Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Lc 23, 33-49
33 Quando chegaram ao lugar que se chama
Calvário, ali O crucificaram a Ele e aos ladrões, um à direita e outro à
esquerda. 34 Jesus dizia: «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que
fazem». Dividindo os Seus vestidos, sortearam-nos. 35 O povo estava
a observar. Os príncipes dos sacerdotes com o povo O escarneciam, dizendo:
«Salvou os outros, salve-Se a Si mesmo, se é o Cristo, o escolhido de Deus». 36
Também O insultavam os soldados que, aproximando-se d'Ele e oferecendo-Lhe
vinagre, 37 diziam: «Se és o rei dos Judeus, salva-Te a Ti mesmo!». 38
Estava também por cima da Sua cabeça uma inscrição: «Este é o Rei dos Judeus». 39
Um daqueles ladrões que estavam suspensos da cruz, blasfemava contra Ele,
dizendo: «Se és o Cristo, salva-Te a Ti mesmo e a nós». 40 O outro,
porém, tomando a palavra, repreendia-o, dizendo: «Nem tu temes a Deus, estando
no mesmo suplício? 41 Quanto a nós fez-se justiça, porque recebemos
o castigo que mereciam as nossas acções, mas Este não fez nenhum mal». 42
E dizia a Jesus: «Senhor, lembra-Te de mim, quando entrares no Teu reino». 43
Jesus disse-lhe: «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no paraíso». 44
Era então quase a hora sexta, e toda a terra ficou coberta de trevas até à hora
nona; 45 escureceu-se o sol e rasgou-se pelo meio o véu do templo. 46
Jesus, exclamando em alta voz, disse: «Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu
espírito». Dizendo isto, expirou. 47 O centurião, vendo o que tinha
acontecido, glorificou a Deus, dizendo: «Na verdade este homem era justo!». 48
E toda a multidão que assistiu a este espectáculo, e viu o que sucedera,
retirava-se batendo no peito. 49 Todos os conhecidos de Jesus, e as
mulheres que O tinham seguido desde a Galileia, se mantinham à distância
observando estas coisas.
CARTA
ENCÍCLICA
MYSTICI CORPORIS
DO
SUMO PONTÍFICE
PAPA
PIO XII
AOS
VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS, PRIMAZES,
ARCEBISPOS
E BISPOS E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM
PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
O
CORPO MÍSTICO DE JESUS CRISTO E NOSSA UNIÃO NELE COM CRISTO
INTRODUÇÃO
1.
A doutrina do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja (cf. Cl 1, 24),
recebida dos lábios do próprio Redentor e que põe na devida luz o grande e
nunca assaz celebrado benefício da nossa íntima união com tão excelsa Cabeça, é
de sua natureza tão grandiosa e sublime que convida à contemplação todos
aqueles a quem o Espírito de Deus move; e, iluminando as suas inteligências,
incita-os eficazmente a obras salutares, consentâneas com a mesma doutrina. Por
isso resolvemos entreter-nos convosco sobre tão relevante assunto, expondo e
explicando principalmente a parte relativa à Igreja militante. Move-nos a
fazê-lo não só a excepcional importância da doutrina, mas também as
circunstâncias actuais da humanidade.
Propomo-nos,
pois, falar das riquezas entesouradas no seio da Igreja que Cristo adquiriu com
seu sangue (Act 20, 28) e cujos membros se gloriam de uma Cabeça
coroada de espinhos. Isto mesmo já é prova evidente de que a verdadeira glória
e grandeza não nascem senão da dor; por isso nós quando compartilhamos dos
sofrimentos de Cristo, devemos alegrar-nos, para que também na renovação da sua
glória jubilemos e exultemos (cf. 1 Pd 4, 13).
3,
E para começar, note-se que assim como o Redentor do género humano foi
perseguido, caluniado, atormentado por aqueles mesmos que vinha salvar, assim a
sociedade por ele fundada também neste ponto se parece com o divino Fundador.
