A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
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Evangelho: Mt 17, 14-27, 18, 1-11
14 Tendo ido para junto do povo,
aproximou-se um homem que se lançou de joelhos diante d'Ele, dizendo: 15
«Senhor, tem piedade de meu filho, porque é lunático e sofre muito; pois muitas
vezes cai no fogo, e muitas na água. 16 Apresentei-o a Teus
discípulos, e não o puderam curar». 17 Jesus respondeu: «Ó geração
incrédula e perversa, até quando hei-de estar convosco? Até quando vos hei-de
suportar? Trazei-mo cá». 18 Jesus ameaçou o demónio, e este saiu do
jovem, o qual, desde aquele momento, ficou curado. 19 Então os
discípulos aproximaram-se de Jesus, em particular, e disseram-Lhe: «Porque não
pudemos nós lançá-lo fora?». 20 Jesus disse-lhes: «Por causa da
vossa falta de fé. Porque na verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão
de mostarda, direis a este monte: “Passa daqui para acolá”, e ele passará, e
nada vos será impossível. 21 Esta espécie de demónios não se lança
fora senão mediante a oração». 22 Enquanto andavam pela Galileia,
Jesus disse-lhes: «O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, 23
eles Lhe darão a morte, e ressuscitará ao terceiro dia». Eles entristeceram-se
em extremo. 24 Quando entraram em Cafarnaum, chegaram-se a Pedro os
que recebiam a didracma, e disseram-lhe: «Vosso Mestre não paga a didracma?». 25
Ele respondeu-lhes: «Sim». Quando Pedro entrou em casa, Jesus adiantou-Se,
dizendo: «Que te parece, Simão? De quem recebem os reis da terra o tributo ou o
imposto? De seus filhos, ou dos estranhos?». 26 Ele respondeu: «Dos
estranhos». Disse-lhe Jesus: «Logo os filhos estão isentos. 27
Todavia, para que não os escandalizemos, vai ao mar e lança o anzol, e o
primeiro peixe que vier, toma-o e, abrindo-lhe a boca, acharás dentro um
estáter. Toma-o, e dá-lho por Mim e por ti»
18
1 Naquela mesma ocasião aproximaram-se
de Jesus os discípulos, dizendo: «Quem é o maior no Reino dos Céus?». 2
Jesus, chamando uma criança, pô-la no meio deles 3 e disse: «Na
verdade vos digo que, se não vos converterdes e vos tornardes como crianças,
não entrareis no Reino dos Céus. 4 Aquele, pois, que se fizer
pequeno como esta criança, esse será o maior no Reino dos Céus. 5 E
quem receber em Meu nome uma criança como esta, é a Mim que recebe. 6
Porém, quem escandalizar um destes pequeninos, que crêem em Mim, melhor lhe
fora que lhe pendurassem ao pescoço a mó de um moinho e que o lançassem ao
fundo do mar. «Ai do mundo por causa dos escândalos! Eles são inevitáveis, mas
ai daquele homem por quem vem o escândalo!8 Por isso, se a tua mão
ou o teu pé te escandaliza, corta-o e lança-o para longe de ti; melhor te é
entrar na vida com um pé ou mão a menos do que, tendo duas mãos e dois pés, ser
lançado no fogo eterno. 9 E, se o teu olho te escandaliza, arranca-o
e lança-o para longe de ti; melhor te é entrar na vida com um só olho, do que,
tendo dois, ser lançado no fogo da Geena. 10 Vede, não desprezeis um
só destes pequeninos, pois vos declaro que os seus anjos nos céus vêem
incessantemente a face de Meu Pai que está nos céus. 11 Omitido pela
Neo-Vulgata.
