Art. 6 — Se os anjos conseguiram a
graça e a glória conforme a quantidade das suas capacidades naturais.
O
sexto discute-se assim. — Parece que os anjos não conseguiram a graça e a
glória conforme a quantidade das suas capacidades naturais.
1.
— Pois a graça é dada pela mera vontade de Deus. Logo, também a quantidade de
graça depende da vontade de Deus e não da quantidade das suas capacidades
naturais.
2.
Demais. — Mais próximo está da graça o ato humano do que a natureza, pois
aquele é preparatório da graça. Mas esta não provém das obras, como diz a
Escritura. Logo, com maior razão, a quantidade da graça, nos anjos, não é
segundo a quantidade das suas capacidades naturais.
3.
Demais. — O homem e o anjo se destinam por igual à beatitude ou graça. Ora, ao
homem não é dada mais graça, segundo o grau das suas capacidades naturais.
Logo, nem ao anjo.
Mas,
em contrário, diz o Mestre das Sentenças que os anjos criados mais sutis, pela
natureza, e mais perspicazes, pela sabedoria, também foram dotados de maiores
capacidades da graça.
É racional sejam a graça e a perfeição da beatitude dadas aos anjos segundo
o grau das suas capacidades naturais. E a razão disso é dupla. — A primeira se
deduz da parte do próprio Deus que, na ordem da sua sabedoria, constituiu
diversos graus em a natureza angélica. Ora, como esta foi feita por Deus para
conseguir a graça e a beatitude, assim também os graus dessa natureza foram
ordenados aos diversos graus da graça e da glória. Do mesmo modo que se o
edificador polir pedras para construir uma casa, o fato mesmo de polir algumas
mais belas e artisticamente mostra que as destina a uma parte mais nobre da
casa. Donde, resulta que Deus ordenou a maiores dons da graça e a mais ampla
beatitude os anjos, que fez de mais elevada natureza. — Em segundo lugar, o
mesmo resulta por parte do próprio anjo. Pois, este não é composto de diversas
naturezas, de modo que a inclinação de uma impeça ou retarde a tendência de
outra, como acontece com o homem, no qual o movimento da parte intelectiva é
retardado ou impedido pela inclinação da parte sensitiva. Quando, porém, não há
nada que a retarde ou impeça, a natureza se move para o seu objeto segundo toda
a sua virtude. Por onde, é racional que os anjos dotados de melhor natureza se
convertessem para Deus mais forte e eficazmente. E isto também se dá com os
homens, pois, segundo a intenção de converterem-se para Deus, é-lhes dada maior
graça e glória. Donde se conclui que os anjos dotados de melhores capacidade
naturais tiveram mais graça e glória.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Assim como a graça, também a natureza do anjo
provém da mera vontade de Deus. E assim como esta ordenou para a graça a
natureza, assim também os graus da natureza para os da graça.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — Os atos da criatura racional desta mesma promanam; mas a natureza
vem imediatamente de Deus. Donde, mais racional é seja a graça dada conforme o
grau da natureza, do que segundo as obras.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — A diversidade das capacidades naturais é uma nos anjos,
especificamente diferentes, e outra nos homens, só numericamente diferentes.
Pois, a diferença específica é formal, mas a numérica, material. Por onde, no
homem há alguma coisa que pode impedir ou retardar o movimento da natureza
intelectiva; não, porém, nos anjos. E, por isso, não é a mesma a razão num e
noutro caso.
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