Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Lc 17, 20-37
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Evangelho: Lc 17, 20-37
20 Tendo-Lhe os
fariseus perguntado quando viria o reino de Deus, respondeu-lhes: «O reino de
Deus não virá ostensivamente. 21 Não se dirá: Ei-lo aqui ou ei-lo
acolá. Porque eis que o reino de Deus está no meio de vós». 22
Depois disse aos Seus discípulos: «Virá tempo em que desejareis ver um só dos
dias do Filho do Homem e não o vereis. 23 E vos dirão: Ei-lo aqui,
ou ei-lo acolá. Não vades, nem os sigais. 24 Porque, assim como o
clarão brilhante de um relâmpago ilumina o céu de uma extremidade à outra,
assim será o Filho do Homem no Seu dia. 25 Mas primeiro é necessário
que Ele sofra muito e seja rejeitado por esta geração. 26 Como sucedeu
nos dias de Noé, assim sucederá também quando vier o Filho do Homem. 27
Comiam e bebiam, tomavam mulher e marido, até ao dia em que Noé entrou na arca;
e veio o dilúvio, que exterminou a todos. 28 Como sucedeu também no
tempo de Lot; comiam e bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam; 29
mas, no dia em que Lot saiu de Sodoma, choveu fogo e enxofre do céu, que exterminou
a todos. 30 Assim será no dia em que se manifestar o Filho do Homem.
31 Nesse dia quem estiver no terraço e tiver os seus móveis em casa,
não desça a tomá-los; da mesma sorte, quem estiver no campo, não volte atrás. 32
Lembrai-vos da mulher de Lot. 33 Quem procurar salvar a sua vida,
perdê-la-á; quem a perder, salvá-la-á. 34 Eu vos digo: Nessa noite,
de duas pessoas que estiverem num leito, uma será tomada e a outra deixada. 35
Duas mulheres estarão a moer juntas, uma será tomada e a outra deixada!». 36
Omitido na Neo-Vulgata. 37 Os discípulos disseram-Lhe: «Onde será
isso, Senhor?». Ele respondeu-lhes: «Onde quer que estiver o corpo,
juntar-se-ão aí também as águias».
CARTA ENCÍCLICA
SACRA VIRGINITAS
DO SUMO PONTÍFICE
PAPA PIO XII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS
PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS E BISPOS
E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
…/2
Multidões de virgens foram
sempre a honra e a glória da Igreja
25.
Não podemos deixar de sentir profunda alegria ao pensarmos na inúmera falange
das virgens e dos apóstolos que, desde os primeiros séculos da Igreja até aos
nossos tempos, renunciaram ao casamento para mais fácil e inteiramente se
dedicarem à salvação do próximo por amor de Cristo, e assim realizaram
admiráveis obras de religião e caridade. De modo nenhum queremos diminuir os
méritos dos militantes da Acção Católica nem os frutos do seu apostolado: podem
muitas vezes atingir almas de que não se poderiam aproximar os sacerdotes, os
religiosos ou as religiosas. Todavia, é às pessoas consagradas que se deve sem,
dúvida, atribuir a maioria das obras de caridade. Com ânimo generoso,
acompanham e endereçam a vida dos homens de todas as idades e condições; e
quando esses religiosos ou religiosas desfalecem com a idade ou as doenças,
como herança passam a outros o múnus sagrado. Não raro é o recém-nascido
agasalhado por mãos virginais, sem nada lhe faltar dos cuidados que nem a mãe
lhe poderia prestar com maior amor; e se já chegou ao uso da razão, é confiado
a educadores que o formam cristãmente e, ao mesmo tempo, o instruem e lhe
modelam o carácter; se está doente, encontrará sempre enfermeiros ou
enfermeiras que, por amor de Cristo, o tratem com dedicação incansável; se fica
órfão, se vem a cair na miséria material ou moral, ou se é lançado numa prisão,
não ficará abandonado: esses sacerdotes, esses religiosos ou religiosas
reconhecerão nele um membro padecente de Cristo e lembrar-se-ão das palavras do
divino Redentor: "Tive fome, e me destes de comer; tive sede e me destes
de beber; era peregrino, e me recolhestes; nu, e me vestistes; enfermo, e me
visitastes; estava no cárcere e fostes visitar-me... Na verdade vos digo que
todas as vezes que vós fizestes isso a um desses meus irmãos mais pequeninos, a
mim o fizestes" (Mt 25, 35-36.40). Quem poderá deixar de louvar
devidamente os missionários que se dedicam, no meio das maiores fadigas e longe
da pátria, à conversão de multidões de infiéis? Que dizer finalmente das
esposas de Cristo, que lhes prestam tão preciosos serviços? A todos e cada um
desses, aplicamos de coração o que escrevemos na Exortação Apostólica Menti Nostrae: "...Por esta lei do
celibato, muito longe de perder inteiramente a paternidade, o sacerdote
aumenta-a imensamente, porque não gera família para a vida terrena e caduca,
mas para a vida celeste que há-de permanecer perpetuamente". 33
26.
