Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
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Evangelho: Lc 23, 13-32
13 Pilatos, tendo chamado os príncipes dos
sacerdotes, os magistrados e o povo, 14 disse-lhes: «Vós
apresentastes-me este homem como amotinador do povo; ora, interrogando-O eu
diante de vós, não encontrei n'Ele nenhuma culpa daquelas de que O acusais. 15
Nem Herodes tão-pouco, porque no-l'O remeteu. Nada fez que mereça a morte. 16
Por isso soltá-l'O-ei depois de castigado». 17 Omitido pela
NeoVulgata 18 Mas todo o povo exclamou a uma voz, dizendo: «Faz
morrer Este e solta-nos Barrabás»; 19 o qual tinha sido preso por
causa de uma sedição levantada na cidade, e por homicídio. 20
Pilatos, que desejava livrar Jesus, falou-lhes de novo.21 Eles,
porém, tornaram a gritar: «Crucifica-O, Crucifica-O!». 22 Ele
disse-lhes pela terceira vez: «Mas, que mal fez Ele? Não encontro n'Ele causa
alguma de morte; castigá-l'O-ei, pois, e O soltarei». 23 Eles,
porém, insistiam em altos gritos que fosse crucificado; e os seus gritos iam
crescendo. 24 Então Pilatos decretou que se executasse o que eles
pediam. 25 Soltou-lhes aquele que tinha sido preso por causa de
sedição e homicídio, como eles reclamavam, e entregou Jesus ao arbítrio deles. 26
Quando O levavam, agarraram um certo Simão de Cirene, que voltava do campo; e
puseram a cruz sobre ele, para que a levasse atrás de Jesus. 27
Seguia-O uma grande multidão de povo e de mulheres, que batiam no peito e O
lamentavam. 28 Porém Jesus, voltando-Se para elas, disse: «Filhas de
Jerusalém, não choreis por Mim, mas chorai por vós mesmas e pelos vossos
filhos. 29 Porque eis que virá tempo em que se dirá: “Ditosas as estéreis
e os seios que não geraram e os peitos que não amamentaram!”. 30
Então começarão os homens a dizer aos montes: “Caí sobre nós” e às colinas:
“Cobri-nos”. 31 Porque, se isto se faz no lenho verde, que se fará
no seco?». 32 Eram também levados com Jesus outros dois, que eram malfeitores,
para serem mortos.
CARTA
ENCÍCLICA
MORTALIUM ANIMOS
DO
SUMO PONTÍFICE
PAPA
PIO XI
AOS
REVMOS. SENHORES PADRES PATRIARCAS,
PRIMAZES,
ARCEBISPOS, BISPOS
E
OUTROS ORDINÁRIOS DOS LUGARES
EM
PAZ E UNIÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE
A PROMOÇÃO DA VERDADEIRA
UNIDADE
DE RELIGIÃO
Veneráveis
irmãos
Saúde
e Bênção Apostólica
1. Ânsia Universal de Paz
e Fraternidade
Talvez
jamais em uma outra época os espíritos dos mortais tenham sido tomados por um
tão grande desejo daquela fraterna amizade, pela qual em razão da unidade e
identidade de natureza – somos estreitados e unidos entre nós, amizade esta que
deve ser robustecida e orientada para o bem comum da sociedade humana, quanto
vemos ter acontecido nestes nossos tempos.
Pois,
embora as nações ainda não usufruam plenamente dos benefícios da paz, antes,
pelo contrário, em alguns lugares, antigas e novas discórdias vão explodindo em
sedições e em conflitos civis; como não é possível, entretanto, que as muitas
controvérsias sobre a tranquilidade e a prosperidade dos povos sejam resolvidas
sem que exista a concórdia quanto à acção e às obras dos que governam as
Cidades e administram os seus negócios; compreende-se facilmente (tanto mais
que já ninguém discorda da unidade do género humano) porque, estimulados por
esta irmandade universal, também muitos desejam que os vários povos cada dia se
unam mais estreitamente.
