Em seguida, devemos falar da obra do segundo dia.
E
sobre este assunto, quatro artigos se discutem:
Art.
1 — Se o firmamento foi feito no segundo dia.
Art.
2 — Se as águas estão sobre o firmamento.
Art.
3 — Se o firmamento divide umas, de outras águas.
Art.
4 — Se há só um céu.
Art. 1 — Se o firmamento foi feito no
segundo dia.
O
primeiro discute-se assim. — Parece que o firmamento não foi feito no segundo
dia.
1.
— Pois, diz a Escritura: Chamou Deus ao firmamento céu. Ora, o céu foi feito
antes de todos os dias, como é claro pela passagem: No princípio criou Deus o
céu e a terra. Logo, o firmamento não foi feito no segundo dia.
2.
Demais. — As obras dos seis dias ordenam-se pela disposição da divina
sapiência. Ora, não lhe seria lógico, a esta, se fizesse posteriormente o que é
naturalmente anterior. Mas, o firmamento é naturalmente anterior à água e à
terra, das quais, todavia, se faz menção antes da formação da luz, no primeiro
dia. Logo, o firmamento não foi feito no segundo dia.
3.
Demais. — Tudo o feito durante os seis dias foi formado da matéria criada
primeiro, antes de qualquer dia. Ora, o firmamento não podia ser formado de matéria
preexistente; porque então seria susceptível de geração e corrupção. Logo, o
firmamento não foi feito no segundo dia.
Mas,
em contrário, diz a Escritura: Disse também Deus: faça-se o firmamento. E a
seguir: E da tarde e da manhã se fez o dia segundo.
Como diz Agostinho, devem-se observar duas coisas, em tais questões.
Primeira, que se conserve de maneira inconcussa a verdade da Escritura.
Segunda, como a divina Escritura pode ser exposta em muitos sentidos, ninguém
deve aderir a uma exposição de maneira tão precisa, a ponto de ser a Escritura
objeto de irrisão para os infiéis, aos quais se fecharia, então, a via para a
crença, se se estabelecesse, por uma razão certa, como falso aquilo que se presumia
ser o sentido da Escritura.
Ora,
é preciso saber-se que a lição sobre ter sido o firmamento feito no segundo dia
pode ter duplo sentido. Num, trata-se do firmamento no qual estão os astros, e
então teremos que expor diversamente, segundo as várias opiniões dos homens
sobre o firmamento. — Assim, alguns disseram ser esse firmamento composto dos
elementos. E tal foi a opinião de Empédocles, ensinando que, então esse corpo era
indissolúvel por não haver discórdia na sua composição, mas somente amizade. —
Outros porém disseram que o firmamento é da natureza dos quatro elementos; não
que seja composto dos elementos, mas sendo um como elemento simples. E esta foi
a opinião de Platão (no Timeu), admitindo que o corpo celeste é o elemento do
fogo. — Outros ainda disseram que o céu não é da natureza dos quatro elementos,
mas é um quinto corpo, além deles. E esta foi a opinião de Aristóteles.
Ora,
segundo a primeira opinião poder-se-ia absolutamente conceder que o firmamento,
mesmo na sua substância, foi feito no segundo dia. Pois, à obra da criação
pertence o produzir a própria substância dos elementos; à obra da distinção,
porém, e da ornamentação, o formar das coisas, dos elementos preexistentes.
Mas,
segundo a opinião de Platão, não é procedente se creia que o firmamento, na sua
substância, foi feito no segundo dia. Pois, fazer o firmamento, segundo tal
opinião, é produzir o elemento do fogo. Ora, a produção dos elementos pertence
à obra da criação, conforme os que admitem que a informidade da matéria
precedeu, no tempo, à formação da mesma; pois, as formas dos elementos são o
que primeiro advêm à matéria.
E
muito menos pode-se admitir, conforme a opinião de Aristóteles, que o
firmamento, na sua substância, fosse produzido no segundo dia, entendendo-se,
por esses dias, a sucessão do tempo. Pois o céu, incorruptível por natureza, é
de matéria que não pode ser sujeita a outra forma. Por onde, é impossível que o
firmamento fosse feito da matéria existente, anteriormente, no tempo. Por isso,
a produção da substância do firmamento pertence à obra da criação. Mas alguma
formação dele, segundo essas duas opiniões, pertence à obra do segundo dia;
assim, Dionísio diz que o lume do sol foi informe no primeiro tríduo, tendo
sido formado, em seguida, no quarto dia.
Se,
porém, esses dias não designam a sucessão do tempo, ma somente a ordem da
natureza, como quer Agostinho, nada impede, dizer-se, segundo qualquer das
sobreditas opiniões, que a formação do firmamento, na sua substância pertence
ao segundo dia.
Mas
também se pode, de outro modo, entender que o firmamento, do qual se lê como
feito no segundo dia, não é onde estão fixas as estrelas, mas a parte do ar
onde se condensam as nuvens. E se chama firmamento por causa da espessura do
seu ar. Pois, do espesso e sólido se chama corpo firme, diferentemente do corpo
matemático, como diz Basílio. — E, conforme esta exposição, nada de repugnante
resultando de qualquer das opiniões, Agostinho a recomenda, dizendo: Julgo esta
consideração digníssima de louvor. Diz, nem é contra a fé e pode ser acreditada
com a prova sob os olhos.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Segundo Crisóstomo, Moisés disse, primeiro
sumariamente, o que Deus fez: No princípio criou Deus o céu e a terra, e, em
seguida, explicando-o por partes. Como se alguém dissesse: este artífice fez
esta casa; e, em seguida, acrescentasse: primeiro, fez-lhe os fundamentos;
segundo, erigiu as paredes; terceiro, superpôs o teto. Assim, não devemos
entender que é um o céu, quando se diz: No princípio criou Deus o céu e a
terra; e outro, quando se diz que o firmamento foi feito no segundo dia. Porém,
pode-se dizer que um é o céu do qual se lê como criado no princípio, e outro o
do qual se lê como feito no segundo dia; e isto de diversos modos. — Pois,
segundo Agostinho, o primeiro é a natureza espiritual informe; o segundo, o céu
corpóreo. — Porém, segundo Beda e Estrabo, o primeiro é o céu empíreo; o
segundo, o céu sidéreo. — Mas, segundo Damasceno, o primeiro é um céu esférico,
sem estrelas, do qual os filósofos falam quando dizem que esse é a nona esfera
e o móvel primeiro, movido pelo movimento diurno; pelo segundo, porém,
entende-se o céu sidéreo. — Conforme, ainda, outra exposição, à qual Agostinho
alude, o céu feito no primeiro dia é o céu sidéreo mesmo; ao passo que pelo
firmamento, feito no segundo dia entende-se o espaço do ar no qual as nuvens se
condensam, e que também se chama céu equivocamente. E, assim, para designar a
equivocação, diz-se expressivamente: E chamou Deus o firmamento céu, como,
antes, dissera: E chamou à luz dia, porque dia também significa o espaço de
vinte e quatro horas. E o mesmo se deve observar, em outras passagens, como diz
Rabbi Moisés.
Do
que acaba de ser dito é clara a RESPOSTA À SEGUNDA E À TERCEIRA OBJEÇÃO.
Nota:
Revisão da tradução para português por ama
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.