17/10/2012

Tratado sobre a conservação e o governo das coisas 26


Questão 109: Da ordem dos anjos maus.

Em seguida devemos considerar a ordem dos anjos maus.


E sobre esta questão quatro artigos se discutem:
Art. 1 — Se há ordens de demónios.
Art. 2 — Se entre os demónios há superiores.
Art. 3 — Se nos demónios há iluminação.
Art. 4 — Se os bons anjos têm superioridade sobre os maus.

Art. 1 — Se há ordens de demónios.

(II Sent., dist. VI. Q. 1, a. 4; IV dist. XLVII, q. 1, a. 2, qa 4; Ephes., cap. VI, lect. III).

O primeiro discute-se assim. — Parece que não há ordens de demónios.

1. — Pois, a ordem é da essência do bem, como o modo e a espécie, segundo diz Agostinho. E ao contrário, a desordem é da essência do mal. Ora, nos bons anjos, nada é desordenado. Logo, não há ordens de anjos maus.

2. Demais. — As ordens angélicas estão compreendidas em alguma hierarquia. Ora, os demónios, privados de toda santidade, não estão em nenhuma hierarquia, que é o principado sagrado. Logo, não há ordens de demónios.

3. Demais. — Os demónios decaíram das várias ordens dos anjos, como se diz comumente. Se pois, alguns demónios são considerados pertencentes a alguma ordem, porque dela decaíram, conclui-se que lhes deveriam ser atribuídos os nomes das várias ordens. Ora, nunca se soube que fossem chamados Serafins, Tronos ou Dominações. Logo, por igual razão, não estão nas demais ordens.

Mas, em contrário, diz o Apóstolo (Ef 6, 12): nós temos que lutar contra os Principados e Potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso.

Como já se disse (q. 108, a. 4, 7, 8), a ordem angélica é considerada em relação ao grau da natureza e ao da graça. Ora, a graça tem duplo estado: o imperfeito, que é o de merecer; e o perfeito, que é o da glória consumada. Se, pois, se considerarem as ordens angélicas quanto à graça imperfeita, então os demónios pertenceram-lhes, outrora, mas delas decaíram: e isto é conforme ao que já estabelecemos (q. 62, a. 3), que todos os anjos foram criados em graça. Se porém forem considerados quanto à natureza, então ainda agora eles a lhes pertencem, pois não perderam os dons da natureza, como diz Dionísio.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Como já se estabeleceu (q. 49, a. 3), o bem pode existir sem o mal, mas não este, sem aquele. Donde, os demónios, na medida em que têm a natureza boa, são ordenados.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A ordenação dos demónios, considerada em relação a Deus ordenador, é sagrada, pois, ele usa deles para si mesmo. Mas em relação à vontade dos demónios, não o é, porque abusam da natureza própria, para o mal.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O nome de Serafins é imposto por causa do ardor da caridade; o de Tronos, por habitar neles a divindade; o de Dominações, por fim, importa uma certa liberdade. Tudo o que se opõe ao pecado. Donde, tais nomes não se podem atribuir aos anjos pecadores.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama

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