COMPÊNDIO DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA
SEGUNDA PARTE
CAPÍTULO
X
SALVAGUARDAR
O AMBIENTE
IV. UMA RESPONSABILIDADE
COMUM
b) O uso das
biotecnologias
476
A solidariedade comporta também uma chamada à responsabilidade que têm os
países em via de desenvolvimento e em particular, os seus responsáveis
políticos, em promover uma política comercial favorável aos seus povos e o
intercâmbio de tecnologias capazes de melhorar as condições alimentares e
sanitárias. Em tais países deve crescer o investimento na pesquisa, com
especial atenção às características e às necessidades particulares do próprio
território e da própria população, sobretudo levando em conta que algumas
pesquisas no campo das biotecnologias, potencialmente benéficas, requerem
investimentos relactivamente modestos. Para este fim seria útil a criação de
Organismos nacionais dedicados à proteção do bem comum mediante uma atenta
gestão dos riscos.
477
Os cientistas e técnicos empenhados no setor das biotecnologias são chamados a
trabalhar com inteligência e perseverança na busca de melhores soluções para os
graves e urgentes problemas da alimentação e da saúde. Eles não se devem
esquecer de que as suas actividades dizem respeito a materiais, viventes e não,
pertencentes à humanidade como um património, destinado também às gerações
futuras; para os crentes se trata de um dom recebido do Criador, confiado à
inteligência e à liberdade humanas, também estas dons do Altíssimo. Saibam os
cientistas empenhar as suas energias e as suas capacidades em uma busca
apaixonada, guiada por uma consciência límpida e honesta [1004].
478
Os empresários e responsáveis pelas entidades públicas que se ocupam da
pesquisa, da produção e do comércio dos produtos derivados das novas
biotecnologias devem ter em conta não só o legítimo lucro, mas também o bem
comum. Este princípio, válido para todo tipo de actividade económica, torna-se
particularmente importante quando se trata de actividades que se relacionam com
a alimentação, a medicina, a proteção da saúde e do ambiente. Com as suas
decisões, empresários e responsáveis pelas entidades públicas interessadas
podem orientar os progressos no setor das biotecnologias para metas muito
promissoras pelo que respeita a luta contra a fome, especialmente nos países
mais pobres, a luta contra as doenças e a luta pela salvaguarda do ecossistema,
património de todos.
479
Os políticos, os legisladores e os administradores públicos têm a responsabilidade
de avaliar as potencialidades, as vantagens e os eventuais riscos conexos com o
uso das biotecnologias. Não é de desejar que as suas decisões, em plano
nacional ou internacional, sejam ditadas por pressões provenientes de
interesses de parte. As autoridades públicas devem favorecer também uma correta
informação da opinião pública e saber, em todo caso, tomar as decisões
convenientes para o bem comum.
480
Também os responsáveis pela informação têm uma tarefa importante, a desempenhar
com prudência e objetividade. A sociedade espera da parte deles, uma informação
completa e objectiva, que ajude os cidadãos a formar uma opinião correta acerca
dos produtos biotecnológicos, sobretudo porque se trata de algo que lhes diz
respeito diretamente enquanto possíveis consumidores. Deve-se, portanto, evitar
cair na tentação de uma informação superficial, alimentada por entusiasmos
fáceis ou por alarmismos injustificados.
c) Ambiente e partilha dos
bens
481
Também no campo da ecologia a doutrina social convida a ter presente que os
bens da terra foram criados por Deus para ser sabiamente usados por todos: tais
bens devem ser divididos com equidade, segundo a justiça e a caridade. Trata-se
essencialmente de impedir a injustiça de um açambarcamento dos recursos: a
avidez, seja esta individual ou coletiva, é contrária à ordem da criação [1005].cOs
actuais problemas ecológicos, de caráter planetário, podem ser eficazmente
enfrentados somente através de uma cooperação internacional capaz de garantir
uma maior coordenação do uso dos recursos da terra.