Com efeito, ainda que não neguemos, antes gostosamente e bendizendo a Deus
confessemos, que também nestes tempos tão agitados há muitos que, embora
separados do redil de Cristo, olham para a Igreja como para o único porto de
salvação, contudo não ignoramos que a Igreja de Deus não só é soberbamente
desprezada e perseguida por aqueles que, menoscabada a luz da sabedoria cristã,
voltam miseramente às doutrinas, usos e costumes do antigo paganismo, mas frequentemente
é desconhecida, descurada, aborrecida por muitos cristãos, que se deixam
seduzir pelas aparências, falsas doutrinas, ou arrastar pelos atractivos e
corrupção do mundo. É por isso que Nós, veneráveis irmãos, obedecendo à voz da
nossa própria consciência, vamos expor à vista de todos e celebrar a beleza,
louvores e glória da santa madre Igreja, a quem, depois de Deus, tudo devemos.
4.
Confiamos que estes nossos pensamentos e exortações, em consequencia das actuais
circunstâncias, produzirão os mais copiosos frutos nos fiéis; porquanto sabemos
que os infinitos trabalhos e sofrimentos desta nossa tempestuosa idade que tão
terrivelmente torturam gente sem número, se forem recebidos serena e
resignadamente da mão de Deus, converterão como que naturalmente os corações
dos bens caducos da terra aos bens celestes e eternos, e despertarão neles uma
sede misteriosa das coisas espirituais e um desejo ardente que, sob o impulso
do Espírito Santo, os mova e quase force a procurar com mais diligência o reino
de Deus. O homem, quanto mais se desprende das vaidades do mundo e do amor
desordenado dos bens presentes, tanto mais se dispõe para perceber a luz dos
mistérios celestes. Ora, talvez nunca a vaidade e inanidade das coisas da terra
se manifestou mais eloquentemente que hoje, quando desabam reinos e nações,
quando os abismos dos vastos oceanos engolem imensas riquezas e tesouros de
toda a espécie, quando cidades e vilas e férteis campos se cobrem de imensas
ruínas e se mancham de sangue fraterno.
5.
Confiamos ainda que o que vamos expor sobre o Corpo Místico de Cristo não será
desagradável nem inútil aos que vivem fora do seio da Igreja católica. E isto,
não só porque a sua benevolência para com a Igreja parece aumentar de dia para
dia, senão também porque vendo eles actualmente como as nações se erguem contra
as nações e os reinos contra os reinos, e crescem indefinidamente as
discórdias, os antagonismos e as sementeiras do ódio, se volverem os olhos para
a Igreja, se contemplarem a sua unidade de origem divina, por virtude da qual
os homens de todas as nacionalidades se unem a Cristo com vínculos fraternos,
então sem dúvida ver-se-ão forçados a admirar uma tal sociedade de amor e sentir-se-ão
atraídos com o auxílio da graça a participar da mesma unidade e caridade.
6.
Há ainda uma razão especial e suavíssima pela qual nos ocorreu ao espírito e
grandemente nos deleita esta doutrina. Durante o passado ano, XXV do nosso
episcopado, pudemos com grandíssima consolação contemplar um espectáculo que
luminosa e expressivamente fez resplandecer a imagem do corpo místico de Cristo
em todas as cinco partes do mundo. Nesse sentido, apesar dessa interminável
guerra de extermínio ter destruído miseramente a fraterna comunidade dos povos,
por toda parte, onde temos filhos em Cristo, todos com uma só vontade e amor -
reflectindo em si as preocupações e ansiedades de todos -, elevavam o
pensamento e o coração para o Pai comum, que governa em tempos tão adversos a
nau da Igreja católica. Esse espetáculo não só demonstra a admirável unidade da
família cristã, mas atesta também que assim como nós com amor paterno abraçamos
os povos de todas as nações, assim também os católicos de todo o mundo, embora
pertencentes a povos que se guerreiam mutuamente, olham para o vigário de
Cristo como para o pai amantíssimo de todos que, mantendo perfeito equilíbrio
entre ambas as partes contendentes e guiando-se por perfeita rectidão de juízo,
superior a todas as tempestades das perturbações humanas, recomenda e defende
com todas as forças a verdade, a justiça, a caridade.