2. A Fraternidade na
Religião. Congressos Ecuménicos
Entretanto,
alguns lutam por realizar coisa não dissemelhante quanto à ordenação da Lei
Nova trazida por Cristo, Nosso Senhor.
Pois,
tendo como certo que rarissimamente se encontram homens privados de todo
sentimento religioso, por isto, parece, passaram a ter a esperança de que, sem
dificuldade, ocorrerá que os povos, embora cada um sustente sentença diferente
sobre as coisas divinas, concordarão fraternalmente na profissão de algumas
doutrinas como que num fundamento comum da vida espiritual.
Por
isto costumam realizar por si mesmos convenções, assembleias e pregações, com
não medíocre frequência de ouvintes e para elas convocam, para debates,
promiscuamente, a todos: pagãos de todas as espécies, fiéis de Cristo, os que
infelizmente se afastaram de Cristo e os que obstinada e pertinazmente
contradizem à sua natureza divina e à sua missão.
3. Os Católicos não podem
aprová-lo
Sem
dúvida, estes esforços não podem, de nenhum modo, ser aprovados pelos
católicos, pois eles fundamentam-se na falsa opinião dos que julgam que
quaisquer religiões são, mais ou menos, boas e louváveis, pois, embora não de
uma única maneira, elas alargam e significam de modo igual aquele sentido ingénito
e nativo em nós, pelo qual somos levados para Deus e reconhecemos
obsequiosamente o seu império.
Erram
e estão enganados, portanto, os que possuem esta opinião: pervertendo o
conceito da verdadeira religião, repudiam-na e gradualmente inclinam-se para o
chamado Naturalismo e para o Ateísmo. Daí segue-se claramente que quem concorda
com os que pensam e empreendem tais coisas afasta-se inteiramente da religião
divinamente revelada.
4. Outro erro. A união de
todos os Cristãos. Argumentos falazes
Entretanto,
quando se trata de promover a unidade entre todos os cristãos, alguns são
enganados mais facilmente por uma disfarçada aparência do que seja recto.
Acaso
não é justo e de acordo com o dever – costumam repetir amiúde – que todos os
que invocam o nome de Cristo se abstenham de recriminações mútuas e sejam
finalmente unidos por mútua caridade?
Acaso
alguém ousaria afirmar que ama a Cristo se, na medida das suas forças, não
procura realizar as coisas que Ele desejou, ele que rogou ao Pai para que seus
discípulos fossem "UM" (Jo 17, 21)?
Acaso
não quis o mesmo Cristo que seus discípulos fossem identificados por este como
que sinal e fossem por ele distinguidos dos demais, a saber, se mutuamente se
amassem: "Todos conhecerão que sois meus discípulos nisto: se tiverdes
amor um pelo outro?" (Jo 13, 35).
Oxalá
todos os cristãos fossem "UM", acrescentam: eles poderiam repelir
muito melhor a peste da impiedade que, cada dia mais, se alastra e se expande,
e se ordena ao enfraquecimento do Evangelho.
5. Debaixo desses
argumentos se oculta um erro gravíssimo
Os
chamados "pancristãos" espalham e insuflam estas e outras coisas da
mesma espécie. E eles estão longe de serem poucos e raros mas, ao contrário,
cresceram em fileiras compactas e uniram-se em sociedades largamente
difundidas, as quais, embora sobre coisas de fé cada um esteja imbuído de uma
doutrina diferente, são, as mais das vezes, dirigidas por acatólicos.
Esta
iniciativa é promovida de modo tão activo que, de muitos modos, consegue para
si a adesão dos cidadão e arrebata e alicia os espíritos, mesmo de muitos
católicos, pela esperança de realizar uma união que parecia de acordo com os
desejos da Santa Mãe, a Igreja, para Quem, realmente, nada é tão antigo quanto
o reconvocar e o reconduzir os filhos desviados para o seu grémio.
Na
verdade, sob os atractivos e os afagos destas palavras oculta-se um gravíssimo
erro pelo qual são totalmente destruídos os fundamentos da fé.
