Questão
108: Da ordenação dos anjos por hierarquias e ordens.
Art. 7 — Se as ordens
permanecerão depois do dia do juízo.
(II Sent., dist. XI, part. II,
a. 6; IV, dist. XLVII, q. 1, a. 2)
O
sétimo discute-se assim. — Parece que as ordens não permanecerão depois do dia
do juízo.
1.
— Pois, diz o Apóstolo, que Cristo destruirá todo o Principado, e Potestade,
quando tiver entregue o reino a Deus e ao Padre, e isso há de ser na consumação
última. Logo, por igual razão, nesse estado, todas as outras ordens serão
suprimidas.
2.
Demais. — É função das ordens angélicas purificar, iluminar e aperfeiçoar. Ora,
depois do dia do juízo, nenhum anjo purificará, iluminará ou aperfeiçoará
outro, porque não mais têm que progredir na ciência. Logo, será inútil
permanecerem as ordens angélicas.
3.
Demais. — O Apóstolo diz, dos anjos, que todos esses espíritos são uns
ministros, enviados para exercer o seu ministério a favor daqueles que hão-de
receber a herança de salvação; Donde é patente que as funções dos anjos se
ordenam a conduzir os homens à salvação. Ora, todos os eleitos, até o dia do
juízo, hão-de conseguir a salvação. Logo, depois do dia do juízo, não
permanecerão as funções e as ordens dos anjos.
Mas,
em contrário, diz a Escritura: as estrelas, permanecendo na sua ordem e no seu
curso o que é explicado como referente aos anjos. Logo, estes sempre
permanecerão nas suas funções.
Nas ordens angélicas, podem considerar-se duas causas: a distinção dos graus
e o exercício das funções. — A distinção dos graus nos anjos, funda-se na
diferença da natureza e da graça, como já se disse; e ambas diferenças
permanecerão sempre neles. Pois, não podem ser privados das diferenças das naturezas,
a não ser desaparecendo eles. E a diferença da glória existirá sempre neles,
fundada na diferença do mérito precedente. — Quanto ao exercício das funções
angélicas, esse, depois do dia do juízo, permanecerá de certo modo e, de outro,
cessará. Cessará, quanto à condução de certos homens ao fim; permanecerá,
porém, no que diz respeito à consecução última do fim. Assim, umas são as
funções das ordens militares, na luta, e, outras, no triunfo.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Os Principados e as Potestades deixarão de
existir, na referida consumação final, no atinente à condução dos fiéis ao fim;
pois, conseguido este, já não é necessário tender para ele. E esta razão se
deduz das palavras do Apóstolo: Quando tiver entregado o reino a Deus e ao
Padre, ou seja, quando levar os fiéis à própria fruição de Deus.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — As acções de uns anjos sobre outros devem considerar-se relativamente
à semelhança dos nossos actos inteligíveis. Ora, há em nós muitos actos
inteligíveis ordenados pela ordem da causa em relação ao causado; assim, quando
por muitos meios chegamos gradualmente a uma conclusão. Ora, é manifesto que o
conhecimento da conclusão depende de todos os meios precedentes, não só quanto
à aquisição de nova ciência, mas também quanto à conservação desta. E a prova é
que, se a alguém esquecer algum dos meios precedentes, poderá ter opinião ou
fé, quanto à conclusão, mas não ciência, desde que é ignorada a ordem das causas.
E portanto, como os anjos inferiores conhecem as razões das obras divinas pela
luz dos superiores, desta luz depende o conhecimento deles, não só quanto à
aquisição da nova ciência, mas também quanto à conservação desta. Donde, embora
depois do juízo, os anjos inferiores não mais progridam em nenhum conhecimento,
contudo nem por isso deles se exclui a iluminação dos superiores.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Embora depois do dia do juízo, os homens não precisem mais ser
levados à salvação pelo ministério dos anjos, contudo, aqueles que já o
conseguiram terão alguma iluminação por ofício deles.
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