Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Jo 8, 1-20
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Evangelho: Jo 8, 1-20
1 Jesus foi para o monte das Oliveiras. 2 Ao
romper da manhã, voltou para o templo e todo o povo foi ter com Ele, e Ele,
sentado, os ensinava. 3 Então os escribas e os fariseus trouxeram-Lhe uma
mulher apanhada em adultério; puseram-na no meio, 4 e disseram-Lhe: «Mestre,
esta mulher foi surpreendida em flagrante delito de adultério. 5 Ora Moisés, na
Lei, mandou-nos apedrejar tais mulheres. E Tu que dizes?». 6 Diziam isto para
Lhe armarem uma cilada, a fim de O poderem acusar. Porém, Jesus, inclinando-Se,
pôs-Se a escrever com o dedo na terra. 7 Continuando, porém, eles a
interrogá-l'O, levantou-Se e disse-lhes: «Aquele de vós que estiver sem pecado
seja o primeiro que lhe atire uma pedra». 8 Depois, tornando a inclinar-Se,
escrevia na terra. 9 Mas eles, ouvindo isto, foram-se retirando, um após outro,
começando pelos mais velhos; e ficou só Jesus com a mulher diante d'Ele. 10
Então, levantando-Se, disse-lhe: «Mulher, onde estão os que te acusavam?
Ninguém te condenou?». 11 Ela respondeu: «Ninguém, Senhor». Então Jesus disse:
«Nem Eu te condeno; vai e doravante não peques mais». 12 Outra vez lhes falou
Jesus, dizendo: «Eu sou a luz do mundo; quem Me segue não anda nas trevas, mas
terá a luz da vida». 13 Os fariseus disseram-Lhe: «Tu dás testemunho de Ti
mesmo; o Teu testemunho, por isso, não é verdadeiro». 14 Jesus respondeu: «Embora
Eu dê testemunho de Mim mesmo, o Meu testemunho é verdadeiro, porque sei donde
vim e para onde vou, mas vós não sabeis donde venho, nem para onde vou. 15 Vós
julgais segundo a carne, Eu não julgo a ninguém; 16 e, se julgo alguém, o Meu
juízo é verdadeiro, porque Eu não estou só, mas comigo está o Pai que Me
enviou. 17 Na vossa Lei está escrito que o testemunho de duas pessoas é digno
de fé. 18 Sou Eu que dou testemunho de Mim mesmo e Meu Pai que Me enviou também
dá testemunho de Mim». 19 Disseram-Lhe, pois: «Onde está Teu Pai?». Jesus
respondeu: «Não conheceis nem a Mim nem a Meu Pai; se Me conhecêsseis a Mim,
certamente conheceríeis também Meu Pai». 20 Estas palavras disse-as Jesus nas
dependências do Tesouro, ensinando no templo; e ninguém O prendeu, porque ainda
não tinha chegado a Sua hora
Redemptoris Mater
sobre
a Bem Aventurada
Virgem
Maria
na
vida da Igreja que está a caminho
/…3
15.
Na Anunciação, quando Maria ouve falar do Filho de que deve tornar-se geratriz
e ao qual "porá o nome de Jesus" (= Salvador), fica também a conhecer
que "o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai David", que ele
"reinará sobre a casa de Jacob eternamente e o seu reinado não terá
fim" (Lc 1, 32-33). Era neste sentido que se orientava toda a
esperança de Israel. O Messias prometido devia ser "grande"; e também
o mensageiro celeste anuncia que "será grande": grande, quer pelo
nome de Filho do Altíssimo, quer pelo facto de assumir a herança de David.
Há-de, portanto, ser rei, há-de reinar "sobre a casa de Jacob". Maria
tinha crescido no meio desta expectativa do seu povo: estaria ela em condições
de captar, no momento da Anunciação, qual o sentido essencial que podiam ter as
palavras do Anjo, e como devia ser entendido aquele "reino", que
"não terá fim"?
Se
bem que, mediante a fé, ela possa ter-se sentido naquele instante mãe do
"Messias-rei", contudo respondeu: "Eis a serva do Senhor!
Faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1, 38). Desde o
primeiro momento, Maria professou sobretudo "a obediência da fé",
abandonando-se àquele sentido que dava às palavras da Anunciação Aquele do qual
elas provinham: o próprio Deus.
16.
