Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Lc 10, 21-37
21
Naquela mesma hora Jesus exultou de alegria no Espírito Santo, e disse: «Graças
Te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos
sábios e aos prudentes, e as revelaste aos simples. Assim é, ó Pai, porque
assim foi do Teu agrado. 22 Todas as coisas Me foram entregues por
Meu Pai; e ninguém sabe quem é o Filho, senão o Pai, nem quem é o Pai, senão o
Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar». 23 Depois, tendo-Se
voltado para os discípulos, disse: «Felizes os olhos que vêem o que vós vedes. 24
Porque Eu vos afirmo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes e
não o viram, ouvir o que vós ouvis e não o ouviram». 25 Eis que se levantou um doutor
da lei, e disse-Lhe para o experimentar: «Mestre, que devo eu fazer para
alcançar a vida eterna?». 26 Jesus respondeu-lhe: «O que é que está
escrito na Lei? Como lês tu?». 27 Ele respondeu: «Amarás o Senhor
teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças
e com todo o teu entendimento, e o teu próximo como a ti mesmo». 28
Jesus disse-lhe: «Respondeste bem: faz isso e viverás». 29 Mas ele,
querendo justificar-se, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?». 30
Jesus, retomando a palavra, disse: «Um homem descia de Jerusalém para Jericó, e
caiu nas mãos dos ladrões, que o despojaram, o espancaram e retiraram-se,
deixando-o meio morto. 31 Ora aconteceu que descia pelo mesmo caminho
um sacerdote que, quando o viu, passou de largo. 32 Igualmente um
levita, chegando perto daquele lugar e vendo-o, passou adiante. 33
Um samaritano, porém, que ia de viagem, chegou perto dele e, quando o viu,
encheu-se de compaixão. 34 Aproximou-se, ligou-lhe as feridas,
deitando nelas azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu jumento, levou-o a uma
estalagem e cuidou dele. 35 No dia seguinte tirou dois denários,
deu-os ao estalajadeiro e disse-lhe: Cuida dele; quanto gastares a mais, eu to
pagarei quando voltar. 36 Qual destes três te parece que foi o
próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões?». 37 Ele respondeu:
«O que usou de misericórdia com ele». Então Jesus disse-lhe: «Vai e faz tu o
mesmo».
CARTA ENCÍCLICA
QUADRAGESIMO ANNO
DE SUA SANTIDADE
PAPA PIO XI
SOBRE A RESTAURAÇÃO
E APERFEIÇOAMENTO
DA ORDEM SOCIAL
EM CONFORMIDADE COM
A LEI EVANGÉLICA NO XL ANIVERSÁRIO
DA ENCÍCLICA DE LEÃO XIII “RERUM NOVARUM”
AOS
VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS, BISPOS E MAIS ORDINÁRIOS EM
PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA, BEM COMO A TODOS OS FIÉIS DO ORBE CATÓLICO
Veneráveis
Irmãos e Amados Filhos Saúde e Bênção Apostólica
No
40º aniversário da magistral encíclica de Leão XIII “Rerum novarum”, todo o orbe católico, movido dos sentimentos da
mais viva gratidão, propõe-se comemorá-la com a devida solenidade.
A Encíclica “Rerum novarum”
Já
antes, de certo modo, haviam preparado o caminho àquele documento de solicitude
pastoral, as encíclicas do mesmo Nosso Predecessor sobre o princípio da
sociedade humana que é a família e o santo sacramento do Matrimónio, 1 sobre a origem da autoridade civil, 2 e a devida ordem das suas relações com a
Igreja, 3 sobre os
principais deveres dos fiéis como cidadãos, 4
contra os princípios do socialismo, 5
contra as falsas teorias da liberdade humana, 6 e outras do mesmo género que plenamente
revelaram o modo de pensar de Leão XIII; contudo a Encíclica Rerum novarum distingue-se das demais
por ter dado a todo o género humano regras seguríssimas para a boa solução do
espinhoso problema do consórcio humano, a chamada “Questão social”,
precisamente quando isso mais oportuno e necessário era.
Sua ocasião
Com
efeito ao fim do século XIX, em consequência de um novo género de economia, que
se ia formando, e dos grandes progressos da indústria em muitas nações,
aparecia a sociedade cada vez mais dividida em duas classes: das quais uma,
pequena em número, gozava de quase todas as comodidades que as invenções modernas
fornecem em abundância; ao passo que a outra, composta de uma multidão imensa
de operários, a gemer na mais calamitosa miséria, debalde se esforçava por sair
da penúria, em que se debatia.