482
O princípio da destinação universal dos bens oferece uma fundamental
orientação, moral e cultural, para desatar o complexo e dramático nó que liga
crises ambientais e pobreza. A actual crise ambiental atinge particularmente os
mais pobres, seja porque vivem naquelas terras sujeitas à erosão e à
desertificação, ou porque envolvidos em conflitos armados ou ainda
constrangidos a migrações forçadas, seja porque não dispõem dos meios económicos
e tecnológicos para proteger-se das calamidades.
Muitíssimos
destes pobres vivem nos subúrbios poluídos das cidades em alojamentos casuais
ou em aglomerados de casas decadentes e perigosas. (slums, bidonvilles,
Barrios, favelas).
Ademais,
tenha-se sempre presente, a situação dos países penalizados pelas regras de
comércio internacional não equitactivo, nos quais prevalece uma escassez de
capitais frequentemente agravada pelo ônus da dívida externa: nestes casos a
fome e a pobreza tornam quase inevitável uma exploração intensiva e excessiva
do ambiente.
483
O estreito liame que existe entre desenvolvimento dos países mais pobres,
crescimento demográfico e uso razoável do ambiente, não é utilizado como
pretexto para escolas políticas e económicas pouco conformes à dignidade da pessoa
humana. No Norte do planeta se assiste a uma «a quebra do índice de natalidade,
com repercussões sobre o envelhecimento da população, que se torna incapaz
mesmo de se renovar biologicamente» [1006], ao passo que no Sul a situação é
diferente. Se é verdade que a desigual distribuição da população e dos recursos
disponíveis cria obstáculos ao desenvolvimento e ao uso sustentável do
ambiente, deve-se reconhecer que o crescimento demográfico é plenamente
compatível com um desenvolvimento integral e solidário [1007]: «Existe uma
opinião vastamente difundida, segundo a qual a política demográfica é apenas
uma parte da estratégia global sobre o desenvolvimento. Por conseguinte, é
importante que qualquer debate acerca de políticas demográficas tenha em
consideração o desenvolvimento presente e futuro, tanto das nações como das
regiões. Ao mesmo tempo, é impossível pôr de parte a própria natureza daquilo
que a palavra “desenvolvimento” significa. Qualquer desenvolvimento digno deste
nome deve ser integral, ou seja, deve orientar-se para o verdadeiro bem de cada
pessoa e de toda a pessoa» [1008].
484
O princípio da destinação universal dos bens se aplica naturalmente também à
água, considerada nas Sagradas Escrituras como símbolo de purificação (cf. Sal
51, 4, Jo 13, 8) e de vida (cf. Jo 3,5; Gal 3,27): «Como dom de Deus, a água é
instrumento vital, imprescindível para a sobrevivência e, portanto, um direito
de todos» [1009]. A utilização da água e dos serviços conexos deve ser
orientada à satisfação das necessidades e sobretudo das pessoas que vivem em
pobreza. Um acesso limitado à água potável incide no bem-estar de um número
enorme de pessoas e é frequentemente causa de doenças, sofrimentos, conflitos,
pobreza e até mesmo de morte: para ser adequadamente resolvida, tal questão
«necessita... ser enquadrada de forma a estabelecer critérios morais baseados
precisamente no valor da vida e no respeito pelos direitos e pela dignidade de
todos os seres humanos» [1010].
485.
A água, pela sua própria natureza, não pode ser tratada como uma mera
mercadoria entre outras e o seu uso deve ser racional e solidário. A sua
distribuição se enumera, tradicionalmente entre as responsabilidades dos órgãos
públicos, porque a água sempre foi considerada como um bem público,
característica que deve ser mantida caso a gestão venha a ser confiada ao setor
privado. O direito à água [1011], como todos os direitos do homem, se baseia na
dignidade humana, e não em considerações de tipo meramente quantitactivo, que
consideram a água tão-somente como um bem económico. Sem água a vida é
ameaçada. Portanto, o direito à água é um direito universal e inalienável.