7.
Também não foi menor a nossa consolação ao sabermos a boa vontade com que
espontaneamente fora oferecida e reunida uma quantia para levantar na Cidade
eterna um templo em honra do nosso predecessor e santo do nosso nome, Eugénio
I. Ora como esse templo, levantado por desejo e com o óbolo dos fiéis,
conservará perene a memória deste faustíssimo acontecimento, assim desejamos
dar um atestado da nossa gratidão nesta encíclica onde precisamente se trata
das pedras vivas que, colocadas sobre a pedra angular que é Cristo, formam o
templo santo, muito mais sublime que qualquer templo material, isto é, a morada
de Deus no Espírito (Cf. Ef 2, 21-22;1 Pd 2, 5).
8.
Mas a causa principal que nos leva a tratar agora assaz difusamente desta
excelsa doutrina é a nossa solicitude pastoral. É verdade que muito se tem
escrito sobre este argumento; nem ignoramos que hoje não poucos se dão com
grande empenho a estes estudos, com os quais também se deleita e nutre a
piedade cristã. Este movimento parece dever-se ao renovado estudo da sagrada
liturgia, a maior frequência da mesa eucarística, e finalmente ao culto mais
intensificado do sacratíssimo Coração de Jesus de que hoje gozamos por vê-lo
mais difundido; tudo isso moveu muitos a uma mais profunda contemplação das
imperscrutáveis riquezas de Cristo que se conservam na Igreja. Acrescem ainda
os documentos sobre a Acção católica publicados nestes últimos tempos; os quais
tornaram mais estreitos os vínculos dos fiéis entre si e com a hierarquia
eclesiástica, particularmente com o romano pontífice, e contribuíram sem dúvida
grandemente para pôr na devida luz esta doutrina. Todavia se isso que acabamos
de dizer é muito consolador, temos de confessar que não só autores separados da
verdadeira Igreja espalham graves erros nesta matéria, mas que também entre os
fiéis vão serpenteando opiniões ou inexatas ou de todo falsas, que podem
desviar os espíritos da recta senda da verdade.
9.
De facto, enquanto por um lado perdura o falso racionalismo que tem por absurdo
tudo o que transcende e supera a capacidade da razão humana, e com ele outro
erro parecido, o naturalismo vulgar que não vê nem quer reconhecer na Igreja de
Cristo senão uma sociedade puramente jurídica; por outro lado grassa por aí um
falso misticismo que perverte as Sagradas Escrituras, pretendendo remover os
limites intangíveis entre as criaturas e o Criador.
10.
Ora esses erros, entre si opostos, fazem que alguns, cheios de infundado temor,
considerem esta sublime doutrina como perigosa e fujam dela como do fruto do
paraíso, belo e proibido. Não; os mistérios revelados por Deus não podem ser
prejudiciais ao homem, nem devem permanecer infrutíferos como tesouro enterrado
no campo; uma vez que nos foram dados por Deus, para proveito espiritual dos
que piamente os contemplam. Pois como ensina o Concílio Vaticano I "a razão iluminada pela fé, quando indaga
com diligência, piedade e sobriedade, alcança sempre por graça de Deus alguma
inteligência, sempre frutuosíssima, dos mistérios, quer pela analogia com os
conhecimentos naturais, quer pela relação que os mistérios têm entre si e com o
último fim do homem"; embora, como adverte o mesmo sagrado concílio, "nunca
ela chegue a compreender os mistérios como as verdades que constituem o seu
próprio objecto".
11.
Portanto, tendo nós maduramente ponderado tudo isso diante de Deus, para que a
incomparável formosura da Igreja resplandeça com nova glória, para que mais esplendidamente
se manifeste a excelsa e sobrenatural nobreza dos fiéis que no corpo de Cristo
se unem à sua cabeça: enfim para fechar de uma vez a porta a muitos erros que
pode haver nesta matéria, julgamos nosso dever pastoral expor a todo o povo
cristão nesta encíclica a doutrina do corpo místico de Jesus Cristo e da união
dos fiéis com o divino Redentor no mesmo Corpo, e juntamente deduzir desta
suavíssima doutrina alguns ensinamentos, com os quais o maior conhecimento do
mistério produza frutos cada vez mais abundantes de perfeição e santidade.
