Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Mt 21, 18-32
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Evangelho: Mt 21, 18-32
18 Pela manhã, quando voltava para a cidade, teve
fome. 19 Vendo uma figueira junto do caminho, aproximou-Se dela, e
não encontrou nela senão folhas, e disse-lhe: «Nunca mais nasça fruto de ti».
E, imediatamente, a figueira secou. 20 Vendo isto, os discípulos
admiraram-se e disseram: «Como secou a figueira imediatamente?». 21
Jesus respondeu: «Na verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não
só fareis o que foi feito a esta figueira, mas ainda se disserdes a este monte:
“Sai daí e lança-te no mar”, assim se fará. 22 E tudo o que pedirdes
com fé na oração alcançá-lo-eis». 23 Tendo ido ao templo, os
príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo aproximaram-se d'Ele, quando
estava a ensinar, e disseram-Lhe: «Com que autoridade fazes estas coisas? E
quem Te deu tal direito?». 24 Jesus respondeu-lhes: «Também Eu vos
farei uma pergunta; se Me responderdes, Eu vos direi com que direito faço estas
coisas. 25 Donde era o baptismo de João? Do céu ou dos homens?». Mas
eles reflectiam consigo: 26 «Se Lhe dissermos que é do céu, Ele
dirá: “Então porque não crestes nele?”. Se Lhe dissermos que é dos homens,
tememos o povo» ; porque todos tinham João como um profeta. 27
Portanto, responderam a Jesus: «Não sabemos». Ele disse-lhes também: «Pois então nem Eu vos digo com que autoridade faço
estas coisas». 28 «Mas que vos parece? Um homem tinha dois filhos.
Aproximando-se do primeiro, disse-lhe: “Filho, vai trabalhar hoje na minha
vinha”. 29 Ele respondeu: “Não quero”. Mas, depois, arrependeu-se e
foi. 30 Dirigindo-se em seguida ao outro, falou-lhe do mesmo modo. E
ele respondeu: “Eu vou, senhor”, mas não foi. 31 Qual dos dois fez a
vontade do pai?». Eles responderam: «O primeiro». Disse-lhes Jesus: «Na verdade
vos digo que os publicanos e as meretrizes vos precederão no reino de Deus. 32
Porque veio a vós João pelo caminho da justiça, e não crestes nele; e os
publicanos e as meretrizes creram nele. E vós, vendo isto, nem assim fizestes
penitência depois, crendo nele.
Ioannes
Paulus PP. II
Evangelium vitae
aos
Presbíteros e Diáconos
aos
Religiosos e Religiosas
aos
Fiéis leigos e a todas as Pessoas de Boa Vontade
sobre
o Valor e a Inviolabilidade
da
Vida Humana
…/12
79.
Somos o povo da vida, porque Deus, no seu amor generoso, deu-nos o Evangelho da
vida e, por este mesmo Evangelho, fomos transformados e salvos. Fomos reconquistados
pelo «Príncipe da vida» (Act 3, 15), com o preço do seu sangue
precioso (cf. 1 Cor 6, 20; 7, 23; 1 Ped 1, 19), e, pelo banho
baptismal, fomos enxertados n'Ele (cf. Rm 6, 4-5; Col 2, 12) como
ramos que recebem seiva e fecundidade da única árvore (cf. Jo 15, 5).
Interiormente renovados pela graça do Espírito, «Senhor que dá a vida»,
tornámo-nos um povo pela vida, e como tal somos chamados a comportar-nos.
Somos
enviados: estar ao serviço da vida não é para nós um título de glória, mas um
dever que nasce da consciência de sermos «o povo adquirido por Deus para
proclamar as suas obras maravilhosas» (cf. 1 Ped 2, 9). No nosso
caminho, guia-nos e anima-nos a lei do amor: um amor, cuja fonte e modelo é o
Filho de Deus feito homem que «pela sua morte deu a vida ao mundo». 102
Somos
enviados como povo. O compromisso de servir a vida incumbe sobre todos e cada
um. É uma responsabilidade tipicamente «eclesial», que exige a acção concertada
e generosa de todos os membros e estruturas da comunidade cristã. Mas a sua
característica de dever comunitário não elimina nem diminui a responsabilidade
de cada pessoa, a quem é dirigido o mandamento do Senhor de «fazer-se próximo»
de todo o homem: «Vai e faz tu também do mesmo modo» (Lc 10, 37).
