03/03/2012

Leitura espiritual para 03 de Março de 2012



Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.


Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Lc 3, 1-20

1 No ano décimo quinto do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judeia, Herodes tetrarca da Galileia, Filipe, seu irmão, tetrarca da Itureia e da província da Traconítide, Lisânias tetrarca da Abilena2 sendo pontífices Anás e Caifás, o Senhor falou a João, filho de Zacarias, no deserto. 3 E ele foi por toda a região do Jordão, pregando o baptismo de penitência para a remissão dos pecados, 4 como está escrito no livro das palavras do profeta Isaías: “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas; 5 todo o vale será terraplanado, todo o monte e colina serão arrasados, os caminhos tortuosos tornar-se-ão direitos, os escabrosos planos; 6 e todo o homem verá a salvação de Deus”. 7 Dizia, pois, às multidões que vinham para ser por ele baptizadas: «Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que vos ameaça? 8 Fazei, portanto, frutos dignos de penitência, e não comeceis a dizer: Temos por pai Abraão. Porque eu vos digo que Deus é poderoso para suscitar destas pedras filhos de Abraão. 9 Porque o machado já está posto à raiz das árvores. Toda a árvore que não dá bom fruto será cortada e lançada no fogo». 10 As multidões interrogavam-no, dizendo: «Que devemos, pois, nós fazer?». 11 Respondendo, dizia-lhes: «Quem tem duas túnicas, dê uma ao que não tem; e quem tem que comer, faça o mesmo». 12 Foram também publicanos, para serem baptizados, e disseram-lhe: «Mestre, que devemos nós fazer?». 13 Ele respondeu-lhes: «Não exijais nada além do que vos está fixado». 14 Interrogavam-no também os soldados: «E nós, que faremos?». Respondeu-lhes: «Não façais violência a ninguém, nem denuncieis falsamente, e contentai-vos com o vosso soldo». 15 Estando o povo na expectativa e pensando todos nos seus corações que talvez João fosse o Cristo, 16 João respondeu, dizendo a todos: «Eu, na verdade, baptizo-vos em água, mas virá um mais forte do que eu, a Quem não sou digno de desatar as correias das sandálias; Ele vos baptizará no Espírito Santo e no fogo; 17 tomará na Sua mão a pá, limpará a Sua eira e recolherá o trigo no Seu celeiro, mas a palha queimá-la-á num fogo inextinguível». 18 Por muitas outras exortações anunciava ao povo a boa nova. 19 Porém, o tetrarca Herodes, sendo repreendido por ele, por causa de Herodíades, mulher de seu irmão e por causa de todos os males que tinha feito, 20 acrescentou a todos os outros crimes mais este: mandar meter João no cárcere.





CARTA APOSTÓLICA
NOVO MILLENNIO INEUNTE
DO SUMO PONTÍFICE
JOÃO PAULO II
AO EPISCOPADO,
AO CLERO E AOS FIÉIS
NO TERMO DO GRANDE JUBILEU
DO ANO 2000

…/2

Igreja peregrina

8. Seguindo de algum modo as pegadas dos Santos, foram-se alternando aqui em Roma, junto do túmulo dos Apóstolos, inumeráveis filhos da Igreja, desejosos de professar a própria fé, confessar os seus pecados e receber a misericórdia que salva. Neste ano, o meu olhar não se deixou impressionar apenas pelas multidões que encheram a Praça de S. Pedro durante muitas celebrações, pois não era raro deter-me a contemplar também as longas filas de peregrinos que esperavam pacientemente a sua vez de atravessar a Porta Santa. Em cada um deles, eu procurava imaginar uma história de vida, feita de alegrias, ansiedades, sofrimentos; uma história acolhida por Cristo, e que, no diálogo com Ele, retomava o seu caminho de esperança.

Naquele fluxo contínuo dos grupos, deparava-se-me quase uma imagem palpável da Igreja peregrina, daquela Igreja que vive, como diz S. Agostinho, “no meio das perseguições do mundo e das consolações de Deus”. [1] A nós, é-nos concedido apenas observar a face mais exterior deste acontecimento singular. Quem pode calcular as maravilhas da graça, que se realizaram nos corações? O melhor é calar e adorar, confiando humildemente na acção misteriosa de Deus e cantando o seu amor sem fim: “Misericordias Domini in aeternum cantabo”!

Os jovens

9. Os numerosos encontros jubilares permitiram congregar-se as mais diversas categorias de pessoas, com uma participação verdadeiramente impressionante, que às vezes chegou a pôr duramente à prova os esforços dos organizadores e animadores, tanto eclesiais como civis. Desejo aproveitar esta Carta para exprimir a todos o meu agradecimento mais cordial. Mas, para além do número, aquilo que muitas vezes me tocou foi verificar a seriedade do compromisso de oração, reflexão, comunhão, que quase sempre se manifestava nestes encontros.

