Art. 2 — Se os homens podem ensinar os anjos.
II Sent., dist. XI, part. II,
a. 4, Opusc. I, Contra ERR. Graec.,
cap. XXVI, Ad Ephes., cap. III, lect. III).
O
segundo discute-se assim. — Parece que os homens podem ensinar os anjos.
1. — Pois, diz o Apóstolo: Para que a multiforme sabedoria de Deus seja manifestada por meio da Igreja aos principados e potestades nos céus. Ora, a Igreja é a reunião dos fiéis. Logo, os anjos aprendem alguma coisa, dos homens.
2.
Demais. — Os anjos superiores, imediatamente iluminados por Deus, sobre as
coisas divinas, podem instruir os inferiores, como já se disse. Ora, certos
homens, e sobretudo os Apóstolos, são imediatamente instruídos pelo Verbo de
Deus, sobre as coisas divinas, conforme a Escritura: Ultimamente, nestes dias,
falou-nos por meio de seu Filho. Logo, certos homens puderam ensinar certos
anjos.
3.
Demais. — Os anjos inferiores são instruídos pelos superiores. Ora, certos
homens são superiores a certos anjos, pois, como diz Gregório, num lugar,
aqueles serão elevados às ordens supremas destes. Logo, certos anjos inferiores
podem ser instruídos, sobre as coisas divinas, por certos homens.
Mas,
em contrário, diz Dionísio, que todas as iluminações divinas são trazidas aos
homens, pelos anjos. Logo, estes não são instruídos por aqueles, sobre as
causas divinas.
Como já se estabeleceu, os anjos inferiores podem falar com os superiores, manifestando-lhes
os seus pensamentos, mas, sobre as coisas divinas, os superiores não são nunca
iluminados pelos inferiores. Ora, é manifesto, que os mais elevados dos homens
estão sujeitos, mesmo aos ínfimos dos anjos, do mesmo modo porque os anjos
inferiores estão sujeitos aos superiores. O que é claro pelo dito do Senhor, no
Evangelho: Entre os nascidos de mulheres não se levantou outro maior que João
Baptista, mas o que é menor no reino dos céus, é maior do que ele. Assim, pois,
os anjos não são nunca iluminados pelos homens, sobre as causas divinas.
Contudo, podem manifestar a estes, falando, as cogitações do coração, porque os
segredos dos corações só Deus conhece.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Agostinho expõe do modo seguinte o passo
aduzido, do Apóstolo. Este já havia dito antes: A mim, o mínimo dentre todos os
santos, foi-me dada esta graça de iluminar a todos, sobre a economia do
sacramento oculto, desde a origem dos séculos, em Deus, e digo de tal modo
oculto, para que os Principados e as Potestades, nos céus, conheçam, pela
Igreja, a multiforme sabedoria de Deus. Que é como se dissesse: Este sacramento
era oculto aos homens, de modo tal porém que fosse conhecido da Igreja celeste,
representada pelos Principados e Potestades, desde os séculos, e não antes,
porque primitivamente, a Igreja estava onde, depois da ressurreição, também
será congregada a Igreja dos homens. — Mas, também se pode dizer, de outro
modo, como acrescenta o mesmo Agostinho, que o que está oculto os anjos não o
conhecem tanto em Deus, mas, antes, é-lhes manifesto quando se realiza e
propala, neste mundo. E assim, quando foram completados, pelos Apóstolos, os
mistérios de Cristo e da Igreja, algo de tais mistérios, que antes lhes estava
oculto, foi manifestado. E deste modo, pode-se entender o dito de Jerónimo, que
os anjos conheceram certos mistérios pela pregação dos Apóstolos, porque, com
essa predicação apostólica, tais mistérios se completaram, relativamente aos
objectos mesmos deles, assim, com a pregação de Paulo os gentios se converteram,
assunto de que trata o Apóstolo no passo aduzido.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — Os Apóstolos foram instruídos imediatamente pelo Verbo de Deus,
porque lhes falou, não a divindade do Verbo, mas a humanidade. Por onde, a objecção
não colhe.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Certos homens, mesmo em vida, são maiores que alguns anjos, não
em acto, mas por virtude, i. é, enquanto têm caridade tão intensa, que podem
merecer maior grau de beatitude, que o de certos anjos. Assim, como se
disséssemos que a semente de lima grande árvore tem maior virtude que a de lima
pequena árvore, embora seja tal semente muito menor, actualmente.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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