Questão 75: Da alma em si mesma.
Questão
76: Da união da alma e do corpo.
Questão
77: Do que se refere às potências da alma em geral.
Questão
78: Das potências da alma em especial.
Questão
79: Das potências intelectivas.
Questão
80: Das potências apetitivas em comum.
Questão
81: Da sensualidade.
Questão
82: Da vontade.
Questão
83: Do livre arbítrio.
Questão
84: Por meio do que a alma, unida ao corpo, intelige as coisas corpóreas.
Questão
85: Do modo e da ordem de inteligir.
Questão
86: Do que o nosso intelecto conhece nas coisas materiais.
Questão
87: Como a alma intelectiva se conhece a si mesma e àquilo que nela existe.
Questão
88: Como a alma humana conhece as coisas que lhe são superiores.
Questão 75: Da alma em si mesma.
Depois
da consideração da criatura espiritual e corpórea, é mister considerar o homem,
composto da substância espiritual e corpórea. E, primeiro, a natureza do homem
mesmo; segundo, a sua produção.
Ora,
considerar a natureza do homem, quanto à alma, pertence ao teólogo; não porém,
quanto ao corpo, senão para tratar da relação que tem este com aquela. Por
onde, a primeira consideração versará sobre a alma. E como, segundo Dionísio,
três coisas se encontram nas substâncias espirituais, a saber, a essência, a
virtude e a operação, consideraremos, primeiro, as coisas pertencentes à
essência da alma; segundo, as pertencentes à virtude ou às potências dela; terceiro,
as pertencentes à sua operação.
Sobre
o primeiro ponto ocorre dupla consideração: a primeira é a da alma mesmo, em
si; a segunda é a da sua união como o corpo.
Sobre
a primeira destas duas considerações sete artigos se discutem:
Art.
1 ― Se a alma é corpo.
Art.
2 ― Se a alma humana é algo de subsistente.
Art.
3 ― Se as almas dos brutos são subsistentes.
Art.
4 ― Se a alma é o homem.
Art.
5 ― Se a alma é composta de matéria e forma.
Art.
6 ― Se a alma humana é corruptível.
Art.
7 ― Se a alma e o anjo são da mesma espécie.
Art. 1 ― Se a alma é corpo.
(III
Cont. Gent., cap. LXV; II De Anima, lect.I).
O
primeiro discute-se assim. ― Parece que a alma é corpo.
1.
― Pois, a alma é o motor do corpo. Ora, não há motor não movido. Primeiro,
porque, parece só pode mover aquilo que é movido, pois, ninguém dá a outrem o
que não tem; assim, o que não é quente não aquece. Segundo, porque o que se
move sem ser movido, causaria o movimento sempiterno, sempre atualmente do
mesmo modo, como prova o Filósofo; ora, tal não se vê no movimento do animal,
proveniente da alma. Logo esta é um motor movido. Mas, como todo motor movido é
corpo, a alma, logo também o é.
2.
Demais. ― Todo conhecimento se realiza por alguma semelhança. Ora, nenhuma
semelhança pode haver entre um corpo e um ser incorpóreo; se, pois, a alma não
fosse corpo não poderia conhecer as coisas corpóreas.
3.
Demais. ― É preciso haver algum contato do motor com o movido. Ora o contato só
há entre corpos. Logo, como a alma move o corpo, resulta que não é corpo.
Mas,
em contrário, diz Agostinho, que a alma é dita simples por comparação com o
corpo, porque não se difunde pela massa no espaço local.
Para discutir a natureza da alma, é necessário pressupô-la como o primeiro
princípio da vida dos seres vivos; assim, dizemos que os seres animados são
vivos e as coisas inanimadas carecem de vida. Ora, esta se manifesta
maximamente pela dupla operação do conhecimento e do movimento, cujo princípio
os antigos filósofos, não podendo transcender a imaginação, consideravam como
corpo; pois, diziam, só os corpos são coisas e o que não é corpo nada é. E
então, consideravam a alma como um certo corpo. Ora, embora se possa mostrar,
de múltiplos modos, a falsidade dessa opinião, empreguemos só um argumento com
o qual mais comum e certamente se patenteará que a alma não é corpo. Assim, é
manifesto, a alma não é um princípio qualquer da operação vital; pois, se o
fosse, então os olhos, princípio da visão, seriam a alma; o mesmo devendo
dizer-se dos outros instrumentos desta. Mas, chamamos alma ao princípio
primeiro da vida. Pois, embora algum corpo possa ser um certo princípio da
vida, como o coração o é, no animal; contudo não pode ser o princípio primeiro
da vida de qualquer corpo. Ora, é manifesto, ser princípio da vida ou vivente
não cabe ao corpo como tal; do contrário todo corpo seria vivo ou princípio da
vida. Logo, só cabe a um certo corpo como tal ser vivo, ou ainda, princípio da
vida. Ora, o que torna esse corpo atualmente tal é algum princípio, chamado o
seu ato. Por onde, a alma, princípio primeiro da vida, não é corpo, mas o ato
dele, assim como o calor, princípio da calefação, não é corpo, mas um ato do
corpo.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― Sendo tudo o que se move movido por outro, e
como não se pode continuar assim até o infinito, necessário é dizer-se que nem
todo motor é movido. Pois, ser movido sendo o passar da potência para o acto, o
motor dá o que tem ao móvel, atualizando-o. Mas, como o demonstra o Filósofo,
há um certo motor absolutamente imóvel, não movido nem por si nem por acidente;
e tal motor pode mover o movido sempre uniformemente. Há, porém, outro motor
movido, não por si, mas por acidente e que, por isso, não move o movido sempre
uniformemente; e tal motor é a alma. E há, ainda, outro motor não movido por
si, e que é o corpo. E como os antigos filósofos da natureza pensavam que só o
corpo existe, ensinavam que todo motor é movido e que a alma, movida por si, é
também corpo.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Não é necessário que a semelhança da causa conhecida esteja actualmente
na natureza do conhecente; mas, se há algo que conhece, primeiro, em potência
e, depois, em ato, não é necessário que a semelhança do conhecido seja atual,
senão apenas potencial, na natureza do conhecente; assim, a cor está na pupila,
não atual mas só potencialmente. Por onde, não é necessário que, em a natureza
da alma, haja a semelhança atual das coisas corpóreas, mas sim que ela seja
potencial em relação a tais semelhanças. Como, porém, os antigos filósofos da
natureza não sabiam distinguir entre o ato e a potência, diziam que a alma é
corpo para poder conhecer todos os corpos; e que é composta dos princípios de
todos os corpos.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Há um duplo contacto: o da quantidade e o da virtude. Pelo
primeiro, o corpo só pode ser tocado pelo corpo; pelo segundo, pode ser facada
por um ser incorpóreo que o mova.
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