Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho:
Mc 5, 21-43
21 Tendo
Jesus passado novamente na barca para a outra margem, acorreu a Ele muita gente,
e Ele estava junto do mar. 22 Chegou um dos chefes da sinagoga,
chamado Jairo, que, vendo-O, lançou-se a Seus pés, 23 e
suplicava-Lhe com insistência: «Minha filha está nas últimas; vem, impõe sobre
ela as mãos, para que seja salva e viva». 24 Jesus foi com ele; e
uma grande multidão O seguia e O apertava. 25 Então, uma mulher que
havia doze anos padecia um fluxo de sangue, 26 e tinha sofrido muito
de muitos médicos, e gastara tudo quanto possuía, sem ter sentido melhoras,
antes cada vez se achava pior, 27 tendo ouvido falar de Jesus, foi
por detrás entre a multidão e tocou o Seu manto. 28 Porque dizia:
«Se eu tocar, ainda que seja só o Seu manto, ficarei curada». 29
Imediatamente parou o fluxo de sangue e sentiu no seu corpo estar curada do
mal. 30 Jesus, conhecendo logo em Si mesmo a força que saíra d'Ele,
voltado para a multidão, disse: «Quem tocou os Meus vestidos?». 31
Os Seus discípulos responderam: «Tu vês que a multidão Te comprime, e
perguntas: “Quem Me tocou?”». 32 E Jesus olhava em volta para ver
quem tinha feito aquilo. 33 Então a mulher, que sabia o que se tinha
passado nela, cheia de medo e a tremer, foi prostrar-se diante d'Ele, e
disse-Lhe toda a verdade. 34 Jesus disse-lhe: «Filha, a tua fé te
salvou; vai em paz e fica curada do teu mal». 35 Ainda Ele falava,
quando chegaram da casa do chefe da sinagoga, dizendo: «Tua filha morreu; para
que incomodar mais o Mestre?». 36 Porém, Jesus, tendo ouvido o que
eles diziam, disse ao chefe da sinagoga: «Não temas; crê somente». 37
E não permitiu que ninguém O acompanhasse, senão Pedro, Tiago e João, irmão de
Tiago. 38 Ao chegarem a casa do chefe da sinagoga, viu Jesus o
alvoroço e os que estavam a chorar e a gritar. 39 Tendo entrado,
disse-lhes: «Porque vos perturbais e chorais? A menina não está morta, mas
dorme». 40 E troçavam d'Ele. Mas Ele, tendo feito sair todos, tomou
o pai e a mãe da menina e os que O acompanhavam, e entrou onde a menina estava
deitada. 41 Tomando a mão da menina, disse-lhe: «Talitha kum», que
quer dizer: «Menina, Eu te mando, levanta-te». 42 A menina
imediatamente levantou-se e andava, pois tinha já doze anos. Ficaram cheios de
grande espanto. 43 Jesus ordenou-lhes com insistência que ninguém o
soubesse. Depois disse que dessem de comer à menina.
CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA
LUMEN GENTIUM
SOBRE A IGREJA
CAPÍTULO I
O MISTÉRIO DA IGREJA
Objecto da Constituição: a Igreja como sacramento.
1. A luz dos povos é Cristo:
por isso, este sagrado Concílio, reunido no Espírito Santo, deseja ardentemente
iluminar com a Sua luz, que resplandece no rosto da Igreja, todos os homens,
anunciando o Evangelho a toda a criatura (cfr. Mc 16,15). Mas porque
a Igreja, em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da
íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano, pretende ela, na
sequência dos anteriores Concílios, pôr de manifesto com maior insistência, aos
fiéis e a todo o mundo, a sua natureza e missão universal. E as condições do
nosso tempo tornam ainda mais urgente este dever da Igreja, para que deste modo
os homens todos, hoje mais estreitamente ligados uns aos outros, pelos diversos
laços sociais, técnicos e culturais, alcancem também a plena unidade em Cristo.
A vontade salvífica do Pai
2. O Eterno Pai, pelo
libérrimo e insondável desígnio da Sua sabedoria e bondade, criou o universo,
decidiu elevar os homens à participação da vida divina e não os abandonou, uma
vez caídos em Adão, antes, em atenção a Cristo Redentor «que é a imagem de Deus
invisível, primogénito de toda a criação» (Col. 1,15) sempre lhes
concedeu os auxílios para se salvarem. Aos eleitos, o Pai, antes de todos os
séculos os «discerniu e predestinou para reproduzirem a imagem de Seu Filho, a
fim de que Ele seja o primogénito de uma multidão de irmãos» (Rom. 8,29).