No caminho da "obediência da fé", ainda, Maria, um pouco mais tarde,
ouve outras palavras: aquelas que foram pronunciadas por Simeão, no templo de
Jerusalém. Estava-se já no quadragésimo dia depois do nascimento de Jesus,
quando Maria e José, segundo a prescrição da Lei de Moisés, "levaram o
menino a Jerusalém, para o oferecer ao Senhor" (Lc 2, 22). O
nascimento verificara-se em condições de extrema pobreza. Com efeito, sabemos
através de São Lucas que, por ocasião do recenseamento da população ordenado
pelas autoridades romanas, Maria se dirigiu com José a Belém; e não tendo
encontrado "lugar na hospedaria", deu à luz o seu Filho num estábulo
e "reclinou-o numa manjedoura" (cf. Lc 2, 7).
Um
homem justo e piedoso, de nome Simeão, aparece naquele momento dos inícios do
"itinerário" da fé de Maria. As suas palavras, sugeridas pelo
Espírito Santo (cf. Lc 2, 25-27), confirmam a verdade da Anunciação.
Lemos, efectivamente, que ele "tomou nos seus braços" o menino, ao
qual - segundo a palavra do Anjo - deram o nome de Jesus" (cf. Lc 2,
21). Aquilo que Simeão diz está conforme com o significado deste nome,
que quer dizer Salvador: "Deus é a salvação". Dirigindo-se ao Senhor,
ele exprime-se assim: "Os meus olhos viram a tua salvação, que preparaste
em favor de todos os povos; luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu
povo" (Lc 2, 30-32). Nessa mesma altura, porém, Simeão
dirige-se a Maria com as seguintes palavras: "Ele é destinado a ser
ocasião de queda e de ressurgimento para muitos em Israel e a ser um sinal de
contradição... a fim de se revelarem os pensamentos de muitos corações"; e
acrescenta, com referência directa a Maria: "E tu mesma terás a alma
trespassada por uma espada" (Lc 2, 34-35). As palavras de
Simeão colocam sob uma luz nova o anúncio que Maria tinha ouvido do Anjo: Jesus
é o Salvador, é "luz para iluminar" os homens. Não foi isso que, de
algum modo, se manifestou na noite de Natal, quando os pastores vieram ao estábulo?
(cf. Lc 2, 8-20). Não foi isso o que se manifestou também e ainda
mais, aquando da vinda dos Magos do Oriente? (cf. Mt 2, 1-12) . Ao
mesmo tempo, porém, logo desde o início da sua vida, o Filho de Maria, e com
ele a sua Mãe, experimentarão em si mesmos a verdade daquelas outras palavras
de Simeão: "Sinal de contradição" (Lc 2, 34). Aquilo que
Simeão diz apresenta-se como um segundo anúncio a Maria, uma vez que indica a
dimensão histórica concreta em que o Filho realizará a sua missão, ou seja, na
incompreensão e na dor. Se este outro anúncio confirma, por um lado, a sua fé
no cumprimento das promessas divinas da salvação, por outro, também lhe revela
que ela terá que viver a sua obediência de fé no sofrimento, ao lado do Salvador
que sofre, e que a sua maternidade será obscura e marcada pela dor. Com efeito,
depois da visita dos Magos, depois de eles lhe terem rendido homenagem
("prostrados o adoraram") e depois da oferta dos dons (cf. Mt 2,
11), sucede que Maria, com o menino, tem de fugir para o Egipto sob a protecção
desvelada de José, porque Herodes estava a "procurar o menino para o
matar" (cf. Mt 2, 13). E teriam de ficar no Egipto até à morte
de Herodes (cf. Mt 2, 15).
17.
Depois da morte de Herodes, quando se dá o retorno da sagrada família a Nazaré,
inicia-se o longo período da vida oculta. Aquela que "acreditou no
cumprimento das coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor" (Lc 1,
45) vive no dia-a-dia o conteúdo dessas palavras. O Filho a quem deu o
nome de Jesus está quotidianamente ao seu lado; assim, no contacto com ele, usa
certamente este nome, o que não devia, aliás, causar estranheza a ninguém,
tratando-se de um nome que era usual, desde havia muito tempo, em Israel. Maria
sabe, no entanto, que aquele a quem foi posto o nome de Jesus, foi chamado pelo
Anjo "Filho do Altíssimo" (cf. Lc 1, 32). Maria sabe que o
concebeu e deu à luz "sem ter conhecido homem", por obra do Espírito
Santo, com o poder do Altíssimo que sobre ela estendeu a sua sombra (cf.
