Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Lc 12, 1-21
1 Tendo-se juntado à
volta de Jesus milhares e milhares de pessoas, de sorte que se atropelavam uns
aos outros, começou Ele a dizer aos Seus discípulos: «Guardai-vos do fermento
dos fariseus, que é a hipocrisia. 2 Nada há oculto que não venha a
descobrir-se e nada há escondido que não venha a saber-se. 3 Por
isso as coisas que dissestes nas trevas serão ouvidas às claras, e o que
falastes ao ouvido no quarto será apregoado sobre os telhados. 4 «A
vós, pois, Meus amigos, digo-vos: não tenhais medo daqueles que matam o corpo e
depois nada mais podem fazer. 5 Eu vou mostrar-vos a quem haveis de
temer; temei Aquele que, depois de matar, tem poder de lançar no inferno; sim,
Eu vos digo, temei Este. 6 Não se vendem cinco passarinhos por dois
asses?; contudo nem um só deles está em esquecimento diante de Deus. 7
Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais pois; vós
valeis mais que muitos passarinhos. 8 Digo-vos: Todo aquele que Me
confessar diante dos homens, também o Filho do Homem o confessará diante dos
anjos de Deus. 9 Mas quem Me negar diante dos homens, será negado
diante dos anjos de Deus. 10 «Todo aquele que falar contra o Filho
do Homem, ser-lhe-á perdoado; mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo,
não lhe será perdoado. 11 Quando vos levarem às sinagogas e perante
os magistrados e autoridades, não estejais com cuidado de que modo respondereis,
ou que direis, 12 porque o Espírito Santo vos ensinará, naquele
mesmo momento, o que deveis dizer».
13 Então disse-Lhe alguém da
multidão: «Mestre, diz a meu irmão que me dê a minha parte da herança». 14
Jesus respondeu-lhe: «Meu amigo, quem Me constituiu juiz ou árbitro entre
vós?». 15 Depois disse-lhes: «Guardai-vos cuidadosamente de toda a
avareza, porque a vida de cada um, ainda que esteja na abundância, não depende
dos bens que possui». 16 Sobre isto propôs-lhes esta parábola: «Os
campos de um homem rico tinham dado abundantes frutos. 17 Ele andava
a discorrer consigo: Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos? 18
Depois disse: Farei isto: Demolirei os meus celeiros, fá-los-ei maiores e neles
recolherei o meu trigo e os meus bens, 19 e direi à minha alma: Ó
alma, tu tens muitos bens em depósito para largos anos; descansa, come, bebe,
regala-te. 20 Mas Deus disse-lhe: Néscio, esta noite virão
demandar-te a tua alma; e as coisas que juntaste, para quem serão? 21
Assim é o que entesoura para si e não é rico perante Deus».
CARTA ENCÍCLICA
QUADRAGESIMO ANNO
DE SUA SANTIDADE
PAPA PIO XI
SOBRE A RESTAURAÇÃO
E APERFEIÇOAMENTO
DA ORDEM SOCIAL
EM CONFORMIDADE COM
A LEI EVANGÉLICA NO XL ANIVERSÁRIO
DA ENCÍCLICA DE LEÃO XIII “RERUM NOVARUM”
…/5
III.
NOTÁVEIS
MUDANÇAS DESDE A ENCÍCLICA DE LEÃO XIII
Grandes
foram as transformações, que desde os tempos de Leão XIII sofreram tanto a
economia, como o socialismo.
1. - EVOLUÇÃO DA ECONOMIA
E
primeiramente todos vêm, quão mudada está hoje a situação económica. Sabeis,
veneráveis Irmãos e amados Filhos, que o Nosso Predecessor de feliz memória na
sua encíclica se referia principalmente àquele sistema, em que ordinariamente
uns contribuem com o capital, os outros com o trabalho para o comum exercício
da economia, qual ele próprio a definiu na frase lapidar: “Nada vale o capital
sem o trabalho, nem o trabalho sem o capital“. 53
Foi
esta espécie de economia, que Leão XIII procurou com todas as veras regular
segundo as normas da justiça; donde se segue que de per si não é condenável. E realmente
de sua natureza não é viciosa: só viola a recta ordem, quando o capital
escraviza aos operários ou à classe proletária com o fim e condição de que os
negócios e todo o andamento económico estejam nas suas mãos e revertam em sua
vantagem, desprezando a dignidade humana dos operários, a função social da
economia e a própria justiça social e o bem comum.