Com
tal estado de coisas facilmente se resignavam os que, nadando em riquezas, o
supunham efeito inevitável das leis económicas, e por isso queriam que se
deixasse à caridade todo o cuidado de socorrer os miseráveis; como se a
caridade houvesse de capear as violações da justiça, não só toleradas, mas por
vezes até impostas pelos legisladores. Ao contrário só a duras penas o
toleravam os operários, vítimas da fortuna adversa, e tentavam sacudir o jugo
duríssimo: uns, levados na fúria de maus conselhos, aspiravam a tudo subverter,
os outros, a quem a educação cristã demovia desses maus intentos, estavam
contudo firmemente convencidos de que nesta matéria era necessária uma reforma
urgente e radical.
O
mesmo pensavam todos os católicos, sacerdotes ou leigos, que, impelidos por uma
caridade admirável, já de há muito trabalhavam em aliviar a miséria imerecida
dos operários, não podendo de modo nenhum persuadir-se de que uma diferença tão
grande e tão iníqua na distribuição dos bens temporais correspondesse
verdadeiramente aos desígnios sapientíssimos do Criador.
Procuravam
eles com toda a lealdade um remédio eficaz para esta lamentável desordem da
sociedade e uma firme defesa contra os perigos ainda maiores que a ameaçavam;
mas tal é a fraqueza mesmo das melhores inteligências humanas, que ora se viam
repelidos como inovadores perigosos, ora obstaculizados por companheiros de
acção mas de ideais diversos: e assim hesitantes entre várias opiniões, nem
sabiam para onde voltar-se.
No
meio de tão grande luta de espíritos, quando de uma parte e doutra ferviam
disputas nem sempre pacíficas, todos os olhos se volviam, como tantas outras
vezes, para a cátedra de Pedro, para este depósito sagrado de toda a verdade,
donde se difundem pelo mundo inteiro palavras de salvação; e todos, sociólogos,
patrões, operários, acorrendo com frequência desusada aos pés do Vigário de
Cristo na terra, suplicavam a uma voz que se lhes indicasse enfim o caminho
seguro.
Prudentíssimo
como era o Pontífice, tudo ponderou longamente diante de Deus, chamou a
conselho homens de reconhecida ciência, pesou bem as razões por uma parte e
outra, e finalmente movido “pela consciência do múnus Apostólico“, 7 para que não parecesse, que descurava os
seus deveres calando por mais tempo, 8
decidiu-se a falar a toda a Igreja de Cristo, antes a todo o género humano, no
exercício do magistério divino a ele confiado.
Ressoou
por tanto no dia 15 de Maio de 1891 aquela voz há tanto suspirada, ressoou
robusta e clara, sem que a intimidassem as dificuldades, nem a enfraquecesse a
velhice, e ensinou à família humana, a empreender novos caminhos no terreno
social.
Tópicos principais
Conheceis,
veneráveis Irmãos e amados Filhos, e sabeis perfeitamente a admirável doutrina,
que tornou a Encíclica Rerum novarum digna
de eterna memória. Nela o bom Pastor, condoído ao ver “a miserável e desgraçada
condição, em que injustamente viviam “tão grande parte dos homens, tomou
animoso a defesa dos operários, que “as condições do tempo tinham entregado e
abandonado indefesos à crueldade de patrões desumanos e à cobiça de uma
concorrência desenfreada “.9
Não pediu auxílio nem ao liberalismo nem ao socialismo, pois que o primeiro se
tinha mostrado de todo incapaz de resolver convenientemente a questão social, e
o segundo propunha um remédio muito pior que o mal, que lançaria a sociedade em
perigos mais funestos.
O
Pontífice no uso do seu direito e convencido de que a ele principalmente fora
confiada a salvaguarda da religião e de tudo o que com ela está estreitamente
vinculado, pois se tratava de um problema “a que não se podia encontrar solução
plausível sem o auxílio da religião e da Igreja“, 10 apoiando-se unicamente nos princípios
imutáveis tirados do tesoiro da recta razão e da revelação divina,
confiadamente e “como quem tinha autoridade“, 11 expôs com inexcedível clareza e proclamou
não só “os direitos e os deveres que devem reger as relações mútuas dos ricos e
dos proletários, dos capitalistas e dos trabalhadores “, 12 mas também a parte que deviam tomar a
Igreja, a autoridade civil e os próprios interessados na solução dos conflitos
sociais.
