Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Jo 8, 42-59
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Jo 8, 42-59
42 Jesus disse-lhes: «Se
Deus fosse vosso pai, certamente Me amaríeis porque Eu saí e vim de Deus. Não
vim de Mim mesmo, mas foi Ele que Me enviou. 43 Porque não conheceis vós a
Minha linguagem? Porque não podeis ouvir a Minha palavra. 44 Vós tendes por pai
o demónio, e quereis satisfazer os desejos do vosso pai. Ele foi homicida desde
o princípio e não permaneceu na verdade, porque a verdade não está nele. Quando
ele diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.
45 Mas, porque vos digo a verdade, não acreditais em Mim. 46 Qual de vós Me
arguirá de pecado? Se Eu vos digo a verdade, porque não Me acreditais? 47 Quem
é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso vós não as ouvis, porque não sois
de Deus». 48 Os judeus responderam-Lhe: «Não dizemos nós com razão que Tu és um
samaritano e que estás possesso do demónio?». 49 Respondeu Jesus: «Eu não tenho
demónio, mas honro o Meu Pai, e vós a Mim Me desonrais. 50 Eu não procuro a
Minha glória; há Quem tome cuidado dela, e Quem fará justiça. 51 Em verdade, em
verdade vos digo: Quem guardar a Minha palavra não verá a morte eternamente».
52 Os judeus disseram-Lhe: «Agora reconhecemos que estás possesso do demónio.
Abraão morreu, os profetas também, e Tu dizes: Quem guardar a Minha palavra não
provará a morte eternamente. 53 Porventura és maior do que o nosso pai Abraão,
que morreu? Os profetas também morreram: Quem pretendes Tu ser?». 54 Jesus
respondeu: «Se Eu Me glorifico a Mim mesmo, a Minha glória não é nada; Meu Pai
é que Me glorifica, Aquele que vós dizeis que é vosso Deus.55 Mas vós não O
conhecestes; Eu sim, conheço-O; e, se disser que não O conheço, seria mentiroso
como vós. Mas conheço-O e guardo a Sua palavra.56 Abraão, vosso pai,
regozijou-se com a esperança de ver o Meu dia; viu-o e ficou cheio de gozo». 57
Os judeus, por isso, disseram-Lhe: «Tu ainda não tens cinquenta anos e viste
Abraão?». 58 Jesus disse-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Antes que
Abraão existisse, “Eu sou”». 59 Então pegaram em pedras para Lhe atirarem; mas
Jesus ocultou-Se e saiu do templo.
Ioannes Paulus PP. II
Redemptoris Mater
sobre
a Bem Aventurada
Virgem
Maria
na
vida da Igreja que está a caminho
/…5
27.
Agora, nos albores da Igreja, no princípio da sua longa caminhada mediante a
fé, que se iniciava em Jerusalém com o Pentecostes, Maria estava com todos
aqueles que então constituíam o gérmen do "novo Israel". Estava
presente no meio deles como uma testemunha excepcional do mistério de Cristo. E
a Igreja era assídua na oração juntamente com ela e, ao mesmo tempo,
"contemplava-a à luz do Verbo feito homem". E assim viria a ser
sempre. Com efeito, sempre que a Igreja "penetra mais profundamente no
insondável mistério da Incarnação", ela pensa na Mãe de Cristo com
entranhada veneração e piedade. 63
Maria faz parte indissoluvelmente do mistério de Cristo; e faz parte também do
mistério da Igreja desde o princípio, desde o dia do seu nascimento. Na base
daquilo que a Igreja é desde o início, daquilo que ela deve tornar-se
continuamente, de geração em geração, no seio de todas as nações da terra,
encontra-se "aquela que acreditou no cumprimento das coisas que lhe foram
ditas da parte do Senhor" (Lc 1, 45). Esta fé de Maria,
precisamente, que assinala o início da nova e eterna Aliança de Deus com a humanidade
em Jesus Cristo, esta sua fé heróica "precede" o testemunho
apostólico da Igreja e permanece no coração da mesma Igreja, escondida como uma
herança especial da revelação de Deus. Todos aqueles que, de geração em
geração, aceitando o testemunho apostólico da Igreja, começam a participar
nessa herança misteriosa, participam, em certo sentido, na fé de Maria.
