
Art. 4 — Se nos
anjos há o apetite irascível e o concupiscível.
(Infra,
q. 8, a. 5; II Sent., dist. VII, q. 2, a. 1; ad 1; De Malo, q. 14, a. 1, ad 3)
O quarto discute-se assim. — Parece que nos anjos há o
apetite irascível e o concupiscível.
1. — Pois, diz Dionísio que, nos demónios, há furor
irrascível e concupiscência amente 1.
Ora, os demónios têm a mesma natureza que os anjos bons, pois o pecado não lhes
mudou a natureza. Logo, nos anjos há o apetite irascível e o concupiscível.
2. Demais. — O amor e a alegria pertencem ao apetite
concupiscível; porém, a ira, a esperança e o temor, ao irascível. Ora, essas
paixões atribuem-se, na Escritura, aos anjos bons e aos maus. Logo, nos anjos,
há o apetite irascível e o concupiscível.
3. Demais. — Há certas virtudes atribuídas tanto ao
apetite irascível como ao concupiscível; assim, a caridade e a temperança
pertencem ao concupiscível; a esperança, porém, e a fortaleza, ao irascível.
Ora, essas virtudes existem nos anjos. Logo, neles existem ambos os apetites.
Mas, em contrário, diz o Filósofo que os apetites,
irascível e concupiscível, pertencem à parte sensitiva, que não existe nos
anjos 2. Logo, neles não há os
dois apetites.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Metaforicamente
é que se atribui o furor e a concupiscência aos demónios; assim como também se
atribui a Deus a ira, pela semelhança de efeito.
RESPOSTA À SEGUNDA. — O amor e a alegria, como paixões,
pertencem ao apetite concupiscível; mas, como denominações de um acto simples
da vontade, pertencem à parte intelectiva; sendo então amar querer um bem para
si ou para outro, e o alegrar-se, é o descansar da vontade no bem possuído. E
em geral nenhum afecto, como paixão, se predica dos anjos, segundo Agostinho 4.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A caridade, como virtude, não
pertence ao apetite concupiscível, mas à vontade, Pois, o objecto desse apetite
sendo o bem deleitável sensível, não pode atingir o bem divino, objecto da
caridade. E pela mesma razão deve se dizer que a esperança não pertence ao
apetite irascível; pois o objecto deste é o árduo sensível, que não é o
arrastado pela virtude da esperança, que visa o árduo divino. Porém a
temperança, como virtude humana, diz respeito às concupiscências dos
deleitáveis sensíveis, as quais pertencem ao apetite concupiscível; e
semelhantemente, a fortaleza diz respeito às audácias e aos temores do apetite
irascível. Donde, a temperança, como virtude humana, pertence ao apetite
concupiscível; e a fortaleza, ao irascível. Não é, porém, assim que essas virtudes
existem nos anjos; pois, não há neles paixões de concupiscências, ou do temor ou
da audácia, que devam ser reguladas pela temperança e pela fortaleza. Mas atribui-se-lhes
a temperança enquanto manifestam moderadamente a vontade pela regra da vontade
divina; e a fortaleza enquanto firmemente executam a vontade divina; o que tudo
fazem pela vontade e não pelos apetites irascível e concupiscível.
S. tomás de aquino, Suma Teológica.
(Nota:
Revisão da tradução para português por ama)
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Notas:
1. IV De div. nom. (lect. XIX).
2. III de anima (lect. XIV).
3. Q. 59, a. 1.
4. IX De civitate Dei (Cap. V).
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