Nem
a voz Apostólica ressoou debalde; antes, com assombro a ouviram e a aplaudiram
com suma benevolência, além dos filhos obedientes da Igreja, muitos dos que
viviam longe da verdade e da unidade da fé e quase todos os que depois se
ocuparam de sociologia e economia tanto no estudo teórico como na pública
legislação.
Foram
porém os operários cristãos os que com maior alegria acolheram a encíclica ao
verem-se assim vingados e defendidos pela suprema Autoridade da terra e com
eles todas as almas generosas, que, já de há muito empenhadas em aliviar a
sorte dos operários, não tinham encontrado senão indiferença em muitos,
suspeitas odientas e até manifesta hostilidade em muitos outros. E é por isso
que todos estes tiveram depois em tanta estima aquelas letras Apostólicas, que
todos os anos costumam celebrar-lhe a memória com demonstrações de gratidão
diversas nas diversas terras.
No
meio de tanta harmonia de sentimentos não faltaram vozes discordantes de
alguns, mesmo de católicos, a quem a doutrina de Leão XIII, tão nobre e
elevada, tão nova para ouvidos humanos pareceu suspeita e até escandalizou. Ela
assaltava ousadamente e derribava os ídolos do liberalismo, não fazia caso de
preconceitos inveterados, prevenia inopinadamente o futuro: por muito que os
rotineiros desdenhassem aprender esta nova filosofia social e os tímidos
receassem subir a tais alturas, ao passo que outros, admirando aquela luz, a
reputavam perfeição ideal, mais para desejar que para realizar?
Fim da presente Encíclica
Por
isso é que Nós, veneráveis Irmãos e amados Filhos, agora que todo o mundo e
sobretudo os operários católicos, que de toda a parte acodem a esta Alma
Cidade, comemoram com tanta solenidade e entusiasmo o quadragésimo aniversário
da Encíclica Rerum novarum, julgamos
dever Nosso aproveitar esta ocasião para recordar os grandes benefícios que
dela advieram à Igreja católica e a toda a humanidade; defender a doutrina
social e económica de tão grande Mestre satisfazendo algumas dúvidas,
desenvolvendo mais e precisando alguns pontos; finalmente, chamando a juízo o
regime económico moderno e instaurando processo ao socialismo, apontar a raiz
do mal-estar da sociedade contemporânea e mostrar-lhe ao mesmo tempo a única
via de uma restauração salutar, que é a reforma cristã dos costumes. Eis os
três pontos da presente encíclica.
I. BENEFÍCIOS DA “RERUM
NOVARUM “
Para
começarmos pelo que em primeiro lugar propusemos, seguindo a advertência de S.
Ambrósio, 13 que a gratidão é o
primeiro e mais imperioso dos deveres, não podemos conter-Nos que não demos a
Deus as maiores acções de graças pelos imensos benefícios que da encíclica de
Leão XIII advieram à Igreja e a todo o género humano. Se Nós os quiséramos
enumerar, mesmo de passagem, deveríamos por assim dizer, recordar toda a
história dos últimos quarenta anos, na parte relativa à questão social. Mas
tudo se pode reduzir a três pontos, conforme ao tríplice concurso que o Nosso
Predecessor desejava, para poder levar a efeito a sua obra grandiosa de
restauração.
1. - ACÇÃO DA IGREJA
Em
primeiro lugar o que da Igreja se podia esperar, declarou-o eloquentemente o
mesmo Leão XIII: “A Igreja é a que aufere do Evangelho a única doutrina capaz
de pôr termo à luta, ou, ao menos, de a suavizar, tirando-lhe toda a aspereza;
é ela que com seus preceitos instrui as inteligências e se esforça por
moralizar a vida dos indivíduos; que com utilíssimas instituições melhora
continuamente a sorte dos proletários“. 14
a No campo doutrinal
Ora
a Igreja não deixou estagnar no seu seio esta linfa preciosa, antes a fez
correr em abundância para o bem comum da suspirada paz. O próprio Leão XIII e
seus Sucessores não cessaram de proclamar de viva voz e por escrito a doutrina
social e económica da Encíclica Rerum novarum“, urgindo-a e aplicando-a segundo
a ocasião às circunstâncias de tempo e lugar, com aquela caridade paterna e constância
pastoral, que sempre os distinguiu na defesa dos pobres e desvalidos. 15 Nem foi outro o proceder de grande parte
do Episcopado, que com assiduidade e maestria declarou e comentou a mesma
doutrina, adaptando-a às condições dos diversos países, segundo a mente e as
directivas da Santa Sé. 16
Não
é pois de admirar, que muitos sábios, quer eclesiásticos quer leigos, se
aplicassem diligentemente, seguindo a orientação dada pela Igreja, a
desenvolver a ciência social e económica, conforme às exigências do nosso
tempo, levados sobretudo pelo desejo de tornar a doutrina inalterada e
inalterável da Igreja mais eficaz para remediar as necessidades modernas.