6. A verdadeira norma
nesta matéria
Advertidos,
pois, pela consciência do dever apostólico, para que não permitamos que o
rebanho do Senhor seja envolvido pela nocividade destas falácias, apelamos,
veneráveis irmãos, para o vosso empenho na precaução contra este mal. Confiamos
que, pelas palavras e escritos de cada um de vós, poderemos atingir mais
facilmente o povo, e que os princípios e argumentos, que a seguir proporemos,
sejam entendidos por ele pois, por meio deles, os católicos devem saber o que
devem pensar e praticar, dado que se trata de iniciativas que lhes dizem
respeito, para unir de qualquer maneira num só corpo os que se denominam
cristãos.
7. Só uma religião pode
ser verdadeira: A revelada por Deus
Fomos
criados por Deus, Criador de todas as coisas, para este fim: conhecê-lO e servi-lO.
O nosso Criador possui, portanto, pleno direito de ser servido.
Por
certo, poderia Deus ter estabelecido apenas uma lei da natureza para o governo
do homem. Ele, ao criá-lo, gravou-a no seu espírito e poderia portanto, a
partir daí, governar os seus novos actos pela providência ordinária dessa mesma
lei. Mas, preferiu dar preceitos aos quais nós obedecêssemos e, no decurso dos
tempos, desde os começos do género humano até à vinda e a pregação de Jesus
Cristo, Ele próprio ensinou ao homem, naturalmente dotado de razão, os deveres
que dele seriam exigidos para com o Criador: "Em muitos lugares e de
muitos modos, antigamente, falou Deus aos nossos pais pelos profetas;
ultimamente, nestes dias, falou-nos por seu Filho" (Heb 1,1 Seg).
Está,
portanto, claro que a religião verdadeira não pode ser outra senão a que se
funda na palavra revelada de Deus, começando a ser feita desde o princípio,
essa revelação prosseguiu sob a Lei Antiga e o próprio Cristo a completou sob a
Nova Lei.
Portanto,
se Deus falou – e comprova-se pela fé histórica Ele ter realmente falado – não
há quem não veja ser dever do homem acreditas, de modo absoluto, em Deus que se
revela e obedecer integralmente a Deus que impera. Mas, para a glória de Deus e
para a nossa salvação, em relação a uma coisa e outra, o Filho Unigénito de
Deus instituiu na terra a sua Igreja.
8. A única religião
revelada é a Igreja Católica
Acreditamos,
pois, que os que afirmam serem cristãos, não possam fazê-lo sem crer que uma
Igreja, e uma só, foi fundada por Cristo. Mas, se se indaga, além disso, qual
deva ser ela pela vontade do seu Autor, já não estão todos em consenso.
Assim,
por exemplo, muitíssimos destes negam a necessidade da Igreja de Cristo ser
visível e perceptível, pelo menos na medida em que deva aparecer como um corpo
único de fiéis, concordes numa só e mesma doutrina, sob um só magistério e um
só regime. Mas, pelo contrário, julgam que a Igreja perceptível e visível é uma
Federação de várias comunidades cristãs, embora aderentes, cada uma delas, a
doutrinas opostas entre si.
Entretanto,
Cristo Senhor instituiu a sua Igreja como uma sociedade perfeita de natureza
externa e perceptível pelos sentidos, a qual, nos tempos futuros, prosseguiria
a obra da reparação do género humano pela regência de uma só cabeça (Mt
16, 18 seg.; Lc 22, 32; Jo 21, 15-17), pelo magistério de uma voz viva (Mc
16,15) e pela dispensa dos sacramentos, fontes da graça celeste (Jo
3, 5; 6,48-50; 20,22 seg.; cf. Mt 18, 18; etc.). Por esse motivo, por
comparações afirmou-a semelhante a um reino (Mt, 13), a uma casa (Mt
16, 18), a um redil de ovelhas (Jo 10, 16) e a um rebanho (Jo
21, 15-17).
