Chega-se
cansado a casa. O cansaço é legítimo. O mau humor, não. Convém lembrar que o
homem cansado é propenso ao mau génio, já que tem as defesas baixas e os nervos
destemperados.
O
cansado tende ao hermetismo. Não é comunicativo.
É
preciso dar ao cansado um tempo para decantar as fadigas e preocupações de um
dia de trabalho. Deve-se permitir ao guerreiro deixar suas armas, desmontar e
recompor-se.
Procura
desfazer-se quanto antes de sua mercadoria. Interrompe quando não deve, tem
mais pressa quanto mais deve esperar. É a hora heróica dos pais.
O
carinho dos filhos vale mais que o esgotamento.
Ao
chegar a casa, nenhum pai pode abrir a porta e dizer: "Missão
cumprida".
Se
ele acha que a casa é o lugar das compensações egoístas, um pai de família
perdeu-se. A recompensa verdadeira é a de ver-se rodeado por afecto.
O
carinho dos filhos não é um carinho abstracto, teórico. É tangível. Percebe-se.
Toca-se.
Os
olhos das crianças estão a dizer: "Seja meu pai. Tu és forte, mais forte
que o cansaço".
Isolar-se
dos filhos ao chegar a casa é dizer-lhes: "Vocês não me
interessam".
Um
pai sempre cansado ou que pede que o tratem como um homem cansado, é um pai
enfermo. A casa não é uma clínica de repouso, onde se cuida religiosamente do
silêncio para não atrapalhar os pacientes.
O
lugar onde descansa o pai não é "zona de hospital", como tampouco a
sala de estar deve ter o cartaz de "crianças a jogar".
Quando
os filhos são pequenos são como brinquedos do pai. Quando se está de bom humor,
dá-lhes corda. Quando o jogo cansa ou aborrece, guarda-lhes ou arquiva-os. Em
muitos casos, a televisão serve, lamentavelmente, de arquivo.
Se
os filhos são considerados um incómodo porque perturbam o descanso do pai,
exige-se à mãe que os faça evaporar para que não criem problemas.
O
guerreiro considera que já teve suficientes aborrecimentos em seu trabalho,
ofício ou negócio.
Diego Ibañez Langlois (trad.
ama)
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