PRIMEIRA
PARTE
A
IGREJA CORPO, "MÍSTICO" DE CRISTO
12.
Ao meditar este ponto da doutrina católica ocorrem-nos logo aquelas palavras do
Apóstolo: "Onde o pecado avultou, superabundou a graça" (Rm 5,
20). Sabemos que Deus constituiu o primeiro progenitor do género humano
em tão excelsa condição, que com a vida terrena transmitiria aos seus
descendentes a vida sobrenatural da graça celeste. Mas depois da triste queda
de Adão toda a humana linhagem, infectada pela mancha original, perdeu o
consórcio da natureza divina (cf. 2Pd 1, 4) e todos ficamos sendo
filhos de ira (Ef 2, 3). Deus, porém, na sua infinita misericórdia
"amou tanto ao mundo que lhe deu seu Filho unigénito" (Jo 3, 16);
e o Verbo do Eterno Pai, com a mesma divina caridade, revestiu a natureza
humana da descendência de Adão, mas inocente e imaculada, para que do novo e
celeste Adão dimanasse a graça do Espírito Santo a todos os filhos do primeiro
pai; e estes que pelo primeiro pecado tinham sido privados da filiação adoptiva
de Deus, pelo Verbo encarnado, feitos irmãos segundo a carne do Filho Unigénito
de Deus, recebessem o poder de virem a ser filhos de Deus (cf. Jo 1, 12).
E, assim, Jesus crucificado não só reparou a justiça ofendida do Eterno Pai, senão
que nos mereceu a nós, seus consanguíneos, inefável abundância de graças. Essas
graças, podia ele distribuí-las directamente por si mesmo a todo o género
humano. Quis, porém, comunicá-las por meio da Igreja visível, formada por
homens, a fim de que por meio dela todos fossem, em certo modo, seus
colaboradores na distribuição dos divinos frutos da Redenção. E assim como o
Verbo de Deus, para remir os homens com as suas dores e tormentos, quis
servir-se da nossa natureza, assim, de modo semelhante, no decurso dos séculos
se serve da Igreja para continuar perenemente a obra começada. [2]
13.
Ora, para definir e descrever esta verdadeira Igreja de Cristo - que é a santa,
católica, apostólica Igreja romana [3] -
não há nada mais nobre, nem mais excelente, nem mais divino do que o conceito
expresso na denominação "corpo místico de Jesus Cristo"; conceito que
imediatamente resulta de quanto nas Sagradas Escrituras e dos santos Padres frequentemente
se ensina.
1. A Igreja é um
"corpo"
Corpo único, indiviso,
visível
14.
Que a Igreja é um corpo, ensinam-nos muitos passos da sagrada Escritura:
"Cristo, diz o Apóstolo, é a cabeça do corpo da Igreja" (Cl 1,
18). Ora, se a Igreja é um corpo, deve necessariamente ser um todo sem
divisão, segundo aquela sentença de Paulo: "Nós, muitos, somos um só corpo
em Cristo" (Rm 12, 5). E não só deve ser um todo sem divisão,
mas também algo concreto e visível, como afirma nosso predecessor de feliz
memória Leão XIII, na Encíclica Satis
cognitum: "Pelo próprio facto de ser um corpo, a Igreja torna-se
visível aos olhos". [4]
Estão pois longe da verdade revelada os que imaginam a Igreja por forma, que
não se pode tocar nem ver, mas é apenas, como dizem, uma coisa
"pneumática" que une entre si com vínculo invisível muitas
comunidades cristãs, embora separadas na fé.
15.