E, aos que crêem em Cristo, decidiu chamá-los à santa Igreja, a qual,
prefigurada já desde o princípio do mundo e admiravelmente preparada na história
do povo de Israel e na Antiga Aliança [1], foi constituída no fim dos
tempos e manifestada pela efusão do Espírito, e será gloriosamente consumada no
fim dos séculos. Então, como se lê nos Santos Padres, todos os justos depois de
Adão, «desde o justo Abel até ao último eleito» [2], se reunirão em Igreja
universal junto do Pai.
Missão e obra do Filho: fundação da Igreja
3. Veio pois o Filho,
enviado pelo Pai, que n'Ele nos elegeu antes de criar o mundo, e nos
predestinou para sermos seus filhos de adopção, porque lhe aprouve reunir n'Ele
todas as coisas (cfr. Ef. 1, 4-5. 10). Por isso, Cristo, a fim de
cumprir a vontade do Pai, deu começo na terra ao Reino dos Céus e revelou-nos o
seu mistério, realizando, com a própria obediência, a redenção. A Igreja, ou seja,
o Reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo pelo
poder de Deus. Tal começo e crescimento exprimem-nos o sangue e a água que
manaram do lado aberto de Jesus crucificado (cfr. Jo 19,34), e pré-anunciam-nos
as palavras do Senhor acerca da Sua morte na cruz: «Quando Eu for elevado acima
da terra, atrairei todos a mim» (Jo 12,32 gr.). Sempre que no altar
se celebra o sacrifício da cruz, na qual «Cristo, nossa Páscoa, foi imolado» (1
Cor. 5,7), realiza-se também a obra da nossa redenção. Pelo sacramento do
pão eucarístico, ao mesmo tempo é representada e se realiza a unidade dos
fiéis, que constituem um só corpo em Cristo (cfr. 1 Cor. 10,17).
Todos os homens são chamados a esta união com Cristo, luz do mundo, do qual
vimos, por quem vivemos, e para o qual caminhamos.
O Espírito santificador e vivificador da Igreja
4. Consumada a obra que o
Pai confiou ao Filho para Ele cumprir na terra (cfr. Jo 17,4), foi
enviado o Espírito Santo no dia de Pentecostes, para que santificasse continuamente
a Igreja e deste modo os fiéis tivessem acesso ao Pai, por Cristo, num só
Espírito (cfr. Ef. 2,18). Ele é o Espírito de vida, ou a fonte de
água que jorra para a vida eterna (cfr. Jo 4,14; 7, 38-39); por quem
o Pai vivifica os homens mortos pelo pecado, até que ressuscite em Cristo os
seus corpos mortais (cfr. Rom. 8, 10-11). O Espírito habita na
Igreja e nos corações dos fiéis, como num templo (cfr. 1 Cor. 3,16; 6,19),
e dentro deles ora e dá testemunho da adopção de filhos (cfr. Gál. 4,6;
Rom. 8, 15-16. 26). A Igreja, que Ele conduz à verdade total (cfr. Jo
16,13) e unifica na comunhão e no ministério, enriquece-a Ele e guia-a
com diversos dons hierárquicos e carismáticos e adorna-a com os seus frutos (cfr.
Ef. 4, 11-12; 1 Cor. 12,4; Gál. 5,22). Pela força do Evangelho
rejuvenesce a Igreja e renova-a continuamente e leva-a à união perfeita com o
seu Esposo [3]. Porque o Espírito e a
Esposa dizem ao Senhor Jesus: «Vem» (cfr. Apoc. 22,17)!
Assim a Igreja toda aparece
como «um povo unido pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo [4].
O Reino de Deus
5. O mistério da santa
Igreja manifesta-se na sua fundação. O Senhor Jesus deu início à Sua Igreja
pregando a boa nova do advento do Reino de Deus prometido desde há séculos nas
Escrituras: «cumpriu-se o tempo, o Reino de Deus está próximo» (Mc 1,15;
cfr. Mt 4,17). Este Reino manifesta-se na palavra, nas obras e na
presença de Cristo. A palavra do Senhor compara-se à semente lançada ao campo (Mc
4,14): aqueles que a ouvem com fé e entram a fazer parte do pequeno
rebanho de Cristo (Lc 12,32), já receberam o Reino; depois, por
força própria, a semente germina e cresce até ao tempo da messe (cfr. Mc 4,
26-29). Também os milagres de Jesus comprovam que já chegou à terra o
Reino: «Se lanço fora os demónios com o poder de Deus, é que chegou a vós o
Reino de Deus» (Lc. 11,20; cfr. Mt 12,28). Mas este Reino
manifesta-se sobretudo na própria pessoa de Cristo, Filho de Deus e Filho do
homem, que veio «para servir e dar a sua vida em redenção por muitos» (Mt 10,45).
