos do «mistério da iniquidade»  ( 2 Ts 2,7), mas sabe também que «há na pessoa humana qualidades e energias suficientes, há nela “bondade” fundamental (cf. Gên 1, 31), porque é imagem do Criador, colocada sob o influxo redentor de Cristo, que “se uniu de certo modo a cada homem”, e porque a acção eficaz do Espírito Santo “enche o mundo”  (Sab 1, 7)» [1214].

579 A esperança cristã imprime um grande impulso ao compromisso em campo social, infundindo confiança na possibilidade de construir um mundo melhor, na consciência de que não pode existir um «paraíso terrestre» [1215]. Os cristãos, especialmente os fiéis leigos, são exortados a comportar-se de modo que «façam brilhar a força do Evangelho na vida quotidiana, familiar e social. Eles apresentam-se como filhos da promessa, quando fortes na fé e na esperança, aproveitam o tempo presente (cf. Ef 5,16; Col 4,5) e com paciência esperam a glória futura (cf. Rm 8,25). Não escondam esta esperança no interior da alma, mas exprimam-na mesmo através das estruturas da vida social, por uma renovação contínua e pela luta “contra os dominadores deste mundo tenebroso e contra os espíritos do mal”  (Ef 6,12)» [1216]. As motivações religiosas de tal empenho podem não ser compartilhadas, mas as convicções morais que dele decorrem constituem um ponto de encontro entre os cristãos e todos os homens de boa vontade.

d) Construir a «civilização do amor»

580 Finalidade imediata da doutrina social é a de propor os princípios e os valores que possam suster uma sociedade digna do homem. Entre estes princípios, o da solidariedade em certa medida compreende todos os demais: ele constitui «um dos princípios basilares da concepção cristã da organização social e política» [1217].

Tal princípio é iluminado pelo primado da caridade «sinal distintivo dos discípulos de Cristo (cf. Jo 13, 35)» [1218]. Jesus «nos ensina que a lei fundamental da perfeição humana e, portanto, da transformação do mundo, é o mandamento novo do amor» [1219] (cf. Mt 22, 40; Jo 15,12; Col 3,14; Tg 2,8). O comportamento da pessoa é plenamente humano quando nasce do amor, manifesta o amor, e é ordenado ao amor. Esta verdade vale também no âmbito social: é necessário que os cristãos sejam testemunhas profundamente convictos e saibam mostrar, com a sua vida, como o amor seja a única força (cf. 1 Cor 12,31-14,1) que pode guiar à perfeição pessoal e social e mover a história rumo ao bem.

581 O amor deve estar presente e penetrar todas as relações sociais [1220]: especialmente aqueles que têm o dever de prover ao bem dos povos «alimentem em si e acendam nos outros, nos grandes e nos pequenos, a caridade, senhora e rainha de todas as virtudes. A salvação deve ser principalmente fruto de uma efusão da caridade; entendemos dizer aquela caridade cristã que compendia em si todo o Evangelho e que, sempre pronta a sacrificar-se pelo próximo, é o antídoto mais seguro contra o orgulho e o egoísmo do século» [1221]. Este amor pode ser chamado «caridade social» [1222] ou «caridade política» [1223] e deve ser estendido a todo o género humano [1224]. O «amor social» [1225] encontra-se nos antípodas do egoísmo e do individualismo: sem absolutizar a vida social, como acontece nas visões achatadas sobre as leituras exclusivamente sociológicas, não se pode esquecer que o desenvolvimento integral da pessoa e o crescimento social se condicionam reciprocamente. O egoísmo, portanto, é o mais deletério inimigo de uma sociedade ordenada: a história mostra qual devastação dos corações se produz quando o homem não é capaz de reconhecer outro valor e outra realidade efetiva além dos bens materiais, cuja busca obsessiva sufoca e impede a sua capacidade de doar-se.

