27/05/2012

Leitura espiritual para 27 Mai 2012

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.




Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Jo 18, 19-40

19 Entretanto, o pontífice interrogou Jesus sobre os Seus discípulos e sobre a Sua doutrina. 20 Jesus respondeu-lhe: «Eu falei publicamente ao mundo; ensinei sempre na sinagoga e no templo, onde todos os judeus se reunem; nada disse em segredo. 21 Porque Me interrogas? Interroga aqueles que ouviram o que Eu falei; eles sabem o que disse». 22 Tendo dito isto, um dos guardas que estavam presentes deu uma bofetada em Jesus, dizendo: «Assim respondes ao Sumo Sacerdote?». 23 Jesus respondeu-lhe: «Se falei mal, mostra o que disse de mal; se falei bem, porque Me bates?». 24 Anás enviou-O manietado ao Sumo Sacerdote Caifás. 25 Estava lá Simão Pedro aquecendo-se. Disseram-lhe: «Não és tu também dos Seus discípulos?». Ele negou e respondeu: «Não sou». 26 Disse-lhe um dos servos do Sumo Sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha: «Não te vi eu com Ele no horto?». 27 Pedro negou outra vez, e imediatamente o galo cantou. 28 Levaram então Jesus da casa de Caifás ao Pretório. Era de manhã. Não entraram no Pretório para não se contaminarem, e poderem comer a Páscoa. 29 Pilatos, pois, saiu fora para lhes falar, e disse: «Que acusação apresentais contra este homem?». 30 Responderam: «Se não fosse um malfeitor não O entregaríamos nas tuas mãos». 31 Pilatos disse-lhes então: «Tomai-O e julgai-O segundo a vossa Lei». Mas os judeus disseram-lhe: «Não nos é permitido matar ninguém». 32 Para se cumprir a palavra que Jesus dissera, significando de que morte havia de morrer. 33 Tornou, pois, Pilatos a entrar no Pretório, chamou Jesus e disse-Lhe: «Tu és o rei dos judeus?». 34 Jesus respondeu: «Tu dizes isso por ti mesmo, ou foram outros que to disseram de Mim?». 35 Pilatos respondeu: «Porventura sou judeu? A Tua nação e os pontífices é que Te entregaram nas minhas mãos. Que fizeste Tu?». 36 Jesus respondeu: «O Meu reino não é deste mundo; se o Meu reino fosse deste mundo, certamente os Meus ministros se haviam de esforçar para que Eu não fosse entregue aos judeus; mas o Meu reino não é daqui». 37 Pilatos disse-Lhe então: «Portanto, Tu és rei?». Jesus respondeu: «Tu o dizes, sou rei. Nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade; todo aquele que está na verdade ouve a Minha voz». 38 Pilatos disse-Lhe: «O que é a verdade?». Dito isto, tornou a sair para ir ter com os judeus e disse-lhes: «Não encontro n'Ele motivo algum de condenação. 39 Ora é costume que eu, pela Páscoa, vos solte um prisioneiro; quereis, pois, que vos solte o rei dos judeus?». 40 Então gritaram todos novamente: «Este não, mas Barrabás!». Ora Barrabás era um assassino.








Ioannes Paulus PP. II
Redemptoris missio
sobre a Validade permanente
do Mandato Missionário

/…4

Formação de Igrejas locais

48. A conversão e o baptismo inserem na Igreja, onde ela já existe, ou então implicam a constituição de novas comunidades, que confessem Jesus Senhor e Salvador. Isto faz parte do desígnio de Deus, a Quem aprouve «chamar os homens a participar da Sua própria vida, não um a um, mas constituídos como povo, no qual os Seus filhos dispersos fossem reconduzidos à unidade». 78

A missão ad gentes tem este objectivo: fundar comunidades cristãs, desenvolver Igrejas até à sua completa maturação. Esta é uma meta central e qualificativa da actividade missionária, de tal modo que esta não se pode considerar verdadeiramente concluída, enquanto não tiver conseguido edificar uma nova Igreja particular actuando normalmente no ambiente local. Disto fala amplamente o Decreto Ad gentes, 79 e, já depois do Concílio, se consolidou a linha teológica que defende que todo o mistério da Igreja está contido em cada uma das Igrejas particulares, desde que esta não se isole, mas permaneça em comunhão com a Igreja universal e, por sua vez, se faça também missionária. Trata-se de um grande e longo trabalho, onde é difícil indicar as etapas em que cessa a acção propriamente missionária para se passar à actividade pastoral. Mas alguns pontos devem ficar claros.