Esta
Igreja, fundada de modo tão admirável, ao Lhe serem retirados o seu Fundador e
os Apóstolos que primeiro a propagaram, em razão da morte deles, não poderia
cessar de existir e ser extinta, uma vez que Ela era aquela a quem, sem nenhuma
discriminação quanto a lugares e a tempos, fora dado o preceito de conduzir
todos os homens à salvação eterna: "Ide, pois, ensinai a todos os povos"
(Mt 28, 19).
Acaso
faltaria à Igreja algo quanto à virtude e eficácia no cumprimento perene desse
múnus, quando o próprio Cristo solenemente prometeu estar sempre presente a
ela: "Eis que Eu estou convosco, todos os dias, até a consumação dos
séculos?" (Mt 28, 20).
Deste
modo, não pode ocorrer que a Igreja de Cristo não exista hoje e em todo o
tempo, e também que Ela não exista como inteiramente a mesma que existiu à
época dos Apóstolos. A não ser que desejemos afirmar que: Cristo Senhor ou não
cumpriu o que propôs ou que errou ao afirmar que as portas do inferno jamais
prevaleceriam contra Ela (Mt 16,18).
9. Um erro capital do
movimento ecuménico na pretendida união das Igrejas cristãs
Ocorre-nos
dever esclarecer e afastar aqui certa opinião falsa, da qual parece depender
toda esta questão e proceder essa múltipla acção e conspiração dos acatólicos
que, como dissemos, trabalham pela união das igrejas cristãs.
Os
autores desta opinião acostumaram-se a citar, quase que indefinidamente, a
Cristo dizendo: "Para que todos sejam um"... "Haverá um só
rebanho e um só Pastor" (Jo 27,21; 10,16). Fazem-no todavia de
modo que, por essas palavras, queriam significar um desejo e uma prece de
cristo ainda carente de seu efeito.
Pois
opinam: a unidade de fé e de regime, distintivo da verdadeira e única Igreja de
Cristo, quase nunca existiu até hoje e nem hoje existe, que ela pode, sem
dúvida, ser desejada e talvez realizar-se alguma vez, por uma inclinação comum
das vontades, mas que, entretanto, deve existir apenas uma fictícia unidade.
Acrescentam
que a Igreja é, por si mesma, por natureza, dividida em partes, isto é, que ela
consta de muitas igrejas ou comunidades particulares, as quais, ainda
separadas, embora possuam alguns capítulos comuns de doutrina, discordam todavia
nos demais. Que cada uma delas possui os mesmos direitos, que, no máximo, a
Igreja foi única e una, da época apostólica até os primeiros concílios ecuménicos.
Assim,
dizem, é necessário colocar de lado e afastar as controvérsias e as
antiquíssimas variedades de sentenças que até hoje impedem a unidade do nome
cristão e, quanto às outras doutrinas, elaborar e propor uma certa lei comum de
crer, em cuja profissão de fé todos se conheçam e se sintam como irmãos, pois,
se as múltiplas igrejas e comunidades forem unidas por um certo pacto,
existiria já a condição para que os progressos da impiedade fossem futuramente
impedidos de modo sólido e frutuoso.
Estas
são, Veneráveis Irmãos, as afirmações comuns.
Existem,
contudo, os que estabelecem e concedem que o chamado Protestantismo, de modo
bastante inconsiderado, deixou de lado certos capítulos da fé e alguns ritos do
culto exterior, sem dúvida gratos e úteis, que, pelo contrário, a Igreja Romana
ainda conserva.
Mas,
de imediato, acrescentam que esta mesma Igreja também agiu mal, corrompendo a
religião primitiva por algumas doutrinas alheias e repugnantes ao Evangelho,
propondo acréscimos para serem cridos: enumeram como o principal entre estes o
que versa sobre o Primado de Jurisdição atribuído a Pedro e aos seus Sucessores
na Sé Romana.
