Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Lc 23, 50-56; 24, 1-12
50 Então um homem, chamado José, que era
membro do Sinédrio, varão bom e justo, 51 que não tinha concordado
com a determinação dos outros, nem com os seus actos, oriundo de Arimateia,
cidade da Judeia, que também esperava o reino de Deus, 52 foi ter
com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. 53 Tendo-O descido da
cruz, envolveu-O num lençol e depositou-O num sepulcro aberto na rocha, no qual
ainda ninguém tinha sido sepultado. 54 Era o dia da Preparação e o
sábado ia começar. 55 Ora as mulheres, que tinham vindo da Galileia
com Jesus, acompanharam José, e observaram o sepulcro e o modo como o corpo de
Jesus fora nele depositado. 56 Voltando, prepararam perfumes e
unguentos. No sábado, observaram o descanso, segundo a Lei.
Lc
24 1 No
primeiro dia da semana, foram muito cedo ao sepulcro, levando os perfumes que
tinham preparado. 2 Encontraram removida a pedra do sepulcro. 3
Entrando, não encontraram o corpo do Senhor Jesus. 4 Aconteceu que,
estando perplexas com isso, eis que apareceram junto delas dois homens com
vestidos resplandecentes. 5 Estando elas medrosas e com os olhos no
chão, disseram-lhes: «Porque buscais entre os mortos Aquele que está vivo? 6
Ele não está aqui, ressuscitou. Lembrai-vos do que Ele vos disse quando estava
na Galileia: 7 Importa que o Filho do Homem seja entregue nas mãos
de homens pecadores, e seja crucificado, e ressuscite ao terceiro dia». 8
Então lembraram-se das Suas palavras. 9 Tendo voltado do sepulcro,
contaram todas estas coisas aos onze e a todos os outros. 10 As que
diziam aos Apóstolos estas coisas eram Maria Madalena, Joana, Maria, mãe de
Tiago, e as outras que estavam com elas. 11 Mas estas palavras
pareciam-lhes como que um delírio e não lhes deram crédito. 12
Todavia, Pedro levantou-se, correu ao sepulcro e, inclinando-se, viu só os
lençois e retirou-se para casa, admirado com o que sucedera.
CARTA
ENCÍCLICA
MYSTICI CORPORIS
DO
SUMO PONTÍFICE
PAPA
PIO XII
AOS
VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS, PRIMAZES,
ARCEBISPOS
E BISPOS E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM
PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
O
CORPO MÍSTICO DE JESUS CRISTO E NOSSA UNIÃO NELE COM CRISTO
PRIMEIRA
PARTE
A
IGREJA CORPO, "MÍSTICO" DE CRISTO
…/2
24.
Temos visto até aqui, veneráveis irmãos, que a Igreja pela sua constituição se
pode assemelhar a um corpo; segue-se que mostremos mais em particular, porque
motivos se deve chamar não um corpo qualquer, mas o corpo de Jesus Cristo.
Deduz-se isto do facto que nosso Senhor é o fundador, a cabeça, o conservador e
salvador deste corpo místico.
a) Cristo foi o
"Fundador" deste corpo
25.
Devendo expor brevemente o modo como Cristo fundou o seu corpo social,
acode-nos antes de mais nada esta sentença do nosso predecessor de feliz
memória Leão XIII: "A Igreja, que já concebida, nascera do lado do segundo
Adão, adormecido na cruz, manifestou-se pela primeira vez à luz do mundo de
modo insigne no celebérrimo dia de Pentecostes".
[1]
De facto o divino Redentor começou a fábrica do templo místico da Igreja,
quando na sua pregação ensinou os seus mandamentos; concluiu-a quando,
glorificado, pendeu da Cruz; manifestou-a enfim e promulgou-a quando mandou
sobre os discípulos visivelmente o Espírito Paráclito.
26.