49. Antes de mais, é necessário procurar estabelecer em cada lugar comunidades cristãs, que sejam «sinal da presença divina no mundo» 80 e cresçam até se tornarem Igrejas. Não obstante o elevado número de dioceses, existem ainda vastas áreas onde as Igrejas locais não se encontram, ou são insuficientes relativamente à vastidão do território e à densidade da população: está ainda por realizar um grande trabalho de implantação e de desenvolvimento da Igreja. Não está terminada esta fase da história eclesial, dita plantatio Ecclesiae; pelo contrário, em muitos aglomerados humanos, está ainda por iniciar.

A responsabilidade de tal tarefa recai sobre a Igreja universal e sobre as Igreja particulares, sobre todo o Povo de Deus e sobre as diversas forças missionárias. Cada Igreja, mesmo aquela que é formada por neo-convertidos, é por sua natureza missionária; é simultaneamente evangelizada e evangelizadora, devendo a fé ser apresentada como dom de Deus, tanto a viver em comunidade (família, paróquia, associações) como a irradiar par o exterior, quer pelo testemunho de vida quer pela palavra. A acção evangelizadora da comunidade cristã, primeiramente no próprio território e depois, mais além, como participação na missão universal, é o sinal mais claro da maturidade da fé. Impõe-se uma conversão radical da mentalidade para nos tornarmos missionários — e isto vale tanto para os indivíduos como para as comunidades. O Senhor chama-nos constantemente a sairmos de nós próprios, a partilhar com os outros os bens que temos, começando pelo mais precioso, que é a fé. À luz deste imperativo missionário, dever-se-á medir a validade dos organismos, movimentos, paróquias e obras de apostolado da Igreja. Somente tornando-se missionária é que a comunidade cristã conseguirá superar divisões e tensões internas, e reencontrar a sua unidade e vigor de fé.

As forças missionárias, vindas de outras Igrejas e Países, devem agir em comunhão com as forças locais, no desenvolvimento da comunidade cristã. Em particular, toca àquelas — sempre segundo as directrizes dos Bispos e em colaboração com os responsáveis locais — promover a difusão da fé e a expansão da Igreja nos ambientes e grupos não cristãos; cabe-lhes ainda animar o sentido missionário das Igrejas locais, para que a preocupação pastoral sempre traga associada a si, a da missão ad gentes. Assim cada Igreja fará verdadeiramente sua a solicitude de Cristo, o bom Pastor, que se prodigaliza pelo seu rebanho, mas pensa ao mesmo tempo nas «outras ovelhas que não são deste aprisco» (Jo 10, 16).

50. Tal solicitude constituirá motivo e estímulo para um renovado empenho ecuménico. Os laços existentes entre a actividade ecuménica e a actividade missionária tornam necessário considerar dois factores relativos a elas. Por um lado, temos de reconhecer que «a divisão dos cristãos prejudica a santíssima causa de pregar o Evangelho a toda a criatura e fecha a muitos o acesso à fé». 81 Na verdade, o facto de a Boa Nova da reconciliação ser proclamada por cristãos, que entre si se apresentam divididos, debilita o seu testemunho, e por isso é urgente trabalhar pela unidade dos cristãos, para que a actividade missionária possa ser mais incisiva. Ao mesmo tempo, não devemos esquecer que o próprio esforço em direcção à unidade, constitui por si um sinal da obra de reconciliação que Deus realiza no meio de nós.