O corpo requer também multiplicidade de membros, que unidos entre si se
auxiliem mutuamente. E como no nosso corpo mortal, quando um membro sofre,
todos os outros sofrem com ele, e os sãos ajudam os doentes; assim também na
Igreja os membros não vivem cada um para si, mas socorrem-se e auxiliam-se uns
aos outros, tanto para mútua consolação, como para o crescimento progressivo de
todo o Corpo.
Corpo composto
"orgânica" e "hierarquicamente"
16.
Mais ainda. Como na natureza não basta qualquer aglomerado de membros para
formar um corpo, mas é preciso que seja dotado de órgãos ou membros com funções
distintas e que estejam unidos em determinada ordem, assim também a Igreja deve
se chamar corpo, sobretudo porque resulta de uma boa e apropriada proporção e
conjunção de partes e é dotada de membros diversos e unidos entre si. É assim
que o Apóstolo descreve a Igreja quando diz: "como num só corpo temos
muitos membros, e os membros não têm todos a mesma função, assim muitos somos
um só corpo de Cristo, e todos e cada um membros uns dos outros" (Rm
12, 4).
17.
Não se julgue, porém, que esta bem ordenada e "orgânica" estrutura do
corpo da Igreja se limita unicamente aos graus da hierarquia; ou, ao contrário,
como pretende outra opinião, consta unicamente de carismáticos, isto é, dos
féis enriquecidos de graus extraordinárias, que nunca hão-de faltar na Igreja.
E fora de dúvida que todos os que neste corpo estão investidos de poder
sagrado, são membros primários e principais, já que são eles que, por
instituição do próprio Redentor, perpetuam os ofícios de Cristo doutor, rei e
sacerdote. Contudo os santos Padres, quando celebram os ministérios, graus,
profissões, estados, ordens, deveres deste corpo místico, não consideram só os
que têm ordens sacras, senão também todos aqueles que, observando os conselhos
evangélicos, se dão à vida activa, à contemplativa, ou à mista, segundo o
próprio instituto; bem como os que, vivendo no século, se consagram activamente
a obras de misericórdia espirituais ou corporais; e, finalmente, também os que
vivem unidos pelo santo matrimónio. Antes é de notar que, sobretudo nas actuais
circunstâncias, os pais e as mães de família, os padrinhos e madrinhas, e
nomeadamente todos os seculares que prestam o seu auxílio à hierarquia
eclesiástica na dilatação do reino de Cristo, ocupam um posto honorífico,
embora muitas vezes humilde, na sociedade cristã, e podem muito bem sob a
inspiração e com o favor de Deus subir aos vértices da santidade, que por
promessa de Jesus Cristo nunca faltará na Igreja.
Corpo dotado de órgãos
vitais, isto é, sacramentos
18.
E como o corpo humano nos aparece dotado de energias especiais com que provê à
vida, saúde e crescimento, seu e de todos os seus membros, assim o Salvador do género
humano providenciou admiravelmente ao seu corpo místico enriquecendo-o de
sacramentos, que com uma série ininterrupta de graças amparam o homem desde o
berço até ao último suspiro, e ao mesmo tempo provêm abundantissimamente às
necessidades sociais da Igreja. Com efeito, pelo Batismo os que nasceram para
esta vida mortal, não só renascem da morte do pecado e são feitos membros da
Igreja, senão que, assinalados com o carácter espiritual, se tornam capazes de
receber os outros dons sagrados. Com a Crisma infunde-se nova força nos féis
para conservarem e defenderem corajosamente a santa madre Igreja e a fé que
dela receberam. Pelo sacramento da Penitência oferece-se aos membros da Igreja
caídos em pecado um remédio salutar, que serve não só para lhes restituir a
saúde, mas a preservar os outros membros do corpo místico do perigo de
contágio, e até a dar-lhes estímulo e exemplo de virtude. E não basta. Pela Sagrada
Eucaristia alimentam-se e fortificam-se os fiéis com um mesmo alimento e unem-se
entre si e a divina Cabeça de todo o Corpo com um vínculo inefável e divino.
