21/10/2012

Vida de Maria (IV) - A VOZ DO MAGISTÉRIO


«O evangelho de Lucas, ao apresentar Maria como virgem, acrescenta que estava "desposada com um varão chamado José, da casa de David" (Lc 1, 27). Estas informações parecem, à primeira vista, contraditórias».

«Há que notar que o termo grego utilizado nesta passagem não indica a situação de uma mulher que contraiu matrimónio e, portanto, vive no estado matrimonial, mas a de noivado. Mas, de forma diferente do que acontece nas culturas modernas, no costume judaico antigo a instituição do noivado previa um contrato e tinha normalmente valor definitivo; efectivamente, introduzia os noivos no estado matrimonial embora o matrimónio se cumprisse plenamente apenas quando o jovem conduzia a noiva para sua casa».

«No momento da Anunciação, Maria encontra-se pois, na situação de esposa prometida. Podemos perguntar-nos porque razão tinha aceite o noivado, dado que tinha feito o propósito de permanecer virgem para sempre. Lucas tem consciência desta dificuldade, mas limita-se a registar a situação sem dar explicações. O facto do evangelista, mesmo pondo em relevo o propósito de virgindade de Maria, a apresente igualmente como esposa de José, constitui um sinal de que ambas as notícias são historicamente dignas de crédito».

«Pode supor-se que entre José e Maria, no momento do compromisso, existisse um entendimento sobre o projecto de vida virginal. Além disso, o Espírito Santo, que tinha inspirado a Maria a opção da virgindade com vista ao mistério da Encarnação e que queria que esta acontecesse num contexto familiar idóneo para o crescimento do Menino, pôde muito bem suscitar também em José o ideal da virgindade».

«O anjo do Senhor, aparecendo-lhe em sonhos, diz-lhe: "José, filho de David, não temas receber em tua casa Maria tua esposa porque o que n’Ela foi concebido é obra do Espírito Santo" (Mt 1, 20). Desta forma recebe a confirmação de estar chamado a viver de modo totalmente especial o caminho do matrimónio. Através da comunhão virginal com a mulher predestinada para dar Jesus à luz, Deus chama-o a cooperar na realização do Seu desígnio de salvação».

«O tipo de matrimónio para o qual o Espírito Santo orienta Maria e José é compreensível apenas no contexto do plano salvífico e no âmbito de uma elevada espiritualidade. A realização concreta do mistério da Encarnação exigia um nascimento virginal que pusesse em evidência a filiação divina e, ao mesmo tempo, uma família que pudesse assegurar o desenvolvimento normal da personalidade do Menino».

«José e Maria, precisamente tendo em vista o seu contributo para o mistério da Encarnação do Verbo, receberam a graça de viver juntos o carisma da virgindade e o dom do matrimónio. A comunhão de amor virginal de Maria e José, embora constituindo um caso especialíssimo, vinculado à realização concreta do mistério da Encarnação, foi, no entanto, um verdadeiro matrimónio».

«A dificuldade de se aproximar do mistério sublime da sua comunhão esponsal induziu alguns, já desde o século II, a atribuir a José uma idade avançada e a considerá-lo o custódio de Maria, mais do que seu esposo. É caso para supor, pelo contrário, que não fosse um homem idoso, mas que a sua perfeição interior, fruto da graça, o levasse a viver com afecto virginal a relação esponsal com Maria».

«A cooperação de José no mistério da Encarnação abarca também o exercício do papel paterno relativamente a Jesus. Esta função é-lhe reconhecida pelo anjo que, aparecendo-lhe em sonhos, o convida a pôr o nome ao Menino: "Dará à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus, porque Ele salvará o Seu povo dos seus pecados" (Mt 1, 21)».

(Btº joão paulo II, Catequese mariana na audiência de 1996.08.21)

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