Verdade
é que, mesmo hoje, não é esta a única forma de economia, que reina por toda a
parte; há outra forma, que ainda abraça uma numerosa e importante fracção da
humanidade, como é por exemplo a classe agrícola, na qual a maior parte do
género humano ganha honradamente a sua vida. Também esta se vê a braços com
estreitezas e dificuldades, às quais alude o Nosso Predecessor em muitos passos
da sua encíclica e Nós nesta Nossa já mais de uma vez Nos referimos.
Mas
o regime capitalista da economia, desde a publicação da Rerum novarum, com a propagação da indústria alastrou em todas as
direcções, de tal maneira que se infiltrou e invadiu completamente todos os
outros campos da produção, cujas condições sociais e económicas afecta
realmente e informa com suas vantagens, desvantagens e vícios.
Por
consequência não é só o bem dos habitantes das regiões industriais, mas o de
todos os homens, que Nós procuramos, ao dirigirmos a Nossa atenção
principalmente para as mudanças, que sofreu a economia capitalista desde os
tempos de Leão XIII.
Despotismo económico
É
coisa manifesta, como nos nossos tempos não só se amontoam riquezas, mas
acumula-se um poder imenso e um verdadeiro despotismo económico nas mãos de
poucos, que as mais das vezes não são senhores, mas simples depositários e
administradores de capitais alheios, com que negoceiam a seu talante. Este
despotismo torna-se intolerável naqueles que, tendo nas suas mãos o dinheiro,
são também senhores absolutos do crédito e por isso dispõem do sangue de que
vive toda a economia, e manipulam de tal maneira a alma da mesma, que não pode
respirar sem sua licença. Este acumular de poderio e recursos, nota característica
da economia actual, é consequência lógica da concorrência desenfreada, à qual
só podem sobreviver os mais fortes, isto é, ordinariamente os mais violentos
competidores e que menos sofrem de escrúpulos de consciência. Por outra parte
este mesmo acumular de poderio gera três espécies de luta pelo predomínio:
primeiro luta-se por alcançar o predomínio económico; depois combate-se
renhidamente por obter predomínio no governo da nação, a fim de poder abusar do
seu nome, forças e autoridade nas lutas económicas; enfim lutam os Estados
entre si, empregando cada um deles a força e influência política para promover
as vantagens económicas dos seus cidadãos, ou, ao contrário, empregando as
forças e predomínio económico para resolver as questões políticas, que surgem
entre as nações.
Funestas consequências
As
últimas consequências deste espírito individualista no campo económico são
essas que vós, veneráveis Irmãos e amados Filhos, vedes e lamentais: a livre
concorrência matou-se a si própria; à liberdade do mercado sucedeu o predomínio
económico; à avidez do lucro seguiu-se a desenfreada ambição de predomínio;
toda a economia se tornou horrendamente dura, cruel, atroz. Acrescem os danos
gravíssimos originados da malfadada confusão dos empregos e atribuições da pública
autoridade e da economia, quais são: primeiro e um dos mais funestos, o
aviltamento da majestade do Estado, a qual do trono onde livre de partidarismos
e atenta só ao bem comum e à justiça, se sentava como rainha e árbitra suprema
dos negócios públicos, se vê feita escrava, entregue e acorrentada ao capricho
de paixões desenfreadas; depois, no campo das relações internacionais, dois
rios brotados da mesma fonte: de um lado o Nacionalismo ou Imperialismo
económico, do outro, o Internacionalismo ou Imperialismo internacional
bancário, não menos funesto e execrável, cuja pátria é o interesse.
Remédios
Na
parte doutrinal desta encíclica indicámos já os remédios, com que se pode
combater um mal tão profundo. Agora basta recordar a substância do Nosso ensinamento.