Durante o seu ministério público escolhia os Apóstolos, enviando-os como ele
próprio tinha sido enviado pelo Pai (Jo 17,18), como mestres, guias,
agentes da santidade na assembleia dos fiéis; designava o chefe deles e seu
vigário em terra (cf. Mt 16,18-19); fazia-lhes conhecer tudo o que
tinha ouvido do Pai (Jo 15, 15; 17, 8.14); indicava também o baptismo
(cf. Jo 3, 5) como meio para os que no futuro cressem serem
incorporados no Corpo da Igreja; finalmente chegando ao anoitecer da vida,
durante a última ceia, instituía a Eucaristia, admirável sacrifício e admirável
sacramento.
27.
Ter consumado no patíbulo da cruz a sua obra, afirmam-no, numa série
ininterrupta de testemunhos, os santos Padres, que notam ter a Igreja nascido
na cruz do lado do Salvador, qual nova Eva, mãe de todos os viventes (cf.
Gn 3, 20). "Agora, diz o grande Ambrósio tratando do lado de Cristo
aberto, é ela edificada, agora formada, agora esculpida, agora criada... Agora
é a casa espiritual elevada a sacerdócio santo". [2]
Quem devotamente investigar esta venerável doutrina, poderá sem dificuldade ver
as razões em que ela se funda.
28.
E primeiramente com a morte do Redentor, foi abrogada a antiga Lei e
sucedeu-lhe o Novo Testamento; então com o sangue de Cristo foi sancionada para
todo o mundo a Lei de Cristo com seus mistérios, leis, instituições e ritos
sagrados. Enquanto o divino Salvador pregava num pequeno território - pois que
não fora enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel (cf. Mt 15,
24) - corriam juntos a Lei e o Evangelho, [3]
mas no patíbulo, onde morreu, anulou a Lei com as suas prescrições (cf. Ef
2, 15), afixou na cruz o quirógrafo do Antigo Testamento (cf. Cl 2,
14), estabelecendo, com o sangue, derramado por todo o género humano, a
Nova Aliança (cf. Mt 26, 28; 1 Cor 11, 25). "Então, diz S. Leão
Magno falando da cruz do Senhor, fez-se a transferência da Lei para o
Evangelho, da Sinagoga para a Igreja, de muitos sacrifícios para uma única
hóstia, tão evidentemente, que ao exalar o Senhor o último suspiro, o místico
véu, que fechava os penetrais do templo e o misterioso santuário, se rasgou
improvisamente de alto abaixo". [4]
29.
Portanto na cruz morreu a Lei antiga; dentro em pouco será sepultada e se
tornará mortífera, [5]
para ceder o lugar ao Novo Testamento, para o qual tinha Cristo escolhido
ministros idóneos na pessoa dos apóstolos (cf. 2 Cor 3,6): e é pela
virtude da cruz que o Salvador, constituído em cabeça de toda a família humana
já desde o seio da Virgem, exerce plenamente o seu múnus de cabeça da Igreja.
"Pela vitória da cruz, segundo o doutor angélico, mereceu o poder e
domínio sobre todas as gentes", [6]
por ela enriqueceu imensamente aquele tesouro de graça que na glória do céu
distribui incessantemente aos seus membros mortais; pelo sangue derramado na
cruz fez com que, removido o obstáculo da ira divina, pudessem todos os dons
celestes e em primeiro lugar as graças espirituais do Novo e Eterno Testamento
correr das fontes do Salvador para a salvação dos homens, sobretudo dos fiéis;
enfim na árvore da cruz adquiriu a sua Igreja, isto é, os membros do seu corpo
místico, pois que estes não seriam a ele incorporados nas águas do baptismo, se
não fosse pela virtude salutífera da cruz, onde o Senhor já adquiriu sobre eles,
pleníssimo domínio.
30.