Entre
os que assim pensam, embora não sejam muitos, estão os que indulgentemente
atribuem ao Pontífice Romano um primado de honra ou uma certa jurisdição e
poder que, entretanto, julgam procedente não do direito divino, mas de certo
consenso dos fiéis. Chegam outros ao ponto de, por seus conselhos, que diríeis
serem furta-cores, quererem presidir o próprio Pontífice.
E
se é possível encontrar muitos acatólicos pregando à boca cheia a união
fraterna em Jesus Cristo, entretanto não encontrareis a nenhum deles em cujos
pensamentos esteja a submissão e a obediência ao Vigário de Jesus Cristo
enquanto docente ou enquanto governante.
Afirmam
eles que tratariam de bom grado com a Igreja Romana, mas com igualdade de
direitos, isto é, iguais com um igual. Mas, se pudessem fazê-lo, não parece
existir dúvida de que agiriam com a intenção de que, por um pacto que talvez se
ajustasse, não fossem coagidos a afastarem-se daquelas opiniões que são a causa
pela qual ainda vagueiem e errem fora do único aprisco de Cristo.
10. A Igreja Católica não
pode participar de semelhantes reuniões
Assim
sendo, é manifestamente claro que a Santa Sé, não pode, de modo algum,
participar de suas assembleias e que, aos católicos, de nenhum modo é lícito
aprovar ou contribuir para estas iniciativas: se o fizerem concederão
autoridade a uma falsa religião cristã, sobremaneira alheia à única Igreja de
Cristo.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama
CARTA
ENCÍCLICA
MORTALIUM
ANIMOS
DO
SUMO PONTÍFICE
PAPA
PIO XI
AOS
REVMOS. SENHORES PADRES PATRIARCAS,
PRIMAZES,
ARCEBISPOS, BISPOS
E
OUTROS ORDINÁRIOS DOS LUGARES
EM
PAZ E UNIÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE
A PROMOÇÃO DA VERDADEIRA
UNIDADE
DE RELIGIÃO
…/2
11. A verdade revelada não
admite transações
Acaso
poderemos tolerar – o que seria bastante iníquo-, que a verdade e, em especial
a revelada, seja diminuída pactuando?
No
caso presente, trata-se da verdade revelada que deve ser defendida.
Se
Jesus Cristo enviou os Apóstolos a todo o mundo, a todos os povos que deviam
ser instruídos na fé evangélica e, para que não errassem em nada, quis que,
anteriormente, lhes fosse ensinada toda a verdade pelo Espírito Santo, acaso
esta doutrina dos Apóstolos faltou inteiramente ou foi alguma vez perturbada na
Igreja em que o próprio Deus está presente como regente e guardião?
Se
o nosso Redentor promulgou claramente o seu Evangelho não apenas para os tempos
apostólicos, mas também para pertencer às futuras épocas, o objecto da fé pode
tornar-se de tal modo obscuro e incerto que hoje seja necessários tolerar
opiniões pelo menos contrárias entre si?
Se
isto fosse verdade, dever-se-ia igualmente dizer que o Espírito Santo que
desceu sobre os Apóstolos, que a perpétua permanência dele na Igreja e também
que a própria pregação de Cristo já perderam, desde há muitos séculos, toda a
eficácia e utilidade: afirmar isto é, sem dúvida, blasfemo.
12. A Igreja Católica:
depositária infalível da verdade
Quando
o Filho unigénito de Deus ordenou aos seus enviados que ensinassem a todos os
povos, vinculou então todos os homens pelo dever de crer nas coisas que lhes
fossem anunciadas pela "testemunha pré-ordenadas por Deus" (At
10, 41). Entretanto, um e outro preceito de Cristo, o de ensinar e o de
crer na consecução da salvação eterna, que não podem deixar de ser cumpridos,
não poderiam ser entendidos a não ser que a Igreja proponha de modo íntegro e
claro a doutrina evangélica e que, ao propô-la, seja imune a qualquer perigo de
errar.