Todos
juntos sentimos o dever de anunciar o Evangelho da vida, de o celebrar na
liturgia e na existência inteira, de o servir com as diversas iniciativas e
estruturas de apoio e promoção.
«O que vimos e ouvimos, isso vos
anunciamos» (1 Jo 1, 3): anunciar o Evangelho da vida
80.
«O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o
que contemplámos e as nossas mãos apalparam acerca do Verbo da vida (...) isso
vos anunciamos, para que também vós tenhais comunhão connosco» (1 Jo 1,
1.3). Jesus é o único Evangelho: Ele é tudo o que temos para dizer e
testemunhar.
O
próprio anúncio de Jesus é anúncio da vida. Ele, de facto, é o «Verbo da vida» (1
Jo 1, 1). N'Ele, «a vida manifestou-se» (1 Jo 1, 2); melhor,
Ele mesmo é a «vida eterna que estava no Pai e que nos foi manifestada» (1
Jo 1, 2). Esta mesma vida, graças ao dom do Espírito, foi comunicada ao
homem. Orientada para a vida em plenitude — a «vida eterna» —, também a vida
terrena de cada um adquire o seu sentido pleno.
Iluminados
pelo Evangelho da vida, sentimos a necessidade de o proclamar e testemunhar
pela surpreendente novidade que o caracteriza: identificando-se com o próprio
Jesus, portador de toda a novidade 103
e vencedor daquele «envelhecimento» que provém do pecado e conduz à morte, 104 este Evangelho supera toda a expectativa
do homem e revela a grandeza excelsa, a que a dignidade da pessoa é elevada
pela graça. Assim a contempla S. Gregório de Nissa: «Quando comparado com os
outros seres, o homem nada vale, é pó, erva, ilusão; mas, uma vez adoptado como
filho pelo Deus do universo, é feito familiar deste Ser, cuja excelência e
grandeza ninguém pode ver, ouvir nem compreender. Com que palavra, pensamento
ou arroubo de espírito poderemos celebrar a superabundância desta graça? O
homem supera a sua natureza: de mortal passa a imortal, de perecível a
imperecível, de efémero a eterno, de homem torna-se deus». 105
A
gratidão e a alegria por esta dignidade incomensurável do homem incitam-nos a
tornar os demais participantes desta mensagem: «O que vimos e ouvimos, isso vos
anunciamos, para que também vós tenhais comunhão connosco» (1 Jo 1, 3).
É necessário fazer chegar o Evangelho da vida ao coração de todo o homem e
mulher, e inseri-lo nas pregas mais íntimas do tecido da sociedade inteira.
81.
Trata-se em primeiro lugar de anunciar o núcleo deste Evangelho: é o anúncio de
um Deus vivo e solidário, que nos chama a uma profunda comunhão Consigo e nos
abre à esperança segura da vida eterna; é a afirmação do laço indivisível que
existe entre a pessoa, a sua vida e a própria corporeidade; é a apresentação da
vida humana como vida de relação, dom de Deus, fruto e sinal do seu amor; é a
proclamação da extraordinária relação de Jesus com todo o homem, que permite
reconhecer o rosto de Cristo em cada rosto humano; é a indicação do «dom
sincero de si» como tarefa e lugar de plena realização da própria liberdade.
Importa,
depois, mostrar todas as consequências deste mesmo Evangelho, que se podem
resumir assim: a vida humana, dom precioso de Deus, é sagrada e inviolável, e,
por isso mesmo, o aborto provocado e a eutanásia são absolutamente
inaceitáveis; a vida do homem não apenas não deve ser eliminada, mas há-de ser
protegida com toda a atenção e carinho; a vida encontra o seu sentido no amor
recebido e dado, em cujo horizonte haurem plena verdade a sexualidade e a
procriação humana; nesse amor, até mesmo o sofrimento e a morte têm um sentido,
podendo tornar-se acontecimentos de salvação, não obstante perdurar o mistério
que os envolve; o respeito pela vida exige que a ciência e a técnica estejam
sempre orientadas para o homem e para o seu desenvolvimento integral; a
sociedade inteira deve respeitar, defender e promover a dignidade de toda a
pessoa humana, em cada momento e condição da sua vida.