d) Novos estilos de vida
486
Os graves problemas ecológicos exigem uma efetiva mudança de mentalidade que
induza a adotar novos estilos de vida [1012], «nos quais a busca do verdadeiro,
do belo e do bom, e a comunhão com os outros homens, em ordem ao crescimento
comum, sejam os elementos que determinam as opções do consumo, da poupança e do
investimento» [1013]. Tais estilos de vida devem ser inspirados na sobriedade,
na temperança, na autodisciplina, no plano pessoal e social. É necessário sair
da lógica do mero consumo e promover formas de produção agrícola e industrial
que respeitem a ordem da criação e satisfaçam as necessidades primárias de
todos. Uma semelhante atitude, favorecida por uma renovada consciência da
interdependência que une todos os habitantes da terra, concorre para eliminar
diversas causas de desastres ecológicos e garante uma tempestiva capacidade de
resposta quando tais desastres atingem povos e territórios [1014]. A questão
ecológica não deve ser abordada apenas por causa das aterrorizantes
perspectivas que a degradação ambiental perfila: esta deve traduzir-se, sobretudo,
em uma forte motivação para uma autêntica solidariedade de dimensão universal.
487
A atitude que deve caracterizar o homem perante a criação é essencialmente a da
gratidão e do reconhecimento: de facto, o mundo nos reconduz ao mistério de
Deus que o criou e o sustém. Se se coloca entre parentes a relação com Deus,
esvazia-se a natureza do seu significado profundo, depauperando-a. Se, ao
contrário, se chega a descobrir a natureza na sua dimensão de criatura, é
possível estabelecer com ela uma relação comunicactiva, colher o seu
significado evocactivo e simbólico, penetrar assim no horizonte do mistério,
franqueando ao homem a abertura para Deus, Criador dos céus e da terra. O mundo
se oferece ao olhar do homem como rastro de Deus, lugar no qual se desvela a
Sua força criadora, providente e redentora.
CAPÍTULO
XI
A
PROMOÇÃO DA PAZ
I. ASPECTOS BÍBLICOS
488
Antes de ser um dom de Deus ao homem e um projecto humano conforme o desígnio
divino, a paz é antes de tudo, um atributo especial essencial de Deus: «Senhor
– Paz» (Jz 6,24). A criação, que é um reflexo da glória divina, almeja a paz.
Deus cria todas as coisas e toda a criação forma um conjunto harmônico, bom em
todas as suas partes (cf. Gên 1,4.10.12.18.21.25.31).
A
paz funda-se na relação primária entre cada ser humano e Deus mesmo, uma
relação caracterizada pela retidão (cf. Gén 17,1). Em seguida ao ato voluntário
com que o homem altera a ordem divina, o mundo conhece espargimento de sangue e
divisão: a violência se manifesta nas relações interpessoais (cf. Gn 4,1-16) e
sociais (cf. Gn 11,1-9). A paz e a violência não podem habitar na mesma morada,
onde há violência aí Deus não pode estar (cf. 1 Cr 22,8-9).
489
Na Revelação bíblica, a paz é muito mais do que a simples ausência de guerra:
ela representa a plenitude da vida (cf. Mt 2,5); longe de ser uma construção
humana, é um sumo dom divino oferecido a todos os homens, que comporta a
obediência ao plano de Deus. A paz é o efeito da bênção de Deus sobre o Seu
povo: «O senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz» (Num 6,26). Tal paz
gera fecundidade (cf. Is 48,19), bem-estar (cf. Is 48,18), ausência de medo
(cf. Lv 54,6) e alegria profunda (cf. Pr 12,20).