E quando Jesus, tendo
sofrido pelos homens a morte da cruz, ressuscitou, apareceu como Senhor e
Cristo e sacerdote eterno (cfr. Act. 2,36; Hebr. 5,6; 7, 17-21) e
derramou sobre os discípulos o Espírito prometido pelo Pai (cfr. Act.
2,33). Pelo que a Igreja, enriquecida com os dons do seu fundador e
guardando fielmente os seus preceitos de caridade, de humildade e de abnegação,
recebe a missão de anunciar e instaurar o Reino de Cristo e de Deus em todos os
povos e constitui o germe e o princípio deste mesmo Reino na terra. Enquanto
vai crescendo, suspira pela consumação do Reino e espera e deseja juntar-se ao
seu Rei na glória.
As figuras da Igreja
6. Assim como, no Antigo
Testamento, a revelação do Reino é muitas vezes apresentada em imagens, também
agora a natureza íntima da Igreja nos é dada a conhecer por diversas imagens
tiradas quer da vida pastoril ou agrícola, quer da construção ou também da
família e matrimónio, imagens que já se esboçam nos livros dos Profetas.
Assim a Igreja é o redil, cuja
única porta e necessário pastor é Cristo (Jo 10, 1-10). E também o
rebanho do qual o próprio Deus predisse que seria o pastor (cfr. Is.
40,11; Ez. 34,11 ss.), e cujas ovelhas, ainda que governadas por pastores
humanos, são contudo guiadas e alimentadas sem cessar pelo próprio Cristo, bom
pastor e príncipe dos pastores (cfr. Jo 10,11; 1 Ped. 5,4), o qual
deu a vida pelas suas ovelhas (cfr. Jo 10, 11-15).
A Igreja é a agricultura ou
o campo de Deus (1 Cor. 3,9). Nesse campo cresce a oliveira antiga
de que os patriarcas foram a raiz santa e na qual se realizou e realizará a
reconciliação de judeus e gentios (Rom. 11, 13-26). Ela foi plantada
pelo celeste agricultor como uma vinha eleita (Mt 21, 33-43 par.; Is. 5,1
ss.). A verdadeira videira é Cristo que dá vida e fecundidade aos
sarmentos, isto é, a nós que pela Igreja permanecemos n'Ele, sem o Ele nada
podemos fazer (Jo 15, 1-5).
A Igreja é também muitas
vezes chamada construção de Deus (1 Cor. 3,9). O próprio Senhor se
comparou à pedra que os construtores rejeitaram e se tornou pedra angular (Mt
21,42 par.; Act. 4,11; 1 Ped. 2,7; Salm. 117,22). Sobre esse fundamento é
a Igreja construída pelos Apóstolos (cfr. 1 Cor. 3,11), e d'Ele
recebe firmeza e coesão. Esta construção recebe vários nomes: casa de Deus (1
Tim. 3,15), na qual habita a Sua «família»; habitação de Deus no Espírito
(cfr. Ef. 2, 19-22); tabernáculo de Deus com os homens (Apoc.
21,3); e sobretudo «templo» santo, o qual, representado pelos santuários de
pedra e louvado pelos Santos Padres, é com razão comparado, na Liturgia, à
cidade santa, a nova Jerusalém [5]. Nela, com efeito, somos
edificados cá na terra como pedras vivas (cfr. 1 Ped. 2,5). Esta
cidade, S. João contemplou-a «descendo do céu, de Deus, na renovação do mundo,
como esposa adornada para ir ao encontro do esposo» (Apoc. 21,1 ss.).
A Igreja, chamada «Jerusalém
do alto» e «nossa mãe» (Gál. 4,26; cfr. Apoc. 12,17), é também
descrita como esposa imaculada do Cordeiro imaculado (Apoc. 19,7; 21,2. 9;
22,17), a qual Cristo gamou e por quem Se entregou, para a santificar» (Ef.