Visto como o regime económico moderno se baseia principalmente no capital e no
trabalho, é preciso que as normas da recta razão ou da filosofia social cristã,
relativas a estes dois elementos e à sua colaboração, sejam melhor conhecidas e
postas em prática. Para, evitar o escolho quer do individualismo quer do
socialismo, ter-se-á em conta o duplo carácter individual e social tanto do
capital ou propriedade, como do trabalho. As relações mútuas de um com o outro
devem ser reguladas segundo as leis de uma rigorosa justiça comutativa, apoiada
na caridade cristã. A livre concorrência contida dentro de justos e razoáveis
limites e mais ainda o poderio económico devem estar efectivamente sujeitos à
autoridade pública, em tudo o que é da sua alçada. Enfim as instituições
públicas adaptarão a sociedade inteira às exigências do bem comum, isto é, às
regras da justiça; donde necessariamente resultará, que esta função tão
importante da vida social, qual é a actividade económica, se encontrará por sua
vez reconduzida a uma ordem sã e bem equilibrada.
2. - EVOLUÇÃO DO
SOCIALISMO
Não
menos profunda que a da economia, foi desde o tempo de Leão XIII, a evolução do
socialismo, contra o qual principalmente terçou armas o Nosso Predecessor.
Então podia ele dizer-se único, defendia uma doutrina bem definida e reduzida a
sistema; depois dividiu-se em duas facções principais, de tendências pela maior
parte contrárias, e irreconciliáveis entre si, conservando porém ambas o
princípio fundamental do socialismo primitivo, contrário à fé cristã.
O partido da violência ou
comunismo
Uma
das facções seguiu uma evolução paralela à da economia capitalista, que antes
descrevemos, e precipitou no comunismo, que ensina duas coisas e procura realizá-as,
não oculta ou solapadamente, mas à luz do dia, francamente e por todos os meios
ainda os mais violentos: guerra de classes sem tréguas nem quartel e completa
destruição da propriedade particular. Na prossecução destes objectivos a tudo
se atreve, nada respeita; uma vez no poder, é incrível e espantoso quão bárbaro
e desumano se mostra. Aí estão a atestá-lo as mortandades e ruínas de que
alastrou vastíssimas regiões da Europa oriental e da Ásia; e então o ódio
declarado contra a santa Igreja e contra o mesmo Deus demasiado provam essas monstruosidades
sacrílegas bem conhecidas de todo o mundo. Por isso, se bem que julgamos
supérfluo chamar a atenção dos filhos obedientes da Igreja para a impiedade e
iniquidade do comunismo, contudo não é sem uma dor profunda, que vemos a apatia
dos que parecem desprezar perigos tão iminentes, e com desleixo pasmoso deixam
propagar por toda a parte doutrinas, que porão a sociedade a ferro e fogo.
Sobretudo digna de censura é a inércia daqueles, que não tratam de suprimir ou
mudar um estado de coisas, que, exasperando os ânimos, abre caminho à subversão
e ruína completa da sociedade.
O socialismo propriamente
dito, ou mitigado
Mais moderada é a outra facção, que conservou
o nome de socialismo: porque não só professa abster-se da violência, mas
abranda e limita de algum modo, embora não as suprima de todo, a luta de
classes e a extinção da propriedade particular. Dir-se-ia que o socialismo,
aterrado com as consequências que o comunismo deduziu de seus próprios
princípios, tende para as verdades que a tradição cristã sempre solenemente
ensinou, e delas em certa maneira se aproxima; por quanto é inegável que as
suas revindicações concordam às vezes muitíssimo com as reclamações dos
católicos que trabalham na reforma social.
Com
efeito a luta de classes, quando livre de inimizades e ódio mútuo,
transforma-se pouco a pouco numa concorrência honesta, fundada no amor da
justiça, que se bem que não é aquela bem-aventurada paz social, por que todos
suspiramos, pode e deve ser o princípio da mútua colaboração. Do mesmo modo a
guerra à propriedade particular, afrouxando pouco a pouco, chega a limitar-se a
ponto de já não agredir a posse do necessário à produção dos bens, mas aquele
despotismo social, que a propriedade se arrogou contra todo o direito. E de
facto um tal poder não pertence aos simples proprietários mas à autoridade
pública. Por este caminho podem os princípios deste socialismo mitigado vir
pouco a pouco a coincidir com os votos e reclamações dos que procuram reformar
a sociedade segundo os princípios cristãos. Estes, com razão, pretendem que
certos géneros de bens sejam reservados ao Estado, quando o poderio que trazem
consigo é tal, que, sem perigo do mesmo Estado, não pode deixar-se em mãos dos
particulares.