Lc 1, 35), tal como nos tempos de Moisés e dos antepassados a nuvem
velava a presença de Deus (cf. Ex 24, 16; 40, 34-35; 1 Rs 8, 10-12).
Maria sabe, portanto, que o Filho, por ela dado à luz virginalmente, é
precisamente aquele "Santo", "o Filho de Deus" de que lhe
havia falado o Anjo.
Durante
os anos da vida oculta de Jesus na casa de Nazaré, também a vida de Maria
"está escondida com Cristo em Deus" (cf. Col 3, 3)
mediante a fé. A fé, efectivamente, é um contacto com o mistério de Deus. Maria
está constante e quotidianamente em contacto com o mistério inefável de Deus
que se fez homem, mistério que supera tudo aquilo que foi revelado na Antiga
Aliança. Desde o momento da Anunciação, a mente da Virgem-Mãe foi introduzida
na "novidade" radical de auto revelação de Deus e tornada cônscia do
mistério. Ela é a primeira daqueles "pequeninos" dos quais um dia
Jesus dirá: "Pai,... escondeste estas coisas aos sábios e aos sagazes e as
revelaste aos pequeninos" (Mt 11, 25). Na verdade,
"ninguém conhece o Filho senão o Pai" (Mt 11, 27). Como
poderá então Maria "conhecer o Filho"? Certamente, não como o Pai o
conhece; e no entanto, ela é a primeira entre aqueles aos quais o Pai "o
quis revelar" (cf. Mt 11, 26-27; 1 Cor 2, 11). Se, porém, desde
o momento da Anunciação lhe foi revelado o Filho, que apenas o Pai conhece
completamente, como Aquele que o gera no "hoje" eterno (cf. Sl
2, 7), então Maria, a Mãe, está em contacto com a verdade do seu Filho somente
na fé e mediante a fé! Portanto, é feliz porque "acreditou"; e
acredita dia a dia, no meio de todas as provações e contrariedades do período
da infância de Jesus e, depois, durante os anos da sua vida oculta em Nazaré,
quando ele "lhes era submisso" (Lc 2, 51): submisso a
Maria e também a José, porque José, diante dos homens, fazia para ele as vezes
de pai; e era por isso que o Filho de Maria era tido pela gente do lugar como
"o filho do carpinteiro" (Mt 13, 55).
A
Mãe, por conseguinte, lembrada de tudo o que lhe havia sido dito acerca deste
seu Filho, na Anunciação e nos acontecimentos sucessivos, é portadora em si
mesma da "novidade" radical da fé: o início da Nova Aliança. Este é o
início do Evangelho, isto é, da boa nova, da jubilosa nova. Não é difícil,
porém, perceber naquele início um particular aperto do coração, unido a uma
espécie de "noite da fé" - para usar as palavras de São João da Cruz
- como que um "véu" através do qual é forçoso aproximar-se do
Invisível e viver na intimidade com o mistério. 36
Foi deste modo, efectivamente, que Maria, durante muitos anos, permaneceu na
intimidade com o mistério do seu Filho, e avançou no seu itinerário de fé, à
medida em que Jesus "crescia em sabedoria ... e graça, diante de Deus e
dos homens" (Lc 2, 52). Manifestava-se cada vez mais aos olhos
dos homens a predilecção que Deus tinha por ele. A primeira entre estas
criaturas humanas admitidas à descoberta de Cristo foi Maria que, com Ele e com
José, vivia na mesma casa em Nazaré.
Todavia,
na ocasião em que o reencontraram no templo, à pergunta da Mãe: "Por que
procedeste assim connosco?", Jesus - então menino de doze anos -
respondeu: "Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?"; e
o Evangelista acrescenta: "Mas eles (José e Maria) não entenderam as suas
palavras" (Lc 2, 48-50). Portanto, Jesus tinha a consciência de
que "só o Pai conhece o Filho" (cf. Mt 11, 27); tanto
assim, que até aquela a quem tinha sido revelado mais profundamente o mistério
da sua filiação divina, a sua Mãe, vivia na intimidade com este mistério
somente mediante a fé! Encontrando-se constantemente ao lado do Filho, sob o
mesmo tecto, e "conservando fielmente a união com o Filho" Ela
"avançava na peregrinação da fé", como acentua o Concílio. 37 E assim sucedeu também durante a vida
pública de Cristo (cf. Mc 3, 21-35) pelo que, dia a dia, se
cumpriram nela as palavras de bênção pronunciadas por Isabel, aquando da Visitação:
"Feliz daquela que acreditou".