Todavia a virgindade não é só fecunda pelas obras exteriores, às quais permite
uma dedicação mais pronta e mais completa, mas também por formas de caridade
perfeita com o próximo, como a oração por intenção dele e os graves sacrifícios
por ele suportados da melhor vontade. A essa missão consagraram toda a sua
vida, de modo especial, aqueles servos e esposas de Cristo que vivem nos
claustros.
27.
Enfim, a virgindade consagrada a Cristo constitui, por si mesma, tal testemunho
de fé no Reino dos Céus e tal prova de amor ao Divino Redentor, que não é de
admirar dê frutos tão abundantes de santidade. Inumeráveis são as virgens e os
apóstolos que professam a castidade perfeita; constituem a honra da Igreja pela
excelsa santidade da sua vida. De facto, a virgindade dá às almas força
espiritual capaz de as levar até ao martírio: é a lição manifesta da história,
que propõe à admiração de todos grande multidão de virgens, desde Santa Inês
até Santa Maria Goretti.
A "virtude
angélica" atesta o amor ardente da Igreja pelo seu Divino Esposo
28.
A virgindade merece bem o nome de virtude angélica. São Cipriano lembra-o com
razão às virgens: "O que nós havemos de ser todos, já vós o começastes a
ser. Possuis já neste mundo a glória da ressurreição; vós passais através do
mundo sem as manchas do mundo. Enquanto perseverais castas e virgens, sois
iguais aos anjos de Deus". 34 A
alma sequiosa de vida pura e abrasada pelo desejo de possuir o Reino dos Céus,
oferece a virgindade "como uma pérola preciosa", por amor da qual a
alma "vende tudo o que tem e a compra" (Mt 13, 46). Às
pessoas casadas e mesmo aos que se revolvem no lodo do vício, a presença das
virgens revela muitas vezes o esplendor da pureza e inspira o desejo de vencer
os prazeres dos sentidos. Se São Tomás pôde afirmar "que se atribui à
virgindade a mais alta beleza", 35
foi porque sem dúvida o exemplo da virgindade é atraente. Pela castidade
perfeita, não dão todos esses homens e mulheres a prova mais brilhante de que o
domínio do espírito sobre o corpo é efeito da ajuda divina e sinal de sólida
virtude?
29.
Apraz-nos considerar especialmente que o fruto mais suave da virgindade está em
as virgens manifestarem, só pela sua existência, a virgindade perfeita da mãe
delas, a Igreja, e a santidade da união íntima que têm com Cristo. No rito da
consagração das virgens, o Bispo pede a Deus "que haja almas mais elevadas
a quem não seduza o atractivo das relações carnais, mas aspirem ao mistério que
elas representam, não imitando o que se pratica no matrimónio, mas amando o que
ele significa". 36
30.
A maior glória das virgens está em serem imagens vivas da perfeita integridade
que une a Igreja com o seu Esposo Divino; e esta sociedade fundada por Cristo
alegra-se o mais possível ao ver que as virgens são o sinal maravilhoso da sua
santidade e da sua fecundidade espiritual, como escreve tão bem São Cipriano:
"São flor nascida da Igreja, beleza e esplendor da graça espiritual,
alegria da natureza, obra perfeita e merecedora de toda a honra e louvor,
imagem em que se reflecte a santidade do Senhor, a mais ilustre porção do
rebanho de Cristo. Compraz-se nelas a Igreja e nelas floresce exuberante a sua
gloriosa fecundidade; de modo que, quanto mais aumenta o número de virgens,
tanto mais cresce a alegria da mãe". 37
II
REFUTAÇÃO DOS ERROS
OPOSTOS À VIRGINDADE E AO CELIBATO
31.
