26/06/2012

Tratado da criação da criatura corpórea 9

Questão 67: Da obra da distinção em si mesma.
Em seguida, devemos tratar da obra da distinção em si mesma. E, primeiramente, da obra do primeiro dia. Segundo, da do segundo. Terceiro, da do terceiro.


Sobre o primeiro ponto quatro artigos se discutem.
Art. 1 — Se a luz se atribui, propriamente, aos seres espirituais.
Art. 2 — Se a luz é corpo.
Art. 3 — Se a luz é qualidade.
Art. 4 — Se convenientemente a produção da luz se coloca no primeiro dia.

Art. 1 — Se a luz se atribui, propriamente, aos seres espirituais.

O primeiro discute-se assim. — Parece que a luz se atribui, propriamente, aos seres espirituais.

1. — Pois, Agostinho diz que a luz é melhor e mais certa, nos seres espirituais; e que de Cristo não se diz que é luz, do mesmo modo que é pedra; senão, luz, própria, e, pedra, figuradamente.

2. Demais. — Dionísio coloca a luz entre os nomes explicativos de Deus. Ora, estes nomes se predicam, propriamente, dos seres espirituais. Logo, a luz se predica destes seres, propriamente.

3. Demais. — O Apóstolo diz: Porque tudo o que se manifesta é luz. Ora, a manifestação mais propriamente se atribui aos seres espirituais que aos corporais. Logo, também a luz.

Mas, em contrário, Ambrósio coloca o esplendor entre as coisas que se dizem de Deus metaforicamente.

Pode-se considerar qualquer nome de duplo ponto de vista: segundo a sua imposição primeira e segundo o seu uso. Assim é claro que o nome de visão, primeiramente imposto para significar o acto do sentido da vista, foi, por causa da dignidade e da certeza desse sentido, estendido, pelo uso, não só a todo o conhecimento dos outros sentidos — sendo por isso que dizemos: vede como sabe, ou como cheira, ou como é cálido; mas, ainda ulteriormente, ao conhecimento do intelecto, segundo a expressão da Escritura: Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. E semelhantemente, deve-se dizer o mesmo do vocábulo luz, imposto, primeiramente, para significar a causa da manifestação, no sentido da vista; e estendido, em seguida, para significar tudo o que causa a manifestação, em qualquer conhecimento. Se, pois, se considerar tal nome na sua imposição primeira, a luz se atribui metaforicamente aos seres espirituais, como ensina Ambrósio. Se, porém, for considerado conforme o uso corrente e estendendo-se a todas as manifestações, então predica-se propriamente dos seres espirituais.

Donde se deduzem claras as RESPOSTAS ÀS OBJEÇÕES.

Nota: Revisão da tradução para português por ama

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