Na
Bíblia, a imagem do caminho tornou-se motivo condutor. O caminho da fé feito
por Abraão, à procura da terra para onde Deus o mandava… O caminho de
libertação, feito pelo povo de Israel sob a liderança de Moisés… O caminho de
Babilónia para Jerusalém, de volta à pátria perdida do Israel exilado… O
caminho feito por Jesus, da Galileia até Jerusalém, onde realizou a obra da
salvação humana… O caminho dos discípulos para Emaús, em que “Jesus se pôs a
caminho com eles”, suscitando o regresso a Jerusalém: o caminho da desesperança
para a alegria, da desolação para a vida nova… A imagem do Caminho é uma
constante da história da salvação bíblica para expressar a busca de Deus pela
fé. É uma categoria hermenêutica para interpretar a história de cada crente à
procura das realidades definitivas.
Os
místicos cristãos usaram a metáfora do caminho para exprimir a convicção de que
a vida humana faz sentido enquanto caminha para a transcendência e para a união
com Deus. Entre eles, distinguiu-se Teresa de Jesus com o Caminho de perfeição.
A metáfora era conhecida no seu tempo para falar da vida espiritual por etapas.
Mas esses antecedentes literários e espirituais na pena da santa dissolvem-se
num feixe de alusões que entreabrem as suas intuições.
Com
o título Caminho de perfeição ela significava muito do que as literaturas
clássicas e bíblica queriam significar. Um fio linear tece o tema da oração
mental e contemplativa. Quer ajudar a empreender um caminho orante. Não perde a
ideia do progresso a fazer na via “das muitas coisas que é preciso olhar para
começar esta viagem divina, que é caminho real para o céu. Ganha-se, indo por
ele, um grande tesouro” (C 21,1). “Importa muito ter uma grande e
muito determinada determinação de não parar até chegar a ele, venha o que vier,
suceda o que suceder, trabalhe-se o que se trabalhar, murmure quem murmurar,
quer lá se chegue, quer se morra no caminho” (C 21, 2).
A
imagem do Caminho, omnipresente no escrito, revela o magistério espiritual da
mãe e da mestra, oferecendo uma pedagogia psicológica e teológica que predispõe
para a perfeição na oração. É o caminho do evangelho, das bem-aventuranças.
Ponto de partida do Caminho espiritual é a alma humana, a sua capacidade, a sua
vocação de transcendência. Ponto de chegada é a comunhão pessoal com Deus, com
a sua vontade.
O
Caminho de Perfeição orienta o orante para um encontro com marcação, feita por
Jesus: “vinde a mim todos” (Mt 11,28). Não leva a um deus
domesticado e compreensível na justiça equitativa. Termina no encontro com o
Deus amor libertador.
“Não
vos fiqueis no caminho, mas pelejai… E indo sempre com esta determinação de
antes morrer que deixar de chegar ao fim do caminho… [o Senhor] vos dará de
beber com toda a abundância” (C 20,1-2). “Esta oração evangélica [do
pai-nosso]… encerra em si todo o caminho espiritual, desde o princípio até Deus
engolfar a alma e lhe dar abundantemente a beber da fonte da água viva, que eu
vos disse estar ao fim do caminho” (C 42,5).
Caminho
de perfeição é um Caminho de salvação através da oração e do amor fraterno. Tem
como objetivo construir um tipo de pessoa, configurada pela libertação de todas
as peias e pondo o afeto em Jesus e no próximo, no mundo em crise. A pessoa que
então emerge a caminho é um ser transcendido e incarnado, simples e inquebrantável.
armindo dos santos vaz, ocd, Semana de
Espiritualidade 2012, Avessadas, © SNPC | 11.10.12
Card.
gianfranco ravasi, Presidente do
Pontifício Conselho para a Cultura, In L'Osservatore Romano (26.7.2012), © SNPC
(trad.) | 11.10.12
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