82.
Para sermos verdadeiramente um povo ao serviço da vida, temos de propor, com
constância e coragem, estes conteúdos, desde o primeiro anúncio do Evangelho,
e, depois, na catequese e nas diversas formas de pregação, no diálogo pessoal e
em toda a acção educativa. Aos educadores, professores, catequistas e teólogos,
incumbe o dever de pôr em destaque as razões antropológicas que fundamentam e
apoiam o respeito de cada vida humana. Desta forma, ao mesmo tempo que faremos
resplandecer a original novidade do Evangelho da vida, poderemos ajudar os
demais a descobrirem, inclusive à luz da razão e da experiência, como a
mensagem cristã ilumina plenamente o homem e o significado do seu ser e
existir; encontraremos valiosos pontos de encontro e diálogo também com os não
crentes, empenhados todos juntos a fazer despertar uma nova cultura da vida.
Cercados
pelas vozes mais contrastantes, enquanto muitos rejeitam a sã doutrina sobre a
vida do homem, sentimos dirigida a nós a recomendação de Paulo a Timóteo:
«Prega a palavra, insiste oportuna e inoportunamente, repreende, censura e
exorta com bondade e doutrina» (2 Tm 4, 2). Com particular vigor,
há-de ressoar esta exortação no coração de quantos na Igreja, mais directamente
e a diverso título, participam da sua missão de «mestra» da verdade. Ressoe,
antes de mais, em nós, Bispos, que somos os primeiros a quem é pedido tornar-se
incansável anunciador do Evangelho da vida; está-nos confiado também o dever de
vigiar sobre a transmissão íntegra e fiel do ensinamento proposto nesta
Encíclica, e de recorrer às medidas mais oportunas para que os fiéis sejam
preservados de toda a doutrina contrária ao mesmo. Havemos de dedicar especial
atenção às Faculdades Teológicas, aos Seminários e às diversas Instituições
Católicas, para que aí seja comunicado, ilustrado e aprofundado o conhecimento
da sã doutrina. 106 A exortação de Paulo seja também ouvida por todos os teólogos,
pastores e quantos desempenham tarefas de ensino, catequese e formação das
consciências: cientes do papel que lhes cabe, não assumam nunca a grave
responsabilidade de atraiçoar a verdade e a própria missão, expondo ideias
pessoais contrárias ao Evangelho da vida, que o Magistério fielmente propõe e
interpreta.
Quando
anunciarmos este Evangelho, não devemos temer a oposição e a impopularidade,
recusando qualquer compromisso e ambiguidade que nos conformem com a
mentalidade deste mundo (cf. Rm 12, 2). Com a força recebida de
Cristo, que venceu o mundo pela sua morte e ressurreição (cf. Jo 16, 33),
devemos estar no mundo, mas não ser do mundo (cf. Jo 15, 19; 17, 16).
«Eu Vos louvo porque me fizestes como
um prodígio» (Sal 139 138, 14): celebrar o Evangelho da vida
83.
Enviados ao mundo como «povo pela vida», o nosso anúncio deve tornar-se também
uma verdadeira e própria celebração do Evangelho da vida. É precisamente esta
celebração, com toda a força evocativa dos seus gestos, símbolos e ritos, que
se torna o lugar mais precioso e significativo para transmitir a beleza e a
grandeza desse Evangelho.
Para
isso, urge, antes de mais, cultivar, em nós e nos outros, um olhar
contemplativo. 107 Este nasce da
fé no Deus da vida, que criou cada homem fazendo dele um prodígio (cf. Sal
139 138, 14). É o olhar de quem observa a vida em toda a sua
profundidade, reconhecendo nela as dimensões de generosidade, beleza, apelo à
liberdade e à responsabilidade. É o olhar de quem não pretende apoderar-se da
realidade, mas a acolhe como um dom, descobrindo em todas as coisas o reflexo
do Criador e em cada pessoa a sua imagem viva (cf. Gn 1, 27; Sal 8, 6).
Este olhar não se deixa cair em desânimo à vista daquele que se encontra
enfermo, atribulado, marginalizado, ou às portas da morte; mas deixa-se
interpelar por todas estas situações procurando nelas um sentido, sendo,
precisamente em tais circunstâncias, que se apresenta disponível para ler de
novo no rosto de cada pessoa um apelo ao entendimento, ao diálogo, à
solidariedade.
