Questão 79: Das potências
intelectivas.
Art. 11 ― Se o intelecto especulativo
e o prático são potências diferentes.
(III
Sent., dist. XXIII, q.2, a. 3, qª 2; De Verit., q. 3, a. 3; VI Ethic., lect.
II; III De Anima, lect. XV).
O
undécimo discute-se assim. ― Parece que o intelecto especulativo e o prático
são potências diferentes.
1.
― Pois, o apreensivo e o motivo são géneros diferentes de potências, como se vê
em Aristóteles. Ora, o intelecto especulativo é somente apreensivo, ao passo
que o prático é motivo. Logo, são potências diferentes.
2.
Demais. ― Os aspectos diversos do objecto diversificam as potências. Ora, ao
passo que o objecto do intelecto especulativo é a verdade, o do prático, é o
bem; e ambos esses objetos diferem essencialmente. Logo, o intelecto
especulativo e o prático são potências diferentes.
3.
Demais. ― Na parte intelectiva, o intelecto prático está para o especulativo,
como a estimativa para a imaginativa, na parte sensitiva. Ora, a estimativa
difere da imaginativa como uma potência de outra, como se disse antes (q.
78, a. 4). Logo, também o intelecto prático, do especulativo.
Mas,
em contrário, como diz Aristóteles, o intelecto especulativo, por extensão,
torna-se prático. Ora, uma potência não se muda em outra. Logo, o intelecto
especulativo e o prático não são potências diferentes.
O intelecto prático e o especulativo não são potências diferentes. E a razão
é que, como já se disse antes (q. 77, a. 3), o acidental, em relação
ao aspecto do objecto a que se refere uma potência, não diversifica esta.
Assim, é acidental ao colorido ser homem, grande ou pequeno; por isso, tais acidentes
são apreendidos pela mesma potência visual. Ora, é acidental ao que é
apreendido pelo intelecto ser ou não ordenado à operação. E nisto está a diferença
entre o intelecto especulativo e o prático; o que aquele apreende não se ordena
à operação, mas só à consideração da verdade; ao passo que, o apreendido, por
este se ordena à operação. E, por isso, o Filósofo diz que o fim especulativo
difere do prático; donde, denominados pelos seus fins, um chama-se intelecto
especulativo; o outro, prático, isto é, operativo.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― O intelecto prático é motivo, não por executar
o movimento, mas porque dirige para o movimento. O que lhe convém, segundo o
modo da sua apreensão.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― A verdade e o bem incluem-se um no outro. Pois, a verdade é um
certo bem, do contrário não seria desejável; e o bem é uma certa verdade, do
contrário não seria inteligível. Portanto, assim como objecto do apetite pode
ser o verdadeiro, sob o aspecto de bom, como p. ex., quando alguém deseja
conhecer a verdade; assim também o objecto do intelecto prático é o bem que se
ordena à operação, sob o aspecto de verdadeiro. Pois, o intelecto prático, como
o especulativo, conhece a verdade, mas ordenando a verdade conhecida para a
operação.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Há muitas diferenças que diferenciam as potências sensitivas, e
que não diferenciam as intelectivas, como já se disse antes (a. 7, ad 2;
q. 77, a. 3 ad 4).
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