Art. 2 — Se o anjo
pode inteligir simultaneamente muitas coisas.
O segundo discute-se assim. — Parece que o anjo não
pode inteligir simultaneamente muitas coisas.
1. — Pois o Filósofo diz que se podem saber muitas coisas,
mas inteligir só o que é uno 1.
2. Demais. — Nada é inteligido senão porque o intelecto
é informado pela espécie inteligível, assim como o corpo o é pela figura. Ora,
um mesmo corpo não pode ser informado por diversas figuras. Logo, um mesmo
intelecto não pode inteligir simultaneamente diversos inteligíveis.
3. Demais. — Inteligir é um movimento. Ora, nenhum
movimento termina em termos diversos. Logo, não pode o intelecto inteligir
simultaneamente muitas coisas.
Mas, em contrário, diz Agostinho: a potência espiritual
da mente angélica fácil e simultaneamente compreende tudo o que quiser 2
Assim como a unidade do movimento supõe a do
seu termo, assim a unidade da operação supõe a do seu objeto. Ora, certas
coisas, como as partes de um contínuo, podem ser consideradas como só uma ou
como várias. Assim, considerando cada parte de per si, são muitas e, por isso,
não são apreendidas pelo sentido e pelo intelecto por uma só operação e
simultaneamente. De outro modo, as partes podem ser consideradas como formando
uma unidade no todo e, então, são conhecidas simultaneamente por uma só
operação, tanto pelo sentido como pelo intelecto, por ser considerado o
contínuo, na sua totalidade, como diz Aristóteles 3.
E, assim, também o nosso intelecto intelige simultaneamente o sujeito e o
predicado como partes de uma mesma proposição e como duas coisas comparadas mas
que convém na mesma comparação. Por onde se vê que muitas coisas, enquanto
distintas, não podem ser simultaneamente inteligidas; mas o podem enquanto
unificadas num mesmo inteligível. Ora, uma coisa é inteligível em acto quando a
sua similitude está no intelecto. Portanto, todas as coisas que podem ser
conhecidas por uma mesma espécie inteligível são conhecidas como um só
inteligível e, logo, simultaneamente. As que, porém, são conhecidas por
diversas espécies inteligíveis são apreendidas como diversos inteligíveis.
Assim, pois, os anjos, quando conhecem as coisas pelo Verbo, conhecem todas por
uma só espécie inteligível, que é a essência divina. E, portanto, por tal
conhecimento conhecem a todas simultaneamente; assim como também na pátria os
nossos pensamentos não serão volúveis, indo e vindo constantemente de umas para
outras coisas, mas veremos toda a nossa ciência por um e simultâneo conspecto,
como diz Agostinho 4. Porém, pelo
conhecimento pelo qual os anjos conhecem por espécies inatas, podem inteligir
por esse simultaneamente tudo quanto conhecem, por uma mesma espécie; não assim
o que conhecerem por espécies diversas.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Inteligir muitas
coisas como se fossem uma só é, de certo modo, inteligir uma só.
RESPOSTA À SEGUNDA. — O intelecto é informado pela
espécie inteligível que trás em si. E por isso pode, por uma só, intuir simultaneamente
muitos inteligíveis, do mesmo modo que um corpo, por uma só figura, pode
simultaneamente assimilar-se a muitos corpos.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Deve dar-se a mesma resposta que
à primeira.
S. tomás de aquino, Suma Teológica.
(Nota:
Revisão da tradução para português por ama)
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Notas:
1. II Topic (cap. X).
2. IV Super Genes. ad litt. (cap. XXXII).
3. De anima (lect. XI).
4. XV De Trin. (cap. XVI).
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