18.
Estas palavras de bênção atingem a plenitude do seu significado, quando Maria
está aos pés da Cruz do seu Filho (cf. Jo 19, 25). O Concílio afirma
que isso "aconteceu não sem um desígnio divino": "padecendo
acerbadamente com o seu Unigénito, associando-se com ânimo maternal ao seu
sacrifício e consentindo com amor na imolação da vítima que ela havia
gerado", foi deste modo que Maria "conservou fielmente a união com
seu Filho até à Cruz", 38 a
união mediante a fé: a mesma fé com a qual tinha acolhido a revelação do Anjo
no momento da Anunciação. Nesse momento ela tinha também ouvido dizer:
"será grande..., o Senhor Deus dar-lhe-á o trono de seu pai David...,
reinará eternamente na casa de Jacob e o seu reinado não terá fim" (Lc
1, 32-33).
E
agora, estando ali aos pés da Cruz, Maria é testemunha, humanamente falando, do
desmentido cabal dessas palavras. O seu Filho agoniza, suspenso naquele madeiro
como um condenado. "Desprezado e rejeitado pelos homens; homem das
dores...; era menosprezado e nenhum caso fazíamos dele"... como que
destruído (cf. Is 53, 3-5 ). Quão grande e quanto foi heróica então
a "obediência da fé" demonstrada por Maria diante dos
"insondáveis desígnios" de Deus! Como ela se "abandonou nas mãos
de Deus" sem reservas, "prestando o pleno obséquio da inteligência e
da vontade" 39 Àquele cujas
"vias são imperscrutáveis!" (cf. Rom 11, 33). E, ao mesmo
tempo, quanto se mostra potente a acção da graça na sua alma e quanto é
penetrante a influência do Espírito Santo, da sua luz e da sua virtude!
Mediante
essa sua fé, Maria está perfeitamente unida a Cristo no seu despojamento. Com
efeito, "Jesus Cristo,... subsistindo na natureza divina, não julgou o ser
igual a Deus, um bem a que não devesse nunca renunciar; mas despojou-se a si
mesmo tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens":
precisamente sobre o Gólgota "humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente
até à morte, e morte de Cruz" (cf. Flp 2, 5-8). E aos pés da
Cruz, Maria participa mediante a fé no mistério desconcertante desse
despojamento. Isso constitui, talvez, a mais profunda "kénose" da fé
na história da humanidade. Mediante a fé, a Mãe participa na morte do Filho, na
sua morte redentora; mas, bem diferente da fé dos discípulos, que se davam à
fuga, a fé de Maria era muito mais esclarecida. Sobre o Gólgota, Jesus
confirmou definitivamente, por meio da Cruz, ser "o sinal de
contradição" predito por Simeão. Ao mesmo tempo, cumpriram-se aí as
palavras dirigidas pelo mesmo ancião a Maria: "E tu mesma terás a alma
trespassada por uma espada". 40
19.
Sim, verdadeiramente, "feliz daquela que acreditou"! Estas palavras,
pronunciadas por Isabel já depois da Anunciação, parecem ressoar aqui, aos pés
da Cruz, com suprema eloquência; e a força que elas encerram, torna-se
penetrante. Da Cruz ou, por assim dizer, do próprio coração do mistério da
Redenção, se esparge a irradiação e se dilata a perspectiva daquelas palavras
de bênção da sua fé. Elas remontam "até ao princípio" e, como
participação no sacrifício de Cristo, novo Adão, tornam-se, em certo sentido, o
contrabalanço da desobediência e da incredulidade presentes no pecado dos
nossos primeiros pais. Assim o ensinam os Padres da Igreja, especialmente Santo
Ireneu, citado na Constituição Lumen Gentium: "O nó da desobediência de
Eva foi desatado pela obediência de Maria; e aquilo que a Virgem Eva atou, com
a sua incredulidade, a Virgem Maria desatou-o com a sua fé". 41 À luz desta comparação com Eva, os mesmos
Padres - como recorda ainda o Concílio - chamam a Maria "mãe dos
vivos" e afirmam muitas vezes: "A morte veio por Eva, a vida por meio
de Maria". 42
Com
razão, portanto, podemos encontrar na expressão "feliz daquela que
acreditou" como que uma chave que nos abre o acesso à realidade íntima de
Maria: daquela que foi saudada pelo Anjo como "cheia da graça". Se
como "cheia de graça" ela esteve eternamente presente no mistério de
Cristo, agora, mediante a fé, torna-se dele participante em toda a extensão do
seu itinerário terreno: "avançou na peregrinação da fé" e, ao mesmo
tempo, de maneira discreta, mas directa e eficazmente, tornava presente aos
homens o mesmo mistério de Cristo. E ainda continua a fazê-lo. E mediante o
mistério de Cristo, também ela está presente entre os homens. Deste modo,
através do mistério do Filho, esclarece-se também o mistério da Mãe.