As
palavras de Isabel "feliz daquela que acreditou", continuam a
acompanhar a Virgem Maria também no Pentecostes; seguem-na de época para época,
para onde quer que se estenda, através do testemunho apostólico e do serviço da
Igreja, o conhecimento do mistério salvífico de Cristo. E assim se cumpre a
profecia do Magnificat: "Hão-de chamar-me bem-aventurada todas as
gerações, porque fez em mim grandes coisas o Todo-poderoso. É santo o seu
nome" (Lc 1, 48-49). Ao conhecimento do mistério de Cristo
segue-se, efectivamente, a bênção de sua Mãe, sob a forma de especial veneração
para com a Theotòkos. E nessa veneração estão incluídas sempre as palavras abençoadoras
da sua fé. Com efeito, a Virgem de Nazaré, segundo as palavras de Isabel na
altura da Visitação, tornou-se ditosa sobretudo mediante essa sua fé. Aqueles
que, de geração em geração, no seio de diversos povos e nações, acolhem com fé
o mistério de Cristo, Verbo Incarnado e Redentor do mundo, não só se voltam com
veneração e recorrem confiadamente a Maria como a sua Mãe, mas na sua fé
procuram também o apoio para a própria fé. E precisamente esta participação
viva na fé de Maria decide de uma sua presença especial na peregrinação da
Igreja, como novo Povo de Deus espalhado por toda a terra.
28.
Como diz o Concílio, "Maria... pela sua participação íntima na história da
salvação... quando é exaltada e honrada, atrai os fiéis ao seu Filho e ao
sacrifício dele, bem como ao amor do Pai" 64 Por isso, a fé de
Maria, atendo-nos ao testemunho apostólico da Igreja, torna-se, de alguma
maneira, incessantemente a fé do Povo de Deus que está a caminho: a fé das
pessoas e das comunidades, dos encontros e das assembleias e, enfim, dos
diversos grupos que existem na Igreja. Trata-se de uma fé que se transmite
mediante o conhecimento e o coração ao mesmo tempo; de uma fé que se adquire ou
readquire continuamente mediante a oração. É por isso que, "também na sua
acção apostólica, a Igreja olha com razão para aquela que gerou Cristo, o qual
foi concebido por obra do Espírito Santo e nasceu da Virgem precisamente para
nascer e crescer também no coração dos fiéis, por meio da Igreja". 65
Hoje,
quando nesta peregrinação de fé já nos aproximamos do final do Segundo Milénio
cristão, a Igreja, por intermédio do magistério do Concílio Vaticano II, chama
a atenção para aquilo que ela reconhece ser, em si mesma: um "só Povo de
Deus... que se encontra radicado em todas as nações do mundo"; e,
igualmente, para a verdade segundo a qual todos os féis, embora
"espalhados pelo mundo, comunicam com os restantes por meio do Espírito
Santo", 66 de sorte que pode
dizer-se que nesta união se realiza continuamente o mistério do Pentecostes. Ao
mesmo tempo, os apóstolos e os discípulos do Senhor, em todas as nações da
terra, "entregam-se assiduamente à oração, em companhia de Maria, a mãe de
Jesus" (cf. Act 1, 14). Constituindo de geração em geração o
"sinal do Reino" que "não é deste mundo", 67 eles estão cônscios de que no meio deste
mundo devem congregar-se em torno daquele Rei, ao qual foram dadas em posse as
nações, para seu domínio (cf. Sl 2, 8), e ao qual Deus e Senhor deu
"o trono de David, seu pai", de modo que ele "reinará
eternamente na casa de Jacob e o seu reinado não terá fim" (cf. Lc 1,
33).
Neste
tempo de vigília, Maria, mediante a mesma fé que a tornou feliz a ela,
especialmente a partir do momento da Anunciação, está presente na missão da
Igreja, presente na obra da Igreja que introduz no mundo do Reino do seu Filho.