Finalmente, acode a Igreja ao leito dos moribundos, mãe compassiva, e com o
sacramento da Extrema-unção, que, se nem sempre lhes dá a saúde do corpo, por
Deus assim o dispor, dá-lhes às almas feridas o remédio sobrenatural, abre-lhes
o céu, onde como novos cidadãos e seus novos protectores gozarão por toda a
eternidade da divina bem-aventurança.
19.
Cristo proveu as necessidades sociais da Igreja, de modo especial, com dois
sacramentos que instituiu: com o Matrimónio em que os cônjuges são
reciprocamente um ao outro ministros da graça, proveu ao aumento externo e bem
ordenado da sociedade cristã; e, o que é ainda mais importante, à boa e
religiosa educação da prole, sem a qual o corpo místico correria perigo; com a Ordem
dedicam-se e consagram-se ao serviço de Deus os que hão-de imolar a Hóstia
eucarística, sustentar a grei dos féis com o Pão dos Anjos e com o alimento da
doutrina, dirigi-la com os divinos mandamentos e conselhos e purificá-la com o
baptismo e a penitência, enfim fortalecê-la com as outras graças celestes.
Corpo formado por membros
determinados
20.
E a esse propósito deve notar-se que assim como Deus no princípio do mundo
dotou o homem de um riquíssimo organismo com que pudesse sujeitar as outras
criaturas e multiplicar-se e encher a terra, assim ao princípio da era cristã
proveu a Igreja dos recursos necessários para vencer perigos quase inumeráveis
e povoar não só toda a terra, mas também o reino dos céus.
21.
Como membros da Igreja contam-se realmente só aqueles que receberam o lavacro
da regeneração e professam a verdadeira fé, nem se separaram voluntariamente do
organismo do corpo, ou não foram banidos dele pela legítima autoridade em razão
de culpas gravíssimas. "Todos nós, diz o Apóstolo, fomos baptizados num só
Espírito para formar um só Corpo, judeus ou gentios, escravos ou livres" (l
Cor 12, 13). Portanto como na verdadeira sociedade dos fiéis há um só
corpo, um só Espírito, um só Senhor, um só baptismo, assim não pode haver senão
uma só fé (cf. Ef 4, 5), e por isso quem se recusa a ouvir a Igreja,
manda o Senhor que seja tido por gentio e publicano (cf. Mt 18, 17).
Por conseguinte os que estão divididos entre si por motivos de fé ou pelo
governo, não podem viver neste corpo único nem do seu único Espírito divino.
22.
Não se deve, porém, julgar que já durante o tempo da peregrinação terrestre, o
corpo da Igreja, por isso que leva o nome de Cristo, consta só de membros com
perfeita saúde, ou só dos que de facto são por Deus predestinados à sempiterna
felicidade. Por sua infinita misericórdia o Salvador não recusa lugar no seu
corpo místico àqueles a quem o não recusou outrora no banquete (Mt 9, 11;
Mc 2, 16; Lc 15,2). Nem todos os pecados, embora graves, são de sua
natureza tais que separem o homem do corpo da Igreja como fazem os cismas, a
heresia e a apostasia. Nem perdem de todo a vida sobrenatural os que pelo
pecado perderam a caridade e a graça santificante e por isso se tornaram
incapazes de mérito sobrenatural, mas conservam a fé e a esperança cristã, e
alumiados pela luz celeste, são divinamente estimulados com íntimas inspirações
e moções do Espírito Santo ao temor salutar, à oração e ao arrependimento das
suas culpas.
23.
Tenha-se, pois, sumo horror ao pecado que mancha os membros místicos do
Redentor; mas o pobre pecador que não se tornou por sua contumácia indigno da
comunhão dos fiéis, seja acolhido com maior amor, vendo-se nele com caridade
operosa um membro enfermo de Jesus Cristo: Pois que é muito melhor, como nota o
bispo de Hipona, "curá-los no corpo da Igreja, do que amputá-los como
membros incuráveis". [5]
"Enquanto o membro está ainda unido ao corpo não há por que desesperar da
sua saúde; uma vez amputado, nem se pode curar, nem se pode sarar". [6]
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama
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