09/11/2012

Tratado sobre a conservação e o governo das coisas 48



Questão 113: Da guarda dos bons anjos.

Art. 7 — Se os anjos se contristam com os males dos que guardam.



(II Sent., dist., XI, part. I, a. 5).

O sétimo discute-se assim. — Parece que os anjos se contristam com os males dos que guardam.


1. — Pois, diz a Escritura: Os anjos da paz chorarão amargamente. Ora, o pranto é sinal de dor e de tristeza. Logo, os anjos se contristam com os males dos homens que guardam.

2. Demais. — Como diz Agostinho, a tristeza provém do que nos acontece contra a nossa vontade. Ora, a perdição de um homem é contra a vontade do seu anjo da guarda. Logo, os anjos se contristam com a perdição dos homens.

3. Demais. — Como a tristeza é contrária à alegria, assim o pecado, à penitência. Ora, os anjos se alegram com o pecador penitente, como se lê no Evangelho. Logo, se contristam quando o justo cai em pecado.

4. Demais. — Ao passo da Escritura — E tudo quanto oferecem como primícias, diz a Glossa de Orígenes: Os anjos são levados a juízo, porque caíram, quer por negligência deles, quer por ignávia dos homens. Mas é racional que a gente sofra por causa dos males pelos quais é levado a juízo. Logo, os anjos se condoem com os pecados dos homens.

Mas, em contrário. — Onde há tristeza e dor não há perfeita felicidade, por isso, diz o Apocalipse: E não haverá mais morte, nem luto, nem clamor, nem mais dor. Ora, os anjos são perfeitamente felizes. Logo, de nada se condoem.

Os anjos não se condoem com os pecados nem com as penas dos homens, pois, a tristeza e a dor procedem, como diz Agostinho, do que contraria à vontade. Ora, nada acontece no mundo contrário à vontade dos anjos e dos outros bem-aventurados, porque a vontade deles adere totalmente à ordem da divina justiça, e nada há no mundo que não seja feito ou permitido por essa justiça. Por onde, absolutamente falando, nada acontece no mundo, contra a vontade dos bem-aventurados. Pois, como diz o Filósofo, chama-se voluntário absolutamente, ao que alguém quer, em particular, quando age, i. é, consideradas todas as circunstâncias, embora considerado em universal, não fosse voluntário. Assim, o nauta não quer que as mercadorias sejam atiradas ao mar, absoluta e universalmente falando, mas o quer, estando em risco eminente de perder-se, e por isso há aqui, antes, um voluntário do que um involuntário, como no mesmo passo se diz. Por onde, os anjos, universal e absolutamente falando, não querem os pecados e as penas dos homens, querem contudo que, por elas, se conserve a ordem da divina justiça, que submete certos a penas e permite que pequem.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — As palavras citadas de Isaías podem-se entender como referentes aos anjos anunciadores de Ezequías, que choraram, conforme o sentido literal, por causa das palavras de Rapsaco, de que se trata no mesmo livro. Pelo sentido alegórico porém, os anjos são apóstolos e pregadores da paz, que choram sobre os pecados dos homens. Se porém, pelo sentido anagógico, o passo se refere aos anjos bons, então o modo de falar é metafórico, para significar que eles querem, em universal, a salvacção dos homens. Pois, é assim que tais paixões se atribuem a Deus e aos anjos.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Resulta clara a solução do que acaba de ser dito.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Tanto na penitência como no pecado dos homens, há razão para alegria dos anjos, que é o implemento da ordem da divina providência.

RESPOSTA À QUARTA. — Os anjos são levados a juízo, por causa dos pecados dos homens, não como réus, mas como testemunhas, para convencer os homens da ignávia própria.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama

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