490
A paz é a meta da convivência social, como aparece de modo extraordinário na
visão messiânica da paz: quando todos os povos forem para a casa do Senhor e
Ele indicará a eles os seus caminhos, estes poderão caminhar ao longo das
veredas da paz (cf. Is 2,2-5). Um mundo novo de paz, que abraça toda a
natureza, é prometido para a era messiânica (cf. Is 11,6-9) e o próprio messias
é definido «Príncipe da Paz» (Is 9,5). Lá onde reina a Sua paz, lá onde essa
vem parcialmente antecipada, «ninguém poderá mais lançar o povo de Deus no medo
(cf. Sof 3,13). A paz será então duradoura, pois quando o rei governa segundo a
justiça de Deus, a retidão germina e a paz abunda «até que cesse a lua de
brilhar» (Sal 71,7). Deus aspira dar a paz ao Seu povo: «ele diz palavras de
paz ao seu povo, para seus fiéis, e àqueles cujos corações se voltam para ele» (Sl
84,9). O Salmista, escutando aquilo que Deus tem a dizer ao seu povo sobre a
paz, ouve estas palavras: «A bondade e a fidelidade outra vez se irão unir, a
justiça e a paz de novo se darão as mãos» (Sl 84,11).
491
A promessa de paz, que percorre todo o Antigo Testamento, encontra o seu
cumprimento na Pessoa mesma de Jesus. A paz, de facto, é o bem messiânico por
excelência, no qual estão compreendidos todos os outros bens salvíficos. A
palavra hebraica «shalom», no sentido etimológico de «plenitude», exprime o
conceito de «paz» na plenitude do seu significado (cf. Is 9,5 s; Mi 5,1-4). O
reino do Messias é precisamente o reino da paz (cf. Jó 25,2; Sl 29,11; 37,11;
71,3.7; 84, 9.11; 118,165; 124,5; 127,6; 147,3; Ct 8,10; Is 26,3.12; 32,17 s;
52,7; 54,10; 57,19; 60,17; 66,12; Ag 2,9; Zc 9,10 et alibi). Jesus «é a nossa
paz» (Ef 2,14), Ele que abateu o muro divisório da inimizade entre os homens,
reconciliando-os com Deus (cf. Ef 2,14): assim São Paulo, com simplicidade,
indica a razão radical que motiva os cristãos a uma vida e a uma missão de paz.
Na
vigília de Sua morte, Jesus fala de Sua relação de amor com o Pai e da força
unificante que este amor irradia sobre os discípulos; é um discurso de
despedida que mostra o sentido profundo da Sua vida e que pode ser considerado
uma síntese de todo o Seu ensinamento. Sigila o Seu testamento espiritual o dom
da paz: «Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá»
(Jo 14,27). As palavras do Ressuscitado não ressoarão diversamente; toda vez
que Ele encontrar os Seus, estes receberão d’Ele a saudação e o dom da paz:
«Paz a vós» (Lc 24,36; Jo 20,19.21.26).
492
A paz de Cristo é antes de tudo a reconciliação com o Pai, que se actua
mediante a missão apostólica confiada por Jesus aos Seus discípulos; esta tem
início com um anúncio de paz: «Em toda a casa em que entrardes, dizei primeiro:
Paz a esta casa!» (Lc 10,5; cf. Rm 1, 7). A paz é pois reconciliação com os
irmãos, porque Jesus, na oração que nos ensinou, o «Pai Nosso», associa o
perdão pedido à Deus ao oferecido aos irmãos: «perdoai-nos as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam» (Mt 6,12). Com esta dupla
reconciliação o cristão pode tornar-se artífice da paz e, portanto, partícipe
do reino de Deus, segundo quanto o mesmo Jesus proclama: «Bem-aventurados os
pacíficos porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5,9).
493
A acção pela paz nunca é dissociada do anúncio do Evangelho, que é precisamente
«a boa nova da paz» (At 10,36; cf. Ef 6,15), dirigida a todos os homens. No
centro do «Evangelho da paz» (Ef 6,15), está o mistério da Cruz, porque a paz
está inserida no sacrifício de Cristo (cf. Is 53,5: «O castigo que nos salva
pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas»): Jesus crucificado
cancelou a divisão, instaurando a paz e a reconciliação precisamente «pela
virtude da cruz, aniquilando nela a inimizade» (Ef 2,16) e dando aos homens a
salvação da Ressurreição.