É
tempo de todos assumirem este olhar, tornando-se novamente capazes de venerar e
honrar cada homem, com ânimo repleto de religioso assombro, como nos convidava
a fazer Paulo VI numa das suas mensagens natalícias. 108 Animado por este olhar contemplativo, o
povo novo dos redimidos não pode deixar de prorromper em hinos de alegria,
louvor e gratidão pelo dom inestimável da vida, pelo mistério do chamamento de
todo o homem a participar, em Cristo, na vida da graça e numa existência de
comunhão sem fim com Deus Criador e Pai.
84.
Celebrar o Evangelho da vida significa celebrar o Deus da vida, o Deus que dá a
vida: «Nós devemos celebrar a Vida eterna, da qual procede qualquer outra vida.
Dela recebe a vida, na proporção das respectivas capacidades, todo o ser que,
de algum modo, participa da vida. Essa Vida divina, que está acima de qualquer
vida, vivifica e conserva a vida. Toda a vida e qualquer movimento vital
procedem desta Vida que transcende cada vida e cada princípio de vida. A Ela
devem as almas a sua incorruptibilidade, como também vivem, graças a Ela, todos
os animais e todas as plantas que recebem da vida um eco mais débil. Aos
homens, seres compostos de espírito e matéria, a Vida dá a vida. Se depois nos
acontece abandoná-la, então a Vida, pelo transbordar do seu amor pelo homem,
converte-nos e chama-nos a Si. E mais... Promete também conduzir-nos — alma e
corpo — à vida perfeita, à imortalidade. É demasiado pouco dizer que esta Vida
é viva: Ela é Princípio de vida, Causa e Fonte única de vida. Todo o vivente
deve contemplá-la e louvá-la: é Vida que transborda de vida». 109
Como
o Salmista, também nós, na oração diária individual e comunitária, louvamos e
bendizemos a Deus nosso Pai que nos plasmou no seio materno, viu-nos e amou-nos
quando estávamos ainda em embrião (cf. Sal 139 138, 13.15-16), e
exclamamos, com alegria irreprimível: «Eu Vos louvo porque me fizestes como um
prodígio; as vossas obras são admiráveis, conheceis a sério a minha alma» (Sal
139 138, 14). Sim, «esta vida mortal, não obstante as suas aflições, os
seus mistérios obscuros, os seus sofrimentos, a sua fatal caducidade, é um
facto belíssimo, um prodígio sempre original e enternecedor, um acontecimento
digno de ser cantado com júbilo e glória». 110
Mais, o homem e a sua vida não se revelam apenas como um dos prodígios mais
altos da criação: Deus conferiu ao homem uma dignidade quase divina (cf.
Sal 8, 6-7). Em cada criança que nasce e em cada homem que vive ou morre,
reconhecemos a imagem da glória de Deus: nós celebramos esta glória em cada
homem, sinal do Deus vivo, ícone de Jesus Cristo.
Somos
chamados a exprimir assombro e gratidão pela vida recebida em dom e a acolher,
saborear e comunicar o Evangelho da vida, não só através da oração pessoal e
comunitária, mas sobretudo com as celebrações do ano litúrgico. No mesmo
contexto, há que recordar, de modo particular, os Sacramentos, sinais eficazes
da presença e acção salvadora do Senhor Jesus na existência cristã: tornam os
homens participantes da vida divina, assegurando-lhes a energia espiritual
necessária para realizarem plenamente o verdadeiro significado do viver, do
sofrer e do morrer. Graças a uma genuína descoberta do sentido dos ritos e à
sua adequada valorização, as celebrações litúrgicas, sobretudo as sacramentais,
serão capazes de exprimir cada vez melhor a verdade plena acerca do nascimento,
da vida, do sofrimento e da morte, ajudando a viver estas realidades como participação
no mistério pascal de Cristo morto e ressuscitado.
85.
Na celebração do Evangelho da vida, é preciso saber apreciar e valorizar também
os gestos e os símbolos, de que são ricas as diversas tradições e costumes
culturais dos povos. Trata-se de momentos e formas de encontro, pelos quais,
nos diversos países e culturas, se manifesta a alegria pela vida que nasce, o
respeito e defesa de cada existência humana, o cuidado por quem sofre ou passa
necessidade, a solidariedade com o idoso ou o moribundo, a partilha da tristeza
de quem está de luto, a esperança e o desejo da imortalidade.