De modo especial, como não recordar o encontro jubiloso e estimulante dos jovens? Se há uma imagem do Jubileu do ano 2000 que ficará, mais do que outras, viva na memória, é seguramente a daquela multidão oceânica de jovens com quem pude estabelecer uma espécie de diálogo privilegiado, ditado por uma recíproca simpatia e uma sintonia profunda. Verificou-se isto logo desde o momento das boas-vindas, que lhes dei na Praça de S. João de Latrão e na Praça de S. Pedro. Depois vi-os moverem-se pela cidade, alegres como devem ser os jovens, mas também pensativos, ávidos de oração, de “sentido”, de amizade verdadeira. Tanto para eles mesmos como para aqueles que os contemplaram, não será fácil apagar da memória aquela semana em que Roma se fez “jovem com os jovens”. Não será possível esquecer a celebração eucarística de Tor Vergata.

Os jovens revelaram-se uma vez mais, para Roma e para a Igreja, um dom especial do Espírito de Deus. Às vezes encontra-se na análise que fazem dos jovens, com todos os problemas e fragilidades que os caracterizam na sociedade contemporânea, uma tendência ao pessimismo. Ora, o Jubileu dos Jovens fez-nos ver que não é caso disso, ao deixar a mensagem contrária duma juventude que, não obstante possíveis ambiguidades, sente um anseio profundo daqueles valores autênticos que têm em Cristo a sua plenitude. Porventura não é Cristo o segredo da verdadeira liberdade e da alegria profunda do coração? Não é Cristo o maior amigo e, simultaneamente, o educador de toda a amizade autêntica? Se Cristo lhes for apresentado com o seu verdadeiro rosto, os jovens reconhecem-No como resposta convincente e conseguem acolher a sua mensagem, mesmo se exigente e marcada pela Cruz. Por isso, vibrando com o seu entusiasmo, não hesitei em pedir-lhes uma opção radical de fé e de vida, apontando-lhes uma missão estupenda: fazerem-se “sentinelas da manhã” (cf. Is 21,11-12) nesta aurora do novo milénio.

Peregrinos das várias categorias

10. Não posso, por razões óbvias, concentrar-me detalhadamente sobre os diversos eventos jubilares. Cada um deles teve o seu carácter próprio e deixou a sua mensagem não só para os participantes directos, mas também para quantos ouviram falar ou tomaram parte à distância através dos mass-media. Mas, como não recordar o tom festivo do primeiro grande encontro, dedicado às crianças? O facto de se começar com elas significava, de algum modo, acolher a advertência de Jesus: «Deixai vir a Mim as criancinhas» (Mc 10,14). E significava talvez ainda mais repetir o gesto praticado por Ele, quando «colocou no meio» um menino e fez dele o próprio símbolo do comportamento que se tem de assumir, se se quiser entrar no Reino de Deus (cf. Mt 18,2-4).

Assim, em determinado sentido, foi seguindo os passos das crianças que vieram pedir a misericórdia jubilar as mais variadas categorias de adultos: dos idosos aos doentes e inválidos, dos trabalhadores das fábricas e dos campos aos desportistas, dos artistas aos docentes universitários, dos Bispos e presbíteros às pessoas de vida consagrada, dos políticos aos jornalistas e até aos militares, que vieram reafirmar o sentido da sua missão como um serviço à paz.

Grande significado teve a concentração dos trabalhadores, realizada no dia tradicional da sua festa — o primeiro de Maio. Pedi-lhes para viverem a espiritualidade do trabalho, imitando S. José e o próprio Jesus. Além disso, aquele jubileu deu-me ocasião para lançar um forte apelo a fim de se sanarem os desequilíbrios económicos e sociais que existem no mundo do trabalho e pautarem decididamente os processos da globalização económica em função da solidariedade e do respeito devido a cada pessoa humana.

As crianças voltaram, com a sua alegria incontida, no Jubileu das Famílias, tendo-as então apontado ao mundo como “primavera da família e da sociedade”. Foi verdadeiramente expressivo este encontro jubilar com tantas famílias das mais diversas regiões do mundo, que vieram receber, com novo fervor, a luz de Cristo sobre o desígnio originário de Deus para elas (cf. Mc 10,6-8; Mt 19,4-6). Comprometeram-se a irradiá-la sobre uma cultura que, de forma sempre mais preocupante, corre o risco de perder o sentido do matrimónio e da instituição familiar.

Entre os momentos mais tocantes que tive, conta-se o encontro com os presos do Estabelecimento Prisional Regina Cœli. Nos seus olhos, vi amargura, mas também o arrependimento e a esperança. Para eles, o Jubileu foi a título absolutamente especial um “ano de misericórdia”.

Por fim, nos últimos dias do ano, teve lugar o encontro com o mundo do espectáculo, que tanta simpatia e encanto desperta no coração das pessoas. A quantos trabalham neste sector, recordei a grande responsabilidade de propor, através do divertimento jovial, mensagens positivas, moralmente sãs, capazes de infundir confiança e amor à vida.