Por outro lado, é verdade também que todos aqueles que receberam o baptismo em Cristo estão constituídos numa certa comunhão entre si, embora não perfeita. É sobre esta base que se fundamenta a orientação dada pelo Concílio: «Os católicos, banindo toda a forma de indiferentismo, de sincretismo e odiosa rivalidade, colaborem com os irmãos separados, em conformidade com as disposições do decreto sobre o Ecumenismo, por meio da comum profissão de fé em Deus e em Jesus Cristo diante dos gentios, na medida possível, e pela cooperação em questões sociais e técnicas, culturais e religiosas». 82

A actividade ecuménica e o testemunho comum de Jesus Cristo, dado pelos cristãos pertencentes a diversas Igrejas e comunidades eclesiais, produziu já abundantes frutos, mas é ainda mais urgente que colaborem e testemunhem de comum acordo, neste tempo em que seitas cristãs e para-cristãs semeiam a confusão com a sua acção. A expansão destas seitas constitui uma ameaça para a Igreja Católica e para todas as comunidades eclesiais com quem ela mantém um diálogo. Onde for possível e segundo as circunstâncias locais, a resposta dos cristãos poderá também ser ecuménica.

As «comunidades eclesiais de base» força de evangelização

51. Um fenómeno, com crescimento rápido nas jovens Igrejas, promovido pelos bispos ou mesmo pelas Conferências episcopais, por vezes como opção prioritária da pastoral, são as comunidades eclesiais de base (conhecidas também por outros nomes), que estão a dar boas provas como centros de formação cristã e de irradiação missionária. Trata-se de grupos de cristãos, a nível familiar ou de ambientes restritos, que se encontram para a oração, a leitura da Sagrada Escritura, a catequese, para a partilha dos problemas humanos e eclesiais, em vista de um compromisso comum. Elas são um sinal da vitalidade da Igreja, instrumento de formação e evangelização, um ponto de partida válido para uma nova sociedade, fundada na «civilização do amor».

Tais comunidades descentralizam e simultâneamente articulam a comunidade paroquial, à qual sempre permanecem unidas; radicam-se em ambientes simples das aldeias, tornando-se fermento de vida cristã, de atenção aos «últimos», de empenho na transformação da sociedade. O indivíduo cristão faz nelas uma experiência comunitária, onde ele próprio se sente um elemento activo, estimulado a dar a sua colaboração para proveito de todos. Deste modo, elas tornam-se instrumento de evangelização e de primeiro anúncio, bem como fonte de novos ministérios; enquanto, animadas pela caridade de Cristo, oferecem uma indicação sobre o modo de superar divisões, tribalismos, racismos.

De facto, cada comunidade, para ser cristã, deve fundar-se e viver em Cristo, na escuta da Palavra de Deus, na oração onde a Eucaristia ocupa o lugar central, na comunhão expressa pela unidade de coração e de alma, e pela partilha conforme as necessidades dos vários membros (cf. At 2, 42-47). Toda a comunidade recordava Paulo VI - deve viver em unidade com a Igreja particular e universal, na comunhão sincera com os Pastores e o Magistério, empenhada na irradiação missionária e evitando fechar-se em si mesma ou deixar-se instrumentalizar ideologicamente. 83 O Sínodo dos Bispos afirmou: «uma vez que a Igreja é comunhão, as novas comunidades de base, se verdadeiramente vivem em unidade com a Igreja, elas representam uma verdadeira expressão de comunhão e um meio eficaz para construir uma comunhão ainda mais profunda. Por isso, são um motivo de grande esperança para a vida da Igreja». 84

Encarnar o Evangelho nas culturas dos povos

52. Desenvolvendo a sua actividade missionária no meio dos povos, a Igreja encontra várias culturas, vendo-se envolvida no processo de inculturação. Esta constitui uma exigência que marcou todo o seu caminho histórico, mas hoje é particularmente aguda e urgente.

O processo de inserção da Igreja nas culturas dos povos requer un tempo longo: é que não se trata de uma mera adaptação exterior, já que a inculturação «significa a íntima transformação dos valores culturais autênticos, pela sua integração no cristianismo, e o enraizamento do cristianismo nas várias culturas». 85 Trata-se, pois, de um processo profundo e globalizante que integra tanto a mensagem cristã, como a reflexão e a práxis da Igreja. Mas é também um processo difícil, porque não pode comprometer de modo nenhum a especificidade e a integridade da fé cristã.

Pela inculturação, a Igreja encarna o Evangelho nas diversas culturas e simultaneamente introduz os povos com as suas culturas na sua própria comunidade, 86 transmitindo-lhes os seus próprios valores, assumindo o que de bom nelas existe, e renovando-as a partir de dentro. 87 Por sua vez, a Igreja, com a inculturação, torna-se um sinal mais transparente daquilo que realmente ela é, e um instrumento mais apto para a missão.

