
Sobre
o primeiro ponto cinco artigos se discutem:
Art.
1 — Se o inteligir do anjo é a sua substância.
Art.
2 — Se o inteligir do anjo é a sua essência.
Art.
3 — Se a virtude ou a potência intelectiva do anjo difere da sua essência.
Art.
4 — Se no anjo há os intelectos agente e possível.
Art.
5 — Se os anjos têm somente o conhecimento intelectual.
Art. 1 — Se o inteligir do anjo é a
sua substância.
(Opusc, XV, De Angelis, cap. XIII)
O
primeiro se discute assim. — Parece que o inteligir do anjo é a sua substância.
1.
— Pois o anjo é mais sublime e simples que o intelecto agente da alma. Ora, a
substância do intelecto agente é a sua acção, como está claro em Aristóteles 1 e em Averrões 2. Logo com maior razão, a substância do anjo é a sua
acção, a saber, o inteligir.
2.
Demais. — O Filósofo diz que a acção do intelecto é vida 3. Ora, sendo o viver a essência dos
viventes, como diz Aristóteles 4,
resulta que a vida é essência. Logo, a acção do intelecto é a essência do anjo
que intelige.
3.
Demais. — Se os extremos são idênticos, o meio não difere deles, porque mais
dista um extremo do outro, do que o meio. Ora, no anjo se identificam o inteligente
e o inteligido, ao menos quando o anjo intelige a sua essência. Logo o
inteligir, meio entre o inteligente e o inteligido, identifica-se com a
substância do anjo inteligente.
Mas,
em contrário, mais difere da substância de uma coisa a acção do que a
existência mesma da coisa. Ora, de nenhuma criatura a existência é substância,
porque isto só é próprio de Deus, como resulta do anteriormente dito 5. Logo, nem do anjo, nem de qualquer outra
criatura a acção é a substância.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O dito, que o intelecto agente é a sua acção,
é uma predicação, não por essência, mas por concomitância; porque, estando a
sua substância em acto, imediatamente, quanto nessa substância está,
segue-se-lhe a acção. O que não se dá com o intelecto possível, que só age
depois de atualizado.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — A vida não está para o viver como a essência para a existência,
mas como a corrida para o correr, em que aquela significa um acto em abstracto
e este, em concreto. Donde se não segue que, se viver é existir, a vida seja
essência. Todavia, algumas vezes, a vida é considerada como essência; assim, na
expressão de Agostinho, que a memória, a inteligência e a vontade são uma
essência e uma vida 6. Mas não é
isso o que quer dizer o Filósofo quando afirma que a acção do intelecto é vida.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — A acção transitiva para algo extrínseco é, realmente, um meio
entre o agente e o paciente; mas a que permanece no agente não é senão e
unicamente pelo modo de significar. Pois, realmente, ela resulta da união do
objecto com o agente; assim, é de unificar-se o inteligido com o inteligente
que resulta o inteligir, um como efeito diferente de um e outro.
(Nota: Revisão da tadução para português por AMA)
S.TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica,
S.TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica,
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Notas:
1.
III De anima (lect. IX).
2.
Commentactorem (text. 19).
3.
XII Metaph. (lect. VIII).
4.
II De anima (lect. VII).
5.
Q. 3, a. 4; a. 44, a. 1.
6.
X de Trinit. (cap. XI).
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