Esta doutrina da excelência da virgindade e do celibato, e da superioridade de
ambos em relação ao matrimónio, tinha sido declarada, como dissemos, pelo Divino
Redentor e pelo Apóstolo das Gentes; do mesmo modo foi também definida
solenemente no Concílio Tridentino 38 como dogma de fé, e comentada sempre
unanimemente pelos Santos Padres e Doutores da Igreja. Além disso, os nossos
predecessores e nós próprio a explicamos muitas vezes e recomendamos
insistentemente. Mas, perante recentes ataques a esta doutrina tradicional da
Igreja, e por causa do perigo que eles constituem e do mal que produzem entre
os fiéis, somos levado pelo dever do nosso cargo a desmascarar nesta Encíclica e a reprovar de novo esses
erros, tantas vezes propostos sob aparências de verdade.
A castidade não é nociva
ao organismo humano
32.
Primeiramente, apartam-se do senso comum, a que a Igreja sempre atendeu,
aqueles que vêm no instinto sexual a mais importante e mais profunda das
tendências humanas, e concluem daí que o homem não o pode coibir durante toda a
sua vida sem perigo para o organismo e sem prejuízo do equilíbrio da sua
personalidade.
33.
Ora, segundo a acertada observação de São Tomás, a mais profunda das
inclinações naturais é o instinto da conservação: o instinto sexual não vem
senão em segundo lugar. Além disso, compete à razão, privilégio singular da
nossa natureza, regular essas tendências e instintos profundos e, por meio da
direcção que lhes dá, enobrecê-los. 39
34.
Infelizmente, depois do pecado de Adão, as faculdades e as paixões do corpo,
estando alteradas, não só procuram dominar os sentidos mas até o espírito,
obscurecendo a razão e enfraquecendo a vontade. Mas é-nos dada a graça de
Cristo, especialmente nos sacramentos, para nos ajudar a manter o nosso corpo
em servidão e a viver do espírito (cf. Gl 5, 25;1 Cor 9, 27). A
virtude da castidade não exige de nós que nos tornemos insensíveis ao estímulo
da concupiscência, mas que o subordinemos à razão e à lei da graça,
esforçando-nos, segundo as próprias forças, por seguir o que é mais perfeito na
vida humana e cristã.
35.
Para conseguir, porém, o domínio perfeito do espírito sobre a vida dos
sentidos, não basta abstermo-nos apenas dos actos directamente contrários à
castidade, mas é absolutamente necessário renunciar com generosidade a tudo o
que ofende de perto ou de longe esta virtude: poderá então o espírito reinar
plenamente no corpo e ver a sua vida espiritual em paz e liberdade. Quem não
verá, à luz dos princípios católicos, que a castidade perfeita e a virgindade,
bem longe de prejudicarem o desenvolvimento normal do homem e da mulher, os
elevam pelo contrário à mais alta nobreza moral?
A santificação não é mais
fácil no matrimónio que na virgindade
36.
Reprovámos recentemente, com tristeza, a opinião que apresenta o casamento como
meio único de garantir à personalidade humana o seu desenvolvimento e a sua
perfeição natural. 40
Alguns afirmam, de facto, que a graça, comunicada ex opere operato pelo
sacramento do matrimónio, santifica o uso do casamento a ponto de o tornar
instrumento mais eficaz que a mesma virgindade para unir as almas a Deus,
porque o casamento cristão é um sacramento, mas a virgindade não o é. Nós
declaramos porém essa doutrina falsa e nociva. Sem dúvida, o sacramento concede
aos esposos a graça de cumprirem santamente o dever conjugal e reforça os laços
do afecto recíproco que os une; mas não foi instituído para fazer do uso do matrimónio
o meio mais apto, em si, para unir com o próprio Deus a alma dos esposos pelos
laços da caridade. 41
Quando o Apóstolo São Paulo reconhece aos esposos o direito de se absterem
algum tempo do uso do casamento para se entregarem a oração (cf. 1 Cor 7,
5), não é exactamente porque tal renúncia torna a alma mais livre para se
dar às coisas divinas e orar?
37.