582 Para tornar a sociedade mais humana, mais digna da pessoa, é necessário revalorizar o amor na vida social — no plano político, económico, cultural —, fazendo dele a norma constante e suprema do agir. Se a justiça «é, em si mesma, apta para “servir de árbitro” entre os homens na recíproca repartição justa dos bens materiais, o amor, pelo contrário, e somente o amor (e portanto também o amor benevolente que chamamos “misericórdia”), é capaz de restituir o homem a si próprio» [1226]. Não se podem regular as relações humanas» unicamente com a medida da justiça. Esta, em toda a gama das relações entre os homens, deve submeter-se, por assim dizer, a uma «correção» notável, por parte daquele amor que, como proclama S. Paulo, «é paciente» e «benigno», ou por outras palavras, que encerra em si as características do amor misericordioso, tão essenciais para o Evangelho como para o Cristianismo» [1227]. Nessa perspectiva, o Magistério recomenda vivamente a solidariedade porque é capaz de garantir o bem comum, ajudando o desenvolvimento integral das pessoas: a caridade «faz ver no próximo um outro tu» [1228].

583 Só a caridade pode transformar completamente o homem [1229]. Uma semelhante transformação não significa anulação da dimensão terrena em uma espiritualidade desencarnada [1230]. Quem crê poder conformar-se com a virtude sobrenatural do amor sem levar em conta o seu correspondente fundamento natural, que inclui os deveres de justiça, engana-se a si mesmo: «A caridade representa o maior mandamento social. Respeita o outro e seus direitos. Exige a prática da justiça, e só ela nos torna capazes de praticá-la. Inspira uma vida de autodoação: «Quem procurar ganhar sua vida vai perdê-la, e quem a perder vai conservá-la» (Lc 17,33)» [1231]. Tampouco pode a caridade esgotar-se unicamente na dimensão terrena das relações humanas e das relações sociais, porque toda a sua eficácia deriva da referência a Deus: «Ao entardecer desta vida, comparecerei diante de Vós com as mãos vazias, pois não Vos peço, Senhor, que contabilizeis as minhas obras. Todas as nossas justiças têm manchas aos Vossos olhos. Quero, portanto, revestir-me da Vossa justiça e receber do Vosso amor a posse eterna de Vós mesmo…» [1232].


Cidade do Vaticano 1997, p. 942-943, citado no Catecismo da Igreja Católica, 2011.

