Questão 85: Do modo e
da ordem de inteligir.
Art. 4 — Se podemos inteligir muitas coisas simultaneamente.
(Supra.
Q. 12, a. 10; q. 58, a. 2; II Sent., dist. III. Q. 3, a. 4; III, dist. XIV, a.
2, qª 4; I Cont. Gent., cap. LV; De Verit., q. 8, a. 14; Qu. De Anima, a. 16,
ad 5; Quodl., VII, q. 1, a. 2).
O
quarto discute-se assim. ― Parece que podemos inteligir muitas coisas
simultaneamente.
1.
― Pois, o intelecto está fora do tempo. Ora, anteriormente e posteriormente
supõem o tempo. Logo, o intelecto não intelige coisas diversas, por
anterioridade e posterioridade, mas simultaneamente.
2.
Demais. ― Nada impede que diversas formas não opostas existam simultaneamente
no mesmo acto; assim, o odor e a cor, num pomo. Ora, as espécies inteligíveis
não são opostas. Logo, nada impede que um mesmo intelecto se actualize
simultaneamente, segundo diversas espécies inteligíveis. E portanto, pode
inteligir muitas coisas simultaneamente.
3.
Demais. ― O intelecto intelige simultaneamente certos todos, como um homem ou
uma casa. Ora, qualquer todo contém muitas partes. Logo, o intelecto, intelige
simultaneamente muitas coisas.
4.
Demais. ― Não se pode conhecer a diferença entre duas coisas sem que elas sejam
apreendidas simultaneamente, como diz Aristóteles; e o mesmo se dá com qualquer
outra comparação. Ora, o nosso intelecto conhece a diferença e a comparação
entre muitas coisas. Logo, conhece muitas simultaneamente.
Mas,
em contrário, diz Aristóteles: podemos inteligir só uma coisa, mas saber
muitas.
Certamente o intelecto pode inteligir simultaneamente muitas coisas sob o
aspecto da unidade, mas não sob o da multiplicidade. Digo, porém, sob o aspecto
da unidade ou da multiplicidade, por uma ou várias espécies inteligíveis. Pois,
o modo de uma acção resulta da forma, que é o princípio da acção. Ora, todas as
coisas que o nosso intelecto pode inteligir, sob uma mesma espécie, ele as pode
inteligir simultaneamente; donde vem que Deus vê tudo simultaneamente porque vê
tudo pela unidade da sua essência. Tudo, porém, que o intelecto intelige por
diversas espécies, não intelige simultaneamente. E a razão é que é impossível o
mesmo sujeito ser simultaneamente perfeito por várias formas de um mesmo género
de diversas espécies; assim como é impossível um mesmo corpo ser colorido, sob
o mesmo ponto de vista, por diversas cores ou figurado por diversas figuras.
Ora, todas as espécies inteligíveis pertencem ao mesmo género, porque são
perfeições da mesma potência intelectiva, embora as coisas de que são espécies
sejam de géneros diversos. Logo, é impossível que um mesmo intelecto seja
perfeito simultaneamente por diversas espécies inteligíveis, afim de inteligir
coisas actualmente diversas.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― O intelecto está fora do tempo, que é o número
do movimento das coisas corpóreas. Mas a pluralidade mesma das espécies
inteligíveis causa uma certa sucessão de operações inteligíveis, pela qual uma operação
é anterior a outra; e esta sucessão Agostinho a denomina tempo, quando diz que
Deus move a criatura espiritual, pelo tempo.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Não só as formas opostas não podem existir simultaneamente num
mesmo sujeito, mas nem mesmo quaisquer formas de um mesmo género, embora não
sejam opostas; como se vê pelo exemplo aduzido, das cores e das figuras.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― As partes podem ser inteligidas de duplo modo. Com certa
confusão, enquanto estão no todo; e, assim, conhecidas pela forma una do todo,
são conhecidas simultaneamente. E, de outro modo, com conhecimento distinto,
enquanto cada parte é conhecida pela sua espécie; e então, não são as partes
conhecidas simultaneamente.
RESPOSTA
À QUARTA. ― Quando o intelecto intelige a diferença ou a comparação entre uma
coisa e outra, conhece ambas essas coisas, que entre si diferem ou são
comparadas, sob a noção da comparação mesma ou da diferença; do mesmo modo que,
como já se disse, conhece as partes sob a noção do todo.
Nota:
Revisão da tradução para português por ama
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