5, 25-26), uniu a Si por um indissolúvel vínculo, e sem cessar «alimenta
e conserva» (Ef. 5,29), a qual, purificada, quis unida a Si e
submissa no amor e fidelidade (cfr. Ef. 5,24), cumulando-a, por fim,
eternamente, de bens celestes; para que entendamos o amor de Deus e de Cristo
por nós, o qual ultrapassa toda a compreensão (cfr. Ef. 3,19).
Enquanto, na terra, a Igreja peregrina longe do Senhor (cfr. 2 Cor. 5, 6),
tem-se por exilada, buscando e saboreando as coisas do alto, onde Cristo está
sentado à direita de Deus, e onde a vida da Igreja está escondida com Cristo em
Deus, até que apareça com seu esposo na glória (Cfr. Col. 3, 1-4).
A Igreja, Corpo místico de Cristo
7. O filho de Deus,
vencendo, na natureza humana a Si unida, a morte, com a Sua morte e
ressurreição, remiu o homem e transformou-o em nova criatura (cfr. Gál.
6,15; 2 Cor. 5,17). Pois, comunicando o Seu Espírito, fez misteriosamente
de todos os Seus irmãos, chamados de entre todos os povos, como que o Seu
Corpo.
É nesse corpo que a vida de
Cristo se difunde nos que crêem, unidos de modo misterioso e real, por meio dos
sacramentos, a Cristo padecente e glorioso [6]. Com efeito, pelo Baptismo
somos assimilados a Cristo; «todos nós fomos baptizados no mesmo Espírito, para
formarmos um só corpo» (1 Cor. 12,13). Por este rito sagrado é
representada e realizada a união com a morte e ressurreição de Cristo: «fomos
sepultados, pois, com Ele, por meio do Baptismo, na morte»; se, porém, «nos
tornámos com Ele um mesmo ser orgânico por morte semelhante à Sua, por
semelhante ressurreição o seremos também (Rom. 6, 4-5). Ao
participar realmente do corpo do Senhor, na fracção do pão eucarístico, somos
elevados à comunhão com Ele e entre nós. «Porque há um só pão, nós, que somos
muitos, formamos um só corpo, visto participarmos todos do único pão» (1
Cor. 10,17). E deste modo nos tornamos todos membros desse corpo (cfr.
1 Cor. 12,27), sendo individualmente membros uns dos outros» (Rom.
12,5).
E assim como todos os
membros do corpo humano, apesar de serem muitos, formam no entanto um só corpo,
assim também os fiéis em Cristo (cfr. 1 Cor. 12,12). Também na
edificação do Corpo de Cristo existe diversidade de membros e de funções. É um
mesmo Espírito que distribui os seus vários dons segundo a sua riqueza e as
necessidades dos ministérios para utilidade da Igreja (cfr. 1 Cor. 12,
1-11). Entre estes dons, sobressai a graça dos Apóstolos, a cuja
autoridade o mesmo Espírito submeteu também os carismáticos (cfr 1 Cor.
14). O mesmo Espírito, unificando o corpo por si e pela sua força e pela
coesão interna dos membros, produz e promove a caridade entre os fiéis. Daí
que, se algum membro padece, todos os membros sofrem juntamente; e se algum
membro recebe honras, todos se, alegram (cfr. 1 Cor. 12,26).
A cabeça deste corpo é
Cristo. Ele é a imagem do Deus invisível e n 'Ele foram criadas todas as
coisas. Ele existe antes de todas as coisas e todas n'Ele subsistem. Ele é a
cabeça do corpo que a Igreja é. É o princípio, o primogénito de entre os
mortos, de modo que em todas as coisas tenha o primado (cfr. Col. 1,
15-18). Pela grandeza do Seu poder domina em todas as coisas celestes e
terrestres e, devido à Sua supereminente perfeição e acção, enche todo o corpo
das riquezas da Sua glória (cfr. Ef. 1, 18-23) [7].
Todos os membros se devem
conformar com Ele, até que Cristo se forme neles (cfr. Gál. 4,19).
Por isso, somos assumidos nos mistérios da Sua vida, configurados com Ele, com
Ele mortos e ressuscitados, até que reinemos com Ele (cfr. Fil. 3,21; 2
Tim. 2,11; Ef. 2,6; Col. 2,12; etc.). Ainda peregrinos na terra, seguindo
as Suas pegadas na tribulação e na perseguição, associamo-nos nos seus
sofrimentos como o corpo à cabeça, sofrendo com Ele, para com Ele sermos
glorificados (cfr. Rom. 8,17).