Foi
assim que à luz e sob o impulso da encíclica de Leão XIII nasceu uma verdadeira
ciência social católica, cultivada e enriquecida continuamente pela indefessa
aplicação daqueles varões escolhidos, que chamámos cooperadores da Igreja. Nem
eles a deixam escondida na sombra de simples discussões eruditas, mas expõem-na
à luz do sol em palestras públicas, como o demonstram exuberantemente os cursos,
tão úteis e tão frequentados, instituídos nas universidades católicas,
academias e seminários, os congressos ou “semanas sociais“ celebrados
frequentemente e com grande fruto, os círculos de estudos, os escritos repletos
de oportuna e sã doutrina, por toda a parte e por todos os modos divulgados.
E
não são estes apenas os frutos do documento Leoniano: a doutrina ensinada na Encíclica
Rerum novarum impôs-se insensivelmente à atenção daqueles mesmos que, separados
da unidade católica, não reconhecem a autoridade da Igreja ; e assim os
princípios de sociologia católica entraram pouco a pouco no património de toda
a sociedade humana; e as verdades eternas, tão altamente proclamadas pela santa
memória do Nosso Predecessor, vemo-las frequentemente citadas e defendidas não
só em jornais e livros mesmo acatólicos, mas até nos parlamentos e tribunais.
E
quando após a grande guerra os governantes das principais potências, trataram
de restabelecer a paz sobre as bases de uma completa renovação social, entre as
leis, feitas para regular o trabalho dos operários segundo a justiça e a
equidade, decretaram muitas tão conformes com os princípios e directivas de
Leão XIII, que parecem intencionalmente copiadas. É que a Encíclica Rerum
novarum é um documento tão notável, que bem se pode dizer com palavras de
Isaias: “Estandarte arvorado à face das nações “! 17
b Na prática
Assim
se iam divulgando cada vez mais à luz das investigações científicas os
preceitos de Leão XIII; ao mesmo tempo passava-se à sua aplicação prática. E
primeiramente com actividade e benevolência fizeram-se todos os esforços para
elevar aquela classe, que os recentes progressos da indústria tinham aumentado
desmedidamente sem lhe darem na sociedade o lugar que lhe competia, e que por
isso jazia em quase completa desconsideração e abandono: falamos dos operários,
a cuja cultura, zelosos sacerdotes de um e outro clero, apesar de
sobrecarregados com outros cuidados pastorais, se aplicaram desde logo, sob a guia
dos respectivos Prelados e com grande fruto daquelas almas. Este trabalho
constante para embeber de espírito cristão as almas dos operários contribuiu
também muitíssimo para lhes dar a verdadeira consciência da própria dignidade,
e para os habilitar, pela compreensão clara dos direitos e deveres da sua classe,
a progredir honrada e felizmente no campo social e económico, a ponto de
servirem de guias aos outros.
Daqui
os meios de subsistência melhor assegurados e em maior cópia: por quanto não só
começaram a multiplicar-se segundo as exortações do grande Pontífice as obras
de caridade e beneficência, mas também foram surgindo por toda a parte e cada
vez mais numerosas as associações de mútuo socorro para operários, artistas,
agricultores e jornaleiros de toda a espécie, fundadas segundo os conselhos e
directivas da Igreja e ordinariamente sob a direcção do clero.