Se o nosso Salvador por sua morte foi feito cabeça da Igreja no pleno sentido
da palavra, igualmente pelo seu sangue, foi a Igreja enriquecida daquela abundantíssima
comunicação do Espírito que divinamente a ilustra desde que o Filho do homem
foi elevado e glorificado no seu doloroso patíbulo. Então como nota Santo
Agostinho, [7]
rasgado o véu do templo, o orvalho dos dons do Paráclito, que até ali descera somente
sobre o velo, isto é, sobre o povo de Israel, começou deixando o velo enxuto, a
regar a Igreja e abundantemente toda a terra, quer dizer a Igreja católica, que
não conhece fronteira de estirpe ou território. Como no primeiro instante da
encarnação, o Filho do Eterno Pai ornou a natureza humana, consigo
substancialmente unida, com a plenitude do Espírito Santo, para que fosse apto
instrumento da divindade na hora cruenta da redenção; assim na hora da sua
preciosa morte enriqueceu a sua Igreja com os mais copiosos dons do Paráclito,
para a tornar válido e perpétuo instrumento do Verbo encarnado na distribuição
dos divinos frutos da redenção. De facto a missão jurídica da Igreja e o poder
de ensinar, governar e administrar os sacramentos não têm força e vigor
sobrenatural para edificar o corpo de Cristo, senão porque Cristo pendente da
cruz abriu à sua Igreja a fonte das divinas graças com as quais pudesse ensinar
aos homens doutrina infalível, governá-los salutarmente por meio de pastores
divinamente iluminados, e inundá-los com a chuva das graças celestes.
31.
Se considerarmos atentamente todos estes mistérios da cruz, já nos não
parecerão obscuras as palavras do Apóstolo, onde ensina aos Efésios que Cristo,
com o sangue, fez um povo único de judeus e gentios "destruindo na sua
carne a parede interposta", que separava os dois povos; e que abrogou a
Antiga Lei "para dos dois formar em si mesmo um só homem novo", isto
é, a Igreja; e a ambos, reunidos num só Corpo, reconciliar com Deus pela cruz (cf.
Ef 2, 14-16).
32.
A Igreja que com seu sangue fundara, robusteceu-a com energias especiais
descidas do céu, no dia de Pentecostes. Com efeito, depois de ter solenemente
investido no seu ofício aquele que já antes tinha designado para seu vigário,
subiu ao céu; e, sentado à direita do Pai, quis manifestar e promulgar a sua
esposa com a descida visível do Espírito Santo, com o ruído do vento impetuoso
e com as línguas de fogo (cf. At 2, 1-4). Como ele próprio ao
princípio do seu público ministério tinha sido manifestado pelo Eterno Pai por
meio do Espírito Santo que em figura de pomba desceu e pousou sobre ele (cf.
Lc 3, 22; Mc 1, 10), assim igualmente quando os Apóstolos estavam para
começar o sagrado ofício de pregar, mandou Cristo Senhor nosso do céu o seu
Espírito que, tocando-os com línguas de fogo, mostrou, como com o dedo de Deus,
a missão e o múnus sobrenatural da Igreja.
b) Cristo é a
"cabeça" deste corpo
33.
Em segundo lugar prova-se que este corpo místico, que é a Igreja, é realmente
distinguido com o nome de Cristo, porque ele deve ser considerado de facto como
sua cabeça. "Ele é, diz S. Paulo, a cabeça do corpo da Igreja" (Cl
1,18). Ele é a cabeça, da qual todo o corpo convenientemente organizado e
coordenado recebe crescimento e desenvolvimento na sua edificação (cf. Ef
4,16, com Cl 2,19).
34.
Bem sabeis, veneráveis irmãos, com que eloquência e esplendor trataram este
assunto os doutores escolásticos e principalmente o Doutor angélico e comum; e
não ignorais que os seus argumentos reproduzem fielmente a doutrina dos santos
Padres; os quais, por sua parte, não faziam senão expor e comentar as sentenças
da divina linguagem da Escritura.
35.
