Questão 58: Do modo
do conhecimento angélico. 4
Art. 4 — Se os
anjos inteligem compondo e dividindo.
(Infra,
q. 85, a. 5; De Malo, q. 16, a. 6 ad 19)
O quarto discute-se assim. — Parece que os anjos
inteligem compondo e dividindo.
1. — Onde há, pois, multidão de coisas inteligidas há
composição dos intelectos, como diz Aristóteles 1.
Ora, no intelecto angélico há tal multidão, porque intelige diversas coisas por
diversas espécies, e não todas simultaneamente. Logo, há nele composição e
divisão.
2. Demais. — Mais dista a afirmação da negação do que
duas naturezas opostas quaisquer, porque a primeira distinção se faz pela afirmação
e negação. Ora, como se viu 2, o
anjo não conhece quaisquer naturezas distantes por uma, mas por várias
espécies. Logo é necessário que conheça, por diversas espécies, a afirmação e a
negação. Donde resulta que o anjo intelige compondo e dividindo.
3. Demais. — A linguagem é sinal de inteligência. Ora,
os anjos, falando com os homens, proferem enunciados afirmativos e negativos,
que são sinais de composição e divisão no intelecto, como se vê em muitos
lugares da Sagrada Escritura. Logo, resulta que o anjo intelige compondo e
dividindo.
Mas, em contrário, diz Dionísio que a virtude
intelectual dos anjos resplandece pela perspícua e simples visão da mente
divina 3. Ora, a inteligência
simples não tem composição nem divisão, como diz Aristóteles 4. Logo, o anjo intelige sem composição nem
divisão.
Assim como no intelecto que raciocina a
conclusão se liga ao princípio; assim, no que compõe e divide, o predicado se
liga ao sujeito. Se, pois, o nosso intelecto visse, imediatamente, no próprio
princípio, a verdade da conclusão, nunca inteligiria discorrendo ou
raciocinando. Semelhantemente, se o nosso intelecto tivesse conhecimento
imediato, pela apreensão da quididade do sujeito, de tudo o que lhe pode ser
atribuído ou deste removido, nunca inteligiria compondo e dividindo, mas
somente inteligindo a quididade. Por onde é claro que da mesma causa provém o
inteligir do intelecto que discorre e do que compõe e divide; e essa está em
que o intelecto não pode ver imediatamente, na primeira apreensão de qualquer
coisa, primariamente apreendida, tudo o que nesta, pela sua virtude, está
contido; o que se dá pela debilidade da nossa luz intelectual, como já se disse
5. Ora, tendo o anjo luz
intelectual perfeita, por ser espelho puro e claríssimo, como diz Dionísio 6, resulta que ele, que não intelige
raciocinando, também não intelige compondo e dividindo. Contudo, intelige a
composição e a divisão dos enunciados, como também o raciocínio dos silogismos;
pois, intelige as coisas compostas simplesmente, as móveis, imovelmente, e as
materiais, imaterialmente.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Não é qualquer
pluralidade de objetos inteligidos que causa a composição; mas a daqueles nos
quais um é atribuído a outro ou deste removido. Ora, o anjo, inteligindo a quididade
de uma coisa, simultaneamente intelige tudo o que lhe pode ser atribuído ou
dela removido. E assim, inteligindo a quididade intelige, pelo seu uno e
simples intelecto, tudo o que nós só podemos inteligir compondo e dividindo.
RESPOSTA À SEGUNDA. — As diversas quididades das coisas
diferem menos entre si quanto à razão de existir, do que a afirmação e a
negação. Todavia, quanto à razão do conhecimento, a afirmação e negação mais
convém entre si, porque, conhecendo-se a verdade da afirmação, imediatamente se
conhece a falsidade da negação oposta.
RESPOSTA À TERCEIRA. — O exprimirem os anjos enunciados
afirmativos e negativos manifesta que eles conhecem a composição e a divisão;
não, porém, que conheçam compondo e dividindo, mas conhecendo simplesmente a quididade.
S. tomás de aquino, Suma Teológica.
(Nota:
Revisão da tradução para português por ama)
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Notas:
1. III de anima (lect. X).
2. Q. 58, a. 2.
3. De div. nom., cap. VII (lect. II).
4. III De anima (lect. XI).
5. Q. 58, a. 3.
6. De div. nom., cap. IV
(lect. XVIII).
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