3. Eis a tua mãe
20.
O Evangelho de São Lucas regista o momento em que "uma mulher ergueu a voz
do meio da multidão e disse", dirigindo-se a Jesus: "Ditoso o ventre
que te trouxe e os seios a que foste amamentado!" (Lc 11, 27).
Estas palavras constituíam um louvor para Maria, como mãe de Jesus segundo a
carne. A Mãe de Jesus talvez não fosse conhecida pessoalmente por essa mulher;
de facto, quando Jesus iniciou a sua actividade messiânica, Maria não o
acompanhava, mas continuava a viver em Nazaré. Dir-se-ia que as palavras dessa
mulher desconhecida a fizeram sair, de algum modo, do seu encobrimento.
Através
de tais palavras lampejou no meio da multidão, ao menos por um instante, o
evangelho da infância de Jesus. É o evangelho em que Maria está presente como a
mãe que concebe Jesus no seu seio, o dá à luz e maternamente o amamenta: a
mãe-nutrícia, a que alude aquela mulher do povo. Graças a esta maternidade,
Jesus - Filho do Altíssimo (cf. Lc 1, 32) - é um verdadeiro filho do
homem. É "carne", como todos os homens. é "o Verbo (que) se fez
carne" (cf. Jo 1, 14). É carne e sangue de Maria! 43
Mas,
às palavras de bênção proferidas por aquela mulher em relação à sua geratriz
segundo a carne, Jesus responde de modo significativo: "Ditosos antes os
que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática" (Lc 11, 28).
Ele quer desviar a atenção da maternidade entendida só como um vínculo do
sangue, para a orientar no sentido daqueles vínculos misteriosos do espírito,
que se formam com o prestar ouvidos e com a observância da palavra de Deus.
A
mesma transferência, na esfera dos valores espirituais, delineia-se ainda mais
claramente numa outra resposta de Jesus, relatada por todos os Sinópticos.
Quando foi anunciado ao mesmo Jesus que a sua "mãe e os seus irmãos
estavam lá fora e desejavam vê-lo", ele respondeu: "Minha mãe e meus
irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática" (cf.
Lc 8, 20-21). Disse isto "percorrendo com o olhar os que estavam
sentados à volta dele", como lemos em São Marcos (3, 34) ou,
segundo São Mateus (12, 49), "indicando com a mão os seus
discípulos".
Estas
expressões parecem situar-se na linha daquilo que Jesus - então menino de doze
anos - respondeu a Maria e José, quando foi reencontrado, depois de três dias,
no templo de Jerusalém.
Agora,
uma vez que Jesus já tinha saído de Nazaré para dar início à sua vida pública
por toda a Palestina, estava doravante completa e exclusivamente "ocupado
nas coisas do Pai" (cf. Lc 2, 49). Ocupava-se em anunciar o
Reino: o "Reino de Deus" e as "coisas do Pai", que dão
também uma dimensão nova e um sentido novo a tudo aquilo que é humano; e, por
conseguinte, a todos os laços humanos, em relação com os fins e as funções
estabelecidos para cada um dos homens. Com esta nova dimensão, também um laço,
como o da "fraternidade" significa algo de diverso da
"fraternidade segundo a carne", que provém da origem comum dos mesmos
pais. E até mesmo a "maternidade", vista na dimensão do Reino de
Deus, na irradiação da paternidade do próprio Deus, alcança um outro sentido.
Com as palavras referidas por São Lucas, Jesus ensina precisamente este novo
sentido da maternidade.