Queremos, contudo, para comum utilidade tocar aqui brevemente este ponto. E
primeiro é evidente que o Filho de Deus e da Virgem Santíssima deve chamar-se
cabeça da Igreja por motivo de singularíssima excelência. A cabeça está
colocada no alto. Ora quem foi colocado mais alto do que Cristo-Deus, o qual,
como Verbo do Eterno Pai, deve ser considerado "primogénito de toda a
criação"? (Cl 1,15).
Quem,
elevado a maior altura do que Cristo-homem, o qual, nascido da Virgem
imaculada, é verdadeiramente e por natureza Filho de Deus, e por sua prodigiosa
e gloriosa ressurreição com que triunfou da morte, é o "primogénito dos
mortos" (Cl 1,18; Ap 1,5). Quem, finalmente, colocado em maior
altura do que aquele que de modo admirável, qual "único medianeiro entre
Deus e os homens" (1Tm 2,5), junta a terra com o céu; que
exaltado na cruz, como num trono de misericórdia, atraiu tudo a si (cf. Jo
12,32); e que, filho do homem eleito entre milhões, é amado por Deus mais
que todos os homens, todos os anjos e todas as criaturas? [8]
36.
E porque Cristo ocupa lugar tão sublime, com razão é ele só a reger e governar
a Igreja; nova razão para se assemelhar à cabeça. Como a cabeça, para o dizer
com as palavras de Santo Ambrósio, é "a cidade real" do corpo, [9]
e, sendo dotada de maiores qualidades, dirige naturalmente todos os membros,
aos quais sobe estar para olhar por eles, [10]
assim o divino Redentor empunha o timão e governa toda a república cristã. Uma
vez que governar uma sociedade composta de homens não é outra coisa do que com
útil providência, meios aptos e rectas normas, conduzi-los a um fim
determinado, [11] é
fácil de ver que nosso Salvador, modelo e exemplar dos bons pastores (cf.
Jo 10,1-18;1Pd 5,115), exercita maravilhosamente todos estes ofícios.
37.
Ele, na sua vida mortal instruiu-nos com leis, conselhos, avisos, em palavras
que não passarão nunca e para os homens de todos os tempos serão Espírito e
vida (cf. Jo 6,63). Além disso deu aos apóstolos e seus sucessores o
tríplice poder de ensinar, reger e santificar, poder definido com especiais
leis, direitos e deveres, que constituem a lei fundamental de toda a Igreja.
38.
Mas o nosso divino Salvador governa e dirige também por si mesmo e directamente
a sociedade que fundou; pois reina nas inteligências e corações dos homens e
dobra e compele a seu beneplácito as vontades ainda mais rebeldes. "O
coração do rei está na mão do Senhor; incliná-lo-á para onde quiser" (Pr
21,1). Com este governo interno, ele, qual "pastor e bispo das
nossas almas" (cf. 1Pd 2,25) não só tem cuidado de cada um em
particular, mas também de toda a Igreja; tanto quando ilumina e fortalece os
sagrados pastores para que fiel e frutuosamente se desempenhem de seus ofícios,
como quando - em circunstâncias particularmente graves - faz surgir no seio da
Igreja homens e mulheres de santidade assinalada, que sirvam de exemplo aos
outros fiéis, para incremento do seu corpo místico. Acresce ainda que Cristo do
céu vela sempre com particular amor pela sua esposa intemerata, que labuta
neste terrestre exílio; e quando a vê em perigo, ou por si mesmo, ou pelos seus
anjos (cf. At 8,26; 9,119; 10,1-7; 12,3-10), ou por aquela que
invocamos como auxílio dos cristãos, e pelos outros celestes protectores,
salva-a das ondas procelosas e, serenado e abonançado o mar, consola-a com
aquela paz "que supera toda a inteligência" (Fl 4,7).
39.