Graças a esta acção das Igrejas locais, a própria Igreja universal se enriquece com novas expressões e valores nos diversos sectores da vida cristã, tais como a evangelização, o culto, a teologia, a caridade; conhece e exprime cada vez melhor o mistério de Cristo, e é estimulada a uma renovação contínua. Estes temas, presentes no Concílio e no Magistério sucessivo, tenho-os afrontado repetidamente nas minhas visitas pastorais às jovens Igrejas. 88

A inculturação é um caminho lento, que acompanha toda a vida missionária e que responsabiliza os vários agentes da missão ad gentes, as comunidades cristãs à medida que se vão desenvolvendo, e os Pastores que têm a responsabilidade de discernimento e de estímulo na sua realização. 89

53. Os missionários, provenientes de outras Igrejas e Países, devem inserir-se no mundo sociocultural daqueles a quem são enviados, superando os condicionalismos do próprio ambiente de origem. Assim, torna-se necessário aprender a língua da região onde trabalham, conhecer as expressões mais significativas da sua cultura, descobrindo os seus valores por experiência directa. Eles só poderão levar aos povos, de maneira crível e frutuosa, o conhecimento do mistério escondido (cf. Rm 16, 25- 27; Ef 3, 5), através daquela aprendizagem. Não se trata, por certo, de renegar a própria identidade cultural, mas de compreender, estimar, promover e evangelizar a do ambiente em que actuam e, deste modo, conseguir realmente comunicar com ele, assumindo um estilo de vida que seja sinal de testemunho evangélico e de solidariedade com o povo.

As comunidades eclesiais em formação, inspiradas pelo Evangelho, poderão exprimir progressivamente a própria experiência cristã em modos e formas originais, em consonância com as próprias tradições culturais, embora sempre em sintonia com as exigências objectivas da própria fé. Para isso, especialmente no que toca aos sectores mais delicados da inculturação, as Igrejas particulares do mesmo território devem trabalhar em comunhão entre si 90 e com toda a Igreja, certas de que só a atenção tanto à Igreja universal como à Igreja particular as tornará capazes de traduzirem o tesouro da fé, na legítima variedade das suas expressões. 91 Portanto os grupos evangelizados oferecerão os elementos para uma «tradução» da mensagem evangélica, 92 tendo presente os contributos positivos provenientes do contacto do cristianismo com as várias culturas, ao longo dos séculos, mas sem nunca esquecer os perigos de alteração, de vez em quando a tentar-nos. 93

54. A propósito disto, algumas indicações continuam fundamentais. A inculturação, no seu correcto desenvolvimento, deve ser guiada por dois princípios: «a compatibilidade com o Evangelho e a comunhão com a Igreja universal». 94 Os Bispos, defensores do «depósito da fé», velarão pela fidelidade e, sobretudo, pelo discernimento, 95 para o qual se requer um profundo equilíbrio: de facto corre-se o risco de se passar acriticamente de um alheamento da cultura para uma sobrevalorização da mesma, que não deixa de ser um produto do homem e, como tal, está marcada pelo pecado. Também ela deve ser «purificada, elevada, e aperfeiçoada». 96

Um tal processo tem de ser gradual, para que seja verdadeiramente uma expressão da experiência cristã da comunidade: «será necessária uma incubação do mistério cristão no carácter do vosso povo - dizia Paulo VI em Kampala para que a sua voz nativa, mais límpida e franca, se levante harmoniosa no coro das vozes da Igreja universal». 97 Enfim, a inculturação deve envolver todo o povo de Deus, e não apenas alguns peritos, dado que o povo reflecte aquele sentido da fé, que é necessário nunca perder de vista. Ela seja guiada e estimulada, mas nunca forçada, para não provocar reacções negativas nos cristãos: deve ser uma expressão da vida comunitária, ou seja, amadurecida no seio da comunidade, e não fruto exclusivo de investigações eruditas. A salvaguarda dos valores tradicionais é efeito de uma fé madura.