2. - ACÇÃO DA AUTORIDADE
CIVIL
Quanto
à autoridade civil, Leão XIII, ultrapassando com audácia os confins impostos
pelo liberalismo, ensina impertérrito, que ela não deve limitar-se a tutelar os
direitos e a ordem pública, mas antes fazer o possível “para que as leis e
instituições sejam tais... , que da própria organização do Estado dimane
espontaneamente a prosperidade da nação e dos indivíduos“. 18 Deve, sim, deixar-se tanto aos
particulares como às famílias a justa liberdade de acção, mas contanto que se
salve o bem comum e não se faça injúria a ninguém. Aos governantes compete
defender toda a nação e os membros que a constituem, tendo sempre cuidado
especial pelos fracos e deserdados da fortuna ao proteger os direitos dos
particulares. “Por quanto a classe abastada, munida dos seus próprios recursos,
carece menos do auxílio público; pelo contrário a classe indigente, desprovida
de meios pessoais, esteia-se sobre tudo na protecção do Estado. Por conseguinte
deve ele atender com particular cuidado e providência aos operários, visto
serem eles do número da classe pobre“. 19
Não
negamos que alguns governantes, já antes da encíclica de Leão XIII, tivessem
provido às necessidades mais urgentes dos obreiros e reprimido as injustiças de
maior vulto feitas a estes. Mas foi só depois que a palavra Apostólica ressoou
ao mundo inteiro desde a cátedra de Pedro, que os governos, capacitando-se mais
da sua missão, se aplicaram a desenvolver uma política social mais activa.
E
na verdade, em quanto vacilavam os princípios do liberalismo, que havia muito
paralisavam a obra eficaz dos governos, a Encíclica
Rerum novarum produziu no seio das nações uma grande corrente favorável a
uma política francamente social, e de tal modo excitou os melhores católicos a
cooperar com as autoridades, que não raro foram eles os defensores mais
ilustres da nova legislação nos próprios parlamentos. Mais ainda: foram
ministros da Igreja compenetrados da doutrina de Leão XIII que propuseram às
câmaras muitas das leis sociais recentemente promulgadas, e que depois mais urgiram
e promoveram a sua execução.
Deste
contínuo e indefesso trabalho nasceu aquela jurisprudência completamente desconhecida
nos séculos passados, que se propõe defender com ardor os sagrados direitos do
operário, provenientes da sua dignidade de homem e de cristão: de facto estas
leis protegem a alma, a saúde, as forças, a família, as casas, as oficinas, o
salário, abrangem os acidentes de trabalho, numa palavra, tudo aquilo que
interessa a classe trabalhadora, principalmente as mulheres e crianças. E se
uma tal legislação não condiz de todo nem em toda a parte com as normas de Leão
XIII, não se pode contudo negar haver nela muitas reminiscências da Encíclica Rerum novarum e que à mesma
por conseguinte se deve atribuir em grande parte a melhorada condição dos
operários.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
________________________________________________
Notas:
1
Encícl. Arcanum 10 de Fevereiro de 1880.
2
Encícl. Diuturnum 29 de Junho de 1881.
3
Encícl. Immortale Dei 1 de Novembro de 1885.
4
Encícl. Sapientiae christianae 10 de Janeiro de 1890.
5
Encícl. Quod apostolici muneris 28 de Dezembro de 1878.
6
Encícl. Libertas 20 de Junho de 1888.
7
Encícl. Rerum novarum, 15 de Maio de 1891, n. 1.
8
Cfr. Encícl. Rerum novarum, n. 13.
9
Encícl. Rerum novarum, n. 2.
10
Encícl. Rerum novarum, D. 13.
11
Mt., 7, 29.
12
Encícl. Rerum novarum, n. 1.
13
S. Ambrósio, de excessu fratris sui Satyri, I, 44.
14
Encícl. Rerum novarum, n. 13.
15
Baste mencionar: Leão XIII, Letras Apostólicas Praeclara 20 de Junho de 1894.
Leão XIII Graves de communi 18 de Janeiro de 1901. Pio X Motu proprio sobre a
Acção-popular cristã 8 de Dezembro de 1903. Bento XV, Enciclica Ad Beatissimi 1
de Novembro de 1914. Pio XI, Enciclica Ubi arcano 23 de Dezembro de 1922. Pio
XI, Enciclica Rite expiatis 30 de Abril de 1926.
16
Cfr. La Hierarchie Catholique et le Problème social depuis l'Encyclique “Rerum
novarum “1891-1931, pp. xv1-335, publicado pela “Union internationale d'études
sociales fondée à Malines, en 1920, sons la présidence du Card. Mercier “.
Paris, éditions Spes “, 1931.
17
Cfr. Is. 11, 12.
18
Encícl. Rerum novarum, n. 25.
19
Encícl. Rerum novarum, n. 29.
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