O
sétimo discute-se assim. — Parece que os anjos beatos não conservam o
conhecimento e a dilecção naturais.
1.
— Pois, diz a Escritura: Mas quando vier o que é perfeito, abolido será o que é
em parte. Ora, a dileção e o conhecimento natural são imperfeitos, por
comparação com o conhecimento e a dileção da beatitude. Logo, com a beatitude,
cessa esse conhecimento e essa dileção.
2.
Demais. — Quando uma só coisa basta, é outra supérflua. Ora, aos santos anjos
basta o conhecimento e a dileção da beatitude. Logo, seria supérflua a
subsistência neles do conhecimento e da dileção naturais.
3.
Demais. — A mesma potência não tem simultaneamente dois atos, como uma linha
não termina, pelo mesmo lado, em dois pontos. Ora, os santos anjos estão sempre
em ato de conhecimento e de dileção bem-aventurada; pois a felicidade não é
habitual, mas atual, como diz Aristóteles. Logo, os anjos nunca podem ter
conhecimento e dileção naturais.
Mas,
em contrário. — Enquanto permanecer uma natureza lhe permanece a operação. Ora,
a beatitude não destrói a natureza, da qual é a perfeição. Logo não destrói o
conhecimento e a dileção naturais.
Os anjos bem-aventurados conservam o conhecimento e a dileção naturais. Pois,
a relação mútua existente entre os princípios das operações existe também entre
estas. Ora, é manifesto, a natureza está para a beatitude como o que é primeiro
para o que é segundo; pois, esta se acrescenta àquela. Mas, como o que é primeiro
se deve sempre encontrar no que é segundo, resulta se deve conservar a natureza
na beatitude. E que semelhantemente, é forçoso que, no ato da beatitude, se
conserve o da natureza.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — A perfeição superveniente destrói a
imperfeição que lhe for oposta. Ora, a imperfeição da natureza não se opõe à
perfeição da beatitude, mas nela se subsume; assim como a imperfeição da
potência se subsume na da forma, ficando eliminada pela forma, não a potência,
mas a privação, oposta à forma. E também, semelhantemente, a imperfeição do
conhecimento natural não se opõe à perfeição do conhecimento da glória, pois
nada impede conhecer alguma coisa simultaneamente, por meios diversos; assim,
uma coisa pode ser conhecida simultaneamente pelo meio provável e pelo demonstrativo.
E semelhantemente, o anjo pode conhecer a Deus, simultaneamente, pela essência
deste — e nisso consiste o conhecimento da glória, e pela essência própria, o
que respeita ao conhecimento da natureza.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — Os atributos da beatitude são auto-suficientes; mas, para
existirem, pre-exigem os da natureza; pois, nenhuma beatitude, salvo a
incriada, é subsistente por si.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Duas operações não podem promanar simultâneamente de uma só
potência, a menos que uma se ordene à outra. Ora, o conhecimento e a dileção
naturais ordenam-se ao conhecimento e à dileção da glória. Por onde, nada
impede tenha o anjo o conhecimento e a dileção naturais e o conhecimento e a
dileção da glória.
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