Tão
justos desejos e revindicações em nada se opõem à verdade cristã, e muito menos
são exclusivos do socialismo. Por isso quem luta só por eles, não tem razão
para se declarar socialista.
Mas
não se vá julgar que os partidos socialistas, não filiados ainda no comunismo,
professam já, todos, teórica e praticamente, esta moderação. Em geral não
renegam a luta de classes nem a abolição da propriedade, apenas a mitigam. Ora
se os falsos princípios assim se mitigam e obliteram, pergunta-se, ou melhor
perguntam alguns sem razão, se não será bem que também os princípios católicos
se mitiguem e moderem, para sair ao encontro do socialismo e congraçar-se com
ele a meio caminho? Não falta quem se deixe levar da esperança de atrair por
este modo os socialistas. Esperança vã! Quem quer ser apóstolo entre os
socialistas, é preciso que professe franca e lealmente toda a verdade cristã, e
que de nenhum modo feche os olhos ao erro. Esforcem-se antes, se querem ser
verdadeiros arautos do Evangelho, por mostrar aos socialistas, que as suas
reclamações, na parte que têm de justas, se defendem muito mais vigorosamente
com os princípios da fé e se promovem muito mais eficazmente com as forças da
caridade.
Contrasta com a doutrina
católica
E
se o socialismo estiver realmente tão moderado no tocante à luta de classes e à
propriedade particular, que já não mereça nisto a mínima censura? Terá
renunciado por isso à sua natureza essencialmente anticristã? Eis uma dúvida,
que a muitos traz suspensos. Muitíssimos católicos convencidos de que os princípios
cristãos não podem jamais abandonar-se nem obliterar-se, volvem os olhos para
esta Santa Sé e suplicam instantemente, que definamos se este socialismo
repudiou de tal maneira as suas falsas doutrinas, que já se possa abraçar e
quase baptizar, sem prejuízo de nenhum princípio cristão. Para lhes
respondermos, como pede a Nossa paterna solicitude, declaramos: O socialismo
quer se considere como doutrina, quer como facto histórico, ou como “acção“, se
é verdadeiro socialismo, mesmo depois de se aproximar da verdade e da justiça
nos pontos sobreditos, não pode conciliar-se com a doutrina católica; pois
concebe a sociedade de modo completamente avesso à verdade cristã.
Com
efeito: segundo a doutrina cristã o homem sociável por natureza é colocado
nesta terra, para que, vivendo em sociedade e sob a autoridade ordenada por
Deus, 54 cultive e
desenvolva plenamente todas as suas faculdades, para louvor e glória do
Criador, e pelo fiel cumprimento dos deveres da sua profissão ou vocação,
qualquer que ela seja, granjeie a felicidade temporal e eterna. Ora o
socialismo, ignorando por completo ou desprezando este fim sublime dos
indivíduos e da sociedade, opina que o consórcio humano foi instituído só pela
vantagem material que oferece. E na verdade do facto que o trabalho
convenientemente organizado é muito mais produtivo que os esforços isolados, os
socialistas concluem, que a actividade económica deve necessariamente revestir
uma forma social. Desta necessidade segue-se, segundo eles, que os homens por
amor da produção são obrigados a entregar-se e sujeitar-se completamente à
sociedade. Mais: estimam tanto os bens materiais, que servem à comodidade da
vida, que afirmam deverem pospor-se e mesmo sacrificar-se quaisquer outros bens
superiores e em particular a liberdade às exigências de uma produção
activíssima. Esta perda da dignidade humana, inevitável no sistema da produção “socializada“,
julgam-na bem compensada com a abundância dos bens que, produzidos socialmente,
serão distribuídos pelos indivíduos, e estes poderão livremente aplicar a uma
vida mais cómoda e faustosa. Em consequência a sociedade sonhada pelo
socialismo não pode existir nem conceber-se sem manifestas violências; por
outra parte goza de uma liberdade não menos falsa, pois carece de verdadeira autoridade
social; esta não pode fundar-se nos cómodos materiais, mas provém somente de
Deus Criador e fim último de todas as coisas. 55
Católicos e socialistas
termos contraditórios
E
se este erro, como todos os mais, encerra algo de verdade, o que os Sumos
Pontífices nunca negaram, funda-se contudo numa própria concepção da sociedade
humana, diametralmente oposta à verdadeira doutrina católica. Socialismo
religioso, socialismo católico são termos contraditórios: ninguém pode ser ao
mesmo tempo bom católico e verdadeiro socialista.