Nesta
perspectiva e acolhendo a sugestão feita pelos Cardeais no Consistório de 1991, proponho que se celebre anualmente um Dia em
defesa da Vida, nas diversas Nações, à semelhança do que já se verifica por
iniciativa de algumas Conferências Episcopais. É necessário que essa ocorrência
seja preparada e celebrada com a activa participação de todas as componentes da
Igreja local. O seu objectivo principal é suscitar nas consciências, nas
famílias, na Igreja e na sociedade, o reconhecimento do sentido e valor da vida
humana em todos os seus momentos e condições, concentrando a atenção de modo
especial na gravidade do aborto e da eutanásia, sem contudo transcurar os
outros momentos e aspectos da vida que merecem ser, de vez em quando, tomados
em atenta consideração, conforme a evolução da situação histórica sugerir.
86.
Em coerência com o culto espiritual agradável a Deus (cf.Rm 12, 1),
a celebração do Evangelho da vida requer a sua concretização sobretudo na
existência quotidiana, vivida no amor pelos outros e na doação de si próprio.
Assim, toda a nossa existência tornar-se-á acolhimento autêntico e responsável
do dom da vida e louvor sincero e agradecido a Deus que nos fez esse dom. É o
que sucede já com tantos e tantos gestos de doação, frequentemente humilde e
escondida, cumpridos por homens e mulheres, crianças e adultos, jovens e
idosos, sãos e doentes.
É
neste contexto, rico de humanidade e amor, que nascem também os gestos
heróicos. Estes são a celebração mais solene do Evangelho da vida, porque o
proclamam com o dom total de si; são a manifestação refulgente do mais elevado
grau de amor, que é dar a vida pela pessoa amada (cf. Jo 15, 13);
são a participação no mistério da Cruz, na qual Jesus revela quão grande valor
tem para Ele a vida de cada homem e como esta se realiza em plenitude no dom
sincero de si. Além dos factos clamorosos, existe o heroísmo do quotidiano,
feito de pequenos ou grandes gestos de partilha que alimentam uma autêntica
cultura da vida. Entre estes gestos, merece particular apreço a doação de
órgãos feita, segundo formas eticamente aceitáveis, para oferecer uma
possibilidade de saúde e até de vida a doentes, por vezes já sem esperança.
A
tal heroísmo do quotidiano, pertence o testemunho silencioso, mas tão fecundo e
eloquente, de «todas as mães corajosas, que se dedicam sem reservas à própria
família, que sofrem ao dar à luz os próprios filhos, e depois estão prontas a
abraçar qualquer fadiga e a enfrentar todos os sacrifícios, para lhes
transmitir quanto de melhor elas conservam em si». 111 No cumprimento da sua missão, «nem sempre estas mães
heróicas encontram apoio no seu ambiente. Antes, os modelos de civilização, com
frequência promovidos e propagados pelos meios de comunicação, não favorecem a
maternidade. Em nome do progresso e da modernidade, são apresentados como já
superados os valores da fidelidade, da castidade e do sacrifício, nos quais se
distinguiram e continuam a distinguir-se multidões de esposas e de mães
cristãs. (...) Nós vos agradecemos, mães heróicas, o vosso amor invencível! Nós
vos agradecemos a intrépida confiança em Deus e no seu amor. Nós vos
agradecemos o sacrifício da vossa vida. (...) Cristo, no Mistério Pascal,
restituiu-vos o dom que Lhe fizestes. Ele, de facto, tem o poder de vos
restituir a vida, que Lhe levastes em oferenda». 112
«De que aproveitará, irmãos, a alguém
dizer que tem fé se não tiver obras?» (Tg 2, 14): servir o Evangelho
da vida
87.