Finalmente, não se pode afirmar, como fazem alguns, que "a ajuda
mútua", 42
que os esposos procuram no matrimónio cristão, é ajuda mais perfeita para
conseguir a santidade do que a apregoada solidão do coração das virgens e dos
continentes. Pois, não obstante a renúncia a tal amor humano, não se pode dizer
que as pessoas, que abraçam o estado de perfeita castidade, empobrecem por isso
mesmo a sua personalidade humana. De facto, recebem do próprio Deus um socorro
espiritual muito superior à "mútua ajuda" prestada pelos cônjuges
entre si. Dedicando-se completamente Àquele que é seu princípio e lhes dá a
participação da Sua vida divina, longe de se diminuírem a si mesmos, só se
engrandecem o mais possível. Quem, com mais verdade que os virgens, pode
aplicar a si aquelas admiráveis palavras do apóstolo São Paulo: "Vivo, já
não eu, mas é Cristo que vive em mim"? (Gl 2, 20).
38.
Por esse motivo, a Igreja mantém sapientissimamente o celibato dos padres; sabe
que ele é e há-de ser fonte de graças espirituais e de união com Deus, cada vez
mais íntima.
O apostolado não é mais
eficaz no matrimónio do que na virgindade
39.
Parece-nos útil dizer também alguma coisa dos que apartam a juventude dos
seminários e institutos religiosos, esforçando-se por incutir a ideia de que
hoje a Igreja tem maior necessidade do auxílio e da profissão da vida cristã
dos casados, vivendo no século como os demais, que dos sacerdotes e das
religiosas, que por assim dizer se separaram do mundo pelo voto de castidade.
Semelhante ideia, veneráveis irmãos, é completamente falsa e muito perniciosa.
40.
Não é certamente nossa intenção negar a fecundidade do testemunho que os
esposos católicos podem dar, com o exemplo da vida e a eficácia da virtude, em
todos os lugares e circunstâncias. Mas invocar esse motivo para aconselhar que
se prega o matrimónio à consagração total a Deus é inverter e transtornar a recta
ordem das coisas. Muito desejamos, veneráveis irmãos, que não só se ensinem a
tempo, aos já casados ou aos noivos, os deveres de pais e mães, mas que se
esclareçam também sobre o testemunho que devem dar aos outros da sua fé e do
exemplo das suas virtudes. Mas, como o exige a consciência do nosso dever, não
podemos deixar de reprovar em absoluto os maus conselheiros, que apartam jovens
de entrarem nos seminários ou na vida religiosa, sob o pretexto que farão maior
bem como pais ou mães de família, professando a vida cristã publicamente à
vista de todos. Melhor fariam tais conselheiros exortando as inúmeras pessoas
casadas a cooperarem nas obras de apostolado, do que teimando em apartar da
virgindade os poucos jovens que desejam consagrar-se ao divino serviço. A esse
propósito lembra Santo Ambrósio: "Sempre foi próprio da graça sacerdotal
lançar a semente da integridade e excitar o amor da virgindade". 43
41.
Também julgamos dever notar que é completamente falso dizer que as pessoas que
professam castidade perfeita, deixam, de certo modo, de pertencer à comunidade
humana. As religiosas que dedicam toda a vida a servir os pobres e os doentes,
sem distinção de raça, de categoria social ou religião, acaso não se associam
intimamente a essas desgraças e dores, e porventura não se compadecem delas
como se fossem verdadeiras mães? E o sacerdote não é o bom pastor, que, a exemplo
do Divino Mestre, conhece as suas ovelhas e as chama pelos seus nomes? (cf.
Jo 10, 14; 10, 3). Ora foi exatamente a castidade perfeita que permitiu
que esses sacerdotes e religiosos, e essas religiosas, se pudessem dedicar a
todos e amar a todos por amor de Cristo. E também os contemplativos e
contemplativas, oferecendo a Deus as suas orações e a sua própria imolação pela
salvação do próximo, contribuem muito para o bem da Igreja; mais ainda: como
nas circunstâncias presentes se dão ao apostolado e às obras de caridade,
segundo as normas estabelecidas pela nossa Carta
Apostólica Sponsa Christi, 44
merecem todo o louvor por este novo motivo; nem podem ser considerados como
estranhos à sociedade humana, pois trabalham desses dois modos para o bem
espiritual dela.