É por Ele que «o corpo
inteiro, alimentado e coeso em suas junturas e ligamentos, se desenvolve com o
crescimento dado por Deus» (Col. 2,19). Ele mesmo distribui
continuamente, no Seu corpo que é a Igreja, os dons dos diversos ministérios,
com os quais, graças ao Seu poder, nos prestamos mutuamente serviços em ordem à
salvação, de maneira que, professando a verdade na caridade, cresçamos em tudo
para Aquele que é a nossa cabeça (cfr. Ef. 4, 11-16 gr.).
E para que sem cessar nos
renovemos n'Ele (cfr. Ef. 4,23), deu-nos do Seu Espírito, o qual,
sendo um e o mesmo na cabeça e nos membros, unifica e move o corpo inteiro, a
ponto de os Santos Padres compararem a Sua acção à que o princípio vital, ou
alma, desempenha no corpo humano [8].
Cristo ama a Igreja como esposa,
fazendo-se modelo do homem que ama sua mulher como o próprio corpo (cfr.
Ef. 5, 25-28); e a Igreja, por sua vez, é sujeita à sua cabeça (ib.
23-24). «Porque n'Ele habita corporalmente toda a plenitude da natureza
divina» (Col. 2,9), enche a Igreja, que é o Seu corpo e plenitude,
com os dons divinos (cfr. Ef. 1, 22-23), para que ela se dilate e
alcance a plenitude de Deus (cfr. Ef. 3,19).
A Igreja, sociedade visível e espiritual
8. Cristo, mediador único,
estabelece e continuamente sustenta sobre a terra, como um todo visível, a Sua
santa Igreja, comunidade de fé, esperança e amor, por meio da qual difunde em
todos a verdade e a graça [9]. Porém, a sociedade
organizada hierarquicamente, e o Corpo místico de Cristo, o agrupamento visível
e a comunidade espiritual, a Igreja terrestre e a Igreja ornada com os dons
celestes não se devem considerar como duas entidades, mas como uma única
realidade complexa, formada pelo duplo elemento humano e divino [10]. Apresenta por esta razão
uma grande analogia com o mistério do Verbo encarnado. Pois, assim como a
natureza assumida serve ao Verbo divino de instrumento vivo de salvação, a Ele
indissoluvelmente unido, de modo semelhante a estrutura social da Igreja serve
ao Espírito de Cristo, que a vivifica, para o crescimento do corpo (cfr.
Ef. 4,16) (11). [11]
Esta é a única Igreja de
Cristo, que no Credo confessamos ser una, santa, católica e apostólica [12]; depois da ressurreição, o
nosso Salvador entregou-a a Pedro para que a apascentasse (Jo 21,17),
confiando também a ele e aos demais Apóstolos a sua difusão e governo (cfr.
Mt 28,18 ss.), e erigindo-a para sempre em «coluna e fundamento da
verdade» (I Tim. 3,5). Esta Igreja, constituída e organizada neste
mundo como sociedade, é na Igreja católica, governada pelo sucessor de Pedro e
pelos Bispos em união com ele [13], que se encontra, embora,
fora da sua comunidade, se encontrem muitos elementos de santificação e de
verdade, os quais, por serem dons pertencentes à Igreja de Cristo, impelem para
a unidade católica.
Mas, assim como Cristo
realizou a obra da redenção na pobreza e na perseguição, assim a Igreja é
chamada a seguir pelo mesmo caminho para comunicar aos homens os frutos da
salvação. Cristo Jesus «que era de condição divina... despojou-se de si próprio
tomando a condição de escravo (Fil. 2, 6-7) e por nós, «sendo rico,
fez-se pobre» (2 Cor. 8,9): assim também a Igreja, embora necessite
dos meios humanos para o prosseguimento da sua missão, não foi constituída para
alcançar a glória terrestre, mas para divulgar a humildade e abnegação, também
com o seu exemplo. Cristo foi enviado pelo Pai «a evangelizar os pobres... a
sarar os contritos de coração» (Lc 4,18), «a procurar e salvar o que
perecera» (Lc 19,10). De igual modo, a Igreja abraça com amor, todos
os afligidos pela enfermidade humana; mais ainda, reconhece nos pobres e nos
que sofrem a imagem do seu fundador pobre e sofredor, procura aliviar as suas
necessidades, e intenta servir neles a Cristo. Enquanto Cristo «santo,
inocente, imaculado» (Hebr. 7,26), não conheceu o pecado (cfr.
2 Cor. 5,21), mas veio apenas expiar os pecados do povo (Hebr. 2,17),
a Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e
sempre necessitada de purificação, exercita continuamente a penitência e a
renovação.