Em virtude da participação na missão real de Cristo, o apoio e a promoção da
vida humana devem actuar-se através do serviço da caridade, que se exprime no
testemunho pessoal, nas diversas formas de voluntariado, na animação social e
no compromisso político. Trata-se de uma exigência sobremaneira premente na
hora actual, em que a «cultura da morte» se contrapõe à «cultura da vida», de
forma tão forte que muitas vezes parece levar a melhor. Antes ainda, porém,
trata-se de uma exigência que nasce da «fé que actua pela caridade» (Gal
5, 6), como nos adverte a Carta de S. Tiago: «De que aproveitará, irmãos,
a alguém dizer que tem fé se não tiver obras? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se
um irmão ou uma irmã, estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um
de vós lhe disser: "Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos", sem lhes
dar o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se
ela não tiver obras, é morta em si mesma» (2, 14-17).
No
serviço da caridade, há uma atitude que nos há-de animar e caracterizar:
devemos cuidar do outro enquanto pessoa confiada por Deus à nossa
responsabilidade. Como discípulos de Jesus, somos chamados a fazermo-nos
próximo de cada homem (cf. Lc 10, 29-37), reservando uma preferência
especial a quem vive mais pobre, sozinho e necessitado. É precisamente através
da ajuda prestada ao faminto, ao sedento, ao estrangeiro, ao nu, ao doente, ao
encarcerado — como também à criança ainda não nascida, ao idoso que está doente
ou perto da morte —, que temos a possibilidade de servir Jesus, como Ele mesmo
declarou: «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a
Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40). Por isso, não podemos deixar de nos
sentir interpelados e julgados por esta página sempre actual de S. João
Crisóstomo: «Queres honrar o corpo de Cristo? Não O transcures quando se
encontrar nu! Não vale prestares honras aqui no templo com tecidos de seda, e
depois transcurá-Lo lá fora, onde sofre frio e nudez». 113
O
serviço da caridade a favor da vida deve ser profundamente unitário: não pode
tolerar unilateralismos e discriminações, já que a vida humana é sagrada e
inviolável em todas as suas fases e situações; é um bem indivisível. Trata-se
de «cuidar» da vida toda e da vida de todos. Ou melhor ainda e mais
profundamente, trata-se de ir até às próprias raízes da vida e do amor.
Partindo
exactamente deste amor profundo por todo o homem e mulher, foi-se
desenvolvendo, ao longo dos séculos, uma extraordinária história de caridade,
que introduziu, na vida eclesial e civil, numerosas estruturas de serviço à
vida, que suscitam a admiração até do observador menos prevenido. É uma
história que cada comunidade cristã deve, com renovado sentido de
responsabilidade, continuar a escrever graças a uma múltipla acção pastoral e
social. Neste sentido, é preciso criar formas discretas mas eficazes de acompanhamento
da vida nascente, prestando uma especial solidariedade àquelas mães que, mesmo
privadas do apoio do pai, não temem trazer ao mundo o seu filho e educá-lo.
Cuidado análogo deve ser reservado à vida provada pela marginalização ou pelo
sofrimento, de forma particular nas suas etapas finais.
Nota:
Revisão da tradução para português por ama
_________________________________________
Notas:
(em italiano)
102 Cf Messale romano, Orazione del celebrante prima della comunione.
103 Cf S. Ireneo: "Omnem novitatem attulit, semetipsum afferens, qui
fuerat annuntiatus", Contro le eresie: IV, 34, 1: SCh 100/2, 846-847.
104 Cf S. Tommaso D'Aquino: "Peccator inveterascit, recedens a
novitate Christi", In Psalmos Davidis lectura, 6, 5.
105 Sulle beatitudini, Sermone VII: PG 44, 1280.
106 Cf Giovanni Paolo II, Lett. enc. Veritatis splendor (6 agosto 1993), 116:
AAS 85 (1993), 1224.
107 Cf Giovanni Paolo II, Lett. enc. Centesimus annus (1° maggio 1991), n.
37: AAS 83 (1991), 840.
108 Cf Messaggio in occasione del Santo Natale del 1967: AAS 60 (1968), 40.
109 Pseudo-Dionigi L'Aeropagita, Sui nomi divini, VI, 1-3: PG 3, 856-857.
110 Paolo VI, Pensiero alla morte, Istituto Paolo VI, Brescia 1988, p. 24.
111 Giovanni Paolo II, Omelia per la beatificazione di Isidoro Bakanja,
Elisabetta Canori Mora e Gianna Beretta Molla (24 aprile 1994): L'Osservatore
Romano, 25-26 aprile 1994, p. 5.
112 Ibid.
113 Omelie su Matteo, L, 3:
PG 58, 508.
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