18/09/2012

Tratado sobre o Homem 77



Questão 87: Como a alma intelectiva se conhece a si mesma e àquilo que nela existe.
Art. 4 — Se o intelecto intelige o acto da vontade.



(Supra, q. 82, a. 4, ad 1; III Sent., dist. XXIII, q. 1, a. 2, ad 3).

O quarto discute-se assim. ― Parece que o intelecto não intelige o acto da vontade.

1. ― Pois, só é conhecido do intelecto, aquilo que, de certo modo, lhe está presente. Ora, o acto da vontade não está presente ao intelecto, pois, são potências diversas. Logo, o acto da vontade não é conhecido pelo intelecto.

2. Demais. ― O acto se específica pelo seu objeto. Ora, o objeto da vontade difere do objeto do intelecto. Logo, o acto da vontade tem espécie diversa do objeto do intelecto. Logo, não é conhecido por este.

3. Demais. ― Agostinho diz, que os afetos da alma não são conhecidos, nem pelas imagens, como os corpos, nem pela presença, como as artes, mas por certas noções. Ora, não pode haver na alma noções de outras coisas, senão da essência das coisas conhecidas ou das semelhanças destas. Logo, é impossível que o intelecto conheça os afetos da alma, que são actos da vontade.

Mas, em contrário, diz Agostinho: Intelijo-me como querendo.


Como já se disse antes (q. 59, a. 1), o acto da vontade não é senão uma certa inclinação consequente à forma inteligida; assim como o apetite natural é a inclinação consequente à forma natural. Ora, a inclinação está, a seu modo, na coisa à qual pertença. Donde, a inclinação natural está naturalmente na coisa natural; a do apetite sensível está sensivelmente, no ser que sente; e semelhantemente, a inteligível, que é acto da vontade, está inteligivelmente, no ser que intelige, como no primeiro princípio e no sujeito próprio. Por isso, o Filósofo usa da locução: a vontade está na razão. Ora, é consequente que, o que está, inteligivelmente, num ser inteligente, seja por este inteligido. Donde, o acto da vontade é inteligido pelo intelecto, enquanto alguém tem consciência de querer e enquanto conhece a natureza deste acto e, por consequência, a natureza do princípio do mesmo, que é o hábito ou a potência.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― A objeção procederia, se a vontade e o intelecto, sendo potências diversas, também diferissem; então, o que estivesse na vontade estaria ausente do intelecto. Ora, como ambas se radicam numa mesma substância da alma, e uma é, de certo modo, o princípio da outra, resulta consequentemente, que o que está na vontade está também, de certo modo, no intelecto.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― O bem e o verdadeiro, objetos da vontade e do intelecto, diferem, certo, pela razão; contudo, um se contém no outro, como antes já se disse (q. 82, a. 4, ad 1); pois, o verdadeiro é um certo bem e o bem, um certo verdadeiro. Donde, o que é da vontade cai sob a alçada do intelecto; e o que é do intelecto pode cair sob a da vontade.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Os afetos da alma não estão no intelecto, nem pela semelhança, somente, como os corpos, nem pela presença, como no sujeito próprio, conforme se dá com as artes; mas como o principiado está no princípio, no qual é ela a noção do principiado. E por isso Agostinho diz que os objetos da alma estão na memória, por meio de certas noções.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por AMA


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