II. A PAZ: FRUTO DA
JUSTIÇA E DA CARIDADE
494
A paz é um valor [1015] e um dever universal [1016] e encontra o seu fundamento
na ordem racional e moral da sociedade que tem as suas raízes no próprio Deus,
«fonte primária do ser, verdade essencial e bem supremo» [1017]. A paz não é
simplesmente ausência de guerra e tampouco um equilíbrio estável entre forças
adversárias [1018], mas se funda sobre uma correcta concepção de pessoa humana
[1019] e exige a edificação de uma ordem segundo a justiça e a caridade.
A
paz é fruto da justiça (cf. Is 32,17) [1020], entendida em sentido amplo como o
respeito ao equilíbrio de todas as dimensões da pessoa humana. A paz é um
perigo quando ao homem não é reconhecido aquilo que lhe é devido enquanto
homem, quando não é respeitada a sua dignidade e quando a convivência não é
orientada em direcção para o bem comum. Para a construção de uma sociedade
pacífica e para o desenvolvimento integral de indivíduos, povos e nações,
resulta essencial a defesa e a promoção dos direitos humanos [1021].
A
paz é fruto também do amor: «a verdadeira paz é mais matéria de caridade que de
justiça, pois a função da justiça é somente remover os obstáculos para a paz,
como por exemplo, a injuria e o dano caudados; mas a paz mesma é acto próprio e
específico da caridade» [1022].
495
A paz se constrói dia a dia na busca da ordem querida por Deus [1023] e pode
florescer somente quando todos reconhecem as próprias responsabilidades na sua
promoção [1024]. Para prevenir conflitos e violências, é absolutamente necessário
que a paz comece a ser vivida como valor profundo no íntimo de cada pessoa:
assim pode estender-se nas famílias e nas diversas formas de agregação social,
até envolver toda a comunidade política [1025]. Em um clima difuso de concórdia
e de respeito à justiça, pode amadurecer uma autêntica cultura de paz [1026],
capaz de difundir-se também na Comunidade Internacional. A paz é, portanto,
«fruto de uma ordem inscrita na sociedade humana pelo seu Divino Fundador e que
os homens, sempre desejosos de uma justiça mais perfeita, hão-de fazer
amadurecer» [1027]. Tal ideal de paz «não pode conseguir-se na terra se não se
salvaguardar o bem dos indivíduos e os homens não comunicarem entre si com
confiança as riquezas do seu espírito e das suas faculdades criadoras» [1028].
Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
___________________________________________
Notas:
[1004]
Cf. João Paulo II, Discurso à Pontifícia Academia das Ciências (23 de Outubro de 1982): Insegnamenti di
Giovanni Paolo II, V, 3 (1982)
895-898<<< 14618
>>>>>>>>>>>>>>>; Id., Discurso aos
participantes do Congresso promovida pela Academia Nacional das Ciências no
bicentenário da fundação (21 de Setembro
de 1982): L’Osservatore Romano, ed. em Português, 10 de Outubro de 1982, pp.
12-13. >>>>>>
[1005] Cf. Concílio Vaticano II, Const. past.
Gaudium et spes, 69 AAS 58 (1966)
1090-1092; Paulo VI, Carta encicl. Populorum progressio, 22: AAS 59 (1967) 268.
[1006] João Paulo II, Carta encicl.
Sollicitudo rei socialis, 25: AAS 80
(1988) 543; cf. Id., Carta encicl. Evangelium vitae, 16: AAS 87 (1995) 418.
[1007] Cf. João Paulo II, Carta encicl.
Sollicitudo rei socialis, 25: AAS 80
(1988) 543-544.