Ter-se-á
afastado, por causa disto, daquela que foi sua mãe, a sua geratriz segundo a
carne? Desejará, porventura, deixá-la na sombra do encobrimento, que ela
própria escolheu? Embora assim possa parecer, se nos ativermos só ao som
material daquelas palavras, devemos observar, no entanto, que a maternidade
nova e diversa, de que Jesus fala aos seus discípulos, refere-se precisamente a
Maria e de modo especialíssimo. Não é, acaso, Maria a primeira dentre "aqueles
que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática"? E portanto, não se
referirão sobretudo a ela aquelas palavras de bênção pronunciadas por Jesus, em
resposta às palavras da mulher anónima? Maria é digna, sem dúvida alguma, de
tais palavras de bênção, pelo facto de se ter tornado Mãe de Jesus segundo a
carne ("Ditoso o ventre que te trouxe e os seios a que foste
amamentado"); mas é digna delas também e sobretudo porque, logo desde o
momento da Anunciação, acolheu a palavra de Deus e porque nela acreditou e
sempre foi obediente a Deus; ela, com efeito, "guardava" a palavra,
meditava-a "no seu coração" (cf. Lc 1, 38-45; 2, 19. 51) e
cumpria-a com toda a sua vida. Podemos, portanto, afirmar que as palavras de
bem-aventurança pronunciadas por Jesus não se contrapõem, apesar das
aparências, àquelas outras que foram proferidas pela mulher desconhecida; mas
antes, que com elas se coadunam na pessoa desta Mãe-Virgem, que a si mesma se
designou simplesmente como "serva do Senhor" (Lc 1, 38).
Se é verdade que "todas as gerações a chamarão bem-aventurada" (cf.
Lc 1, 48), pode dizer-se que aquela mulher anónima foi a primeira a
confirmar, sem disso ter consciência, aquele versículo profético do Magnificat
de Maria e a dar início ao Magnificat dos séculos.
Se
Maria, mediante a fé, se tornou a geratriz do Filho que lhe foi dado pelo Pai
com o poder do Espírito Santo, conservando íntegra a sua virgindade, com a
mesma fé ela descobriu e acolheu a outra dimensão da maternidade, revelada por
Jesus no decorrer da sua missão messiânica. Pode dizer-se que esta dimensão da
maternidade era possuída por Maria desde o início, isto é, desde o momento da
concepção e do nascimento do Filho. Desde então ela foi "aquela que
acreditou". Mas, à medida que se ia esclarecendo aos seus olhos e no seu
espírito a missão do Filho, ela própria, como Mãe, se ia abrindo cada vez mais
para aquela "novidade" da maternidade, que devia constituir a sua
"parte" ao lado do Filho. Não declarara ela, desde o princípio:
"Eis a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra"? (Lc
1, 38). Maria continuava, pois, mediante a fé, a ouvir e a meditar aquela
palavra, na qual se tornava cada vez mais transparente, de um modo "que
excede todo conhecimento" (Ef 3, 19), a auto revelação de Deus
vivo. E assim, Maria Mãe tornava-se, em certo sentido, a primeira
"discípula" do seu Filho, a primeira a quem ele parecia dizer:
"Segue-me", mesmo antes de dirigir este chamamento aos Apóstolos ou a
quaisquer outros (cf. Jo 1, 43).
(Nota:
Revisão da tradução para português por ama)
______________________________________
Notas
(em latim):
(36) Cfr. Subida del Monte Carmelo, 1. II,
cap. 3, 4-6.
(37) Cfr. Const. dogm. Lumen Gentium de
Ecclesia, 58.
(38) Ibid., 58.
(39) CONC. OEC. VAT. II, Const. dogm. Dei
Verbum de Divina Revelatione, 5.
(40) De participatione seu « compassione »
Mariae cum Christi morte, cfr. S. BERNARDUS, In Dominica infra octavam
Assumptionis Sermo, 14: S. Bernardi Opera, V, 1968, 273.
(41) S. IRENAEUS, Adversus Haereses, III,
22, 4: S. Ch. 211, 438-444; cfr. Const. dogm. Lumen Gentium de Ecclesia, 56,
nota 8.
(42) Cfr. Const. dogm. Lumen Gentium de
Ecclesia, 56 et Patres ibidem memorati ad notas 8 et 9.
(43) « Veritas Christus in mente Mariae,
caro Christus in ventre Mariae »: S. AUGUSTINUS, Sermo 25 (Sermones inediti),
7: PL 46, 938.
(44) Const. dogm. Lumen Gentium, de
Ecclesia, 60.
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