O diálogo com os irmãos de outras religiões

55. O diálogo interreligioso faz parte da missão evangelizadora da Igreja. Entendido como método e meio para um conhecimento e enriquecimento recíproco, ele não está em contraposição com a missão ad gentes; pelo contrário, tem laços especiais com ela, e constitui uma sua expressão. Na verdade, a missão tem por destinatários os homens que não conhecem Cristo e o seu Evangelho, e pertencem, na sua grande maioria, a outras religiões. Deus atrai a Si todos os povos, em Cristo, desejando comunicar-lhes a plenitude da sua revelação e do seu amor; Ele não deixa de Se tornar presente de tantos modos, quer aos indivíduos quer aos povos, através das suas riquezas espirituais, das quais a expressão principal e essencial são as religiões, mesmo se contêm também «lacunas, insuficiências e erros». 98 Tudo isto foi amplamente sublinhado pelo Concílio e pelo Magistério sucessivo, sem nunca deixar de afirmar que a salvação vem de Cristo, e o diálogo não dispensa a evangelização. 99

À luz do plano de salvação, a Igreja não vê contraste entre o anúncio de Cristo e o diálogo interreligioso; sente necessidade, porém, de os conjugar no âmbito da sua missão ad gentes. De facto, é necessário que esses dois elementos mantenham o seu vínculo íntimo e, ao mesmo tempo, a sua distinção, para que não sejam confundidos, instrumentalizados, nem considerados equivalentes a ponto de se puderem substituir entre si.

Recentemente escrevi aos Bispos da Ásia: «mesmo reconhecendo a Igreja de bom grado o quanto há de verdadeiro e de santo nas tradições religiosas do Budismo, do Induísmo e do Islão - reflexos daquela verdade que ilumina todos os homens -, isso não diminui o seu dever e a sua determinação de proclamar sem hesitações Jesus Cristo que é 'o Caminho a Verdade, e a Vida' (...) O facto de os crentes de outras religiões poderem receber a graça de Deus e serem salvos por Cristo independentemente dos meios normais por Ele estabelecidos, não suprime, de facto, o apelo à fé e ao baptismo que Deus dirige a todos os povos». 100 Na verdade, o próprio Senhor, «ao inculcar expressamente a necessidade da fé e do baptismo, ao mesmo tempo corroborou a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pela porta do baptismo», 101 O diálogo deve ser conduzido e realizado com a convicção de que a Igreja é o caminho normal de salvação e que só ela possui a plenitude dos meios de salvação. 102

56. O diálogo não nasce de táticas ou de interesses, mas é uma actividade que apresenta motivações, exigências, dignidade própria: é exigido pelo profundo respeito por tudo o que o Espírito, que sopra onde quer, operou em cada homem. 103 Por ele, a Igreja pretende descobrir as «sementes do Verbo», 104 os «fulgores daquela verdade que ilumina todos os homens» 105 - sementes e fulgores que se abrigam nas pessoas e nas tradições religiosas da humanidade. O diálogo fundamenta-se sobre a esperança e a caridade, e produzirá frutos, no Espírito. As outras religiões constituem um desafio positivo para a Igreja: estimulam-na efectivamente quer a descobrir e a reconhecer os sinais da presença de Cristo e da acção do Espírito, quer a aprofundar a própria identidade e a testemunhar a integridade da revelação, da qual é depositária para o bem de todos.

Daqui deriva o espírito que deve animar um tal diálogo, no contexto da missão. O interlocutor deve ser coerente com as próprias tradições e convicções religiosas, e disponível para compreender as do outro, sem dissimulações nem restrições, mas com verdade, humildade, e lealdade, sabendo que o diálogo pode enriquecer a ambos. Não deve haver qualquer abdicação, nem irenismo, mas o testemunho recíproco em ordem a um progresso comum, no caminho da procura e da experiência religiosa, e simultâneamente em vista à superação de preconceitos, intolerâncias e mal-entendidos. O diálogo tende à purificação e conversão interior que, se for realizada na docilidade ao Espírito, será espiritualmente frutuosa.