Não se julgue, porém, que o seu governo se limita a uma ação invisível, [12]
ou extraordinária. Ao contrário, o divino Redentor governa o seu corpo místico
de modo visível e ordinário por meio do seu vigário na terra. Vós bem sabeis,
veneráveis irmãos, que Cristo nosso Senhor, depois de ter, durante a sua
carreira mortal, governado pessoalmente e de modo visível o seu "pequeno
rebanho" (Lc 12,32), quando estava para deixar este mundo e
voltar ao Pai, confiou ao príncipe dos apóstolos o governo visível de toda a
sociedade que fundara. E realmente, sapientíssimo como era, não podia deixar
sem cabeça visível o corpo social da Igreja que instituíra. Nem se objecte que
com o primado de jurisdição instituído na Igreja ficava o corpo místico com
duas cabeças. Porque Pedro, com a força do primado, não é senão vigário de
Cristo, e por isso a cabeça principal deste corpo é uma só: Cristo; o qual, sem
deixar de governar a Igreja misteriosamente por si mesmo, rege-a também de modo
visível por meio daquele que faz as suas vezes na terra; e assim a Igreja, depois
da gloriosa ascensão de Cristo ao céu não está edificada só sobre ele, senão
também sobre Pedro, como fundamento visível. Que Cristo e o seu vigário formam
uma só cabeça ensinou-o solenemente nosso predecessor de imortal memória
Bonifácio VIII, na Carta Apostólica Unam
Sanctam [13] e
os seus sucessores não cessaram nunca de o repetir.
40.
Em erro perigoso estão, pois, aqueles que julgam poder unir-se a Cristo, cabeça
da Igreja, sem aderirem fielmente ao seu vigário na terra. Suprimida a cabeça
visível e rompidos os vínculos visíveis da unidade, obscurecem e deformam de
tal maneira o corpo místico do Redentor, que não pode ser visto nem encontrado por
quantos demandam o porto da eterna salvação.
41.
Tudo o que dissemos da Igreja universal deve afirmar-se igualmente das
comunidades cristãs particulares, tanto orientais como latinas, das quais
consta e se compõe uma só Igreja católica; por isso que também a elas governa
Jesus Cristo por meio da voz e autoridade dos respectivos prelados. Os bispos
não só devem ser considerados como membros mais eminentes da Igreja universal,
pois que se unem com nexo singularíssimo à cabeça de todo o corpo, e com razão
se chamam "os primeiros dos membros do Senhor", [14]
mas nas próprias dioceses, como verdadeiros pastores, apascentam e governam em
nome de Cristo os rebanhos que lhes foram confiados; [15]
ainda que nisto não sejam plenamente independentes, mas estão sujeitos à
autoridade do romano pontífice, de quem receberam imediatamente o poder
ordinário de jurisdição que possuem. Devem pois ser venerados, pelo povo
cristão, como sucessores dos apóstolos por instituição divina; [16] a
eles, como sagrados com a unção do Espírito Santo, muito melhor que às
autoridades deste mundo, ainda que elevadas, se pode aplicar aquela sentença:
"Não toqueis nos meus ungidos" (1Cr 16, 22; Sl 104,15).
42.
É, por isso, imensa a nossa dor quando somos informados de que não poucos dos
nossos irmãos no episcopado, porque de todo o coração se fizeram modelos do seu
rebanho (cf. 1Pd 5,3) e defendem estrénua e fielmente, como devem, ‘o
depósito da fé’ a eles confiado (cf. 1Tm 6,20); porque zelam o
cumprimento das leis santíssimas, impressas pela mão de Deus nos corações dos
homens, e a exemplo do supremo Pastor defendem o próprio rebanho contra a
rapacidade dos lobos, não só se vêm eles próprios perseguidos e vexados, mas -
o que para eles é bem cruel e penoso - vêm tratadas igualmente as suas ovelhas,
os colaboradores do seu apostolado, e as próprias virgens consagradas a Deus.
