Questão 106: Da iluminação
dos anjos.
O
quarto discute-se assim. – Parece que o anjo superior não ilumina, em relação a
tudo o que sabe, o inferior.
1.
– Pois, diz Dionísio, que os anjos superiores têm ciência mais universal, que a
dos inferiores, que é mais particular e dependente. Ora, maior compreensão tem
a ciência universal que a particular. Logo, nem tudo o que sabem os anjos
superiores o sabem, por iluminação deles, os inferiores.
2.
Demais. – O Mestre das sentenças diz, que os anjos superiores conheceram, desde
os séculos dos séculos, o mistério da Encarnação; ao passo que os inferiores
não o conheceram enquanto ela não se consumou. E isto conclui-se de que, a uns
anjos que interrogam, como quem ignora (Sl 23, 10) – Quem é este Rei
da glória? – outros respondem, como quem sabe – O Senhor das virtudes, esse é o
Rei da glória – segundo expõe Dionísio. Ora, tal não se daria, se os anjos
superiores iluminassem, em relação a tudo o que sabem, os inferiores; logo,
não os iluminam desse modo.
3.
Demais. – Se os anjos superiores anunciassem tudo o que conhecem, aos
inferiores, nada do que aqueles conhecessem seria desconhecido destes.
Portanto, sobre nada mais poderiam os superiores iluminar os inferiores, o que
é inadmissível. Logo, os superiores não iluminam, sobre tudo, os inferiores.
Mas,
em contrário, diz Gregório: Na pátria celeste, embora certas coisas sejam
dadas, excelentemente, contudo nada é possuído singularmente. E Dionísio: Cada
essência celeste comunica à inferior a inteligência que lhe foi dada pela
superior, como é claro pelo passo supra-exarado (a. 1).
Todas as criaturas participam da divina bondade, de modo a difundirem nas
outras o bem que possuem; pois, é da essência do bem comunicar-se. Donde vem
que os próprios agentes corpóreos transmitem, tanto quanto possível, a sua
semelhança a outros. Donde, quanto mais um agente participa da divina bondade,
tanto mais tende a transfundir nos outros, no máximo possível, as suas
perfeições. E por isso São Pedro adverte os que participam, pela graça, da
divina bondade, dizendo (1 Pd 4, 10): Cada um, segundo o dom que
recebeu, comunique-o aos outros, como bons despenseiros da multiforme graça de
Deus. Logo, com maior razão, os santos anjos, que participam plenissimamente da
divina bondade, dividem com os que lhes são inferiores tudo o que recebem de
Deus. Mas o que é recebido pelos inferiores nestes não está do mesmo modo
excelente por que está nos superiores. E por isso estes permanecem sempre em
ordem mais alta e têm ciência mais perfeita; assim como o mestre intelige uma
mesma coisa mais plenamente que o discípulo, que dele aprende.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Considerar-se mais universal a ciência dos
anjos superiores, quanto ao modo mais eminente de inteligir.
RESPOSTA
À SEGUNDA. – Não se devem entender as palavras do Mestre das Sentenças como
significando que os anjos inferiores ignoraram completamente o mistério da
Encarnação; mas como significando que, além de não o terem conhecido, tão
plenamente como os superiores, progrediram depois no conhecimento do mesmo, até
que ele se cumprisse.
RESPOSTA
À TERCEIRA. – Até o dia do juízo, sempre novas revelações serão feitas por Deus
aos anjos supremos, no tocante à disposição do mundo e sobretudo à salvação dos
eleitos. Donde, sempre haverá matéria em que os anjos superiores iluminem os
inferiores.
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