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[1191] Congregação para a Doutrina da Fé, Nota Doutrinal sobre algumas questões relactivas à participação e comportamento dos católicos na vida política  (24 de Novembro de 2002), 4: Libreria Editrice Vaticana, Cidade do Vaticano 2002, p. 9.
 [1192] Cf. João Paulo II, Carta encicl. Evangelium vitae, 73: AAS 87  (1995) 486-487.
 [1193] Cf. João Paulo II, Exort. apost. Christifideles laici, 39: AAS 81  (1989) 466-468.
 [1194] Cf. Concílio Vaticano II, Const. apost. Gaudium et spes, 76: AAS 58  (1996) 1099-1100.
 [1195] Congregação para a Doutrina da Fé, Nota Doutrinal sobre algumas questões relactivas à participação e comportamento dos católicos na vida política  (24 de Novembro de 2002), 6: Libreria Editrice Vaticana, Cidade do Vaticano 2002, p. 12.
 [1196] Congregação para a Doutrina da Fé, Nota Doutrinal sobre algumas questões relactivas à participação e comportamento dos católicos na vida política  (24 de Novembro de 2002), 6: Libreria Editrice Vaticana, Cidade do Vaticano 2002, p. 13.
 [1197] Congregação para a Doutrina da Fé, Nota Doutrinal sobre algumas questões relactivas à participação e comportamento dos católicos na vida política  (24 de Novembro de 2002), 6: Libreria Editrice Vaticana, Cidade do Vaticano 2002, p. 13-14.
 [1198] João Paulo II, Discurso ao Corpo Diplomático  (12 de Janeiro de 2004), 3: L’Osservatore Romano, ed. em Português, 17 de Janeiro de 2004, p. 7.
 [1199] Congregação para a Doutrina da Fé, Nota Doutrinal sobre algumas questões relactivas à participação e comportamento dos católicos na vida política  (24 de Novembro de 2002), 6: Libreria Editrice Vaticana, Cidade do Vaticano 2002, p. 15.
 [1200] Cf. Paulo VI, Carta apost. Octogesima adveniens, 46: AAS 63  (1971) 433-435.
 [1201] Cf. Paulo VI, Carta apost. Octogesima adveniens, 46: AAS 63  (1971) 433-435.
 [1202] Cf. Paulo VI, Carta apost. Octogesima adveniens, 50: AAS 63  (1971) 439-440.
 [1203] Paulo VI, Carta apost. Octogesima adveniens, 4: AAS 63  (1971) 403-404.
 [1204] Concílio Vaticano II,Const. past. Gaudium et spes, 43: AAS 58  (1966) 1063.
 [1205] Concílio Vaticano II,Const. past. Gaudium et spes, 43: AAS 58  (1966) 1063.
 [1206] Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, 41: AAS 58  (1966) 1059.
 [1207] JoãoXXIII, Carta encicl. Mater et Magistra: AAS 53  (1961) 451.
 [1208] Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, 41: AAS 58  (1966) 1059.
 [1209] Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, 41: AAS 58  (1966) 1059-1060.
 [1210] PioXII, Carta encicl. Summi Pontificatus: AAS 31  (1939) 425.
 [1211] João Paulo II, Carta encicl. Centesimus annus, 55: AAS 83  (1991) 860-861.
 [1212] João Paulo II, Carta encicl. Veritatis splendor, 98: AAS 85  (1993) 1210; cf. Id., Carta encicl. Centesimus annus, 24: AAS 83  (1991) 821-822.
 [1213] João Paulo II, Carta apost. Novo millennio ineunte, 29: AAS 93  (2001) 285.
 [1214] João Paulo II, Carta encicl. Sollicitudo rei socialis, 47: AAS 80  (1988) 580.
 [1215] João XXIII, Carta encicl. Mater et magistra: AAS 53  (1961) 451.
 [1216] Concílio Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, 35: AAS 57  (1965) 40.
 [1217] João Paulo II, Carta encicl. Centesimus annus, 10: AAS 83  (1991) 805-806.
 [1218] João Paulo II, Carta encicl. Sollicitudo rei socialis, 40: AAS 80  (1988) 568.
 [1219] Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, 38: AAS 58  (1966) 1055-1056; cf.Id., Const. dogm. Lumen gentium, 42: AAS 57  (1965) 47-48; Catecismo da Igreja Católica, 826.
 [1220] Cf. Catecismo da Igreja Católica, 1889.
 [1221] Leão XIII, Carta encicl. Rerum novarum: Acta Leonis XIII, 11  (1892) 143; cf. BentoXV, Carta encicl. Pacem Dei:AAS 12  (1920), 215.
 [1222] Cf. S. Tomás de Aquino, QD De caritate, a. 9, c; Pio XI, Carta encicl. Quadragesimo anno: AAS 23  (1931) 206-207;João XXIII, Carta encicl. Mater et magistra: AAS 53  (1961) 410; Paulo VI, Discurso à FAO  (16 de Novembro de 1970), 11: AAS 62  (1970) 837-838; João Paulo II, Discurso aos membros da Pontifícia Comissão «Iustitia et Pax»  (9 de Fevereiro de 1980), 7: L’Osservatore Romano, ed. em Português, 24 de Fevereiro de 1980, p. 3.
 [1223] Cf. Paulo VI, Carta apost. Octogesima adveniens, 46: AAS 63  (1971) 433-435.
 [1224] Cf. Concílio Vaticano II, Decr. Apostolicam actuositatem, 8: AAS 58  (1966) 844-845; Paulo VI, Carta encicl. Populorum progressio, 44: AAS 59  (1967) 279; João Paulo II, Exort. apost. Christifideles laici, 42: AAS 81  (1989) 472-476; Catecismo da Igreja Católica, 1939.
 [1225] João Paulo II, Carta encicl. Redemptor hominis, 15:AAS 71  (1979) 288.
 [1226] João Paulo II, Carta encicl. Dives in misericordia, 14: AAS 72  (1980) 1223.
 [1227] João Paulo II, Mensagem para a celebração do Dia Mundial da Paz 2004, 10: AAS 96  (2004) 121; cf. Id., Carta encicl. Dives in misericordia, 14: AAS 72  (1980) 1224; Catecismo da Igreja Católica, 2212.
 [1228] S. João Crisóstomo, Homilia De perfecta caritate, 1, 2: PG 56, 281-282.
 [1229] Cf. João Paulo II, Carta apost. Novo millennio ineunte, 49-51: AAS 93  (2001) 302-304.
 [1230] Cf. João Paulo II, Carta encicl. Centesimus annus, 5: AAS 83  (1991) 798-800.
 [1231] Catecismo da Igreja Católica, 1889.
 [1232] Santa Teresa do Menino Jesus, Ato de oferecimento ao Amor misericordioso: Preghiere: Opere complete, Libreria Editrice Vaticana,


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