14/09/2012

Evangelho do dia e comentário






        T. Comum – XXIII Semana


Exaltação da Santa Cruz

Evangelho: Jo 3, 13-17

13 Ninguém subiu ao céu, senão Aquele que desceu do céu, o Filho do Homem, que está no céu. 14 E como Moisés levantou no deserto a serpente, assim também importa que seja levantado o Filho do Homem, 15 a fim de que todo o que crê n'Ele tenha a vida eterna. 16 «Porque Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu Seu Filho Unigénito, para que todo aquele que crê n'Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. 17 Porque Deus não enviou Seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele.

Comentário:

O poder da Cruz.
Segurando o livro aberto na estampa do Crucificado, o ditador africano pergunta:

- Quem é Este?

O médico irlandês explica:

- Esse é um dos homens mais importantes do mundo. Chama-se Cristo. É o Rei dos Reis.

O gigante admira-se:

- Como é isso? Então um Rei tão poderoso é assim crucificado?! E os seus exércitos?

As explicações não parecem convencê-lo:

- Foi traído pelos seus; não tinha exércitos mas sim um grupo de seguidores. Hoje em dia, são milhões...

Na sua mente as coisas do espírito têm um lugar muito, muito modesto. A vida é o que é: dominar os outros para mandar, para sobreviver; luta e agressividade constantes.
O contrário é ser dominado, escravizado, muito provavelmente, morto.
Por isso, baseado na força, no prestígio, na astúcia, ele detém sobre os seus súbditos um poder total, de vida e de morte, poder que ele exerce por necessidade, para que todos saibam inequivocamente quem é o chefe.
Não lhe interessa ser amado, só lhe convém ser temido.

Isto ter-se-á passado em princípios do século passado.
O ambiente é de violência, superstição, desconhecimento, falta de comunicação; os povos vivem quase isolados, dependendo de si mesmos, numa organização social copiada do reino animal: os mais fortes e aptos governam e conduzem os seus semelhantes. Como entre os animais, as suas lutas quase nunca vertem sangue, rarissimamente provocam a morte; ele, Shaka, tinha introduzido algo de novo: a morte violenta, sempre que possível, a estratégia do combate demolidor, a luta sem piedade.

Estes são os seus valores, por isso é efectivamente rei e poderoso.

É de presumir que não teria um fim brilhante o médico irlandês, se respondesse ao Shaka com desprezo, afirmando-lhe que estava enganado e que não passava de um assassino, um homem violento, um luxurioso, enfim, a própria personificação do mal.
É provável que o fizesse já que há gerações que a intolerância, sobretudo religiosa, é exacerbada entre o seu povo; não o terá feito... por medo; é que o Shaka estava ali, à sua frente, rodeado do seu ferocíssimo exército, emanando todo o seu enormíssimo poder. Por isso procura no seu íntimo, nos seus conhecimentos, as palavras, as ideias que possam avalizar suficientemente a sua verdade, a sua Fé.
O Shaka, nada faz contra ele. (…)
O Shaka não troçou de Cristo, não compreendeu e, como tal, não aceitou a excelência dessa religião que aquele estrangeiro lhe apresentava.
Na sua simples natureza, o Shaka sabia que o homem foi criado por Deus e tende naturalmente para Deus, ou seja, o princípio e o fim de todas as coisas.
Procura Deus na forma que sabe ou lhe é possível, pelo conhecimento, pela tradição, pelo conjunto de valores que enformam a sua razão.
É lícito e bom tentar conduzir o homem pelos caminhos que julgamos verdadeiros e certos pela luz das nossas convicções, pelo brilho da nossa Fé.

Por isso, o Shaka, não se ofende.
Estranha e é tudo, nem sequer mostra muito desdém, limita-se a estabelecer comparações naquilo que é visível, que é palpável, que é o que lhe interessa.
Porque o Shaka tem, indiscutivelmente, uma força interior que construiu ao longo dos anos, tornando-se ele próprio prisioneiro de um esquema pessoal.

(ama, Excertos de um artigo publicado no ‘Comércio do Porto’ em Abril de 89 a propósito de uma série de televisão ‘SHAKA ZULU’)

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