06/04/2012

Paixão de Cristo

Ah!, escuta isto tão triste: Eu olhava à Minha volta, miseravelmente abandonado por todos os homens, e os próprios amigos que Me tinham seguido, permaneciam afastados de Mim… Assim estava… roubadas as Minhas vestes. Ali estava… reduzido à impotência, vencido. Tratavam-Me sem piedade… Para onde quer que Me voltasse, não achava à Minha volta senão dor e amargo sofrimento. A Meus pés estava a Mãe dolorosa, e o seu coração maternal sofria por tudo o que Eu no Meu corpo padecia. E estando na angústia e na ansiedade supremas da morte, erguiam-se eles contra Mim e increpavam-Me com gritos cruéis de troça, voltavam para Mim as suas cabeças escarnecendo-Me e aniquilavam-Me dentro dos seus corações completamente como se fora um verme desprezível. Mas Eu continuava firme, e ainda rogava por eles amorosamente ao Meu querido Pai. Olha como Eu, inocente cordeiro, era comparado aos culpados. Por um deles fui escarnecido, mas o outro implorou-Me. E imediatamente acolhi-o e perdoei-Lhe todos os seus pecados; Eu abri-Lhe as portas do paraíso celestial. Sim, na Minha inesgotável misericórdia, clamei ao Meu Pai muito amorosamente por aqueles que Me crucificavam, por aqueles que dividiam a Minha roupa… e pelos que a Mim, Rei de todos os reis, Me amarfanhavam no Meu angustioso penar e vergonhosa humilhação. E estando ali, tão falto de ajuda e tão completamente abandonado, as feridas emanando sangue, os olhos lacrimejantes, os braços distendidos, as veias de todos os Meus membros inchadas, na agonia da morte, rompi em voz lastimosa e invoquei abatido a Meu Pai dizendo: Deus Meu, porque Me abandonaste? … Vê pois que, estando derramado quase todo o Meu sangue e esgotadas todas as Minhas forças, senti na Minha agonia uma amarga sede; mas ainda estava mais sedento da salvação de todos os homens. Na Minha sede exacerbada foram então oferecidos vinagre e fel. E então, uma vez conseguida a salvação humana, disse: Consummatum est! Prestei obediência completa a Meu Pai até à morte. E encomendei nas Suas mãos o Meu espírito dizendo: Nas Tuas mãos encomendo o Meu espírito. E a Minha nobre alma abandonou então o Meu divino corpo. Contemplai-Me agora no alto tronco da Cruz. A Minha mão direita atravessava-a um cravo, a Minha mão esquerda estava perfurada, o Meu braço direito desconjuntado e o esquerdo dolorosamente esticado. O Meu pé direito trespassado e o esquerdo cruelmente atravessado. Pendia Eu impotente, mortalmente cansados os Meus divinos membros; todos eles; delicados, ficaram esmagados pelo duro suplício da cruz. O Meu sangue febril, teve de necessariamente de transbordar incontível por várias vezes; coberto por ele e sangrento, o Meu corpo agonizante dava lástima ver-se. Contempla o espectáculo lamentável: o Meu corpo jovem, florescente, começava a minguar, a encolher-se a desfazer-se… O Meu corpo inteiro estava coberto de feridas e cheio de dor… Os Meus olhos claros, apagados… Aos Meus ouvidos não chegavam senão troças e ultrajes… Toda a Terra não Me pode oferecer nenhum lugar para um pequeno descanso, pois a Minha divina cabeça estava vencida pela dor e pela fadiga; a Minha cor, empalidecendo. Olha: a Minha formosa figura morria então tal como estivesse sido um homem leproso em vez da formosa encarnação da Sabedoria. Compadecida de Mim, apagou-se, inclusivamente, a luz dos céus da Hora Sexta à Hora Nona. Depois disto o Meu lado foi atravessado por uma afiada lança; brotou então um jorro do preciosíssimo sangue e, com ele, uma fonte da água da vida para reanimar tudo o que estava morto e esgotado e reconfortar todos os corações sedentos.

(denifle, Das geistliche Leben, II, 2ª parte, cap. IV)

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