A Igreja «prossegue a sua
peregrinação no meio das perseguições do mundo e das consolações de Deus» [14], anunciando a cruz e a
morte do Senhor até que Ele venha (cfr. Cor. 11,26). Mas é
robustecida pela força do Senhor ressuscitado, de modo a vencer, pela paciência
e pela caridade, as suas aflições e dificuldades tanto internas como externas,
e a revelar, velada mas fielmente, o seu mistério, até que por fim se manifeste
em plena luz.
Nota: Correcção da tradução portuguesa
por ama.
[1] Cfr. S. Cipriano, Epist. 64, 4: PL 3,
1017. CSEL (Hartel), III B, p. 720. S. Hilário Píct., In Mt. 23, 6: PL 9, 1047.
S. Agostinho, passim. S. Cirilo Alex., Glaph. in Gen. 2, 10: PG 69, 110 A.
[2] Cfr. S. Gregório M., Hom. in Evang. 19, 1: PL 76, 1154
B. S. Agostinho, Serm. 341, 9, 11: PL 39, 1499 s. S. J. Damasceno, Adv.
Iconocl. 11: PG, 1357.
[3] Cfr. S. Ireneu, Adv. Haer. III, 24, 1: PG 7, 966 B;
Harvey 2, 131, ed. Sagnard, Sources Chr., p. 398.
[4] S. Cipriano, De orat. Dom. 23: PL 4,
553; Hartel, III A, p. 285. S. Agostinho, Serm. 71, 20, 33: PL 38, 463 s. S. J.
Damasceno, Adv. Iconocl. 12: PG 96, 1358 D.
[5] Cfr. Origenes, In Mt. 16, 21: PG 13, 1443 C;
Tertuliano, Adv. Marc. 3, 7: PL 2, 357 C; CSEL 47, 3, p. 386. Para os
documentos litúrgicos, cfr. Sacramentarium Gregorianum: PL 78, 160 B. ou C.
Mohlberg, Liber Sacramentorum romanae ecclesiae, Roma, 1960, p.111, XC; «Deus,
qui ex omni coaptacione sanctorum aeternum tibi condis habitaculum...». Hinos
Urbs Ierusalem beata em Breviário monástico, e Coelestis Urbs Ierusalem em
Breviário Romano.
[6] Cfr. S. Tomás, Summa Theol. III, q. 62, a. 5, ad 1.
[7] Cfr. Pio XII, Encíclica Mystici Corporis, 29 jun.
1943: AAS 35 (1943), p. 208.
[8] Cfr. Leão XIII, Carta Encicl. Divinum illud, 9 maio
1897: ASS 29 (1896-97) p. 650. Pio XII, Encíclica Mystici Corporis, 1. c., pp.
219-220; Denz. 2288 (3808). S. Agostinho, Serm. 268, 2: PL 38, 1232, etc. S.
João Crisóstomo, In Eph. Hom. 9, 3: PG 62, 72. Didimo Alex., Trin. 2, 1: PG 39,
449 s. S. Tomás, In Col. 1, 18, lect. 5; ed. Marietti, II, n. 46: «Sicut
constituitur unum corpus ex unitate animae, ita Ecclesia ex unitate
Spiritus...».
[9] Leão XIII, Encíclica Sapientiae christianae, 10 jan.
1890: ASS 22 (1889-90) p. 392. Id., Carta Encicl. Satis cognitum, 29 jun. 1896:
ASS 28 (1895-96) pp. 710 e 724 ss. Pio XII, Encíclica Mystici Corporis, 1. c.,
pp. 199-200.
[10] Cfr. Pio XII, Encíclica, Mystici Corporis, 1. c., p.
221 ss. Id., Encíclica Humani generis, 12 Agosto 1950: AAS 42 (1950) p. 571.
[11] Leão XIII, Carta Encícl. Satis cognitum, 1. c., p.
713.
[12] Símbolo. Apostólico: Denz. 6-9 (10-13) ; Símbolo Nic.
- Constantinopolitano: Denz. 86 (150) ; cfr. Prof. fidei Trid,: Denz. 994 e 999
(1862 e 1868).
[13] Diz-se «Igreja santa (católica, apostólica) romana»
em: Prof. fidei Trid., 1. c., e Cone. Vat. I, Const. dogm. de fide cath.: Denz.
1782 (3001).
[14] S. Agostinho, De Civ. Dei, XVIII, 51, 2: PL 41, 614.
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