[1008] João Paulo II, Mensagem à Senhora Nafis
Sadik, Secretária geral da Conferencia Internacional sobre População e
Desenvolvimento (18 de Março de 1994) 3:
L’Osservatore Romano, ed. em Português, 2 de Abril de 1994, p. 4.
[1009] João Paulo II, Mensagem ao Card.
Geraldo Majella Agnelo por ocasião do início da Campanha da Fraternidade da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(19 de Janeiro de 2004): L’Osservatore Romano, ed. em Português, 28 de
Fevereiro de 2004, p. 1.
[1010] Mensagem ao Card. Geraldo Majella
Agnelo por ocasião do início da Campanha da Fraternidade da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (19 de
Janeiro de 2004): L’Osservatore Romano, ed. em Português, 28 de Fevereiro de
2004, p. 1.
[1011] Cf. Mensagem para a celebração do Dia
Mundial da Paz 2003, 5: AAS 95 (2003)
343; Pontifício Conselho «Justiça e Paz», Water, an Essential Element for Life.
A Contribution of the
Delegation of the Holy See on the occasion of the 3rd World Water Forum, Kyoto,
16-23 de Março de 2003.
[1012] Cf. João Paulo II,
Carta encicl. Centesimus annus, 36: AAS 83
(1991) 838-840.
[1013] João Paulo II, Carta encicl. Centesimus
annus, 36: AAS 83 (1991) 839.
[1014] Cf. João Paulo II, Discurso ao Centro
das Nações Unidas (18 de Agosto de
1985), Nairobi, 5: AAS 78 (1986) 92.
[1015] Cf. João Paulo II, Mensagem para a
celebração do Dia Mundial da Paz 1986, 1: AAS 78 (1986) 278-279.
[1016] Cf. Paulo VI, Mensagem para a
celebração do Dia Mundial da Paz 1969: AAS 60
(1968) 771; João Paulo II, Mensagem para a celebração do Dia Mundial da
Paz 2004, 4: AAS 96 (2004) 116.
[1017] João Paulo II, Mensagem para a
celebração do Dia Mundial da Paz 1982,4:AAS 74
(1982) 328.
[1018] Cf. Concílio Vaticano II, Const. Past. Gaudium et spes,78: AAS 58 (1966) 1101-1102.
[1019] Cf. João Paulo II,
Carta encicl. Centesimus annus, 51: AAS 83
(1991) 856-857.
[1020] Cf. Paulo VI, Mensagem para a
celebração do Dia Mundial da Paz 1972:AAS 63
(1971) 868.
[1021] Cf. Paulo VI, Mensagem para a
celebração do Dia Mundial da Paz 1969: AAS 60
(1968) 772; João Paulo II, Mensagem para a celebração do Dia Mundial da
Paz 1999, 12: AAS 91 (1999) 386-387.
[1022] Pio XI, Carta encicl. Ubi arcano: AAS
14 (1922) 686. Na Encíclica se faz
referência a S. Tomás de Aquino, Summa theologiae, II-II, q. 29 art. 3, ad 3um:
Ed. Leon. 8, 238; cf. Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, 78:
AAS 58 (1966) 1101-1102.
[1023] Cf. Paulo VI, Carta encicl. Populorum
progressio, 76: AAS 59 (1967) 294-295
[1024] Cf. Paulo VI, Mensagem para a
celebração do Dia Mundial da Paz 1974: AAS 65
(1973) 672.
[1025] Cf. Catecismo da Igreja Católica, 2317.
[1026] Cf. João Paulo II, Discurso ao Corpo
Diplomático (13 de Janeiro de 1997), 3:
L’Osservatore Romano, ed. em Português, 18 de Janeiro de 1997, p. 6.
[1027] Concílio Vaticano II, Const. Past.
Gaudium et spes, 78: AAS 58 (1966) 1101;
cf. Catecismo da Igreja Católica, 2304.
[1028] Concílio Vaticano II, Const. Past.
Gaudium et spes, 78: AAS 58 (1966) 1101.
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