Art. 3 ― Se as almas dos brutos são subsistentes.
(II.
Cont. Gent., cap. LXXXII).
O
terceiro discute-se assim. ― Parece que as almas dos brutos são subsistentes.
1.
― O homem tem o mesmo gênero que os outros animais. Ora, a alma humana é algo
de subsistente, como já se demonstrou (a. 2). Logo, também as dos
outros animais.
2.
Demais. ― O sensitivo está para os sensíveis como o intelectivo para os
inteligíveis. Ora, o intelecto intelige, sem o corpo, os inteligíveis. Logo
também, do mesmo modo, o sentido apreende os sensíveis. Ora; as almas dos
brutos são sensitivas. Logo, são subsistentes, pela mesma razão por que o é a
alma intelectiva do homem.
3.
Demais. ― A alma dos brutos move-lhes o corpo. Ora, este não move mas é movido.
Logo, aquela tem alguma operação independente do corpo.
Mas
em contrário, foi dito: Cremos que só o homem tem alma substantiva; e não são
substantivas as almas dos animais.
Os antigos filósofos não faziam nenhuma distinção entre o sentido e o
intelecto; e atribuíam ambos a um princípio corpóreo, como já se disse (a.
1). ― Porém Platão distinguia entre o intelecto e o sentido, atribuindo
ambos a um princípio incorpóreo e dizendo que, como o inteligir, também o
sentir convém à alma, em si mesma. E daí resultava que também as almas dos
brutos são subsistentes. ― Mas Aristóteles estabeleceu que só o inteligir,
entre as operações da alma, se exerce sem órgão corpóreo. Porém, o sentir, bem
como as operações resultantes das operações da alma sensitiva, manifestamente
se realizam com alguma imutação do corpo; assim, na visão, imuta-se a pupila,
pela contemplação da cor, o mesmo se dando com as outras operações semelhantes.
Por onde é manifesto que a alma sensitiva não tem, por si mesma, nenhuma
operação própria, mas toda operação da alma sensitiva pertence ao conjunto.
Donde resulta que as almas dos brutos, não operando por si mesmas, não são
subsistentes, pois, cada ser tem, de maneira semelhante, o ser e a operação.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― O homem, tendo o mesmo gênero que os outros
animais, deles difere pela espécie. Ora, a diferença específica depende da
diferença formal. Nem é necessário que toda diferença formal importe na
diversidade genérica.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― O sensitivo, de certo modo, está para os sensíveis, como o
intelectivo para os inteligíveis, a saber, enquanto ambos são potenciais em
relação aos seus objectos. Mas, de certo modo, comportam-se dissemelhantemente;
pois, o sensitivo sofre a ação do sensível, com imutação do corpo e, por isso,
a excelência dos sensíveis corrompe o sentido. Ao passo que isso não se dá com
o intelecto, pois, este, inteligindo os máximos inteligíveis, mais facilmente
poderá inteligir os menores. E se, no inteligir, o corpo se fatiga, isso o é só
por acidente; porque o intelecto precisa da operação das forças sensitivas,
pelas quais lhe são preparados os fantasmas.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― A força motiva é dupla. Uma, a apetitiva, que governa o
movimento, e a operação dessa, na alma sensitiva, não se realiza sem o corpo;
assim, a ira, a alegria e outras paixões semelhantes supõem certa imutação do
coração. A outra força motiva é a que resulta do movimento, pela qual os
membros tornam-se capazes de obedecer ao apetite; e o ato dessa força não é
mover, mas ser movido. Por onde se evidencia que mover não é ato da alma
sensitiva que se realize sem o corpo
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