68 Esta presença de Maria, nos
dias de hoje, como aliás ao longo de toda a história da Igreja, encontra
múltiplos meios de expressão. Possui também um multiforme raio de acção:
mediante a fé e a piedade dos fiéis; mediante as tradições das famílias cristãs
ou "igrejas domésticas", das comunidades paroquiais e missionárias,
dos institutos religiosos e das dioceses; e mediante o poder de atracção e
irradiação dos grandes santuários, onde não apenas as pessoas individualmente
ou grupos locais, mas por vezes inteiras nações e continentes procuram o
encontro com a Mãe do Senhor, com Aquela que é feliz porque acreditou, que é a
primeira entre aqueles que acreditaram e por isso se tornou a Mãe do Emanuel.
Na mesma linha se enquadra o apelo da Terra da Palestina, pátria espiritual de
todos os cristãos, porque foi a pátria do Salvador do mundo e da sua Mãe; de
igual modo, o apelo dos numerosos templos que a fé cristã ergueu no decorrer
dos séculos em Roma e no mundo inteiro; e, ainda, o apelo de centros como
Guadalupe, Lourdes, Fátima e os outros espalhados pelos diversos países, entre
os quais, como poderia eu deixar de recordar o da minha terra natal, Jasna
Góra? Talvez se pudesse falar de uma "geografia" específica da fé e da
piedade marianas, a qual abrange todos estes lugares de particular peregrinação
do Povo de Deus; este busca o encontro com a Mãe de Cristo, procurando achar no
clima de especial irradiação da presença materna "daquela que
acreditou", a consolidação da própria fé.
Com
efeito, na fé de Maria, já aquando da Anunciação e de forma completa aos pés da
Cruz, reabriu-se para o homem um certo espaço interior, no qual o eterno Pai
pode locupletar-nos com "toda a sorte de bênçãos espirituais": o
espaço da "nova e eterna Aliança" 69
Este espaço subsiste na Igreja que, em Cristo, é como que "um sacramento
da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano". 70
É
pela fé, pois, aquela fé que Maria professou na Anunciação "como serva do
Senhor" e com a qual constantemente "precede" o Povo de Deus que
está a caminho sobre a terra, que a Igreja "tende eficaz e constantemente
à recapitulação de toda a humanidade... sob a Cabeça, Cristo, na unidade do seu
Espírito". 71
2. A caminhada da Igreja e a unidade
de todos os Cristãos
29.
"O Espírito suscita em todos os discípulos de Cristo o desejo e a acção em
vista de que todos, segundo o modo estabelecido por Cristo, se unam
pacificamente num só rebanho e sob um só pastor". 72 A caminhada da Igreja, especialmente na nossa
época, está marcada pelo sinal do Ecumenismo: os cristãos procuram as vias para
reconstituir aquela unidade que Cristo invocava do Pai para os seus discípulos
nas vésperas da sua paixão: "para que todos sejam uma coisa só. Assim como
tu, ó Pai, estás em mim e eu em ti, também eles sejam um em nós, a fim de que o
mundo creia que tu me enviaste" (Jo 17, 21). A unidade dos
discípulos de Cristo, portanto, é um sinal influente para suscitar a fé do
mundo; ao passo que a sua divisão constitui um escândalo. 73
O
movimento ecuménico, com base numa consciência mais lúcida e difundida da
urgência de se chegar à unidade de todos os cristãos, teve a sua expressão
culminante, por parte da Igreja católica, na obra do Concílio Vaticano II: é
preciso que os mesmos cristãos aprofundem em si próprios e em cada uma das suas
comunidades aquela "obediência de fé" de que Maria Santíssima é o
primeiro e o mais luminoso exemplo. E uma vez que ela "brilha agora diante
do Povo de Deus ainda peregrinante como sinal de esperança segura e de consolação",
"é motivo de uma grande alegria e de consolação para o sagrado Concílio o
facto de não faltar entre os irmãos desunidos quem tribute à Mãe do Senhor e
Salvador a devida honra, sobretudo entre os Orientais". 74
30.
