18/12/2012

CULTIVAR A FÉ 28


Confiar em Deus
…4

ABANDONO

Voltemos agora um pouco atrás e dirijamos o nosso olhar à petição de Jesus. Faz-te ao largo, e lançai as redes para pescar.

Duc in altum. Leva a barca para o largo. Para se meter na vida interior há que renunciar a ter os pés num terreno firme, totalmente dominado; é preciso avançar até lugares onde facilmente haverá ondas, onde a barca se move e a alma se apercebe que não controla tudo, onde se caíssemos à água poderíamos afogar-nos. 

Não estaremos mais seguros na margem, ou onde a água não ultrapasse os joelhos, ou a cintura, ou no máximo os ombros? Talvez, efetivamente, nos sentiríamos mais seguros. Mas na margem não se pesca nada que valha a pena. Se queremos deitar as redes para pescar, temos que levar a barca para mar profundo, temos que sacudir o medo de perder de vista a costa.

Quantas vezes Jesus Cristo censura aos discípulos o seu medo! Por que temeis, homens de pouca fé? . Não mereceremos nós também essa mesma censura? Porque não te fias? Porque queres dominar e controlar tudo? Porque te custa tanto caminhar quando o sol não brilha em todo o seu esplendor?

A alma tende instintivamente a procurar referências, sinais que lhe confirmem que vai bem. O Senhor concede-no-las em muitas ocasiões, mas não cresceremos na vida interior se nos deixamos obcecar pela necessidade de comprovar o nosso progresso.

Talvez tenhamos a experiência de que em momentos de inquietação, em que não possuímos um juízo claro sobre a nossa retidão e nos deixamos arrastar pelo desejo de procurar, a todo o custo, uma resposta, acabamos por atribuir a uma circunstância trivial um valor de que objetivamente carece: um olhar sorridente ou sério, um elogio ou uma correção, uma circunstância favorável ou um revés, bastam para colorir, com o seu tom brilhante ou escuro, factos com os quais não têm qualquer relação.

j. diéguez, 2011.12.20

Nota: Revisão da tradução portuguesa por AMA.

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