Afastam-se
igualmente do caminho os que julgam que o depósito da verdade existe realmente
na terra, mas que é necessário um trabalho difícil, com tão longos estudos e
disputas para encontrá-lo e possuí-lo que a vida dos homens mal seja suficiente
para isso, com se Deus benigníssimo tivesse falado pelos profetas e pelo seu
Unigénito para que apenas uns poucos, e estes mesmos já avançados em idade,
aprendessem perfeitamente as coisas que por eles revelou, e não para que
preceituasse uma doutrina de fé e de costumes pela qual, em todo o decurso de
sua vida mortal, o homem fosse regido.
13. Sem fé, não há
verdadeira caridade
Estes
pancristãos, que empenham o seu espírito na união das igrejas, pareceriam
seguir, por certo, o nobilíssimo conselho da caridade que deve ser promovida
entre os cristãos. Mas, dado que a caridade se desvia em detrimento da fé, o
que pode ser feito?
Ninguém
ignora por certo que o próprio João, o Apóstolo da Caridade, que no seu
Evangelho parece ter manifestado os segredos do Coração Sacratíssimo de Jesus e
que permanentemente costumava inculcar à memória dos seus o mandamento novo:
"Amai-vos uns aos outros", vetou inteiramente até mesmo manter
relações com os que professavam de forma não íntegra e incorrupta a doutrina de
Cristo: "Se alguém vem a vós e não traz esta doutrina, não o recebais em
casa, nem digais a ele uma saudação" (2 Jo 10).
Pelo
que, como a caridade se apoia na fé íntegra e sincera como que num fundamento,
então é necessário unir os discípulos de Cristo pela unidade de fé como no
vínculo principal.
14. União Irracional
Assim,
de que vale excogitar no espírito uma certa Federação cristã, na qual ao
ingressar ou então quando se tratar do objeto da fé, cada qual retenha a sua
maneira de pensar e de sentir, embora ela repugne às opiniões dos outros?
E
de que modo pedirmos que participem de um só e mesmo Conselho homens que se
distanciam por sentenças contrárias como, por exemplo, os que afirmam e os que
negam ser a sagrada Tradição uma fonte genuína da Revelação Divina?
Como
os que adoram a Cristo realmente presente na Santíssima Eucaristia, por aquela
admirável conversão do pão e do vinho que se chama transubstanciação e os que
afirmam que, somente pela fé ou por sinal e em virtude do Sacramento, aí está
presente o Corpo de Cristo?
Como
os que reconhecem nela a natureza do Sacrifício e a do Sacramento e os que
dizem que ela não é senão a memória ou comemoração da Ceia do Senhor?
Como
os que creem ser bom e útil invocar súplice os Santos que reinam junto de
Cristo - Maria, Mãe de Deus, em primeiro lugar - e tributar veneração às suas
imagens e os que contestam que não pode ser admitido semelhante culto, por ser
contrário à honra de Jesus Cristo, "único mediador de Deus e dos
homens"? (1 Tim 2, 5).
15. Princípio até o
indiferentismo e o modernismo
Não
sabemos, pois, como por essa grande divergência de opiniões seja defendida o
caminho para a realização da unidade da Igreja: ela não pode resultar senão de
um só magistério, de uma só lei de crer, de uma só fé entre os cristãos.
Sabemos, entretanto, gerar-se facilmente daí um degrau para a negligência com a
religião ou o Indiferentismo e para o denominado Modernismo. os que foram miseravelmente
infecctados por ele defendem que não é absoluta, mas relativa a verdade revelada,
isto é, de acordo com as múltiplas necessidades dos tempos e dos lugares e com
as várias inclinações dos espíritos, uma vez que ela não estaria limitada por
uma revelação imutável, mas seria tal que se adaptaria à vida dos homens.
Além
disso, com relação às coisas que devem ser cridas, não é lícito utilizar-se, de
modo algum, daquela discriminação que houveram por bem introduzir entre o que
denominam capítulos fundamentais e capítulos não fundamentais da fé, como se
uns devessem ser recebidos por todos, e, com relação aos outros, pudesse ser
permitido o assentimento livre dos fiéis: a Virtude sobrenatural da fé possui
como causa formal a autoridade de Deus revelante e não pode sofrer nenhuma
distinção como esta.