Os cristãos sabem que a unidade entre eles só poderá ser reencontrada
verdadeiramente se estiver fundada sobre a unidade da sua fé. Eles devem
resolver discordâncias não leves de doutrina, quanto ao mistério e ao
ministério da Igreja e quanto à função de Maria na obra da salvação. 75 Os diálogos já entabulados pela Igreja
católica com as Igrejas orientais e com as Igrejas e Comunidades eclesiais do
Ocidente 76 vão convergindo, cada
vez mais, para estes dois aspectos inseparáveis do próprio mistério da
salvação. Se o mistério do Verbo Incarnado nos faz vislumbrar o mistério da
maternidade divina e se a contemplação da Mãe de Deus, por sua vez, nos
introduz numa compreensão mais profunda do mistério da Incarnação, o mesmo se
deve dizer do mistério da Igreja e da função de Maria na obra da salvação. Ao
aprofundar um e outro e ao tentar esclarecer um por meio do outro, os cristãos,
desejosos de fazer - como lhes recomenda a sua Mãe - o que Jesus lhes disser (cf.
Jo 2, 5), poderão progredir juntos naquela "peregrinação da fé"
de que Maria é sempre o exemplo e que deve conduzi-los à unidade, querida pelo
seu único Senhor e tão desejada por aqueles que estão prontos a ouvir
atentamente o que o Espírito diz hoje às Igrejas (cf. Apoc 2, 7. 11. 17).
Entretanto,
é um bom presságio que estas Igrejas e Comunidades eclesiais estejam concordes
em pontos fundamentais da fé cristã, também pelo que diz respeito à Virgem
Maria. Elas, de facto, reconhecem-na como Mãe do Senhor e acham que isso faz
parte da nossa fé em Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Ademais,
volvem para ela o olhar, aceitando ser Aquela que, aos pés da Cruz, acolhe o
discípulo amado como seu filho, o qual, por sua vez, a recebe a ela como mãe.
Por
que, então, não olhar todos conjuntamente para a nossa Mãe comum, que intercede
pela unidade da família de Deus e que a todos "precede", à frente do
longo cortejo das testemunhas da fé no único Senhor, o Filho de Deus, concebido
no seu seio virginal por obra do Espírito Santo?
31.
Desejo realçar, por outro lado, quanto a Igreja católica, a Igreja ortodoxa e
as antigas Igrejas orientais se sentem profundamente unidas no amor e louvor à
Theotókos. Não só "os dogmas fundamentais da fé cristã acerca da Trindade
e do Verbo de Deus, que assumiu a carne da Virgem Maria, foram definidos nos
Concílios ecuménicos celebrados no Oriente", 77
mas também no seu culto litúrgico "os Orientais exaltam com hinos
esplêndidos Maria sempre Virgem... e Santíssima Mãe de Deus". 78
Os
irmãos destas Igrejas passaram por vicissitudes complexas; mas a sua história
foi sempre animada por um vivo desejo de empenhamento cristão e de irradiação
apostólica, embora muitas vezes marcada por perseguições, mesmo cruentas. É uma
história de fidelidade ao Senhor, uma autêntica "peregrinação da fé"
através dos lugares e dos tempos, nos quais os cristãos orientais sempre se
voltaram com ilimitada confiança para a Mãe do Senhor, a celebraram com
louvores e a invocaram constantemente com orações. Nos momentos difíceis da sua
existência cristã atribulada, "eles refugiaram-se sob a sua protecção",
79 conscientes de encontrarem
nela um poderoso auxílio. As Igrejas que professam a doutrina de Éfeso,
proclamam a Virgem Maria "verdadeira Mãe de Deus", por isso mesmo que
"nosso Senhor Jesus Cristo, nascido do Pai antes de todos os séculos
segundo a divindade, nos últimos tempos, por nós e para nossa salvação, foi
gerado pela Virgem Maria Mãe de Deus segundo a humanidade", 80 Os Padres gregos e a tradição bizantina,
contemplando a Virgem Santíssima à luz do Verbo feito homem, procuraram
penetrar na profundidade daquele vínculo que une Maria, enquanto Mãe de Deus, a
Cristo e à Igreja: ela é uma presença permanente em toda a amplidão do mistério
salvífico.