Essas injustiças, consideramo-las como feitas a nós mesmos e repetimos a
eloquente frase do nosso predecessor de imortal memória, Gregório Magno: A
nossa honra é a honra de nossos irmãos; e, então, verdadeiramente somos
honrados, quando a nenhum deles se nega a honra que lhes é devida. [17]
43.
Todavia não se julgue que Cristo, cabeça da Igreja, por estar posto tão alto,
dispensa a cooperação do corpo; pois que deve aplicar-se ao corpo místico o que
Paulo afirma do corpo humano: "Não pode a cabeça dizer aos pés: não
preciso de vós" (lCor 12,21). É mais que evidente que os fiéis
precisam do auxílio do divino Redentor, pois que ele disse: "Sem mim, nada
podeis fazer" (Jo 15,5), e segundo o Apóstolo, todo o aumento
deste corpo místico na sua edificação vem-lhe de Cristo, sua cabeça (Cf.
Ef 4,16; Cl 2,19). Contudo é igualmente verdade, por mais admirável que
pareça, que Cristo também precisa dos seus membros. E isso, em primeiro lugar,
porque a pessoa de Jesus Cristo é representada pelo sumo-pontífice, e este,
para não ficar esmagado sob o peso do múnus pastoral, precisa confiar a outros
parte não pequena da sua solicitude, e todos os dias deve ser ajudado pelas
orações de toda a Igreja. Além disso o nosso Salvador, enquanto rege por si
mesmo de modo invisível a Igreja, quer ser ajudado pelos membros deste corpo
místico na realização da obra da redenção; não por indigência ou fraqueza da
sua parte, mas ao contrário porque ele assim o dispôs para maior honra da sua
esposa intemerata. Com efeito, morrendo na cruz, deu à Igreja, sem nenhuma
cooperação dela, o imenso tesouro da redenção; ao tratar-se porém de distribuir
este tesouro, não só faz participante a sua incontaminada esposa desta obra de
santificação, mas quer que de certo modo nasça da sua actividade. Tremendo
mistério, e nunca assaz meditado: Que a salvação de muitos depende das orações
e dos sacrifícios voluntários, feitos com esta intenção, pelos membros do corpo
místico de Jesus Cristo, e da colaboração que pastores e féis, sobretudo os
pais e mães de família, devem prestar ao divino Salvador.
Nota:
revisão da tradução portuguesa por ama
[1] Encíclica Divinum
Illud; AAS 29(1896-97), p. 649.
[2] S. Ambrósio, In Luc., II, 87; Migne, PL 15,1585.
[3] S. Tomás, Summa theol. I-II, q.103, a. 3, ad 2.
[4] S. Leão M., Sermo
68, 3; Migne, PL 54, 374.
[5] Cf. s. Jerônimo e
s. Agostinho, Epist.112,14 e 116,16; Migne, PL 22, 924 et 943; S. Tomás, Summa
theol., I-II, q.103, a. 3 ad 2; a. 4 ad 1; Concil. Flor., pro Iacob.: Mansi, 31,1738
[6] Cf. S. Tomás, Summa theol., III, q. 42, a. 1.
[7] Cf. De peccato
orig., XXV, 29; Migne, PL 44, 400.
[8] Cf. Cirilo Alex., Comm. in Joh. I, 4; Migne PG 73,
69; S. Tomás, Summa theol.; I, q. 20, a. 4 ad 1.
[9] Hexaëm., VI. 55;
Migne, PL 14, 265.
[11] Cf. s. Tomás, Summa theol.; l, q. 22, aa. l- 4.
[12] Cf. Leão XIII, enc. Satis Cognitum, AAS 28(1895-9fi),
p. 725.
[13] Cf. Corpus luris Canonici, Extr. comm., I, 8,1.
[14] S. Greg. Magno, Moralia, XIV, 35, 43; Migne, PL
LXXV,1062.
[16] Cf. Cod. Iur. Can., cân. 329, § 1.
[17] Cf. Epist. ad Eulog., 30; Migne, PL 77, 933.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.