(Nota: Revisão da tradução para português por ama)
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Notas:
78 Conc. ECUM. VAT. II, Decreto sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 2; cf. Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 9.
79 Cf. Decreto sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, cap. III, 19-22.
80 ibid., 15.
81 ibid., 6.
82 ibid., 15; cf. Decreto sobre o ecumenismo Unitatis redintegratio 3.
83 Cf. Exort. Ap. Evangelii nuntiandi, 58: l.c., 46-49.
84 Assembleia Extraordinária em 1985, Relação final, II, C, 6.
85 ibid., II, D, 4.
86 Cf. Exort. Ap. Catechesi tradendae (16/X/1979), 53: AAS 71 (1979), 1320; Epist. Enc. Slavorum apostoli (2/VI/1985), 21: AAS 77 (1985), 802 s.
87 Cf. Paulo VI, Exort. Ap. Evangelii nuntiandi, 20: l.c., 18 s.
88 Cf. Discurso aos Bispos do Zaire, em Kinshasa, a 3 de Maio de 1980, 4-6: AAS 72 (1980), 432-435; Discurso aos Bispos do Quénia, em Nairóbi, a 7 de Maio de 1980, 6: AAS 72 (1980), 497; Discurso aos Bispos da Índia, em Nova Déli, a 1 de Fevereiro de 1986, 5: AAS 78 ( 1986), 748 s.; Homilia em Cartagena, a 6 de Julho de 198G, 7-8: AAS 79 (1987), 105 s.; cf. também Carta Enc. Slavorum apostoli, 21-22: l.c., 802-804.
89 CONC. ECUM. Vat. II, Decreto sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 22.
90 Cf. ibid., 22.
91 Cf. Paulo VI, Exort. Ap. Evangelii nuntiandi, 64: l.c., 55.
92 As Igrejas particulares « têm a missão de assimilar o essencíal da mensagem evangélica, de o traduzir, sem a mínima alteração da sua verdade fundamental, na linguagem que estes homens compreendem, e depois anunciá-lo nessa mesma linguagem ... O termo "linguagem" deve ser entendido aqui não tanto no sentido semântico ou literário, como sobretudo naquele que podemos designar antropológico ou cultural » (ibid., 63: l.c., 53).
93 Cf. Discurso na Audiência Geral de 13 de Abril de 1988: Insegnamenti XI/1 (1988), 877-881.
94 Exort. Ap. Familiaris consortio (22/XI/1981), 10, que trata da inculturação « no âmbito do matrimónio e da família »: AAS 74 (1982), 91.
95 Cf. Paulo VI, Exort. Ap. Evangelii nuntiandi, 63-65: l.c., 53-56.
96 Cocc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 17.
97 Discurso aos participantes no Simpósio dos Bispos da África, em Kampala, a 31 de Julbo de 1969, 2: AAS 61 (1969), 577.
98 Paulo VI, Discurso na Abertura da II Sessão do Conc. Ecum. Vat. II, a 29 de Setembro de 1963: AAS 55 (1963), 858; cf. Conc. Ecum. Vat. II, Declaração sobre as relações da Igreja com as religiões não cristãs Nostra aetate, 2; Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 16; Decreto sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 9; PAULO VI, Exort. Ap. Evangelii nuntiandi; 53: l.c., 41 s.
99 Cf. Paulo VI, Carta Enc. Ecclesiam suam (6/XII/1964): AAS 56 ( 1964), 609-659; Conc. Ecum. Vat. II, Declaração sobre as relações da Igreja com as religiões não cristãs Nostra aetate; Decreto sobre a actividade missionáría da Igreja Ad Gentes, 11. 41; SECRETARIADO PARA OS NÃO CRISTÃOS, A atitude da Igreja face aos sequazes de outras religiões: reflexões e orientações do dialogo e missão (4/IX/1984): AAS 76 (1984), 816-828.
100 Carta aos Bispos da Ásia, por ocasião da Va Assembleia Plenária da Federação das suas Conferências Episcopais (23/VI/1990), 4: L'Osservatore Romano, de 18 de Julho de 1990.
101 Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 14; cf. Decreto sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 7.
102 Cf. Conc. Ecum. VAT. II, Decreto sobre o ecumenismo Unitatis redintegratio, 3; Decreto sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 7.
103 Cf. Carta Enc. Redemptor hominis, 12: l.c., 279.
104 Cone. Ecum. Vat. II, Decreto sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 11. 15.
105 Conc. Ecum. Vat. II, Declaração sobre as relações da Igreja com as religiões não cristãs Nostra aetate, 2.





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