III
CONSEQUÊNCIA PRÁTICA DA
DOUTRINA SOBRE A EXCELÊNCIA DA VIRGINDADE
42.
Passemos, veneráveis irmãos, às consequências práticas desta doutrina da Igreja
sabre a excelência da virgindade.
43.
Primeiramente, deve conceder-se sem rodeios que, por ser a virgindade mais
perfeita que o matrimónio, não se segue que seja necessária para alcançar a
perfeição cristã. Pode chegar-se a ser santo mesmo sem fazer voto de castidade,
como o provam numerosos santos e santas, que a Igreja honra com culto público,
os quais foram fiéis esposos e deram exemplo de excelentes pais ou mães de
família; além disso, não raro se encontram pessoas casadas que buscam com todo
o empenho a perfeição cristã. A castidade é consequência de uma escolha livre e
prudente
44.
Também se há-de notar que Deus não impõe a todos os cristãos a virgindade, como
ensina o apóstolo São Paulo: "Quanto às virgens, não tenho mandamento do
Senhor, mas dou conselho" (l Cor 7, 25). Portanto, a castidade
perfeita é só conselho: conduz com maior certeza e facilidade à perfeição
evangélica e ao reino dos céus "àqueles a quem isto foi concedido" (Mt
19, 11); por isso, como bem adverte Santo Ambrósio, a castidade "não
se impõe, mas propõe-se". 45
45.
Por essa razão, a castidade perfeita exige, da parte dos cristãos, que a
escolham livremente, antes de se oferecerem totalmente a Deus; e, da parte de
Deus, que Ele comunique o seu dom e a sua graça (cf.1 Cor 7, 7). Já
o próprio Divino Redentor prevenira: "Nem todos compreendem esta palavra,
mas aqueles a quem isto foi concedido... Quem pode compreender,
compreenda" (Mt 19, 11.12). São Jerónimo, considerando
atentamente essa sentença de Jesus Cristo, exorta "a que examine cada um
as suas forças, para ver se poderá cumprir os preceitos da virgindade e da
pureza. Em si, a castidade é agradável e atrai a todos. Mas há que se medir as
forças, de modo que compreenda quem puder compreender. É a voz do Senhor a
exortar, por assim dizer, e a animar os seus soldados para conquistarem o prémio
da pureza. Quem pode compreender, compreenda; quem pode lutar, lute, vença e
triunfe". 46
A castidade é uma virtude
difícil...
46.
A virgindade é virtude difícil: para a abraçar, não se requer apenas o
propósito firme e expresso de renunciar completa e perpetuamente aos prazeres
legítimos do matrimónio; é preciso também dominar e acalmar, com vigilância e
combate constantes, as revoltas da carne e as paixões do coração, fugir das
solicitações do mundo e vencer as tentações do demónio. Com muita razão dizia São
João Crisóstomo: "A raiz e o fruto da virgindade é a vida
crucificada" 47
Porque a virgindade, segundo Santo Ambrósio, é como um sacrifício, e a virgem é
"a hóstia do pudor, a vítima da castidade". 48 São Metódio de Olimpo chega até a comparar
as virgens aos mártires 49,
e São Gregório Magno ensina que a castidade perfeita supre o martírio:
"Mesmo tendo passado o tempo da perseguição, a nossa paz tem, ainda assim,
o seu martírio; porque, mesmo se já não metemos o pescoço debaixo do ferro, no
entanto matamos com uma espada espiritual os desejos carnais da nossa
alma". 50 A
castidade consagrada a Deus exige, portanto, almas fortes e nobres, prontas
para o combate e para a vitória "por amor do Reino dos Céus" (Mt
19, 12).
47.
Por conseguinte, antes de entrarem neste caminho estreito, todos os que por
experiência sabem que são demasiado fracos nesta matéria devem escutar humildemente
a advertência do Apóstolo São Paulo: "Se não se contêm, casem-se. Porque é
melhor casar-se do que abrasar-se" (1 Cor 7, 9). Para muitos,
com efeito, a continência perpétua seria uma carga pesada demais para lhes ser
aconselhada. Do mesmo modo, os sacerdotes encarregados da direcção de jovens,
que julgam possuir vocação sacerdotal ou religiosa têm o grave dever em
consciência de os exortar a estudá-la com cuidado e de não os deixar entrar por
um caminho em que não poderiam esperar chegar ao fim com decisão e eficácia.
