12/10/2012

Tratado sobre a conservação e o governo das coisas 21


Questão 108: Da ordenação dos anjos por hierarquias e ordens.

Art. 4 — Se a distinção de hierarquia e de ordens procede da natureza dos anjos.


(II Sent., dist. IX, a. 7; IV, dist. XXIV, q. 1, a. 1, qª 1, ad 3).

O quarto discute-se assim. — Parece que a distinção das hierarquias e das ordens não procede da natureza dos anjos.

1. — Pois, chama-se hierarquia a chefia sagrada em cuja definição Dionísio compreende a semelhança com a deiformidade, tanto quanto possível. Ora, a santidade e a deiformidade os anjos têm-nas por graça e não por natureza. Logo, a distinção de hierarquias e ordens, nos anjos, procede da graça e não da natureza.

2. Demais. — Serafins chamam-se os ardentes ou que incendeiam, como diz Dionísio. Ora, isto respeita à caridade, procedente da graça e não da natureza, e que se difunde como diz a Escritura (Rm 5, 5), em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado. E isto pertence não só às pessoas santas, mas também se pode atribuir aos santos anjos, como diz Agostinho. Logo, as ordens dos anjos não procedem da natureza, mas da graça.

3. Demais. — A hierarquia eclesiástica modela-se pela celeste. Ora, as ordens dos homens não procedem da natureza, mas são dons da graça; pois, não é por natureza que um é bispo, outro sacerdote, outro, diácono. Logo, também as ordens dos anjos não procedem da natureza, mas, somente da graça.

Mas, em contrário, diz o Mestre das Sentenças: chama-se ordem dos anjos à multidão dos espíritos celestes, semelhantes, entre si, por algum dom da graça, do mesmo modo que têm de comum, entre si, a participação dos dons naturais. Logo, a distinção das ordens dos anjos procede, não somente dos dons gratuitos, mas também, dos naturais.

A ordem do governo, que é a ordem da multidão, regida por um chefe, supõe a relação com um fim. Ora, pode entender-se duplamente o fim dos anjos. — De um modo quanto à faculdade da natureza, feita para conhecer e amar a Deus por conhecimento e amor naturais. E em relação a este fim, as ordens dos anjos distinguem-se pelos seus dons naturais. — De outro modo, pode compreender-se o fim da multidão angélica como superior à faculdade natural deles, e consistente na visão da divina essência e no gozo imutável da bondade da mesma; e tal fim os anjos não o podem alcançar senão pela graça. Donde, em relação a este fim, as ordens dos anjos distinguem-se, completamente, quanto aos dons gratuitos; dispositivamente, quanto aos naturais. Pois, os anjos recebem os dons gratuitos conforme a capacidade para os naturais, o que não se dá com os homens, segundo ficou dito (q. 62, a. 6). E, portanto, as ordens dos homens distinguem-se somente pelos dons gratuitos e não segundo a natureza.

Donde se deduzem claras as RESPOSTAS ÀS OBJECÇÕES.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama

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