Por
isto, todos os que são verdadeiramente de Cristo consagram, por exemplo, ao
mistério da Augusta Trindade a mesma fé que possuem em relação dogma da Mãe de
Deus concebida sem a mancha original e não possuem igualmente uma fé diferente
com relação à Encarnação do Senhor e ao magistério infalível do Pontífice
romano, no sentido definido pelo Concílio
Ecuménico Vaticano.
Nem
se pode admitir que as verdades que a Igreja, através de solenes decretos,
sancionou e definiu em outras épocas, pelo menos as proximamente superiores,
não sejam, por este motivo, igualmente certas e nem devam ser igualmente
acreditadas: acaso não foram todas elas reveladas por Deus?
Pois,
o Magistério da Igreja, por decisão divina, foi constituído na terra para que
as doutrinas reveladas não só permanecessem incólumes perpetuamente, mas também
para que fossem levadas ao conhecimento dos homens de um modo mais fácil e
seguro. E, embora ele seja diariamente exercido pelo Pontífice Romano e pelos
Bispos em união com ele, todavia completa-se pela tarefa de agir, no momento oportuno,
definindo algo por meio de solenes ritos e decretos, se alguma vez for
necessário opor-se aos erros ou impugnações dos hereges de um modo mais
eficiente ou imprimir nas mentes dos fiéis capítulos da doutrina sagrada
expostos de modo mais claro e pormenorizado.
Por
este uso extraordinário do Magistério nenhuma invenção é introduzida e nenhuma
coisa nova é acrescentada à soma de verdades que estando contidas, pelo menos
implicitamente, no depósito da revelação, foram divinamente entregues à Igreja,
mas são declaradas coisas que, para muitos talvez, ainda poderiam parecer
obscuras, ou são estabelecidas coisas que devem ser mantidas sobre a fé e que
antes eram por alguns colocados sob controvérsia.
16. A única maneira de
unir todos os cristãos
Assim,
Veneráveis Irmãos, é clara a razão pela qual esta Sé Apostólica nunca permitiu
aos seus estarem presentes nas reuniões de acatólicos porquanto não é lícito
promover a união dos cristãos de outro modo senão promovendo o retorno dos
dissidentes à única verdadeira Igreja de Cristo, dado que outrora,
infelizmente, eles se apartaram dela.
Dizemos
à única verdadeira Igreja de Cristo: sem dúvida ela é manifestada a todos e,
pela vontade de seu Autor, Ela perpetuamente permanecerá tal qual Ele próprio A
instituiu para a salvação de todos. Pois, a mística Esposa de Cristo jamais se
contaminou com o decurso dos séculos nem, em época alguma, poderá ser
contaminada, como Cipriano o atesta: "A Esposa de Cristo não pode ser
adulterada: ela é incorrupta e pudica. Ela conhece uma só casa e guarda com
casto pudor a santidade de um só cubículo" (De Cath. Ecclessiae
unitate, 6).
E
o mesmo santo Mártir, com direito e com razão, grandemente se admirava de que
pudesse alguém acreditar que "esta unidade que procede da firmeza de Deus
pudesse cindir-se e ser quebrada na Igreja pelo divórcio de vontades em
conflito" (ibidem).
Portanto,
dado que o Corpo Místico de Cristo, isto é, a Igreja, é um só (1 Cor 12,
12), compacto e conexo (Ef. 4, 15), à semelhança do seu corpo
físico, seria inépcia e estulto alguém afirmar que ele pode constar de membros
desunidos e separados: quem pois não estiver unido com ele, não é membro seu,
nem está unido à cabeça, Cristo (Cfr. Ef. 5, 30; 1, 22).
17. A obediência ao Romano
Pontífice
Mas,
ninguém está nesta única Igreja de Cristo e ninguém nela permanece a não ser
que, obedecendo, reconheça e acate o poder de Pedro e de seus sucessores
legítimos.