As
tradições coptas e etiópicas foram introduzidas nessa contemplação do mistério
de Maria por São Cirilo de Alexandria; e, por sua vez, celebraram-na com uma
abundante florescência poética. 81
O génio poético de Santo Efrém, o Sírio, denominado "a cítara do Espirito
Santo", cantou infatigavelmente a Virgem Maria, deixando um rasto ainda
visível em toda a tradição da Igreja siríaca. 82
No seu panegírico da Theotòkos, São Gregório de Narek, uma das mais fúlgidas glórias
da Arménia, com vigoroso estro poético, aprofundou os diversos aspectos do
mistério da Incarnação; e cada um destes aspectos é para ele ocasião de cantar
e exaltar a dignidade extraordinária e a beleza esplendorosa da Virgem Maria,
Mãe do Verbo Incarnado. 83
Não
é para admirar, pois, que Maria tenha um lugar privilegiado no culto das
antigas Igrejas orientais, com uma abundância admirável de festas e de hinos.
32.
Na liturgia bizantina, em todas as horas do Ofício divino, o louvor da Mãe anda
unido ao louvor do Filho e ao louvor que, por meio do Filho, se eleva ao Pai no
Espírito Santo. Na anáfora ou oração eucarística de São João Crisóstomo,
imediatamente depois da epiclese, a comunidade reunida canta desta forma à Mãe
de Deus: "É verdadeiramente justo proclamar-vos bem-aventurada, ó Deípara,
que sois felicíssima, toda pura e Mãe do nosso Deus. Nós vos magnificamos: a
vós, que sois mais digna de honra do que os querubins e incomparavelmente mais
gloriosa do que os serafins! A vós que, sem perder a vossa virgindade, destes
ao mundo o Verbo de Deus! A vós, que sois verdadeiramente a Mãe de Deus"!
Semelhantes
louvores, que em cada celebração da liturgia eucarística se elevam a Maria
Santíssima, forjaram a fé, a piedade e a oração dos fiéis. No decorrer dos
séculos tais louvores impregnaram todas as expressões da sua espiritualidade,
suscitando neles uma devoção profunda para com a "Santíssima Mãe de
Deus".
33.
Este ano ocorre o XII centenário do segundo Concílio Ecuménico de Niceia (a.
787), no qual, para resolução da conhecida controvérsia acerca do culto
das imagens sagradas, foi definido que, segundo o ensino dos santos Padres e
segundo a tradição universal da Igreja, se podiam propor à veneração dos fiéis,
conjuntamente com a Cruz, as imagens da Mãe de Deus, dos Anjos e dos Santos,
tanto nas igrejas como nas casas ou ao longo dos caminhos. 84 Este costume foi conservado em todo o
Oriente e também no Ocidente: as imagens da Virgem Maria têm um lugar de honra
nas igrejas e nas casas. Maria é representada: ou como trono de Deus, que
sustenta o Senhor e o doa aos homens (Theotòkos); ou como caminho que leva a
Cristo e o mostra (Odigitria); ou como orante, em atitude de intercessão e
sinal da presença divina nos caminhos dos fiéis, até ao dia do Senhor (Deisis);
ou como protectora, que estende o seu manto sobre os povos (Pokrov); ou, enfim,
como Virgem misericordiosa e cheia de ternura (Eleousa). Ela é representada,
habitualmente, com o seu Filho, o Menino Jesus, que tem nos braços: é a relação
com o Filho que glorifica a Mãe. Algumas vezes, ela abraça-o com ternura
(Glykofilousa); outras vezes, está hierática e parece absorvida na contemplação
daquele que é o Senhor da história (cf. Apoc 5, 9-14). 85
Convém
também recordar a Ícone de Nossa Senhora de Vladimir, que constantemente
acompanhou a peregrinação de fé dos povos da antiga "Rus'".