Examinem-lhes prudentemente as aptidões e ouçam o parecer dos peritos sempre
que convenha; e, se subsiste ainda dúvida séria, sobretudo em razão da vida
passada, intervenham com autoridade para os fazer desistir de abraçar o estado
de castidade perfeita ou para impedir que sejam admitidos às ordens sagradas ou
à profissão religiosa.
...mas possível com a
graça de Deus...
48.
Mas, se a castidade consagrada a Deus é virtude difícil, a sua prática fiel e
perfeita é possível às almas que, depois de tudo bem ponderado, correspondem
generosamente ao convite de Jesus Cristo e fazem quanto podem para a observar.
Com efeito, se abraçarem este estado de virgindade ou de celibato, receberão de
Deus o dom da graça para cumprirem o propósito feito. Por isso, se encontrarem
pessoas "que não sentem ter o dom da castidade (mesmo depois de terem
feito o voto)", 51
não julguem por isso que não podem satisfazer as suas obrigações nesta matéria:
Porque "Deus não manda coisas impossíveis; mas, ao mandar, recomenda que
se faça o que se pode, que se peça o que não se pode 52 – e ajuda a poder". 53 Lembramos também aos doentes essa verdade
muito consoladora, cuja vontade se enfraqueceu com perturbações nervosas, e por
isso ouvem com excessiva facilidade de certos médicos, às vezes até católicos,
o conselho de pedirem dispensa da obrigação contraída, sob o pretexto de que não
podem observar a castidade sem prejuízo do equilíbrio psíquico. Quanto mais
útil não seria ajudar esses doentes a reforçarem a própria vontade e a
convencerem-se de que não lhes é impossível a castidade, segundo a sentença do
Apóstolo: "Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além do que
podem as vossas forças, antes fará que tireis ainda vantagem da própria
tentação, para a poderdes suportar"! (1 Cor 10, 13).
49.
Os meios recomendados pelo próprio Divino Redentor, para defesa eficaz da nossa
virtude, são: vigilância assídua, para fazermos o melhor que pudermos tudo o
que estiver na nossa mão; e oração constante, para pedirmos a Deus o que pela
nossa fraqueza não podemos conseguir: "Vigiai e orai, para que não entreis
em tentação. O espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca" (Mt
26, 41).
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
_______________________________________
Notas:
33
AAS 42(1950), p. 663.
34
S. Cypr., De habitu virginum, 22; PL 4, 462; cf. S. Ambros., De virginibus, lib.
I, c. 8, n. 52; P1,16, 202.
35 S. Thom., Summa Theol.,
II-II, q.152, a. 5.
36
Pontificale Romanum: De benedictione et consecratione virginum.
37
S. Cypr., De habitu virginum, 3; PL 4, 443.
38 Sess. XXIV, cân.10.
39 Cf. S. Thom., Summa Theol.,
I-II, q. 94, a. 2.
40
Cf. Allocutio ad Moderatrices supremas Ordinum et Institutorum Religiosarum, de
15 de setembro de 1952; AAS 44(1952), p. 824.
41
Cf. Decretum S. Officii, De matrimonii finibus, de 1° de abril de 1944; AAS
36(1944), p.103.
42
Cf. CIC cân.1013 § 1.
43
S. Ambros., De virginitate, c. 5, n. 26; PL 16, 272.
44
Cf. AAS 43(1951), p. 20.
45
S. Ambros., De viduis, c. 12, n. 72; PL 16, 256; cf. S. Cypr., De habitu
virginum, c. 23; PL 4, 463.
46 S. Hieronym. Comment. in
Matth.,19,12; PL 26,136.
47 S. Joann. Chrysost., De
virginitate, 80; PG 48, 592.
48
S. Ambros., De virginibus, lib. I, c. 11, n. 65; PL 16, 206.
49
Cf. S. Methodius Olympi, Convivium decem virginum, Orat. VII, c. 3; PG
18,128-129.
50
S. Gregor. M., Hom. in Evang.,
lib. I, hom. 3, n. 4; PL 76,1089.
51 Cf. Conc. Trid., sess. XXIV,
cân. 9.
52
Cf. S. Augustin., De natura et grafia, c. 43, n. 50; PL 44, 271.
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