Socialismo educador
Estas
doutrinas que Nós de novo com a Nossa suprema autoridade solenemente declaramos
e confirmamos, devem aplicar-se também a um novo sistema de socialismo prático,
ainda mal conhecido, mas que se vai propagando nos meios socialistas. Propõe-se
ele a formação das inteligências e dos costumes; e ainda que se faz particular
amigo da infância e procura aliciá-la, abraça todas as idades e condições, para
formar o homem “socialista “que há-de constituir mais tarde a sociedade humana
plasmada pelo ideal do socialismo.
Na
Nossa Encíclica Divini illius Magistri
ensinámos desenvolvidamente os princípios, em que se funda, os fins, a que se
dirige a pedagogia cristã. 56
Quão contrários lhes sejam a teoria e a prática do socialismo educador, é tão
claro e evidente, que é inútil insistir. Parecem porém ignorar ou não ter na
devida conta os gravíssimos e funestos perigos deste socialismo, os que não
tratam de lhe resistir forte e energicamente, como o pede a gravidade das
circunstâncias. É dever do Nosso múnus pastoral chamar-lhes a atenção para a
gravidade e eminência do perigo: lembrem-se todos, que deste socialismo
educador foi pai o liberalismo, será herdeiro legítimo o bolchevismo.
Católicos desertores nos
arraiais socialistas
Posto
isto, compreendeis facilmente, veneráveis Irmãos, com quanta dor vemos em
algumas regiões não poucos dos Nossos filhos, de cuja fé e boa vontade não
queremos duvidar, desertar dos arraiais da Igreja e passar às fileiras do
socialismo; uns ostentando abertamente o nome e professando as doutrinas
socialistas, outros indiferentes ou talvez forçados entrando em associações,
que teórica ou praticamente professam o socialismo.
Ora
Nós com paterna solicitude ansiosamente vamos considerando e indagando como foi
possível, que chegassem a tal aberração; e parece-Nos ouvir a resposta, com que
muitos se escusam: a Igreja e todos os que se lhe proclamam obedientes,
favorecem os ricos, desprezam os operários, nem têm deles o mínimo cuidado; por
isso é que se viram na necessidade de se inscrever no socialismo para
salvaguardar os próprios interesses.
É
muito para lamentar, veneráveis Irmãos, que houvesse um tempo e haja ainda
quem, dizendo-se católico, apenas se lembra da sublime lei da justiça, e
caridade, que nos obriga não só a dar a cada um o que lhe pertence, mas também
a socorrer os pobres, nossos irmãos, como ao próprio Jesus Cristo; 57 quem não teme oprimir os operários por
cobiça de sórdido lucro e, o que é mais grave, quem abusa da própria religião
para paliar as suas iníquas extorsões e defender-se contra as justíssimas
reclamações dos operários. Por Nossa parte não deixaremos nunca de censurar
severamente um tal proceder; são eles os culpados de a Igreja se ver
injustamente - mas com certa aparência de verdade - acusada de patrocinar a
causa dos ricos, e de não se compadecer das necessidades e angústias dos
pobres, defraudados da sua parte de bem-estar nesta vida. Aparências infundadas
e acusações caluniosas, como demonstra toda a história da Igreja. Bastava a
encíclica, cujo quadragésimo aniversário celebramos, para provar exuberante
mente, que, só com a maior das injustiças, se podem assacar à Igreja tais
calúnias e contumélias.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
___________________________________
Notas:
53
Encícl. Rerum novarum, n. 15.
54
Cfr. Rom., 13, 1.
55
Cfr. Encícl. Diuturnum, 29 de Junho de 1881.
56
Encícl. Divini illius Magistri, 31 de Dezembro de 1929.
57 Cfr. Jac., 2.
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