O Congresso Eucarístico Internacional

11. No desenvolvimento deste ano jubilar, esperava-se que tivesse um significado qualificante o Congresso Eucarístico Internacional; e teve-o. Se a Eucaristia é o sacrifício de Cristo que Se torna presente entre nós, poderia a sua presença real não estar no centro deste ano santo dedicado à encarnação do Verbo? Por isso mesmo, foi previsto como ano “intensamente eucarístico” [2] e assim procurámos vivê-lo. Ao mesmo tempo, como podia faltar a menção da Mãe, ao recordarmos o nascimento do seu Filho? Maria esteve presente na celebração jubilar mediante oportunos e qualificados Congressos, mas sobretudo através do grande Acto de Entrega com que, ladeado por boa parte do Episcopado mundial, confiei à sua solicitude materna a vida dos homens e mulheres do novo milénio.

A dimensão ecuménica

12. É compreensível que me venha mais espontâneo falar do Jubileu visto da Sede de Pedro. Todavia não esqueço que fui eu mesmo a desejar que a sua celebração se realizasse, a pleno título, também nas Igrejas particulares; e foi lá que a maior parte dos fiéis pôde obter as graças especiais conexas com o ano jubilar, e de modo particular a indulgência. Mas não deixa de ser significativo que muitas dioceses tenham sentido o desejo de fazer-se presente, com grupos numerosos de fiéis, também aqui em Roma. Assim, a Cidade Eterna manifestou uma vez mais o seu papel providencial de lugar onde as riquezas e os dons de cada Igreja, e mesmo de cada nação e cultura, se harmonizam na “catolicidade”, para que a única Igreja de Cristo revele de modo cada vez mais eloquente o seu mistério de sacramento de unidade. [3]

No âmbito do programa do ano jubilar, tinha pedido que se desse uma atenção especial também à dimensão ecuménica. Que ocasião mais propícia poderia haver, para encorajar o caminho para a plena comunhão, do que a celebração comum do nascimento de Cristo? Muitos esforços se realizaram com tal finalidade, sobressaindo pelo seu significado o encontro ecuménico na basílica de S. Paulo, no dia 18 de Janeiro de 2000: pela primeira vez na história, uma Porta Santa foi aberta conjuntamente pelo Sucessor de Pedro, o Primaz Anglicano e o Metropolita do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla, na presença de representantes de Igrejas e Comunidades eclesiais de todo o mundo. Nesta linha, contam-se também alguns encontros importantes com Patriarcas Ortodoxos e chefes doutras confissões cristãs; recordo, em particular, a recente visita de Sua Santidade Karekin II, Patriarca Supremo e Catholicos de todos os Arménios. Houve também muitos fiéis doutras Igrejas e Comunidades eclesiais que tomaram parte nos encontros jubilares das diversas categorias. O caminho ecuménico continua certamente fatigante, e talvez longo, mas anima-nos a esperança de sermos guiados pela presença do Ressuscitado e pela força inexaurível do seu Espírito, capaz de surpresas sempre novas.

A peregrinação na Terra Santa

13. E como não recordar ainda o meu Jubileu pessoal pelas estradas da Terra Santa? O meu desejo era tê-lo iniciado em Ur dos Caldeus para percorrer quase sensivelmente os passos de Abraão, “nosso pai na fé” (cf. Rom 4,11-16); mas tive de contentar-me com uma paragem apenas espiritual através da sugestiva “Liturgia da Palavra”, que foi celebrada a 23 de Fevereiro na Aula Paulo VI. Logo a seguir começou a peregrinação em sentido próprio, seguindo o itinerário da história da salvação. Tive a alegria de parar no Monte Sinai, no cenário do dom do Decálogo e da primeira Aliança. Um mês depois retomei o caminho que me levou até ao Monte Nebo e, em seguida, aos lugares habitados e santificados pelo Redentor. É difícil exprimir a emoção que senti ao poder venerar os lugares do nascimento e da vida de Cristo em Belém e Nazaré, ao celebrar a Eucaristia no Cenáculo lugar da sua instituição, e ao meditar o mistério da Cruz no Gólgota onde Ele deu a vida por nós. Naqueles lugares, ainda muito atribulados e recentemente funestados também pela violência, pude experimentar um acolhimento extraordinário não só dos filhos da Igreja mas também por parte das comunidades israelita e palestina. Com intensa emoção, vivi a oração junto do Muro das Lamentações e a visita ao Mausoléu de Yad Vashem, memorial chocante das vítimas dos campos de extermínio nazistas. Aquela peregrinação foi um momento de fraternidade e de paz que me apraz registar como um dos mais belos dons do evento jubilar. Recordando o clima vivido naqueles dias, não posso deixar de exprimir sentidos votos duma solução solícita e justa para os problemas ainda não concluídos naqueles lugares santos, amados simultaneamente por judeus, cristãos e muçulmanos.

[4]…/


[1] De civitate Dei, XVIII, 51, 2: PL 41, 614; cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 8.
[2] João Paulo II, Carta ap. Tertio millennio adveniente (10 de Novembro de 1994), 55: AAS 87 (1995), 38.
[3] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 1.
[4] Copyright © Libreria Editrice Vaticana

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