Por
acaso os antepassados dos enredados pelos erros de Fócio e dos reformadores não
estiveram unidos ao Bispo de Roma, ao Pastor supremo das almas?
Ai!
Os filhos afastaram-se da casa paterna; todavia ela não foi feita em pedaços e
nem foi destruída por isso, uma vez que estava arrimada na perene protecção de
Deus. Retornem, pois, eles ao Pai comum que, esquecido das injúrias antes
gravadas a fogo contra a Sé Apostólica, recebê-los-á com máximo amor.
Pois
se, como repetem frequentemente, desejam unir-se Connosco e com os nossos, por
que não se apressam em entrar na Igreja, "Mãe e Mestra de todos os fiéis de
Cristo" (Conc. Later 4, c.5)?
Escutem
a Lactâncio chamado amiúde: "Só... a Igreja Católica é a que retém o
verdadeiro culto. Aqui está a fonte da verdade, este é o domicílio da Fé, este
é o templo de Deus: se alguém não entrar por ele ou se alguém dele sair, está
fora da esperança da vida e salvação. é necessário que ninguém se afague a si
mesmo com a pertinácia nas disputas, pois trata-se da vida e da salvação que, a
não ser que seja provida de um modo cauteloso e diligente, estará perdida e
extinta" (Divin. Inst. 4, 30, 11-12).
18. Apelo às seitas
dissidentes
Aproximem-se,
portanto, os filhos dissidentes da Sé Apostólica, estabelecida nesta cidade que
os Príncipes dos Apóstolos Pedro e Paulo consagraram com o seu sangue; daquela
Sede, dizemos, que é "raiz e matriz da Igreja Católica" (S.
Cypr., ep. 48 ad Cornelium, 3), não com o objetivo e a esperança de que
"a Igreja do Deus vivo, coluna e fundamento da verdade" (1 Tim
3, 15) renuncie à integridade da fé e tolere os próprios erros deles,
mas, pelo contrário, para que se entreguem ao seu
Magistério
e regime.
Oxalá
auspiciosamente ocorra para Nós isto que não ocorreu ainda para tantos dos
nossos muitos Predecessores, a fim de que possamos abraçar com espírito
fraterno os filhos que nos é doloroso estejam de Nós separados por uma
perniciosa dissensão.
Prece
a Nosso Senhor e a Nossa Senhora. Oxalá Deus, Senhor nosso, que "quer
salvar todos os homens e que eles venham ao conhecimento da verdade" (1
Tim. 2, 4) nos ouça suplicando fortemente para que Ele se digne chamar à
unidade da Igreja a todos os errantes.
Nesta
questão que é, sem dúvida, gravíssima, utilizamos e queremos que seja utilizada
como intercessora a Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da graça divina, vencedora
de todas as heresias e auxílio dos cristãos, para que Ela peça, para quanto
antes, a chegada daquele dia tão desejado por nós, em que todos os homens
escutem a voz do seu Filho divino, "conservando a unidade de espírito em
um vínculo de paz" (Ef. 4, 3).
19. Conclusão e Bênção
Apostólica
Compreendeis,
Veneráveis Irmãos, o quanto desejamos isto e queremos que o saibam os nossos
filhos, não só todos os do mundo católico, mas também os que de Nós dissentem.
Estes, se implorarem em prece humilde as luzes do céu, por certo reconhecerão a
única verdadeira Igreja de Jesus Cristo e, por fim, nela tendo entrado, estarão
unidos connosco em perfeita caridade.
No
aguardo deste facto, como auspício dos dons de Deus e como testemunho de nossa
paterna benevolência, concedemos muito cordialmente a vós, Veneráveis Irmãos, e
a vosso clero e povo, a bênção apostólica.
Dado em Roma, junto de São Pedro, no
dia seis de Janeiro, no ano de 1928, festa da Epifania de Jesus Cristo, Nosso
Senhor, sexto de nosso Pontificado.
PIO PP. XI.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama
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