Aproxima-se o primeiro Milénio da conversão ao Cristianismo daquelas nobres
terras: terras de gente humilde, de pensadores e de santos. As Ícones são
veneradas ainda hoje na Ucrânia, na Bielorrússia (ou Rússia Branca) e na
Rússia, sob diversos títulos: são imagens que atestam a fé e o espírito de
oração daquele povo bondoso, que adverte a presença e a protecção da Mãe de
Deus. Nessas Ícones a Virgem Maria resplandece como reflexo da beleza divina,
morada da eterna Sabedoria, figura da orante, protótipo da contemplação e
imagem da glória: tenta-se representar aquela que, desde o início da sua vida
terrena, possuindo a ciência espiritual inacessível aos raciocínios humanos,
com a fé alcançou o conhecimento mais sublime. Recordo, ainda, a Ícone da
Virgem do Cenáculo, em oração com os Apóstolos, aguardando a vinda do Espírito:
não poderia ela tornar-se sinal de esperança para todos aqueles que, no diálogo
fraterno, querem aprofundar a própria obediência da fé?
34.
Tamanha riqueza de louvores, acumulada pelas diversas formas da grande tradição
da Igreja, poderia ajudar-nos a fazer com que a mesma Igreja torne a respirar
plenamente "com os seus dois pulmões": o Oriente e o Ocidente. Como
já afirmei, por mais de uma vez, isso é necessário mais do que nunca, nos dias
de hoje. Seria um valioso auxílio para fazer progredir o diálogo em vias de
actuação entre a Igreja católica e as Igrejas e as Comunidades eclesiais do
Ocidente. 86 E seria também a via
para a Igreja que está a caminho poder cantar e viver de modo mais perfeito o
seu "Magnificat".
(Nota:
Revisão da tradução para português por ama)
______________________________________
Notas
(em latim):
(63) Ibid., 65.
(64) Ibid., 65.
(65) Ibid., 65.
(66) Cfr. Ibid., 13.
(67) Cfr. Ibid., 13.
(68) Cfr. Ibid., 13.
(69) Cfr. Missale Romanum, Formula consecrationis
calicis in Eucharisticis Precibus.
(70) CONC. OEC. VAT. II, Const. dogm. Lumen
Gentium de Ecclesia, 1.
(71) Ibid., 13.
(72) Ibid., 15.
(73) Cfr. CONC. OEC. VAT. II, Decr.
Unitatis Redintegratio de Oecumenismo, 1.
(74) Const. dogm. Lumen Gentium de
Ecclesia, 68, 69. Quod vera attinet ad Mariam Sanctissimam, fautricem
Christianorum unitatem necnon ad eius culturn in Oriente, cfr. LEO PP. XIII,
Ep. Enc. Adiutricem populi (5 Septembris 1895): Acta Leonis XV. 300-312.
(75) Cfr. CONC. OEC. VAT. II, Decr.
Unitatis Redintegratio de Oecumenismo. 20.
(76) Cfr. ibid., 19.
(77) Ibid., 14.
(78) Ibid., 15.
(79) CONC. OEC. VAT. II, Const. dogm. Lumen
Gentium de Ecclesia, 66.
(80) CONC. OEC. CHALCEDON., Definitio
fidei: Conciliorum Oeoumenicorum Decreta, Bologna 1973 86 (DS 301).
(81) Cfr. Weddâsê Mâryâm (Mariae Laudes),
qui Psalterium Aethiopicum sequitur atque hymnos et preces ad Mariam pro
unoquoque die hebdomadae continet. Cfr. etiam Matshafa Kidâna Mehrat (Liber
Foederis Misericordiae): notandum est pond us tributum Mariae in hymnologia et
liturgia Aethiopica.
(82) Cfr. S. EPHRAEM, Hymn. de Nativitate:
Scriptores Syri, 82, OSOO, 186.
(83) Cfr. S. GREGORIUS DE NAREK, Le livre
de prières: S. Ch., 78, 160-163; 428-432.
(84) CONC OEC. NICAENUM II, Conciliorum
Oecumenicorum Decreta, Bologna 1973 135-138 (DS 600-609).
(85) Cfr. CONC. OEC. VAT. II, Const. dogm.
Lumen Gentium de Ecclesia, 59.
(86) Cfr. CONC. OEC. VAT. II, Decr.
Unitatis Redintegratio de Oecumenismo, 19.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.